"Esta
história foi inspirada pelas descobertas do Procurador-Geral em Gibraltar e
retrata a terrível tragédia marítima do navio americano 'Mary Celeste',
encontrado à deriva e abandonado no meio do Atlântico em 5 de dezembro de 1872
– um dos capítulos mais estranhos e dramáticos da história marítima."
O estúdio inglês “Hammer” é conhecido e cultuado por seus filmes
de horror e ficção científica do final dos anos 50 até meados da década de 70
do século passado, com histórias de todos os tipos e especialmente com os
monstros clássicos do gênero como o vampiro “Drácula”, a “criatura de
Frankenstein”, “Múmia”, “Lobisomem” e outros.
Curiosamente, “O Navio
Fantasma” (The Mystery of the Mary Celeste, 1935) foi o segundo filme da
produtora, estrelado por Bela Lugosi (em seu primeiro filme inglês). Ele que é
um dos mais importantes atores da história do Horror, ao lado de Boris Karloff,
Vincent Price, Peter Cushing e Christopher Lee. Ficou eternizado como o
“Drácula” do estúdio americano “Universal”, e dessa vez o papel foi diferente
dos seus tradicionais vilões, interpretando agora um marinheiro insano e vingativo.
O filme está disponível no “Youtube” com
legendas em português, tanto a versão original com fotografia em preto e branco
quanto uma versão colorizada por computador. Aliás, a versão que tive acesso
foi a americana com o título original “Phantom Ship”, editada com 62 minutos de
duração, com 18 minutos de cortes da versão inglesa, que supostamente parece
estar perdida.
Dirigido por Denison Clift, a história é ambientada em 1872 e
baseada em eventos reais sobre o mistério do navio “Mary Celeste” que foi
descoberto navegando à deriva no oceano, com os tripulantes e passageiros
desaparecidos, conforme informa a introdução do filme, reproduzida no início
desse texto.
O capitão Benjamin Briggs (Arthur Margetson) e seu imediato Toby
Bilson (Edmund Willard) estão tentando reunir uma tripulação para seu navio que
iria fazer uma entrega de barris de álcool em Gibraltar. Ele pede para sua futura
esposa Sarah (Shirley Grey) para acompanhá-lo na viagem, e mesmo sendo a única
mulher a bordo, acaba aceitando o convite. Em paralelo, há um triângulo amoroso
envolvendo o também Capitão Jim Morehead (Clifford McLaglen), que queria se
casar com Sarah, gerando uma tensão entre eles.
Eles conseguem uma tripulação formada por Tommy Duggan (George
Mozart), Peter Tooley (Johnnie Schofield), Ponta Katz (Gunner Moir), Andy
Gilling (Gibson Gowland), Boas Hoffman (Ben Welden), Tom Goodschild (Dennis
Hoey), Charlie Kaye (Terrence de Marney), Arian Harbens (J. Edward Pierce) e
Grot (Herbert Cameron), sendo que este foi cedido pelo Capitão Morehead. Para
completar ainda tem a presença de Anton Lorenzen (Bela Lugosi), um marinheiro
falido e ressentido por ter sido sequestrado numa viagem anterior, que também é
recrutado dessa vez, mas utiliza um nome falso (Gottlieb).
Além da exaustiva rotina do navio na viagem pelo vasto oceano, com
as inevitáveis tensões entre os tripulantes e a ocorrência de fortes
tempestades, uma atmosfera de morte e violência se instala na embarcação, com
um misterioso assassino agindo nas sombras.
O filme especula sobre o que poderia ter acontecido com a
tripulação do navio, um mistério que jamais será esclarecido. Bela Lugosi está muito
bem como sempre, deixando de lado suas performances de “vampiro” ou “cientista
louco” para um papel com intensa dramaticidade como um marinheiro perturbado em
busca de vingança.
O ritmo carece um pouco de ação, algumas cenas com cantorias são
bem entediantes, alguns personagens desaparecem vítimas do assassino, mas essas
mortes não são exploradas, e apenas sutilmente informadas. Ou seja, os
realizadores perderam várias oportunidades em apresentar as ações do assassino
misterioso ao eliminar os membros da tripulação.
Porém, ainda assim o filme tem seus momentos de interesse como um
exemplo do cinema de horror dos longínquos anos 30 do século passado e
principalmente pela presença sempre bem-vinda de Bela Lugosi.
“Quando este navio parte, a morte
navega nele.” – Anton Lorenzen
(RR – 03/05/25)