Sangue de Vampiro / A Noite do Vampiro (Blood of the Vampire, Inglaterra, 1958)

 


"O maior flagelo de todos que afligiu a humanidade foi o Vampiro. Ele se alimentou de sangue humano e a única maneira conhecida de acabar com o seu reinado de terror foi afundar uma estaca de madeira em seu coração.”

 

Sangue de Vampiro” (Blood of the Vampire, 1958), dirigido por Henry Cass, também conhecido por aqui como “A Noite do Vampiro”, é um filme inglês de horror gótico que tem todas as características de uma produção do cultuado estúdio “Hammer”, como se fosse pertencente ao seu ciclo de vampirismo. Mas, na verdade foi produzido pelos rivais Robert S. Baker e Monty Berman, e o roteiro de Jimmy Sangster (de vários divertidos filmes da “Hammer”) não tem vampiros, apresentando os tradicionais elementos góticos com ambientação no final do século XIX, numa história de horror com “cientista louco”.

 

Na Transilvânia de 1874, o cientista Dr. Callistratus (Donald Wolfit, que naturalmente tem um rosto incrível de vampiro), está envolvido em experiências com sangue humano. Por causa disso, ele é confundido com um vampiro pelos aldeões supersticiosos, e executado violentamente com uma estaca de madeira cravada no coração. Porém, é resgatado da sepultura pelo servo fiel Carl (Victor Maddern), que tem o rosto desfigurado, e que salva seu mestre com um transplante de coração realizado por um médico alcoólatra (Cameron Hall).

Apesar do sucesso da cirurgia, o Dr. Callistratus adquire uma doença no sangue que o motiva em buscar respostas nos estudos e experiências que realiza nos porões de uma prisão para criminosos insanos, onde exerce a função de diretor. Ele utiliza os internos como cobaias e decide recrutar a ajuda de outro médico mais jovem, John Pierre (Vincent Ball), que havia sido condenado e preso injustamente por causa de um suposto erro médico com transfusão de sangue.

Ele é noivo da bela Madeleine Duval (Barbara Shelley), que tenta ajudá-lo ao se infiltrar no presídio como empregada, onde se torna também vítima das experiências brutais do “cientista louco”.     

 

Disponível no “Youtube” numa versão original com opção de legendas em português, “Sangue de Vampiro” é indicado para os fãs de horror gótico e especialmente da “Hammer”. Apesar do título original mencionar “vampiro”, não existem esses seres mitológicos na história, apenas temos um típico “cientista louco” confundido com um vampiro, que está obcecado em experiências com o sangue de vítimas torturadas. Porém, mesmo com a ausência das criaturas noturnas sugadoras de sangue, ainda temos vários daqueles elementos tradicionais que reconhecemos em filmes similares, com a ambientação gótica e atmosfera sombria da penitenciária, que esconde um laboratório sinistro no porão repleto de instrumentos bizarros, além das vítimas acorrentadas na masmorra, aguardando apenas a morte como cobaias de experimentos mal sucedidos.

A atriz inglesa Barbara Shelley (1932 / 2021) teve uma carreira longa, que incluiu filmes importantes do gênero fantástico como “Aldeia dos Amaldiçoados” (1960) e pérolas da “Hammer” como “A Górgona” (1964), “Drácula, o Príncipe das Trevas” (1966), “Rasputin, o Monge Louco” (1966) e “Uma Sepultura na Eternidade” (1967).   

 

(RR – 26/04/23)





A Irmã de Satanás (The She Beast / La Sorella di Satana, Inglaterra / Itália, 1966)

 


"Retorna. Retorna tu, criatura, para as profundezas do mal. Retorna para a hedionda mortalidade. Vardella, eu te dou mais uma vez a tua liberdade. Eu te dou a vida.” – Conde Von Helsing

 

Assim como a menção de nomes de atores expressivos como Boris Karloff, Bela Lugosi, Peter Cushing, Christopher Lee e Vincent Price, entre outros, já indica uma associação ao cinema de Horror, agregando valor a qualquer filme onde estejam no elenco, no caso da atriz inglesa Barbara Steele (nascida em 1937), seu nome também está ligado ao gênero, sendo considerada pelos fãs como “a musa do Horror Gótico”, e certamente já destacando do limbo qualquer filme em que esteja participando, diferenciando da infinidade de similares, mesmo quando a qualidade for menor.

É o caso de “A Irmã de Satanás” (The She Beast), co-produção inglesa e italiana também conhecida pelos títulos originais alternativos “La Sorella di Satana” e “The Revenge of the Blood Beast”. Disponível no “Youtube” com opção de legendas em português, a direção é do inglês Michael Reeves (1943 / 1969), que faleceu ainda jovem com uma carreira curta de apenas três filmes, todos de horror. “Sob o Poder da Maldade” (1967), com Boris Karloff, e “O Caçador de Bruxas” (1968), com Vincent Price, completam a filmografia.  

 

Um casal de turistas ingleses recém-casados, Philip (Ian Ogilvy) e Veronica (Barbara Steele), em passeio na Transilvânia, interior da Romênia, vai parar num pequeno vilarejo e hospeda-se no hotel de propriedade de Ladislav Groper (Mel Welles). Lá, eles conhecem o aristocrata falido Conde Von Helsing (John Karlsen), um estudioso de demonologia que conta a história da bruxa Vardella (Jay Riley, sob pesada maquiagem), morta por afogamento no lago da cidade pelos aldeões furiosos, há 200 anos antes, e que jurou vingança com uma maldição aos seus executores e descendentes.

Depois de um acidente com o casal de turistas, com seu carro caindo no mesmo lago da execução de Vardella, a bruxa retorna à vida tentando tomar o lugar de Veronica. Resta ao marido Philip, com o auxílio de Von Helsing, tentar salvar a vida de Veronica, combatendo a bruxa disforme, que coloca em prática seu plano de vingança.

 

Com fotografia colorida e metragem de apenas 79 minutos, “A Irmã de Satanás” tem uma história ruim com elementos de humor que não funcionam e não combinam com a tentativa de atmosfera de horror com a bruxa deformada.

As ações atrapalhadas da polícia romena e perseguições banais de carro contribuem para o desinteresse e o que vale mesmo para os apreciadores de horror gótico é o prólogo com a execução de Vardella, seus violentos ataques após ressuscitar dois séculos depois, e os efeitos práticos de maquiagem da bruxa, toscos pelo orçamento baixo da produção, mas divertidos justamente por isso. E também pela presença sempre bem-vinda da musa Barbara Steele, que infelizmente tem uma participação pequena, pois só tinha um único dia livre na agenda para as filmagens.

Seu currículo de horror inclui vários filmes preciosos como “A Máscara de Satã” aka “A Maldição do Demônio” (1960), “O Poço e o Pêndulo” aka “A Mansão do Terror” (1961), “Dança Macabra” (1964), “A Máscara do Demônio” (1965), “Terror no Cemitério” (1965), “Amor de Vampiros” (1965), “Um Anjo Para Satã” (1966), “A Maldição do Altar Escarlate” (1968), “Calafrios” (1975), entre outros.

 

(RR – 18/04/23)






Sangue no Farol (Tormented, EUA, 1960, PB)

 


O diretor Bert I. Gordon, conhecido como “Mr. BIG”, iniciais de seu nome e chamado assim por seus divertidos filmes de baixo orçamento com monstros, animais e insetos gigantes, faleceu em Março de 2023, deixando um legado importante para a história do cinema bagaceiro de Horror e Ficção Científica. Além dos vários filmes com criaturas de tamanho descomunal, ele também fez a sua contribuição para o sub-gênero de fantasmas atormentados vingativos através de “Sangue no Farol” (Tormented, EUA, 1960), que está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português.

Com fotografia em preto e branco e duração curta de apenas 75 minutos, o roteiro também é dele em parceria com George Worthing Yates, outro nome reconhecido nas histórias de diversas tranqueiras preciosas como “O Mundo em Perigo” (1954) e “A Invasão dos Discos Voadores” (1956). E o elenco é liderado por Richard Carlson, de “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa Negra” (1954) e “O Vale Proibido” (1969), entre outras pérolas do cinema fantástico antigo.

 

O pianista de jazz Tom Stewart (Richard Carlson) está em véspera de se casar com Meg Hubbard (Lugene Sanders), de família rica e que vive numa ilha onde se encontra um farol abandonado. Porém, surge uma antiga namorada, a cantora Vi Mason (Juli Reding), que tenta atrapalhar o casamento, ainda apaixonada pelo pianista. Numa discussão entre eles no alto do farol, ela despenca para a morte, com Tom permitindo sua queda ao ter a possibilidade de ainda resgatá-la quando estava pendurada, antes de cair totalmente nas rochas e desaparecer no mar.

A partir daí ele é constantemente assombrado por visões ameaçadoras do fantasma vingativo da outrora amante, rancorosa e determinada a impedir o casamento. Tom também precisa lidar com outros problemas adicionais que contribuem para o seu tormento (daí o título original): a chantagem de Nick (Joe Turkel), o dono do barco que trouxe a moça ciumenta para a ilha, e como silenciar a jovem irmã de nove anos da futura esposa, Sandy Hubbard (Susan Gordon, filha do diretor), que testemunhou involuntariamente um ato criminoso dele.

 

“Sangue no Farol” explora o sub-gênero de fantasma, aquele tipo que tem uma morte repentina e violenta e que retorna do mundo dos mortos para se vingar e atormentar os vivos, envolto num ambiente com atmosfera sombria. Os efeitos práticos com trucagens simples, mas eficientes, típicos de uma produção com orçamento reduzido, são bem feitos para a época e recursos disponíveis. Com resultados interessantes nas várias aparições fantasmagóricas da bela Vi Mason atormentando seu antigo namorado Tom Stewart, sejam nas cenas onde surgem apenas suas mãos, ou sua cabeça decepada, ou ainda de corpo inteiro flutuando de forma ameaçadora. O farol em ruínas, palco da tragédia que dá início aos eventos sobrenaturais, tem sua importância significativa (daí o título nacional) como um elemento para potencializar o clima perturbador de horror.      


(RR – 10/04/23)





O Castelo dos Mistérios (You´ll Find Out, EUA, 1940, PB)

 


A jovem Janis Bellacrest (Helen Parrish), namorada de Chuck Deems (Dennis O´Keefe), é a herdeira de uma bela mansão gótica e da fortuna de sua família após o falecimento do pai. Para comemorar o aniversário de 21 anos ela chama a banda do comediante Kay Kyser para alegrar a festa com músicas e apresentações de stand up.

Entre os convidados de Janis e sua tia Margo Bellacrest (Alma Kruger), está um estranho trio formado pelo misterioso advogado da família Juiz Spencer Mainwaring (Boris Karloff), o médium charlatão Príncipe Saliano (Bela Lugosi) e o suposto psicólogo Prof. Karl Fenninger (Peter Lorre), que juntos planejam estragar a festa com intenções obscuras.


O Castelo dos Mistérios” (You´ll Find Out, EUA, 1940), também é conhecido por aqui como “O Palácio dos Espíritas” e está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português.

Com direção de David Butler, fotografia em preto e branco e produção da “RKO Radio Pictures”, é uma comédia musical para promover Kay Kyser e sua banda, contando com o acréscimo de alguns elementos sutis de horror como uma mansão gótica repleta de artefatos exóticos e passagens secretas para salas ocultas, e principalmente com a valiosa presença de três ilustres nomes do cinema fantástico, Boris Karloff, Bela Lugosi e Peter Lorre, na única vez em que atuaram juntos.

Este fato significativo já coloca o filme num lugar de destaque na imensidão de produções do período, apesar da história simplória e desinteressante, carregada de humor ingênuo e clichês sem muitos atrativos para aqueles que esperam por uma atmosfera mais sombria (infelizmente inexistente).

Assim como em outros casos similares no mesmo estilo, como “Um Cientista Distraído” (The Boogie Man Will Get You, 1942), também com Karloff e Lorre, provavelmente deve funcionar apenas para os apreciadores de comédias leves antigas, pois para os fãs de cinema fantástico do passado o filme vale somente pelos atores ícones do Horror, cuja presença certamente agrega muito valor, mesmo com personagens fúteis e nitidamente deslocados na história patética.

Os vários momentos com musicais e as tentativas constantes de alívio cômico são entediantes, e só é suportável devido à espera ansiosa pelas aparições do trio Karloff-Lugosi-Lorre, sócios numa conspiração para assassinar a herdeira da mansão com intenção de benefício próprio. Eles que estão entre os maiores atores do cinema de Horror de todos os tempos, com seus nomes eternamente associados ao gênero: o “monstro de Frankenstein” Boris Karloff, o vampiro “Drácula” Bela Lugosi e o assassino de crianças “vampiro de Dusseldorf” Peter Lorre.

 

(RR – 08/04/23)




A Noiva do Monstro (Bride of the Monster, EUA, 1955, PB)

 


Lar? Eu não tenho lar. Caçado, desprezado, vivendo como um animal! A selva é a minha casa. Mas eu mostrarei ao mundo que posso ser seu mestre! Vou aperfeiçoar minha própria raça de pessoas. Uma raça de super-homens atômicos que conquistará o mundo!

– “cientista louco” Dr. Erik Vornoff

 

O cineasta Edward D. Wood Jr. (1924 / 1978) foi considerado um dos piores de todos os tempos, e seu filme “Plano 9 do Espaço Sideral” (1959) recebeu o título de “Pior filme da história”. Mas, ao contrário, seus filmes são divertidos e eu já vi muita coisa pior e de diretores inferiores, mesmo trabalhando com mais dinheiro para a produção.

A Noiva do Monstro” (Bride of the Monster, EUA, 1955) é uma tranqueira divertida de baixo orçamento dentro do cinema bagaceiro de horror e ficção científica, explorando o tema de “cientista louco”. E homenageando o lendário ator húngaro Bela Lugosi (o eterno “Drácula” da “Universal” no filme de 1931) com o papel principal no final de sua carreira decadente. Só esse fato já é motivo mais que suficiente para destacar o filme entre a infinidade de outros similares do mesmo período, com as mesmas ideias e características, saindo do limbo do esquecimento e se colocando num espaço mais reservado e especial do cinema fantástico bagaceiro. 

 

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e com o aumento do interesse em pesquisas com radiação nuclear, um cientista exilado do leste europeu, Dr. Eric Varnoff (Bela Lugosi), vive numa casa sinistra perto de um pântano, onde faz experiências com energia atômica em cobaias humanas. Seu objetivo é criar seres obedientes com grande força e tamanho, auxiliado por Lobo (o sueco Tor Johnson), um grandalhão mudo e com problemas mentais que mantém a segurança com o uso de violência primitiva. As vítimas de experiências fracassadas, por sua vez, garantem o cardápio de um polvo imenso mutante mantido pelo cientista.

A ocorrência de desaparecimentos misteriosos na região desperta a atenção da polícia, na investigação do Tenente Dick Craig (Tony McCoy) e de seu chefe Capitão Robbins (Harvey B. Dunn), além do policial atrapalhado Kelton (Paul Marco, responsável por tentativas de alívio cômico). E os sumiços também chamam a atenção da jornalista investigativa Janet Lawton (Loretta King), a jovem e bela “noiva” do título, que se torna prisioneira do cientista.

 

O filme é recomendado para aqueles que se divertem com tranqueiras de horror e FC com histórias exageradas no escapismo explorando os clichês tradicionais dos filmes de “cientista louco” e “monstros bagaceiros”. Entre os destaques temos o comportamento debochado e amargurado do cientista, o uso de elementos da guerra fria com disputas armamentistas na pesquisa de energia nuclear, o medo das consequências provenientes de experiências com radioatividade, e o laboratório repleto de aparelhos elétricos bizarros. Além também do impagável polvo gigante devorador de pessoas, feito de borracha com efeitos toscos e totalmente estático na interação com os atores, tendo entre suas vítimas o especialista em criaturas pré-históricas, Prof. Vladimir Strowski (George Becwar), que visitou o cientista na tentativa fracassada de convencê-lo a retornar ao país natal com o sucesso do trabalho científico.    

A Noiva do Monstro” está disponível no “Youtube” em versão original com opção de legendas em português, e também foi lançado em DVD no Brasil, tanto pela “Continental” num box com outros filmes de Ed Wood, quanto pela “Flash Star”, em sua “Classic Collection”, com a opção de uma versão colorizada digitalmente.

Foi o último filme de Bela Lugosi interpretando um “cientista louco”, papel que fez magistralmente em inúmeros filmes. E também o último com sua voz original. Já doente e em fim de carreira, ele apareceu somente em mais dois filmes, “A Torre dos Monstros” (The Black Sleep, 1956), como um personagem mudo, e vindo a falecer ainda no mesmo ano, não conseguiu completar a participação em “Plano 9 do Espaço Sideral”, onde Ed Wood utilizou algumas filmagens prévias que tinha realizado com o ator e ainda estavam disponíveis.

Curiosamente, em 1957 Tor Johnson reprisou um papel semelhante como o serviçal de mesmo nome Lobo no filme “O Extraordinário” (The Unearthly, 1957), dessa vez obedecendo o “cientista louco” John Carradine (outro ator lendário do cinema bagaceiro de horror). 

 

“Meu prezado professor Strowski, há vinte anos, fui banido de minha terra natal, separado de minha esposa e filho, para nunca mais vê-los. Por que? Porque sugeri usar os elementos atômicos, para produzir super seres, seres de força e tamanho impensáveis. Fui classificado como um louco, um charlatão, proscrito em um mundo da ciência que antes me honrava como um gênio. Agora, aqui neste inferno abandonado na selva, provei que estava correto. Não, professor Strowski, não é brincadeira.” – “cientista louco” Dr. Erik Vornoff

 

(RR – 27/03/23)







Um Cientista Distraído (The Boogie Man Will Get You, EUA, 1942, PB)

 


O cientista bioquímico Dr. Nathaniel Billings (Boris Karloff) é o proprietário endividado de uma hospedaria colonial construída em 1764. Ele é obrigado a vender o imóvel histórico e para a sua sorte aparece uma jovem compradora, Winnie Slade (Jeff Donnell), que pretende transformar num hotel. Ela é recém divorciada do frenético Bill Layden (Larry Parks), que tenta persuadi-la a desfazer o negócio devido a diversos fatos estranhos envolvendo os habitantes do lugar.

Na taverna antiga temos um casal de caseiros idosos meio lunáticos, Amelia Jones (Maude Eburne) e Ebenezer (George McKay), e o cientista conseguiu convencer a nova compradora para que ele pudesse continuar com suas experiências misteriosas no laboratório localizado no subsolo, repleto de máquinas e aparelhos elétricos bizarros, além de um quarto secreto com supostos cadáveres.

Depois que o multifuncional Dr. Arthur Lorencz (Peter Lorre), que exerce vários cargos como advogado e xerife, e que também tem seus momentos de cientista inventor, descobre o objetivo das experiências do Dr. Billings, eles selam um acordo de sociedade pelos lucros dos resultados.

O projeto científico consiste na criação de super homens para ajudar o exército americano na Segunda Guerra Mundial, contra seus inimigos Alemanha, Japão e Itália, utilizando vendedores de bugigangas que surgem aleatoriamente como cobaias nas experiências como o Sr. Johnson (Eddie Laughton) e principalmente Maxie (Maxie Rosenbloom), na tentativa de conferir forças e poderes extraordinários em homens comuns.

Após muitas trapalhadas e falhas nas experiências, parece que o único local para onde todos devem ir é o hospício da cidade.

 

Um Cientista Distraído” (The Boogie Man Will Get You, 1942) está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português. O nome nacional parece mal escolhido e poderia ser mais adequado apenas utilizar a tradução literal “O Bicho Papão Vai Te Pegar”. É bem curto com apenas 66 minutos, fotografia em preto e branco e direção de Lew Landers para a “Columbia Pictures”. Foi lançado no período em que ocorria a Segunda Guerra Mundial, servindo talvez como um alívio cômico para o momento conturbado que o planeta enfrentava com a violência da guerra.

É uma comédia com elementos sutis de horror e ficção científica explorando o sempre interessante tema de “cientista louco” e aproveitando a presença de Boris Karloff e Peter Lorre, atores expressivos cujos nomes já garantem algum entretenimento escapista e certamente agregam grande valor ao filme. É o último trabalho de Karloff para a produtora “Columbia”, que aproveitou a oportunidade dele estar atuando na peça de teatro “Arsenic and Old Lace” na época, e que possui similaridades com o filme. E cuja história curiosamente foi lançada em 1944 no filme “Este Mundo é Um Hospício”, com Lorre no elenco.

Provavelmente deve funcionar apenas para os apreciadores de comédias leves antigas, pois para os fãs de cinema fantástico do passado o filme vale exclusivamente pela dupla Karloff e Lorre e pelo tema de “cientista louco”, uma especialidade do inglês Boris Karloff (1887 / 1969), que ficou eternamente conhecido como o monstro de Frankenstein nos filmes da “Universal”, mas que também teve uma longa carreira com muitos papéis de vilão envolvido em experiências científicas bizarras. Já Peter Lorre, nascido na Eslováquia em 1904 e falecido em 1964, tem vários filmes importantes de horror e FC no currículo como “M, o Vampiro de Dusseldorf” (1931), “20.000 Léguas Submarinas” (1954), “Viagem ao Fundo do Mar” (1961), “Muralhas do Pavor” (1962), “O Corvo” (1963) e “Farsa Trágica” (1964), estes dois últimos também com Karloff e elementos de humor negro.   

 

(RR – 19/03/23)





I Was a Teenage Werewolf (EUA, 1957, PB)

 


“Nas sombras da noite, a língua das montanhas, uivam os cães famintos para a lua, camponeses cruzam a colina a se esconder no abrigo. Qualquer olhar felino, dentes afiados e brilhantes por aí eles acham que é um lobisomem.” – Dr. Alfred Brandon

 

O ator Michael Landon (1936 / 1991), conhecido pelas séries de TV “Bonanza” (1959 / 1973), “Os Pioneiros” (1974 / 1983) e “O Homem Que Veio do Céu” (1984 / 1989), foi o protagonista no início de carreira do filme de horror juvenil bagaceiro “I Was a Teenage Werewolf” (1957), dirigido por Gene Fowler Jr. e escrito e produzido por Herman Cohen (1925 / 2002). A distribuição foi da lendária AIP (“American International Pictures”), de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, empresa especializada no cinema fantástico de baixo orçamento.

 

Na pequena cidade americana de Rockdale vive o jovem estudante encrenqueiro Tony Rivers (Michael Landon), órfão de mãe e filho de um pai distante por causa do trabalho, Charles Rivers (Malcolm Atterbury). Sempre envolvido em brigas e confusões na escola, ele tem dificuldades no relacionamento com a namorada Arlene Logan (Yvonne Lime) e os amigos Jimmy (Charles Wilcox, creditado como Tony Marshall) e Vic (Ken Miller), entre outros.

Devido ao mal comportamento, ele é persuadido a consultar o psiquiatra Dr. Alfred Brandon (Whit Bissell), que por sua vez, auxiliado pelo assistente Dr. Hugo Wagner (Joseph Mell), está envolvido em experiências com hipnose e aplicação de um soro especial, que tem o objetivo de regressão da raça humana, ativando seus instintos primitivos.

Utilizado como cobaia pelo “cientista louco”, o estudante rebelde Tony se transforma num lobisomem (daí o título) colecionando vítimas que cruzam o seu caminho, sendo perseguido pela polícia através do Detetive Donovan (Barney Phillips), o chefe de polícia Baker (Robert Griffin) e o oficial Chris Stanley (Guy Williams), culminando num confronto final com resultados previsíveis.      

 

O filme é curto, com apenas 76 minutos, e explora a temática de “cientista louco” e suas experiências supostamente para o bem da humanidade, com resultados catastróficos na criação de um “homem transformado em monstro”, aproveitando um personagem clássico do cinema de horror, o lobisomem. A produção é paupérrima, filmado em apenas sete dias, e a história é arrastada, com o assassino selvagem iniciando sua chacina somente a partir da metade do filme, mas com poucas mortes e a garantia da diversão dos fãs do cinema bagaceiro de horror ficando por conta quase que exclusivamente pelas cenas com o lobisomem e sua maquiagem tosca. Porém, é um filme que ganhou o status de cultuado e é sempre lembrado, fugindo do limbo conseguindo certo destaque e se distanciando da infinidade de tranqueiras do mesmo período.

Curiosamente, o roteiro deixou de lado os elementos tradicionais da mitologia dos lobisomens como a influência da lua cheia e aversão às balas de prata, por exemplo. Aqui, o jovem briguento se transforma em monstro devido à combinação de sessões de hipnose e ingestão de uma fórmula química.

O ator Whit Bissell, que fez o “cientista louco”, teve uma carreira imensa e é um rosto conhecido por filmes como “O Monstro da Lagoa Negra” (1954) e a série de TV “O Túnel do Tempo” (1966), onde fez parte do elenco fixo como o militar Heywood Kirk. Já Guy Williams, que aqui teve um papel pequeno como um dos policiais na caça do lobisomem, seria mais tarde o Prof. Robinson da popular série de TV “Perdidos no Espaço” (1965 / 1968).    

“I Was a Teenage Werewolf” está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português. A recepção de bilheteria com bom retorno financeiro estimulou a oportunidade de aproveitamento do momento favorável para a produção de mais filmes similares explorando outros monstros clássicos do Horror, vindo a seguir “I Was a Teenage Frankenstein” (com Whit Bissell fazendo novamente um papel de “cientista louco”), “Blood of Dracula”, ambos também de 1957, e “How to Make a Monster” (1958), que reúne tanto o lobisomem quanto a criatura de Frankenstein.

 

(RR – 13/03/23)