Mundos Em Guerra (Battle in Outer Space, Japão, 1959)

 


Quase duas décadas antes da cultuada space opera “Star Wars” tivemos uma ficção científica japonesa dirigida pelo especialista em cinema fantástico Ishiro Honda (1911 / 1993), “Mundos Em Guerra” (Battle in Outer Space, 1959), que está disponível no Youtube com áudio em inglês e opção de legendas em português.

O filme é indicado para aqueles que apreciam os saudosos efeitos práticos com maquetes de foguetes, naves, estações espaciais, bases lunares, poderosas armas de raios térmicos, além de divertidas cenas de batalhas no espaço sideral e destruição de cidades na Terra.

 

Ambientado em 1965, um pouco à frente da época de produção e já um passado distante para os dias atuais (e ainda estamos longe também das viagens espaciais rotineiras do filme), depois que uma estação espacial em órbita da Terra é destruída num ataque de discos voadores alienígenas vindos do planeta Natal, ocorrem catástrofes misteriosas em alguns países com levitação de pontes e enormes inundações. Para investigar, um grupo formado pelas nações mais poderosas do mundo tendo à frente um comandante japonês (Minoru Takada) envia dois foguetes de reconhecimento para a Lua, sendo um deles liderado pelo cientista japonês Prof. Adachi (Koreya Senda) e o outro pelo cientista americano Dr. Roger Richardson (Len Stanford).

Eles encontram uma base dos alienígenas agressores instalada na superfície do lado sombrio da Lua, e após um confronto mortal com perdas para ambos os lados, ocorre uma retaliação dos extraterrestres tiranos com destruição em massa de cidades na Terra, despertando uma reação conjunta da humanidade justificando o título nacional de “Mundos Em Guerra”, através de uma “Batalha no Espaço Sideral”, do título original internacional.  

 

A história nem é muito interessante, sendo apenas um grande clichê de invasão alienígena por criaturas conquistadoras, com atuações pouco convincentes de todo o elenco, não faltando o tradicional e enfadonho casal apaixonado formado pelo Major Ichiro Katsumya (Ryo Ikebe) e Etsuko Shiraishi (Kyoko Anzai). Também não há preocupação com coerência e lógica ou atenção com as leis da física.

Porém, o que importa realmente são os efeitos práticos que eram produzidos em meados do século passado, que impressionavam as plateias da época e que são divertidos até hoje, exigindo muita criatividade e esforço da equipe técnica, sem as facilidades da computação gráfica. Os efeitos especiais são dirigidos por Eiji Tsuburaya, que tem um currículo imenso repleto de bagaceiras preciosas de horror e ficção científica, e entre seus créditos destaca-se o clássico “Godzilla” (1954).

Por curiosidade, vale citar que “Mundos Em Guerra” é considerado sequência de “Os Bárbaros Invadem a Terra” (The Mysterians, 1957), também dirigido por Ishiro Honda, e foi sucedido ainda por “The War in Space”, de Jun Fukuda. Não existe exatamente uma conexão direta entre as histórias deles, sendo a mesma ideia básica nos três filmes, ou seja, uma invasão alienígena hostil com a óbvia reação da humanidade num esforço de união entre as principais nações, independente de ideologias distintas, apresentando apenas pequenas variações nos roteiros, e todos com os mesmos clichês de extraterrestres com aparências hilárias querendo conquistar nosso tão cobiçado planeta, escravizando a humanidade e destruindo nossas cidades, culminando em guerras exageradas travadas no espaço exterior.   

 

(RR – 27/11/24)







O Monstro da Morgue Sinistra / A Carne e o Diabo (The Flesh and the Fiends, Inglaterra, 1960)

 


"Esta é uma história de homens perdidos e almas perdidas. É uma história de vício e assassinato. Nós não pedimos perdão aos mortos. Tudo é verdade.”

 

Também conhecido no Brasil como “A Carne e o Diabo” quando foi exibido na televisão, “O Monstro da Morgue Sinistra” (The Flesh and the Fiends, 1960) é um filme inglês com fotografia original em preto e branco, dirigido e escrito por John Gilling e com elenco liderado pelo lendário Peter Cushing junto com Donald Pleasence em início de carreira (o psiquiatra Dr. Loomis de “Halloween”).

A história é baseada no famoso caso real da dupla de saqueadores de túmulos Burke e Hare, criminosos oportunistas que forneciam cadáveres para pesquisas e estudos científicos de anatomia, roubando corpos de cemitérios e quando necessário, matando pessoas para utilizarem os cadáveres.

Esse tema foi bastante explorado no cinema, principalmente no mais famoso “O Túmulo Vazio” (The Body Snatcher, 1945), dirigido por Robert Wise, produzido por Val Lewton e com Boris Karloff e Bela Lugosi, e outros como “O Maquiavélico William Hart” (The Greed of William Hart, 1948), com Tod Slaughter, e “Burke and Hare” (1972), só para citar alguns.

 

Ambientado em 1828 na cidade escocesa de Edimburgo, o médico e professor de anatomia Dr. Robert Knox (Peter Cushing) precisa de corpos humanos para suas aulas e pesquisa científica, comprando os cadáveres fornecidos pelos ladrões de sepulturas William Burke (George Rose) e William Hare (Donald Pleasence), que recebem ajuda e cumplicidade da esposa de Burke, Helen (Renee Houston). Não se importando com ética ou a origem do fornecimento, o médico acaba involuntariamente estimulando a dupla de profanadores assassinos a matar pessoas para vender seus corpos.

A jovem sobrinha do Dr. Knox, Martha (June Laverick), retorna de uma viagem à França e forma um par romântico com o Dr, Geoffrey Mitchell (Dermot Walsh), que trabalha com seu tio e fica observando à distância o misterioso fornecimento de cadáveres. Outros personagens são o assistente do Dr, Knox e estudante de medicina Christopher Jackson (John Cairney) e sua namorada dançarina de boate Mary Patterson (Billie Whitelaw), além do atrapalhado Jamie (Melvyn Hayes), os quais servem de vítimas convenientes para a dupla de vendedores de cadáveres.  

 

O ator inglês Peter Cushing (1913 / 1994) é um dos grandes ícones do cinema de horror com uma carreira consagrada por uma infinidade de filmes relevantes para o gênero, principalmente da produtora “Hammer”, nos papéis do “cientista louco” Dr. Frankenstein e do caçador de vampiros Van Helsing. Em “O Monstro da Morgue Sinistra” ele é um médico e professor de anatomia tão altruísta e comprometido com o ofício de ensinar e formar médicos competentes que deixa de questionar a origem sinistra dos cadáveres que compra para o seu trabalho científico. Sua atuação é excepcional, interpretando com maestria papéis refinados. Assim como também Donald Pleasence (1919 / 1995), outro ator consagrado no cinema de horror, que interpreta um vilão cruel, frio e interesseiro, planejando assassinatos por dinheiro e recebendo punição da justiça popular.    

O filme está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português e foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil Home Video” no box “Obras-Primas do Terror” Volume 15. Também é conhecido pelos títulos originais alternativos “The Fiendish Ghouls” e “Mania”.

O diretor inglês John Gilling (1912 / 1984), tem em seu currículo alguns filmes da produtora “Hammer” como “Epidemia de Zumbis” (1966), “A Serpente” (1966) e “A Mortalha da Múmia” (também conhecido como “O Sarcófago Maldito”, 1967), além de outros como “Os Monstros do Raio Gama” (1956) e o espanhol “A Cruz do Diabo” (1975).

Curiosamente, a banda americana de Death Metal “Exhumed” lançou em 2017 o álbum “Death Revenge”, que foi inspirado em eventos do filme e no caso dos assassinos Burke e Hare.

 

(RR – 21/11/24)






The Doll of Satan (La Bambola di Satana, Itália, 1969)

 


“La Bambola di Satana” é um filme italiano de 1969, menos conhecido e mais obscuro, também identificado pelo título internacional “The Doll of Satan”. Disponível no “Youtube” com áudio original italiano e opção de legendas em português, foi dirigido por Ferruccio Casapinta (em seu único trabalho), e sua história mistura elementos de horror atmosférico de um castelo gótico e o tradicional “giallo” com mortes misteriosas cometidas por um assassino com luvas pretas.

 

A jovem Elizabeth Ball Janon (Erna Schurer) é a única herdeira de um castelo sinistro, após a morte de seu tio. Junto com o noivo, o jornalista Jack Seaton (Roland Carey), e um casal de amigos, Gérard (Giorgio Gennari) e Blanche (Beverly Fuller), eles vão para o castelo, que é administrado pela governanta Srta. Carol (Lucia Bomez), com a ajuda de alguns empregados como o mordomo Edward (Manlio Salvatori) e o jardineiro Andrea (Eugenio Galadini).

Ao chegarem, são logo informados de um suposto desejo do tio falecido em vender o castelo, com o interesse de compra por um rico vizinho, Paul Reno (Ettore Ribotta), em oposição ao que diz o veterano advogado da família Sr. Shinton (Domenico Ravenna), já gerando um clima desconfortável de indecisão com a herdeira.

O destino do castelo é motivo também de curiosidade para as pessoas do vilarejo próximo como a misteriosa pintora de quadros Claudine (Aurora Batista) e o intrometido Sr. Cordova (Franco Daddi), ambos sempre atentos por informações e novidades.

E a atmosfera vai ficando cada vez mais sinistra para Elizabeth, que sofre com pesadelos e alucinações constantes, após visitar os subterrâneos do castelo e uma câmara de torturas repleta de armas medievais, e depois de saber sobre uma história bizarra da lenda do fantasma de um antepassado assombrando o castelo em busca de sua antiga amada de mesmo nome que ela. Além de todas essas turbulências, as coisas pioram ainda mais após Elizabeth entrar em contato com Jeanette (Teresa Ronchi), que era a fiel secretária de seu tio, e que agora está doente, muda, decrépita e paralítica, considerada louca e mantida trancafiada num quarto.

Com a ocorrência de desaparecimentos misteriosos, estranhos sonhos eróticos e alucinações perturbadoras de torturas, Elizabeth precisa lidar com o tormento de uma confusão mental e uma conspiração para vender o castelo e desestabilizar sua sanidade.   

 

O cinema fantástico italiano é bastante conhecido e expressivo pela bem sucedida exploração da atmosfera do horror gótico e do suspense dos assassinatos característicos dos “giallos”. Como mencionado no início desse texto, “The Doll of Satan” é uma mistura de ambos. A história especula sobre supostos eventos sobrenaturais e o interesse obscuro na venda do castelo, que esconde um segredo rentável em seus porões.

Porém, principalmente para os apreciadores do horror atmosférico, o filme perde muitas oportunidades para um clima mais perturbador e desconfortável que o castelo naturalmente sinistro oferece. A cena de tortura, que estampa um dos cartazes numa jogada de marketing para atrair a atenção, deveria ser melhor explorada, com mais tempo em cena e importância na história, em vez de ser apenas um momento rápido. Os elementos de “giallo” também são muito sutis, com mortes discretas e sem sangue. E a reviravolta com revelações previsíveis provavelmente não irá agradar a maioria dos espectadores que esperavam uma história de fantasmas num castelo assombrado.

Entre outras falhas, algo que também incomoda é a alternância constante de tomadas diurnas e noturnas na mesma cena, demonstrando incoerência e descaso com o espectador, além do fato do casal de amigos de Elizabeth, seus acompanhantes no castelo, não terem nenhuma relevância para a trama, esquecidos na maior parte do tempo pelo roteiro.     


(RR – 05/11/24)




Drácula (Dracula, EUA, 1931, PB)

 


Um dos mais importantes filmes do famoso conde vampiro, definitivo para registrar Bela Lugosi na história do gênero

 

Em 1897, o escritor irlandês Bram Stoker presenteou o mundo com seu livro de horror gótico “Drácula”, que conta a história do famoso conde vampiro que deixa seu castelo na Transilvânia (Romênia) e vai para a Inglaterra, onde compra alguns imóveis e se alimenta do sangue de suas vítimas.

Em 1931, os fãs do cinema de horror e vampirismo são novamente presenteados com o clássico “Drácula”, produção com fotografia em preto e branco, direção de Tod Browning, o mesmo de “Monstros” (Freaks, 1932), e com o ator húngaro Bela Lugosi encarnando magistralmente o conde vampiro.

O advogado Reinfield (Dwight Frye) está a caminho da Transilvânia com o objetivo de entregar para o Conde Drácula em seu castelo no alto de uma montanha, alguns documentos referentes à locação de uma velha abadia em Londres. Quando chega ao vilarejo próximo do castelo, ele é alertado pelos aldeões supersticiosos que é “Noite de Walpurgis”, e que os vampiros saem de seis caixões para se transformar em lobos e morcegos, vagando à noite em busca de sangue dos vivos.

Desconsiderando os avisos, ele é levado até o castelo numa carruagem conduzida por um cocheiro sinistro. Ao entrar na imponente construção de pedra, se depara com aposentos enormes repletos de poeira e teias de aranhas, numa atmosfera sinistra de gelar a alma. Depois, é recepcionado pelo misterioso anfitrião Conde Drácula e acertam os detalhes burocráticos do aluguel da abadia inglesa.

Depois de transformar Reinfield em seu servo através de controle hipnótico, tornando-o um louco comedor de moscas e aranhas, eles vão para Londres num navio que chega ao destino com seus tripulantes misteriosamente mortos. Ao se apossar da abadia de Carfax, que fica ao lado de um sanatório dirigido pelo Dr. Seward (Herbert Bunston), o conde vampiro instaura o horror alimentando-se do sangue de suas vítimas. Ele também conhece os novos vizinhos, as belas jovens Lucy (Frances Dade) e Mina (Helen Chandler), além de John Harker (David Manners) e o temível Prof. Van Helsing (Edward Van Sloan), que se tornaria seu inimigo mortal.

A versão americana de 1931 para “Drácula” é curta, com apenas 75 minutos de duração. Tem produção com orçamento reduzido e as características daqueles primeiros filmes sonoros que foram concebidos naquela distante época, com interpretações exageradamente teatrais do elenco, num ritmo narrativo lento e com efeitos toscos na criação dos morcegos. Porém, a história cativante do conde vampiro assustou de forma decisiva as plateias do período e marcou para sempre o cinema de horror gótico, popularizando o mito do vampirismo em uma infinidade de filmes posteriores.

O roteiro apresentou com respeito algumas das características tradicionais dos vampiros e que se tornariam eternizadas no imaginário popular, como o fato deles não terem reflexo em espelhos, não tolerarem símbolos religiosos como crucifixos, não gostarem de sol, não suportarem uma erva conhecida como acônito, dormirem em caixões com terra de seu local de origem, e serem criaturas imortais, porém que poderiam ser destruídos com uma estaca de madeira cravada no coração.

O filme é altamente recomendado para os apreciadores do vampirismo e do cinema gótico de horror, seja pela atmosfera sombria do castelo na Transilvânia ou da abadia abandonada em Londres, e pela interpretação convincente de Bela Lugosi, tornando o Conde Drácula um vilão ameaçador, povoando os pesadelos dos espectadores da época e registrando para sempre seu nome na galeria de astros do Horror. Ele é reconhecido como o principal Drácula do cinema, ao lado do ícone Christopher Lee, que fez o vampiro em vários filmes da cultuada produtora inglesa “Hammer”.

 

“Tem coisas bem piores à espera do Homem que a morte” – Conde Drácula

  

(RR – 14/10/18)




















Terror in the Haunted House / My World Dies Screaming (EUA, 1958)

 


“E então, através dos galhos das velhas árvores, vejo a casa novamente. Ela fica lá esperando por mim. Silenciosa, maligna. Um lugar de horror indescritível. Não há ninguém lá agora.” – Sheila Wayne

 

Terror in the Haunted House”, também conhecido como “My World Dies Screaming”, ambos títulos sonoros e chamativos, é uma produção americana de baixo orçamento com apenas 77 minutos, com direção de Harold Daniels e fotografia original em preto e branco, que também ganhou uma versão colorizada por computador. Para a satisfação dos apreciadores de filmes antigos de horror, ambas as versões estão disponíveis no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

A americana Sheila Wayne (Cathy O´Donnell) vive na Suiça desde a infância e sofre com constantes pesadelos envolvendo uma casa misteriosa. Ela participa de sessões de terapia com o Dr. Victor Forel (Barry Bernard) na tentativa de encontrar alívio para seu tormento. Casada há pouco tempo com Philip Tierney (Gerald Mohr), e sem resultados positivos com o tratamento, eles partem para os Estados Unidos, indo morar numa velha casa de campo na Flórida, grande, isolada e onde Sheila encontra similaridades sinistras com a mesma casa de seus pesadelos.

Lá eles encontram o amargurado zelador Jonah Snell (John Qualen), que toma conta da casa há muitos anos, além também do proprietário, Mark Snell (Bill Ching), que tenta convencer a atormentada moça a abandonar o local para sua segurança, indo contra a vontade do marido, que insiste na permanência no local, com um interesse especial pelo sótão, que parece guardar segredos obscuros.

 

“Terror in the Haunted House” possui as conhecidas características de uma produção de baixo orçamento, com elenco reduzido formado por apenas cinco atores (mais o cachorro Jaggard) e filmagens praticamente numa única locação, a casa amaldiçoada do título, envolta em mistério e palco de uma tragédia sangrenta. Tem alguns bons momentos de suspense e atmosfera de horror psicológico, mas o roteiro de Robert C. Dennis explora os velhos clichês com um conjunto de ideias recicladas misturando família amaldiçoada, trauma de infância, assassinatos com violência extrema, perturbação mental, e a tradicional reviravolta que não surpreende, pois não exige muita atenção do espectador já habituado com uma infinidade de situações iguais.

Curiosamente, o filme se apresenta como o primeiro com a técnica chamada “Psycho-Rama”, que utiliza comunicação subliminar com apresentação de flashes muito rápidos ao longo do filme mostrando imagens como o rosto de um diabo, outro com olhos arregalados, uma caveira e frases enfatizando situações de horror. Lembrando os filmes do diretor e produtor William Castle, que lançou muitos no mesmo período utilizando diversas técnicas promocionais para assustar e entreter o público com interação entre as histórias e os espectadores. Aliás, essa mesma técnica de mensagens subliminares foi utilizada na versão do diretor William Friedkin para “O Exorcista” (The Exorcist) em 2000, com imagens rápidas do demônio Pazuzu ao longo do filme.   

 

“O machado, ele está usando o machado. Parem ele! O sangue. O sangue está em mim! Está em todo lugar. É sangue! Estão todos mortos.” – Sheila Wayne

 

(RR – 29/10/24)







A Maldição do Lobisomem (The Curse of the Werewolf, Inglaterra, 1961)

 


A produtora inglesa “Hammer” refilmou em cores os monstros clássicos em preto e branco do estúdio americano “Universal”. Foram vários filmes abordando múmias, a criatura de Frankenstein e vampiros (especialmente o temível Conde Drácula), mas curiosamente o lobisomem só tem um filme.

A Maldição do Lobisomem” (The Curse of the Werewolf), também conhecido no Brasil como “A Noite do Lobisomem”, é de 1961, tem direção do especialista Terence Fisher e roteiro de Anthony Hinds (sob o pseudônimo John Elder), a partir da história “The Werewolf of Paris”, de Guy Endore.

Hinds foi produtor da “Hammer” e por causa de restrições orçamentárias decidiu assumir o roteiro do único filme de lobisomem do estúdio, utilizando pseudônimo, e a partir daí ele passou a escrever roteiros para muitos filmes seguintes como “O Fantasma da Ópera” (1962), “O Beijo do Vampiro” (1963) e “O Monstro de Frankenstein” (1964), entre outros.

 

Ambientada no pequeno vilarejo de Santa Vera, na Espanha, a história apresenta um mendigo (Richard Wordsworth, o astronauta infectado de “Terror Que Mata”, 1955) que é preso na masmorra de um castelo pelo cruel Marquês Siniestro (Anthony Dawson), depois de aparecer em sua festa de casamento pedindo comida. Após divertir os convidados com diversas humilhações, ele é abandonado na prisão por anos, onde encontra uma bela serviçal muda (Yvonne Romain). O mendigo comete atos de violência sexual contra ela e a jovem foge do castelo, sendo resgatada da morte na floresta por Don Alfredo (Clifford Evans), que a leva para sua casa, para receber os cuidados de sua bondosa empregada Teresa (Hira Talfrey).

A criança nasce no Natal e ganha o nome Leon (Justin Walters), mas a mãe morre no parto. Já adulto, Leon (Oliver Reed), vai trabalhar num vinhedo e se apaixona pela bela Cristina (Catherine Feller). Porém, por ter nascido no Natal e ter sido gerado num estupro, Leon tem que enfrentar uma terrível maldição ancestral que irá perturbá-lo por toda a vida, quando em noites de lua cheia ele se transforma num monstro misto de homem e lobo, e que aterroriza a região em busca de vítimas.

 

O lobisomem é um corpo com o espírito de um lobo em constante guerra interna entre sua humanidade e a fera selvagem sedenta de sangue e violência que está dentro de si. A alma humana enfraquece quando é alimentada com ódio, avareza e solidão, principalmente no ciclo da lua cheia, onde as forças do mal são mais fortes. Por outro lado, o espírito da besta enfraquece quando prevalece o amor, a amizade e o calor humano.

A história do cinema de horror possui uma infinidade de filmes sobre essas fascinantes criaturas mitológicas de homens transformados em lobos. “A Maldição do Lobisomem” é um dos destaques e é sempre lembrado por ser uma produção da “Hammer”, a única abordando esse monstro clássico. Faz parte de uma elite formada por outras preciosidades como “O Lobisomem” (The Wolfman, 1941), da “Universal”, e “Um Lobisomem Americano em Londres” (An American Werewolf in London, 1981), de John Landis, entre outras.

A história de um ser humano transformado em monstro assassino, com seu perturbador conflito interno entre o desejo de ter uma vida normal e a fúria incontrolável para sentir na boca o gosto do sangue e carne de animais e outras pessoas.

O ator inglês Oliver Reed (1938 / 1999), que também esteve em outros filmes de horror como “A Mansão Macabra” (Burnt Offerings, 1976) e “Os Filhos do Medo” (The Brood, 1979), tem uma performance notável enfatizando seu drama com a paixão pela jovem Cristina e a necessidade de eliminar o monstro dentro de si. Curiosamente, o eterno ator coadjuvante Michael Ripper (1913 / 2000), que tem uma grande quantidade de participações menores em filmes da “Hammer”, e mais de 200 créditos em sua longa carreira, também aparece aqui, no papel de um bêbado que sucumbe nas garras do monstro. E tanto Oliver Reed quanto Yvonne Romain fizeram parte do elenco de outro filme da “Hammer”, “A Patrulha Fantasma” (Captain Clegg, 1962).

 

(RR – 19/09/15)




















Os Inocentes (The Innocents, Inglaterra, 1961, PB)

 


“Eles alguma vez voltam para possuir os vivos?”

 

Quando pensamos num filme antigo de horror sobrenatural, psicológico, com elementos góticos e temática de casa assombrada por fantasmas perturbados que atormentam os vivos, rapidamente vem à mente pelo menos dois clássicos extremamente significativos no gênero, ambos ingleses e dos anos 60 do século passado: “Desafio ao Além” (The Haunting, 1963), de Robert Wise, e “Os Inocentes” (The Innocents, 1961), produzido e dirigido por Jack Clayton, com fotografia em preto e branco de Freddie Francis (que também foi diretor de vários filmes da “Hammer” e “Amicus”), e que está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português, além de ter sido lançado no Brasil em mídia DVD pela “Classicline” e também pela “Versátil” num box com Blu-Ray, DVD e materiais extras.

O roteiro de William Archibald e Truman Capote é baseado no livro “A Volta do Parafuso” (The Turn of the Screw, 1898), de Henry James (1843 / 1916), que serviu de inspiração para uma infinidade de filmes, sendo “Os Inocentes” considerado o mais famoso e importante deles, e que por sua vez influenciou muitos outros como o ótimo “Os Outros” (The Others, 2001), dirigido pelo chileno Alejandro Amenábar e com Nicole Kidman.

 

Ambientado na Inglaterra da década de 1860, um aristocrata solteiro (Michael Redgrave) contrata a Srta. Giddens (Deborah Kerr) para assumir o posto de governanta numa imensa casa de campo no interior, administrando com plenos poderes o local e principalmente cuidando de seus pequenos sobrinhos órfãos, os estranhos irmãos Miles (Martin Stephens, de “A Aldeia dos Amaldiçoados”) e Flora (Pamela Franklin, de “A Casa da Noite Eterna” e “A Fúria das Feras Atômicas”). Na imensa casa ainda trabalham também as arrumadeiras Sra. Grose (Megs Jenkins) e Anna (Isla Cameron).

Porém, com o passar do tempo a Srta. Giddens testemunha eventos fantasmagóricos nos corredores escuros da casa e arredores da propriedade, com aparições sinistras, vozes e risos misteriosos, envolvendo o antigo zelador sádico Peter Quint (Peter Wyngarde) e a governanta anterior, a “mulher de preto” Srta. Mary Jessel (Clytie Jessop). Eles tinham um bizarro caso amoroso e morreram em circunstâncias trágicas, sendo que talvez seus fantasmas perturbados ainda estejam rondando o local, tentando possuir as crianças, e desestabilizando a nova governanta, já reprimida e paranoica com seus próprios demônios internos, e agora também angustiada e preocupada com a segurança delas.     

 

“Os Inocentes” tem ritmo lento e sustos discretos, é o típico filme de horror psicológico sugerido, sem correrias ou barulheiras com excesso de clichês, e não tem violência ou sangue. Por outro lado, apresenta situações desconfortáveis com aparições de espíritos malévolos de mortos inquietos com o objetivo de gelar a espinha e desafiar a sanidade dos vivos. E nesse sentido o filme funciona muito bem, sem precisar de monstros disformes e histéricos, investindo apenas na construção de uma atmosfera progressivamente sinistra.     

 O livro de Henry James foi adaptado para o cinema várias vezes e vale citar alguns exemplos. Em 1971 tivemos uma pré-sequência também inglesa chamada aqui no Brasil de “Os Que Chegam Com a Noite” (The Nightcomers), com direção de Michael Winner e Marlon Brandon no elenco, apresentando eventos anteriores focados no sinistro zelador Peter Quint e na governanta Srta. Jessel, cujas mortes afetaram o equilíbrio emocional da Srta. Giddens, a governanta seguinte. Em 2020 a plataforma de streaming “Netflix” exibiu uma série americana com 9 episódios, “A Maldição da Mansão Bly” (The Haunting of Bly Manor), criada por Mike Flanagan. No mesmo ano tivemos o filme americano “Os Órfãos” (The Turning), com Finn Wolfhard (da série “Stranger Things”).

 

“– Era somente o vento, minha querida.” – Miles

 

(RR – 23/10/24)