O Choque dos Planetas (I Diafanoidi Vengono da Marte / The War of the Planets, Itália, 1966)


"O Universo é infinito e eterno. Quem pode dizer quando tudo começou? Com o advento das viagens espaciais, a nossa pequena Terra conquistou uma dimensão maior, o Homem se expõe a novos elementos, totalmente dominado por uma inteligência alienígena. É véspera de ano novo. D.U.U. (Democracias Unidas do Universo) enviou diversas estações ao Cosmos. Porém, as estações Alfa 1, Alfa 2, Delta 2 e Gama 1 deparam-se repentinamente com o indefinível, ameaçadas por um poder imaterial, os Diafanoides.”

 

O cinema fantástico italiano, principalmente nos anos 60 do século passado, tem significativa importância no gênero, tanto o cultuado ciclo de horror gótico quanto os filmes bagaceiros de ficção científica com efeitos práticos e sem computação gráfica.

O diretor Antonio Margueriti (1930 / 2002), utilizando principalmente o pseudônimo Anthony Dawson, contribuiu com vários filmes nessas temáticas como “A Mansão do Homem Sem Alma” (1963) e “Dança Macabra” (1964) no horror gótico, e “Destino: Espaço Sideral” (1960) e “O Planetas dos Desaparecidos” (1961) na FC de baixo orçamento.

É dele também “O Choque dos Planetas” (The War of the Planets / I Diafanoidi Vengono da Marte, 1966), que faz parte de uma série de filmes com a estação espacial Gama 1, sendo o segundo de uma quadrilogia, seguindo “Esse Bravo, Selvagem e Violento Mundo” (“Wild, Wild Planet” AKA “I Criminali della Galassia”, 1966), com os mesmos personagens e elenco principal, e sendo seguido por “War Between the Planets” AKA “Il Pianeta Errante” (1966) e “Snow Devils” AKA “La Morte Viene dal Pianeta Aytin” (1967), com outros personagens e atores diferentes.

 

Com roteiro de Ivan Reiner e Renato Moretti, a história é ambientada no século 21, e conforme a introdução narrada e reproduzida no início desse texto, a humanidade domina as viagens espaciais e possui várias estações e postos avançados orbitando a Terra.

Porém, na véspera de passagem para um ano novo, todos foram surpreendidos em meio às festas e comemorações por um ataque de uma raça alienígena imaterial, os “diafanoides”. Eles se estabeleceram numa base em Marte (daí o título original italiano), e se manifestam na forma de luzes verdes brilhantes e nuvens de fumaças, se apossando dos corpos dos humanos nas diversas estações espaciais. Através de lavagem cerebral que os transforma em criaturas submissas e isentas de sentimentos e emoções para servir “o todo”, uma consciência coletiva única que descarta as pessoas consideradas fracas ou incapazes de agregar.

As ações são concentradas na estação “Gama 1”, liderada pelo Comandante Mike Halstead (Tony Russel), que tem uma equipe formada pela namorada, a bela Tenente Connie Gomez (Lisa Gastoni), além dos Tenentes Jake Jacowitz (Franco Nero) e Ken (Carlo Giustini). Eles, com a ajuda do General Maitland (Umberto Raho) e do General Halstead (Enzo Fiermonte), pai do Comandante da estação, tentam juntos combater os alienígenas, impedindo que os invasores cheguem à Terra.

 

“O Choque dos Planetas” tem uma história clichê de invasão alienígena com uma crítica social no estilo de “Invasores de Corpos” (1956), com as pessoas transformadas em zumbis eliminando as emoções. O que garante mesmo a diversão são todos os elementos característicos dos filmes de FC bagaceiros produzidos com orçamentos reduzidos. Pois a qualidade técnica é infinitamente inferior numa comparação por exemplo com “2001: Uma Odisseia no Espaço”, lançado apenas dois anos depois.

O entretenimento fica por conta dos efeitos e trucagens precários realizados com maquetes, miniaturas, carros, naves e foguetes espaciais toscos, além de cenários coloridos exagerados simulando ambientes futuristas, trajes espaciais prateados e salas de controle cheias de painéis enormes com botões e luzes piscando. Tudo bem longe do CGI de dezenas de anos mais tarde, cuja artificialidade muitas vezes elimina a magia dos efeitos práticos.

O elenco é muito grande, com um excesso de personagens sem importância, dificultando às vezes o reconhecimento e conexão com o espectador, que concentra a atenção na tripulação principal da estação Gama 1. O ator italiano Franco Nero é bastante reconhecido por seus filmes de western, especialmente como o personagem Django no filme homônimo de 1966.    

O filme está disponível no “Youtube” com uma versão dublada em português.

 

"Morte às emoções que geram o ódio, a agonia e a vingança, a luxúria que vicia o Homem. Que prevaleça a serenidade do pensamento, com a unidade espiritual que movimenta o Universo. Nós somos parte do mundo.” – Diafanoides

 

(RR – 16/11/22)




A Vingança de Lady Morgan (La Vendetta di Lady Morgan / The Vengeance of Lady Morgan, Itália, 1965, PB)

 


"Eu estou morta. Quando uma pessoa perde a vida devido a uma morte violenta, é destinada a vagar pelo lugar onde morreu.” – Lady Susan Morgan

 

Para quem aprecia os filmes antigos do gênero fantástico, o ciclo italiano de horror gótico certamente é indispensável, com suas histórias de fantasmas e castelos assombrados. São tantos filmes, principalmente dos anos 60 e 70 do século passado, que é árdua a tarefa de pesquisa desse fascinante subgênero do cinema de horror.

“A Vingança de Lady Morgan” (La Vendetta di Lady Morgan, 1965), também conhecido pelo título internacional “The Vengeance of Lady Morgan” é mais uma preciosidade que merece registro, com direção de Massimo Pupillo (creditado como Max Hunter) e fotografia em preto e branco.   

 

 Na Escócia de 1865, o Lord Harold Morgan (Paul Muller) está interessado num casamento com Lady Susan Blackhouse (Barbara Nelli), uma bela jovem de família rica e tradicional, sobrinha herdeira de Sir Neville Blackhouse (Carlo Kechler). Porém, ela é apaixonada pelo arquiteto Pierre Brissac (Michel Forain), que misteriosamente sofreu um suposto acidente à bordo de um barco em alto mar, escapando por pouco da morte, e ficando internado num hospital com perda de memória.

Com o caminho livre, o casamento acontece, e logo começa a surgir fatos estranhos no castelo da família, com a chegada de novos e suspeitos empregados ligados ao Lord Harold, como a serviçal Terry (Edith MacGoven), o violento mordomo Roger (Gordon Mitchell) e a bela e misteriosa governanta Miss Lillian (Erika Blanc). Com suas habilidades de hipnose ela consegue manipular a mente de Lady Morgan, que passa a ouvir vozes e ter alucinações, perdendo a sanidade e sendo induzida ao suicídio. Ela então retorna do mundo dos mortos como um fantasma vingativo à procura de justiça e para recuperar o amor de Pierre, que recobrou a memória e retornou ao castelo.    

 

A primeira metade de “A Vingança de Lady Morgan” tem uma narrativa um pouco mais arrastada, com uma história clichê sobre uma bela mulher sendo vítima do marido inescrupuloso interessado apenas em sua fortuna, armando um plano maquiavélico para eliminá-la. Porém, depois o roteiro investe nos aguardados elementos sobrenaturais do horror gótico, com aparições fantasmagóricas e exploração dos cantos sombrios do castelo, com seu cemitério sinistro no jardim envolto em névoa espessa e a mórbida masmorra no subsolo. Através da vingança sangrenta do espírito de Lady Morgan (daí o título), com mortes violentas num ambiente atmosférico.

A história bebeu na fonte do anterior “Dança Macabra” (Castle of Blood, 1964), de Antonio Margheriti, outra preciosidade italiana com Barbara Steele, ao explorar o mesmo tema dos fantasmas atormentados que morreram violentamente e ficaram presos no castelo onde viviam, necessitando desesperadamente do sangue dos vivos.   

 

O ator suiço Paul Muller (1923 / 2016) teve uma carreira longa, sendo um rosto conhecido em vários filmes de horror do cineasta espanhol Jesus Franco. E Gordon Mitchell pode ser reconhecido em diversos filmes italianos de western.

“A Vingança de Lady Morgan” foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Obras Primas do Terror – Gótico Italiano” # 2, apresentado como material extra, ao lado de outros seis filmes similares que complementam o box. Está também disponível no “Youtube” com legendas em português.

 

"Não queremos matá-lo. Precisamos somente do seu sangue. Você será nossa fonte de vida. Não há saída. Seu destino está selado.” – dos fantasmas perturbados para Neville Blackhouse, acorrentado na masmorra do castelo

 

(RR – 09/11/22)





Tumba Maldita (The Curse of the Living Corpse, EUA, 1964, PB)

 


Tumba Maldita” (The Curse of the Living Corpse, EUA, 1964) é um filme de baixo orçamento com fotografia em preto e branco, direção de Del Tenney, e para a sorte dos apreciadores de filmes antigos bagaceiros de Horror, tem no “Youtube” uma versão original americana com legendas em português.

 

 A história é ambientada nos Estados Unidos do final do século XIX, em 1892 na região da Nova Inglaterra. O patriarca de uma família rica, Rufus Sinclair, que tinha fobia em ser enterrado vivo e sofria de uma doença que deixava os nervos enrijecidos, morreu em circunstâncias duvidosas e em seu funeral o caixão é colocado numa cripta do cemitério.

Considerado tirano por sua família, que também é composta por indivíduos sem escrúpulos, as atenções se voltam para a leitura de seu testamento, através do advogado James Benson (Hugh Franklin), com todos eles interesseiros e ávidos por receber suas respectivas heranças.

A família é composta pela esposa Abigail (Helen Waren), os dois filhos, o mulherengo Bruce (Robert Milli), que tem um caso amoroso com a empregada Letty Crews (Linda Donovan), e o alcoólatra Philip (Roy Scheider), casado com Vivian (Margot Hartman, esposa do diretor Del Tenney na vida real), além do sobrinho Robert Harrington (Dino Narizzano), cuja namorada é Deborah Benson (Candace Hilligoss). Entre os empregados, ainda tem o mordomo Seth Lucas (J. Frank Lucas) e a cozinheira medrosa (Jane Bruce).

Depois que o “cadáver vivo” (do título original) do pai milionário desaparece misteriosamente da “tumba maldita”, assassinatos macabros começam a ocorrer entre os membros da família, despertando a atenção da polícia, sob a investigação do Chefe Barnes (Paul Haney) e seu ajudante atrapalhado e incompetente Winters (George Cotton), responsável pelos alívios cômicos.

Num aparente plano de vingança onde as mortes eram relacionadas aos principais medos de cada um, indo da fobia da mãe Abigail em ser queimada por fogo, passando pela aversão do vaidoso Bruce em ter o rosto desfigurado, o temor de Philip em ser estrangulado, e de sua esposa Vivian em morrer afogada.      

 

“Tumba Maldita” tem um roteiro apostando no mistério que envolve a leitura de um testamento e as mortes trágicas dos membros de uma família desunida, gananciosa e mergulhada na desconfiança mútua, com a tradicional investigação policial. Mas, sem os sempre esperados elementos sobrenaturais que certamente agregariam valor para a história e para o entretenimento. As mortes até podem ser consideradas violentas, principalmente para a época da produção, com cabeça decapitada, rosto mutilado, queimaduras e afogamentos, porém, a falta de mais elementos góticos e fantasmagorias prejudicam um pouco o resultado final.

 

Curiosamente, foi o filme de estreia do ator Roy Scheider (1932 / 2008), que teve uma carreira de sucesso, com créditos importantes como no clássico “Tubarão” (Jaws, 1975), de Steven Spielberg. O multifuncional Del Tenney (1930 / 2013), além de exercer a função de diretor, roteirista e produtor, também foi ator (não creditado), interpretando o “cadáver vivo”.

 

(RR – 04/11/22)






The Hyena of London (La Jena di Londra, Itália, 1964, PB)

 


La Jena di Londra” (Itália, 1964), também conhecido pelo título em inglês “The Hyena of London”), tem fotografia em preto e branco, roteiro e direção de Gino Mangini (sob o pseudônimo Henry Wilson), e está disponível no Youtube numa versão original italiana com legendas em português. É curo com apenas 75 minutos, e tem uma história clichê de investigação policial de misteriosos assassinatos num vilarejo inglês do final do século XIX, com alguns elementos sutis de horror e até ficção científica.

 

 O perigoso assassino em série Martin Bauer foi preso pela polícia e condenado à morte por enforcamento. Conhecido como “Hiena” (daí o título), ele foi executado numa sexta-feira, 19 de Dezembro de 1883. Porém, seu corpo desapareceu misteriosamente do cemitério, enquanto coincidentemente uma sucessão de mortes violentas teve início num vilarejo chamado Bradford, perto da capital inglesa Londres.

Os assassinatos brutais despertaram a atenção da polícia local, com o Inspetor Brett O´Connor (Gino Rosso, creditado como Thomas Walton) liderando as investigações, auxiliado pelo ajudante Brown (Attilio Dottesio, como William Burke) e Quayle (Gino Rumor, como Antony Wright), um representante da Scotland Yard.

Entre as pessoas de destaque no vilarejo temos o médico rico Dr. Edward Dalton (Giotto Tempestini, como Bernard Price), envolvido com experiências bizarras no estilo de “cientista louco” e auxiliado pelo inescrupuloso Dr. Antony Finney (Angelo Dessy, como James Harrison). E para completar o elenco tem o casal de namorados formado por Henry Duin (Tony Kendall) e Muriel (Diana Martin), filha do Dr. Dalton, e os vários empregados da mansão do médico, como o jardineiro Peter (Luciano Pigozzi, como Alan Collins), sua esposa infiel Margie (Ilona Drash, como Denise Clar) e o mordomo Chris (Giovanni Tomaino, como John Mathews).

 

A primeira metade do filme é bem arrastada e entediante, voltada claramente para o drama e com menos ênfase nos esperados elementos de horror gótico normalmente associados à ambientação da história. O roteiro perde tempo apenas apresentando vários personagens desinteressantes, com excesso de cenas envolvendo casais de namorados e triângulos amorosos.

Já a partir da metade para o final as ações melhoram um pouco com a ocorrência de assassinatos (todos “off screen”) num vilarejo, inclusive com a morte trágica de uma adolescente, num momento ousado dos realizadores, principalmente pela época, um fato que motivou os aldeões revoltados a se reunirem numa caçada de vingança ao assassino pela floresta.

Somente com as mortes misteriosas e a consequente investigação policial a narrativa ganhou um pouco mais de dinâmica e atmosfera sombria. Porém, ainda assim, nada muito significativo e memorável o suficiente que pudesse impedir de tornar o filme um exemplar apenas mediano e esquecido do horror gótico, principalmente quando comparado com inúmeras outras preciosidades italianas do mesmo período.

Curiosamente, o ator italiano Tony Kendall (1936 / 2009) esteve no horror gótico “O Chicote e o Corpo” (1963), ao lado de Christopher Lee, e em “O Retorno dos Mortos-Vivos” (1973), segundo filme da tetralogia espanhola dos mortos cegos de Amando de Ossorio.

 

(RR – 25/10/22)






The Seventh Grave (La Settima Tomba, Itália, 1965, PB)

 


" – De que tem medo?”

“ – De tudo. Esta atmosfera opressiva. Este castelo. Os túmulos no parque. E essa obsessão pelo mistério do túmulo vazio. Como se esperasse por um outro cadáver. Não aguento mais.”

 

Diálogo entre o tabelião William Elliot e a médium Katy

 

“La Settima Tomba” (também conhecido com o título internacional “The Seventh Grave”) é um filme italiano de 1965 dentro da temática do horror gótico com elementos de mistério e investigação policial de assassinatos. Com metragem de apenas 73 minutos e fotografia em preto e branco, a direção é de Garibaldi Serra Caracciolo (creditado como Finney Cliff), que também é co-autor do roteiro, em seu único filme na carreira.

Não é fácil obter informações sobre esse filme e para a sorte dos apreciadores do estilo temos disponível no “Youtube” uma cópia em versão original italiana com legendas em português, que apesar da pouca qualidade de imagem, é uma oportunidade preciosa de conhecer um filme mais obscuro e esquecido do ciclo italiano de horror gótico.  

 

Ambientado na Escócia do século XIX, a história básica é sobre um grupo de herdeiros que se reúnem num castelo para a leitura do testamento do proprietário falecido, Sir Reginald Thorne, um médico excêntrico conhecido por suas experiências bizarras na tentativa de cura da lepra.

Entre os herdeiros temos os americanos Sr. Jenkins (Antonio Casale, creditado como John Anderson), sua esposa Mary (Bruba Baini, creditada como Kateryn Schous) e o irmão mais novo Fred Jenkins (Gianni Dei, creditado como John Day). Outros visitantes do castelo são Sir Percival (Umberto Borsato, creditado como Gordon Mac Winter), sua filha sensitiva Katy (Stefania Nelli, creditada como Stephania Nelly), o pastor Crabbe (Ferruccio Viotti, creditado como Richard Gillies), o tabelião William Elliot (Nando Angelini, creditado como Fernand Angels), responsável pelo testamento, e a empregada Betty (Germana Dominici, creditada como Germayne Gesny).

Depois que o cadáver de Sir Reginald desaparece da sétima tumba (daí o nome do filme) na cripta onde repousava no porão do castelo, e ocorrem assassinatos misteriosos como o do guardião do castelo Patrik (Calogero Reale, creditado como Edward Barrett), surge o Inspetor da polícia Martin Wright (Armando Guarnieri, creditado como Armand Warner) para liderar as investigações.

 

“The Seventh Grave” é uma produção de baixo orçamento com muitos defeitos, história rasa, repleta de clichês, erros de continuidade e narrativa arrastada com baixa contagem de cadáveres. Porém, a despeito dos vários problemas, temos a esperada atmosfera sombria de horror gótico, garantida pelos personagens sinistros e principalmente pelo imponente castelo com seus cômodos imensos, escadarias intermináveis, passagens secretas, cemitério no jardim e a cripta dos mortos no porão.

As filmagens foram realizadas em locações no “Castello Piccolomini”, construído em 1460 na cidade italiana de Balsorano, e que serviu de palco macabro para muitos outros filmes similares como “O Túmulo do Horror” (1964), com Christopher Lee.

 

(RR – 17/10/22)




O Túmulo do Horror (Crypt of the Vampire, Itália / Espanha, 1964, PB)

 


“E pelas minhas mãos a linhagem dos Karnstein sumirá da face da Terra. E meu sangue derramado voltará às minhas veias. E os filhos dos traidores que me mataram serão destruídos. Para cada instante de sofrimento prometo-lhes séculos de vingança. Assim, eu prometo, Sheena Karnstein. Meu sinal é a estrela de cinco pontas.”

 

O escritor irlandês Sheridan Le Fanu (1814 / 1873) é o autor da conhecida história de vampirismo “Carmilla”, que foi adaptada algumas vezes no cinema como em “Rosas de Sangue” (1960) e “Atração Mortal” (1970, também conhecido como “Os Amantes Vampiros” e “Carmilla, a Vampira de Karnstein”, produção inglesa da “Hammer”.

O ciclo de horror gótico italiano dos anos 60 do século passado também tem um filme levemente inspirado nesse universo ficcional, “O Túmulo do Horror” (Crypt of the Vampire / Terror in the Crypt, 1964), que tem o título original italiano “La Cripta e L`incubo”, numa co-produção com a Espanha e com Christopher Lee liderando o elenco. Com fotografia em preto e branco, a direção é de Camillo Mastrocinque (sob o pseudônimo Thomas Miller). Foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Obra Primas do Terror – Gótico Italiano” # 2, e está disponível no “Youtube” com áudio original italiano e legendas em português.

 

“Não há sequer um nome sobre a minha tumba. Somente uma pedra negra. Eu colocarei seus nomes sobre vossas lápides e vereis meu rosto sobre suas sepulturas. Eu serei ela e ela serei eu. E os séculos não contarão para mim.” – Sheena Karnstein

 

Preocupado com uma antiga maldição familiar, o Conde Ludwig Karnstein (Christopher Lee) pede ajuda para o restaurador de documentos históricos Friedrich Klauss (José Campos) para visitá-lo em seu castelo gótico no alto de um penhasco, com o objetivo de tentar descobrir entre os registros em sua biblioteca alguma informação reveladora de seus ancestrais e a possibilidade de relação com sua filha Laura (Adriana Ambesi, creditada como Audry Amber). Ela está sofrendo com pesadelos terríveis e segundo a governanta Rowena (Nela Conjiu), poderia estar possuída pelo espírito maligno e vingativo de Sheena Karnstein, condenada à morte por bruxaria e vampirismo, fato que poderia explicar as visões de Laura e a ocorrência sinistra de assassinatos de membros da família e empregados do castelo.

Entre os serviçais tem a jovem Annette (Vera Valmont), amante do Conde, e o mordomo Cedric (José Villasante). Paralelamente, um acidente com uma carruagem obriga a jovem Ljuba (Ursula Davis) a se hospedar no castelo. Ela torna-se rapidamente amiga íntima da solitária Laura, ajudando a afastá-la da depressão, e juntas tentam entender o mistério por trás de seus pesadelos, assombrações, mortes sangrentas e a atmosfera perturbadora do castelo.

 

"Raramente temos visitantes aqui. É como viver em uma tumba... ou em algum lugar no limite do mundo.” – Laura Karnstein

 

Todos os filmes do ciclo italiano de horror gótico são interessantes e com entretenimento garantido para os fãs do estilo, justamente pela exploração dos mesmos velhos clichês de castelos assombrados por maldições. “O Túmulo do Horror” é sinistro do começo ao fim, mesmo nos momentos de narrativa mais arrastada e está entre os memoráveis que sempre vale citar como “A Maldição do Demônio” (1960) e “Dança Macabra” (1964), entre outros.

Sua atmosfera sombria é de gelar a espinha até dos mortos, destacando as catacumbas do castelo, palco de rituais de magia negra e pousada eterna da morte para os ancestrais da família Karnstein, além da infinidade de passagens secretas, corredores e cantos obscuros ideais para fantasmagorias. Além do castelo macabro (locações no Castello Piccolomini, na Itália), temos também as ruínas de um vilarejo próximo onde uma torre decrépita ainda guarda um sino que toca sozinho pela ação dos ventos fortes, aumentando ainda mais a atmosfera sombria e desconfortável que ronda o lugar.     

 

“Eu adoro esses castelos antigos... eles têm um ar tão misterioso.” – Friedrich Klauss

 

(RR – 04/10/22)






The Blancheville Monster (Horror, Itália / Espanha, 1963, PB)

 


"É sua tumba, Emilie. Sua tumba. Entra. Não resista, Emilie. Abandone sua vontade. Ao repouso eterno. Todo tormento acabará com a doçura da morte.”

 

Alberto De Martino (1929 / 2015), que fez “O Anticristo” (1974), a resposta italiana para o clássico americano “O Exorcista”, é também o diretor de “The Blancheville Monster” (1963), utilizando o pseudônimo Martin Herbert. Esse é o título internacional de mais um filme italiano de horror gótico atmosférico, nesse caso em co-produção com a Espanha e conhecido também pelo simples nome “Horror”. E que está disponível no “Youtube” numa versão em inglês com legendas em português.

 

Filmado em preto e branco e ambientado na França de 1884, a história mostra a jovem Emilie De Blancheville (Ombreta Colli, creditada como Joan Hills), prestes a completar 21 anos de idade, retornando para o castelo ancestral de sua família após muitos anos longe estudando em outro país. Ela chega acompanhada pela amiga americana Alice Taylor (Irán Eory) e o irmão dela, John (Vanni Materassi, sob o pseudônimo Richard Davis), que é seu namorado. No castelo, eles são recepcionados pelo irmão de Emilie, Rodéric De Blancheville (Gérard Tichy), que informa sobre a morte trágica de seu pai num incêndio numa abadia próxima ao castelo.

Entre os empregados do castelo temos a bela e misteriosa governanta Eleonore (Helga Liné) e o não menos estranho mordomo Alistair (Paco Morán, creditado como Frank Morán), além do convidado Dr. LaRouche (Leo Anchóriz), o médico da família.

Num ambiente repleto de mistério, segredos e mentiras, Alice decide explorar os corredores e cantos sombrios do castelo e encontra um homem (“o monstro” do título) com o rosto deformado por graves queimaduras e com gritos agonizantes de tormento, confinado no alto de uma torre. A partir daí ela é convencida que essa visão tenebrosa poderia ser somente sua imaginação, mas as coisas pioram bastante depois que Emile De Blancheville começa a adoecer, sofrendo crises hipnóticas com sinais de insanidade, para o desespero do namorado que tenta protegê-la, e o sinistro irmão, que parece esconder um terrível segredo de maldição familiar envolvendo a lenda de uma profecia com sacrifício humano.

 

A história básica tem uma leve inspiração no conto “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, que por sua vez foi filmado inúmeras outras vezes em versões com ótimos resultados. Aqui, os realizadores oportunistas utilizaram essa referência para promover o filme, colocando até o nome do famoso escritor americano em cartazes. Os temas de maldição familiar, insanidade e a ideia macabra de ser enterrado vivo, elementos característicos nos contos de Poe, são bastante explorados no filme, envoltos numa constante atmosfera perturbadora de um castelo gótico antigo e decadente.

Porém, o roteiro tem alguns momentos arrastados que parecem propositais para completar a metragem do filme, com cenas desnecessárias que não agregam muito para a história. O que vale mesmo é toda a ambientação sombria que envolve os personagens num clima constante de mistério e desconforto.

 

(RR – 28/09/22)