The Hyena of London (La Jena di Londra, Itália, 1964, PB)

 


La Jena di Londra” (Itália, 1964), também conhecido pelo título em inglês “The Hyena of London”), tem fotografia em preto e branco, roteiro e direção de Gino Mangini (sob o pseudônimo Henry Wilson), e está disponível no Youtube numa versão original italiana com legendas em português. É curo com apenas 75 minutos, e tem uma história clichê de investigação policial de misteriosos assassinatos num vilarejo inglês do final do século XIX, com alguns elementos sutis de horror e até ficção científica.

 

 O perigoso assassino em série Martin Bauer foi preso pela polícia e condenado à morte por enforcamento. Conhecido como “Hiena” (daí o título), ele foi executado numa sexta-feira, 19 de Dezembro de 1883. Porém, seu corpo desapareceu misteriosamente do cemitério, enquanto coincidentemente uma sucessão de mortes violentas teve início num vilarejo chamado Bradford, perto da capital inglesa Londres.

Os assassinatos brutais despertaram a atenção da polícia local, com o Inspetor Brett O´Connor (Gino Rosso, creditado como Thomas Walton) liderando as investigações, auxiliado pelo ajudante Brown (Attilio Dottesio, como William Burke) e Quayle (Gino Rumor, como Antony Wright), um representante da Scotland Yard.

Entre as pessoas de destaque no vilarejo temos o médico rico Dr. Edward Dalton (Giotto Tempestini, como Bernard Price), envolvido com experiências bizarras no estilo de “cientista louco” e auxiliado pelo inescrupuloso Dr. Antony Finney (Angelo Dessy, como James Harrison). E para completar o elenco tem o casal de namorados formado por Henry Duin (Tony Kendall) e Muriel (Diana Martin), filha do Dr. Dalton, e os vários empregados da mansão do médico, como o jardineiro Peter (Luciano Pigozzi, como Alan Collins), sua esposa infiel Margie (Ilona Drash, como Denise Clar) e o mordomo Chris (Giovanni Tomaino, como John Mathews).

 

A primeira metade do filme é bem arrastada e entediante, voltada claramente para o drama e com menos ênfase nos esperados elementos de horror gótico normalmente associados à ambientação da história. O roteiro perde tempo apenas apresentando vários personagens desinteressantes, com excesso de cenas envolvendo casais de namorados e triângulos amorosos.

Já a partir da metade para o final as ações melhoram um pouco com a ocorrência de assassinatos (todos “off screen”) num vilarejo, inclusive com a morte trágica de uma adolescente, num momento ousado dos realizadores, principalmente pela época, um fato que motivou os aldeões revoltados a se reunirem numa caçada de vingança ao assassino pela floresta.

Somente com as mortes misteriosas e a consequente investigação policial a narrativa ganhou um pouco mais de dinâmica e atmosfera sombria. Porém, ainda assim, nada muito significativo e memorável o suficiente que pudesse impedir de tornar o filme um exemplar apenas mediano e esquecido do horror gótico, principalmente quando comparado com inúmeras outras preciosidades italianas do mesmo período.

Curiosamente, o ator italiano Tony Kendall (1936 / 2009) esteve no horror gótico “O Chicote e o Corpo” (1963), ao lado de Christopher Lee, e em “O Retorno dos Mortos-Vivos” (1973), segundo filme da tetralogia espanhola dos mortos cegos de Amando de Ossorio.

 

(RR – 25/10/22)






The Seventh Grave (La Settima Tomba, Itália, 1965, PB)

 


" – De que tem medo?”

“ – De tudo. Esta atmosfera opressiva. Este castelo. Os túmulos no parque. E essa obsessão pelo mistério do túmulo vazio. Como se esperasse por um outro cadáver. Não aguento mais.”

 

Diálogo entre o tabelião William Elliot e a médium Katy

 

“La Settima Tomba” (também conhecido com o título internacional “The Seventh Grave”) é um filme italiano de 1965 dentro da temática do horror gótico com elementos de mistério e investigação policial de assassinatos. Com metragem de apenas 73 minutos e fotografia em preto e branco, a direção é de Garibaldi Serra Caracciolo (creditado como Finney Cliff), que também é co-autor do roteiro, em seu único filme na carreira.

Não é fácil obter informações sobre esse filme e para a sorte dos apreciadores do estilo temos disponível no “Youtube” uma cópia em versão original italiana com legendas em português, que apesar da pouca qualidade de imagem, é uma oportunidade preciosa de conhecer um filme mais obscuro e esquecido do ciclo italiano de horror gótico.  

 

Ambientado na Escócia do século XIX, a história básica é sobre um grupo de herdeiros que se reúnem num castelo para a leitura do testamento do proprietário falecido, Sir Reginald Thorne, um médico excêntrico conhecido por suas experiências bizarras na tentativa de cura da lepra.

Entre os herdeiros temos os americanos Sr. Jenkins (Antonio Casale, creditado como John Anderson), sua esposa Mary (Bruba Baini, creditada como Kateryn Schous) e o irmão mais novo Fred Jenkins (Gianni Dei, creditado como John Day). Outros visitantes do castelo são Sir Percival (Umberto Borsato, creditado como Gordon Mac Winter), sua filha sensitiva Katy (Stefania Nelli, creditada como Stephania Nelly), o pastor Crabbe (Ferruccio Viotti, creditado como Richard Gillies), o tabelião William Elliot (Nando Angelini, creditado como Fernand Angels), responsável pelo testamento, e a empregada Betty (Germana Dominici, creditada como Germayne Gesny).

Depois que o cadáver de Sir Reginald desaparece da sétima tumba (daí o nome do filme) na cripta onde repousava no porão do castelo, e ocorrem assassinatos misteriosos como o do guardião do castelo Patrik (Calogero Reale, creditado como Edward Barrett), surge o Inspetor da polícia Martin Wright (Armando Guarnieri, creditado como Armand Warner) para liderar as investigações.

 

“The Seventh Grave” é uma produção de baixo orçamento com muitos defeitos, história rasa, repleta de clichês, erros de continuidade e narrativa arrastada com baixa contagem de cadáveres. Porém, a despeito dos vários problemas, temos a esperada atmosfera sombria de horror gótico, garantida pelos personagens sinistros e principalmente pelo imponente castelo com seus cômodos imensos, escadarias intermináveis, passagens secretas, cemitério no jardim e a cripta dos mortos no porão.

As filmagens foram realizadas em locações no “Castello Piccolomini”, construído em 1460 na cidade italiana de Balsorano, e que serviu de palco macabro para muitos outros filmes similares como “O Túmulo do Horror” (1964), com Christopher Lee.

 

(RR – 17/10/22)




O Túmulo do Horror (Crypt of the Vampire, Itália / Espanha, 1964, PB)

 


“E pelas minhas mãos a linhagem dos Karnstein sumirá da face da Terra. E meu sangue derramado voltará às minhas veias. E os filhos dos traidores que me mataram serão destruídos. Para cada instante de sofrimento prometo-lhes séculos de vingança. Assim, eu prometo, Sheena Karnstein. Meu sinal é a estrela de cinco pontas.”

 

O escritor irlandês Sheridan Le Fanu (1814 / 1873) é o autor da conhecida história de vampirismo “Carmilla”, que foi adaptada algumas vezes no cinema como em “Rosas de Sangue” (1960) e “Atração Mortal” (1970, também conhecido como “Os Amantes Vampiros” e “Carmilla, a Vampira de Karnstein”, produção inglesa da “Hammer”.

O ciclo de horror gótico italiano dos anos 60 do século passado também tem um filme levemente inspirado nesse universo ficcional, “O Túmulo do Horror” (Crypt of the Vampire / Terror in the Crypt, 1964), que tem o título original italiano “La Cripta e L`incubo”, numa co-produção com a Espanha e com Christopher Lee liderando o elenco. Com fotografia em preto e branco, a direção é de Camillo Mastrocinque (sob o pseudônimo Thomas Miller). Foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Obra Primas do Terror – Gótico Italiano” # 2, e está disponível no “Youtube” com áudio original italiano e legendas em português.

 

“Não há sequer um nome sobre a minha tumba. Somente uma pedra negra. Eu colocarei seus nomes sobre vossas lápides e vereis meu rosto sobre suas sepulturas. Eu serei ela e ela serei eu. E os séculos não contarão para mim.” – Sheena Karnstein

 

Preocupado com uma antiga maldição familiar, o Conde Ludwig Karnstein (Christopher Lee) pede ajuda para o restaurador de documentos históricos Friedrich Klauss (José Campos) para visitá-lo em seu castelo gótico no alto de um penhasco, com o objetivo de tentar descobrir entre os registros em sua biblioteca alguma informação reveladora de seus ancestrais e a possibilidade de relação com sua filha Laura (Adriana Ambesi, creditada como Audry Amber). Ela está sofrendo com pesadelos terríveis e segundo a governanta Rowena (Nela Conjiu), poderia estar possuída pelo espírito maligno e vingativo de Sheena Karnstein, condenada à morte por bruxaria e vampirismo, fato que poderia explicar as visões de Laura e a ocorrência sinistra de assassinatos de membros da família e empregados do castelo.

Entre os serviçais tem a jovem Annette (Vera Valmont), amante do Conde, e o mordomo Cedric (José Villasante). Paralelamente, um acidente com uma carruagem obriga a jovem Ljuba (Ursula Davis) a se hospedar no castelo. Ela torna-se rapidamente amiga íntima da solitária Laura, ajudando a afastá-la da depressão, e juntas tentam entender o mistério por trás de seus pesadelos, assombrações, mortes sangrentas e a atmosfera perturbadora do castelo.

 

"Raramente temos visitantes aqui. É como viver em uma tumba... ou em algum lugar no limite do mundo.” – Laura Karnstein

 

Todos os filmes do ciclo italiano de horror gótico são interessantes e com entretenimento garantido para os fãs do estilo, justamente pela exploração dos mesmos velhos clichês de castelos assombrados por maldições. “O Túmulo do Horror” é sinistro do começo ao fim, mesmo nos momentos de narrativa mais arrastada e está entre os memoráveis que sempre vale citar como “A Maldição do Demônio” (1960) e “Dança Macabra” (1964), entre outros.

Sua atmosfera sombria é de gelar a espinha até dos mortos, destacando as catacumbas do castelo, palco de rituais de magia negra e pousada eterna da morte para os ancestrais da família Karnstein, além da infinidade de passagens secretas, corredores e cantos obscuros ideais para fantasmagorias. Além do castelo macabro (locações no Castello Piccolomini, na Itália), temos também as ruínas de um vilarejo próximo onde uma torre decrépita ainda guarda um sino que toca sozinho pela ação dos ventos fortes, aumentando ainda mais a atmosfera sombria e desconfortável que ronda o lugar.     

 

“Eu adoro esses castelos antigos... eles têm um ar tão misterioso.” – Friedrich Klauss

 

(RR – 04/10/22)






The Blancheville Monster (Horror, Itália / Espanha, 1963, PB)

 


"É sua tumba, Emilie. Sua tumba. Entra. Não resista, Emilie. Abandone sua vontade. Ao repouso eterno. Todo tormento acabará com a doçura da morte.”

 

Alberto De Martino (1929 / 2015), que fez “O Anticristo” (1974), a resposta italiana para o clássico americano “O Exorcista”, é também o diretor de “The Blancheville Monster” (1963), utilizando o pseudônimo Martin Herbert. Esse é o título internacional de mais um filme italiano de horror gótico atmosférico, nesse caso em co-produção com a Espanha e conhecido também pelo simples nome “Horror”. E que está disponível no “Youtube” numa versão em inglês com legendas em português.

 

Filmado em preto e branco e ambientado na França de 1884, a história mostra a jovem Emilie De Blancheville (Ombreta Colli, creditada como Joan Hills), prestes a completar 21 anos de idade, retornando para o castelo ancestral de sua família após muitos anos longe estudando em outro país. Ela chega acompanhada pela amiga americana Alice Taylor (Irán Eory) e o irmão dela, John (Vanni Materassi, sob o pseudônimo Richard Davis), que é seu namorado. No castelo, eles são recepcionados pelo irmão de Emilie, Rodéric De Blancheville (Gérard Tichy), que informa sobre a morte trágica de seu pai num incêndio numa abadia próxima ao castelo.

Entre os empregados do castelo temos a bela e misteriosa governanta Eleonore (Helga Liné) e o não menos estranho mordomo Alistair (Paco Morán, creditado como Frank Morán), além do convidado Dr. LaRouche (Leo Anchóriz), o médico da família.

Num ambiente repleto de mistério, segredos e mentiras, Alice decide explorar os corredores e cantos sombrios do castelo e encontra um homem (“o monstro” do título) com o rosto deformado por graves queimaduras e com gritos agonizantes de tormento, confinado no alto de uma torre. A partir daí ela é convencida que essa visão tenebrosa poderia ser somente sua imaginação, mas as coisas pioram bastante depois que Emile De Blancheville começa a adoecer, sofrendo crises hipnóticas com sinais de insanidade, para o desespero do namorado que tenta protegê-la, e o sinistro irmão, que parece esconder um terrível segredo de maldição familiar envolvendo a lenda de uma profecia com sacrifício humano.

 

A história básica tem uma leve inspiração no conto “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, que por sua vez foi filmado inúmeras outras vezes em versões com ótimos resultados. Aqui, os realizadores oportunistas utilizaram essa referência para promover o filme, colocando até o nome do famoso escritor americano em cartazes. Os temas de maldição familiar, insanidade e a ideia macabra de ser enterrado vivo, elementos característicos nos contos de Poe, são bastante explorados no filme, envoltos numa constante atmosfera perturbadora de um castelo gótico antigo e decadente.

Porém, o roteiro tem alguns momentos arrastados que parecem propositais para completar a metragem do filme, com cenas desnecessárias que não agregam muito para a história. O que vale mesmo é toda a ambientação sombria que envolve os personagens num clima constante de mistério e desconforto.

 

(RR – 28/09/22)







The Ghosts of Kasane Swamp (Kaidan Kasane-ga-fuchi, Japão, 1957, PB)

 


Dirigido por Nobuo Nakagawa, “The Ghosts of Kasane Swamp” (Kaidan Kasane-ga-fuchi, 1957), também conhecido com o título internacional “The Depths”, é um filme japonês de horror com fotografia em preto e branco e produção de baixo orçamento, com metragem curta de apenas 66 minutos. Está disponível no “Youtube” com versão original japonesa e legendas em português. Esse filme com história de fantasmas vingativos recebeu duas refilmagens em 1960 e 1970.  

 

No pequeno vilarejo de Hanya no século XVIII, o massagista cego Sotetsu Minagawa (Yôji Mizaki) visita o samurai Shinzaemon Fukami (Akira Nakamura) para cobrar uma dívida com dinheiro emprestado. O devedor não recebe bem a cobrança e numa discussão mata violentamente o velho, mandando seu servo Kanzô (Unpei Yokoyama) desovar o corpo no pântano de Kasane.

Porém, segundo uma lenda japonesa, se alguém morrer com raiva, seu fantasma perturbado não descansará em paz, retornando do mundo dos mortos para a vingança sangrenta. Então o samurai é atormentado pelo espírito do cego assassinado e após a morte trágica de sua esposa Fusae (Fumiko Miyata) num acidente, ele se afoga em tormento no pântano.

Após passados 20 anos, a filha do massagista e agora professora de música Orui (Katsuko Wakasugi) vive numa cidade vizinha com a antiga serva de seu pai e mãe de criação Otetsu (Kikuko Hanaoka). Ela se apaixona por Shinkichi Fukami (Takashi Wada), sem saber que é o filho do samurai, adotado e criado como servo numa família rica, proprietária de uma loja de presentes. Ele, por sua vez, tem um romance com sua jovem e bela patroa, Ohisa (Noriko Kitazawa).

O triângulo amoroso é envolvido por ressentimentos e ciúmes, ficando mais dramático ainda depois que Orui sofre um acidente doméstico que desfigura seu rosto, culminando num desfecho trágico com vingança do além, o assombrado pântano de Kasane e a interferência de Jinjûrô Ômura (Tetsurô Tanba), um jovem mercenário samurai que tem interesse em eliminar Shinkichi.

 

“The Ghosts of Kasane Swamp” tem ótimos momentos de horror no início com o fantasma do massagista assassinado e no desfecho com a vingança do espírito atormentado de sua filha deformada, tendo o pântano como um obscuro elemento na história. Porém, entre estes dois momentos de grande atmosfera sombria e violência sangrenta, a história se perde um pouco numa narrativa mais arrastada com o melodrama de um triângulo amoroso entre o filho do samurai assassino e as duas mulheres apaixonadas por ele, além da exposição de fofocas, hipocrisia, intolerância e casamentos arranjados entre os aldeões do vilarejo.

O grande destaque é o excelente trabalho de maquiagem com efeitos práticos no rosto deformado de Orui, extremamente grotesco e assustador, sendo revelado pela primeira vez numa cena lenta com seu reflexo num balde de água ondulante.

 

(RR – 25/09/22)

 





A Mansão do Homem Sem Alma (La Vergine di Norimberga / Horror Castle, Itália, 1963)

 


"A mente do Homem está sempre a serviço do Mal.”

 

Uma história de maldição familiar com atmosfera sombria de um castelo com uma câmara de torturas. “A Mansão do Homem Sem Alma” (1963) é mais um divertido filme do ciclo italiano de horror gótico dos anos 60 do século passado, com fotografia a cores e dirigido por Antonio Margueriti (creditado como Anthony Dawson), além da presença ilustre no elenco do eterno ícone do horror Christopher Lee.

O título original italiano é “La vergine di Norimberga” e também é conhecido por “Horror Castle” nos Estados Unidos. Além do título em inglês utilizado ao redor do mundo, “The Virgin of Nuremberg”, que é o nome de um instrumento medieval de tortura (“A Virgem de Nuremberg”), um sarcófago de ferro com pontas afiadas internas, onde mulheres eram presas e punidas por adultério com mortes dolorosas através de perfuração dos olhos e hemorragia.    

 

Ambientado na Alemanha, o casal Max Hunter (Georges Rivière) e sua esposa Mary (Rossana Podestà) são os proprietários de um imponente castelo gótico que abriga um museu repleto de máquinas medievais de tortura, da sangrenta época da Santa Inquisição, e que eram manipuladas por um terrível carrasco conhecido como “O Justiceiro”. O zelador do museu macabro é Erich (Christopher Lee), que tem o rosto parcialmente deformado por ferimentos de guerra, sendo extremamente leal à família Hunter, principalmente quando servia ao veterano General (Mirko Valentin), pai de Max e líder que ficou atormentado pelos horrores brutais da Segunda Guerra Mundial. Além de Erich, outros empregados do castelo são a sinistra governanta Martha (Laura Nucci) e a jovem arrumadeira Trude (Luciana Milone).

Porém, a já naturalmente atmosfera obscura do castelo fica ainda mais perturbadora com a ocorrência de assassinatos misteriosos de mulheres nos instrumentos de tortura, despertando a atenção da polícia na investigação do agente do FBI John Selby (Jim Dolen), que acredita que um monstro assassino está agindo escondido nos porões escuros do castelo.    

 

“A Mansão do Homem Sem Alma” é ambientado a maior parte do tempo nos interiores sombrios do castelo, com apenas algumas cenas externas, com a bela Rossana Podestà vagando pelos imensos corredores, passagens secretas e porões de ambientes tétricos de gelar a espinha. A câmara com diversos dispositivos para proporcionar tortura e dor até poderia ser mais explorada, pois somente a “Virgem de Nuremberg” e uma gaiola com um rato faminto foram utilizados nas mulheres vítimas do assassino misterioso. É insano pensar como esses instrumentos existiram de verdade e foram responsáveis pelo sofrimento de muitas pessoas desesperadas com dores e tormentos indescritíveis, num capítulo sangrento na história da humanidade.  

O diretor italiano Antonio Margueriti (1930 / 2002) tem várias tranqueiras divertidas de horror e FC em seu currículo como “Destino: Espaço Sideral” (1960), “O Planeta dos Desaparecidos” (1961), “Dança Macabra” (1964), “A Máscara do Demônio” (1965), “O Choque dos Planetas” (1966), “Sete Mortes nos Olhos de um Gato” (1973), etc.

Curiosamente, o nome de Christopher Lee aparece nos créditos de abertura como “Cristopher” (sem o “h”). O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Obra Primas do Terror – Gótico Italiano” # 2, e está disponível no “Youtube” com áudio original em italiano e opção de legendas em português.

 

(RR – 20/09/22)





Além da Barreira do Tempo (Beyond the Time Barrier, EUA, 1960, PB)

 


O diretor tcheco Edgar G. Ulmer (1904 / 1972) possui algumas tranqueiras divertidas do cinema de gênero em seu currículo como “O Homem do Planeta X” (1951) e “O Fantástico Homem Transparente” (1960). Ele também dirigiu “Além da Barreira do Tempo” (Beyond the Time Barrier, 1960), outra preciosidade de Ficção Científica com produção de orçamento reduzido, distribuído pela “American International”.  

 

Um piloto americano de testes militares, Major William Allison (Robert Clarke, que também foi produtor), foi designado para uma missão em 1960 com um avião experimental denominado X80, voando em altitudes extremamente elevadas e com a máxima velocidade possível, com o objetivo de preparar o próximo passo na exploração espacial com satélites tripulados. Porém, durante o teste uma combinação de fatores colocou o piloto numa dobra temporal, culminando com uma viagem “além da barreira do tempo”, indo parar num futuro longínquo (para a época da produção), em 2024.

Ao pousar novamente na base aérea, tudo está deserto, abandonado e parcialmente destruído misteriosamente, sendo resgatado por uma civilização estranha que vive num mundo subterrâneo, governado pelo Líder Supremo (Vladimir Sokoloff) e pelo austero chefe de segurança Capitão (Red Morgan), os únicos que possuem a capacidade de falar, com o restante das pessoas mudas.

O piloto é informado que uma praga resultante de bombardeio de radiação cósmica gerada pelos experimentos com bombas atômicas, exterminou boa parte da vida no planeta em 1971, depois da conquista da lua e de outros planetas mais próximos como Marte e Vênus. E alguns sobreviventes, mesmo afetados pela praga, viviam numa cidadela subterrânea, com comida, conforto, e energia captada do sol, sendo que outros, mutantes famintos, sofriam com misérias e doenças na superfície.

Nesse cenário clássico de diferença de classes e disputa por poder, típico da história da humanidade e tema muito explorado em filmes ambientados no futuro, o Major Allison conhece a bela jovem Princesa Trirene (Darlene Tompkins), neta do líder, que apesar de muda, tem o poder extra-sensorial de ler pensamentos, e que seria a última esperança de continuidade para o seu povo estéril. Ele conhece também um grupo de cientistas e militares prisioneiros, que também viajaram por uma dobra temporal, o General Karl Kruse (Stephen Bekassy), o Dr. Bourman (John van Dreelen) e a Capitã Markova (Arianne Ulmer, filha do diretor, e que foi creditada como Arianne Arden). E o grande desafio é tentar retornar ao seu tempo e impedir o apocalipse alertando os líderes mundiais sobre os perigos da energia nuclear.

 

Com fotografia em preto e branco e duração de apenas 74 minutos, “Além da Barreira do Tempo” está disponível no “Youtube” com legendas em português. Entre os destaques, vale citar a fantástica cidade futurista abaixo da superfície, com seus corredores formados por estruturas em forma de pirâmides invertidas, criando câmeras, túneis e labirintos. Tem também a utilização, comum na época, da técnica “matte painting”, com uma pintura representando a imponente cidade futurista.

Vários filmes de Ficção Científica do período mostravam histórias com civilizações vivendo em mundos subterrâneos, como por exemplo “Voando Para Marte” (1951), “Vinte Milhões de Léguas a Marte” (1956) e o clássico “A Máquina do Tempo” (1960). Aliás, esse filme foi lançado no mesmo ano e tem história baseada em livro de H. G. Wells, sendo uma produção a cores com efeitos especiais caprichados e roteiro igualmente sobre viagem no tempo.

Entre as curiosidades de “Além da Barreira do Tempo”, temos a participação na equipe técnica do famoso maquiador Jack P. Pierce, que foi o criador da concepção visual do “Monstro de Frankenstein” da produtora “Universal”. E o estilo dos créditos de abertura é o mesmo utilizado em “Star Wars” (1977), lançado muitos anos depois, e cujo formato ficou associado à famosa saga de George Lucas.

Vale citar também que no site “IMDB”, um imenso catálogo de dados sobre filmes, tem uma listagem grande evidenciando erros de conhecimento científico, detalhes certamente importantes que não foram considerados pelos realizadores, mas que não diminuem o entretenimento escapista, justamente por suas características bagaceiras de uma produção de baixo orçamento.   

 

(RR – 15/09/22)