O Monstro Indestrutível (Indestructible Man, EUA, 1956, PB)

 


O ator Lon Chaney Jr. (1906 / 1973) teve uma longa carreira com quase 200 créditos na filmografia. Filho de Lon Chaney, um astro renomado da época do cinema mudo, ele é bastante lembrado pelo papel do amaldiçoado Larry Talbot no clássico “O Lobisomem” (1941) da produtora “Universal”. E fez muitos filmes de orçamentos modestos do cinema de gênero, marcando seu nome na história do horror e ficção científica. Em 1956 ele esteve em “O Monstro Indestrutível” (Indestructible Man), no papel principal que deu nome ao filme, uma produção bagaceira com fotografia em preto e branco, dirigida por Jack Pollexfen.     

 

O criminoso Charles “O Açougueiro” Benton (Lon Chaney Jr.) é um criminoso preso pelo roubo de 600 mil dólares (algo em torno de 6 milhões de dólares em 2020), e condenado à morte na câmara de gás. Sentindo-se traído pelos companheiros de gangue, o advogado inescrupuloso Paul Lowe (Ross Elliott) e os comparsas Squeamy Ellis (Marvin Press) e Joe Marcellia (Ken Terrell), ele jura vingança contra eles, mesmo estando atrás das grades e com pena de morte.

Depois de executado, seu corpo vai parar nas mãos de um “cientista louco”, o bioquímico Prof. Bradshaw (Robert Shayne) e seu assistente (Joe Flynn), que o utilizam em experiências para a cura do câncer, aplicando uma descarga elétrica de 300 mil volts no cadáver. Charles Benton retorna então do mundo dos mortos, mudo, pois a descarga elétrica afetou suas cordas vocais, e extremamente forte devido alterações na estrutura celular de seu corpo, tornando-se o “homem indestrutível” do título original (que no Brasil recebeu o nome oportunista alterando para “monstro”).

O detetive da polícia Tenente Dick Chasen (Max Showalter, creditado como Casey Adams), sob a supervisão do chefe Capitão John Lauder (Stuart Randall), é o responsável pela investigação do roubo, cujo dinheiro nunca foi encontrado, estando bem escondido de todos e com possibilidade de pistas do paradeiro com a bela dançarina Eva Martin (Marian Carr), amiga do “açougueiro”. O policial, obcecado em desvendar o caso, está no rastro do criminoso que voltou à vida, depois dele fugir do laboratório do cientista e iniciar seu plano sangrento de vingança, eliminando todos que cruzavam o seu caminho.    

 

“O Monstro Indestrutível” é curto, com apenas 71 minutos, e é um filme de investigação policial de um roubo de dinheiro, com elementos de horror e ficção científica na figura do “cientista louco” (sempre trabalhando para o suposto bem da humanidade) e sua criação de um “homem indestrutível”. A história é toda narrada pelo policial Tenente Dick Chasen, que conta os detalhes de sua investigação e perseguição do assassino vingador. Lon Chaney Jr. faz novamente o papel do vilão, e depois de perder a voz após o imenso choque elétrico que lhe deu força descomunal, ele passa a evidenciar sua raiva com expressões faciais que mostram seu ódio mortal pelos companheiros traidores responsáveis por sua prisão e condenação à morte.

Para os apreciadores de ficção científica bagaceira, é pena que a participação do “cientista louco” e suas experiências bizarras seja apenas pequena, como pano de fundo para a história policial, com o laboratório sendo pouco explorado, com seus mostradores analógicos e aparelhos elétricos. Seria também bem mais interessante se o “homem indestrutível”, que resiste contra o disparo de projéteis de armas de fogo, tivesse o corpo deformado ou o rosto distorcido pela experiência com a descarga elétrica, transformando-se num monstro tosco em busca de vingança. Mas, a opção dos realizadores, talvez por questões orçamentárias ou pelo foco numa história policial, foi manter o ator Lon Chaney Jr. sem maquiagem de monstro, sendo apenas um homem forte que mata as pessoas com seus poderosos golpes.

Curiosamente, existe uma foto do açougueiro com Eva Martin desacordada em seus braços, a típica cena do “monstro carregando a mocinha”. Mas, isso não aparece no filme e apenas é revelado que a dançarina estava no hospital se recuperando de ferimentos não mostrados.

Lon Chaney Jr. teve várias participações em filmes de monstros clássicos da “Universal”, e além de ser o lobisomem no filme de 1941, também interpretou a criatura de Frankenstein, o vampiro Drácula e a Múmia. No caso dos diversos filmes bagaceiros de Horror e FC a partir da década de 1950 (período pós-Universal), vale citar alguns como “O Castelo do Pavor” (The Black Castle, 1952), “A Torre dos Monstros” (The Black Sleep, 1956), “A Maldição do Monstro” (The Cyclops, 1957), “The Alligator People” (1959), “O Castelo Assombrado” (The Haunted Palce, 1963), “Dracula vs. Frankenstein” (1971), entre outros.   


(RR – 29/05/22)






O Ataúde do Morto-Vivo (The Oblong Box, Inglaterra, 1969)

 


"Um homem desfigurado pela bruxaria, por um punhado de pó e drogas obscuras. Minha mente foi transtornada, meu rosto destruído. Fui assassinado e trazido milagrosamente de volta à vida.”

– Edward Markham para o Dr. Neuhartt

 

O primeiro filme com a presença dos ícones do cinema de horror Vincent Price e Christopher Lee foi “O Ataúde do Morto-Vivo” (The Oblong Box, Inglaterra, 1969), com roteiro levemente inspirado numa história de Edgar Allan Poe. A direção é de Gordon Hessler, que ainda fez outros dois filmes ingleses em 1970 também com Vincent Price: “O Uivo da Bruxa” (1970) e “Grite, Grite Outra Vez!” (1970), sendo este último novamente com Lee e ainda Peter Cushing, outro nome consagrado, numa época onde existiam atores com nomes totalmente associados ao Horror.

 

Julian Markham (Vincent Price) é um rico aristocrata inglês que está noivo de Elizabeth (Hilary Heath) e que possui grande quantidade de terras para plantações na África. Ele mantém encarcerado no sótão de sua mansão o irmão Edward (Alister Williamson), depois de um incidente trágico num ritual de bruxaria dos nativos africanos, que o deixou com o rosto desfigurado e a mente distorcida.

Porém, Edward, injustiçado e atormentado com a falta de liberdade, coloca em prática um plano de fuga com a ajuda do inescrupuloso advogado da família, Samuel Trench (Peter Arne), juntamente com seu assistente Mark Norton (Carl Rigg) e um feiticeiro africano N´Galo (Harry Baird). Mas, ao ser traído por eles, o caixão onde estava enterrado é roubado para o Dr. Neuhartt (Christopher Lee), um médico que utiliza ilegalmente cadáveres em suas experiências. E assim, Edward ganha uma oportunidade para efetivar um sangrento plano de vingança contra todos que o prejudicaram.    

 

Em “O Ataúde do Morto-Vivo”, é pena que Christopher Lee tenha apenas um papel secundário como um médico que faz experiências com corpos roubados de cemitérios, e também é lamentável que ele e Vincent Price quase não contracenaram juntos, estando apenas uma única vez na mesma cena e muito rapidamente. Seria melhor se o personagem de Lee fosse mais relevante na história e com muitas cenas com Price. Para os fãs fica inevitavelmente um sentimento de frustração de uma oportunidade perdida.

Porém, ainda assim, o filme tem seus bons momentos de horror gótico, com ambientação inglesa de 1865, algumas mortes evidenciando pescoços cortados com navalhas ensanguentadas, uma história violenta de vingança e uma crítica social ao colonialismo inglês na África, com a posse e exploração de terras dos nativos.

Tem também o uso interessante de câmera subjetiva, a partir do ponto de vista do perturbado Edward sedento por vingança, com seu rosto desfigurado escondido por trás de um capuz vermelho, e só revelado próximo ao final, instigando a curiosidade do espectador.

O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” em 2020, na coleção “Edgar Allan Poe no Cinema – Volume 03”. Curiosamente, era exibido com certa regularidade na televisão aberta, num tempo nostálgico onde era comum a exibição de filmes antigos divertidos, ficando agora apenas como lembranças boas do passado, em substituição pelas atuais plataformas de streaming que não se interessam muito pelos velhos filmes de horror. Por sorte, também é possível encontrar no “Youtube” com legendas em português e uma versão sem cortes (96 minutos).

 

“Nas profundezas do solo úmido, onde coisas vis rastejam entre o lodo, uma mão pálida se contorce e um coração sem batimentos ainda anseia por vingança.”

     

(RR – 23/05/22)











Night of the Blood Beast (EUA, 1958, PB)

 


O especialista em filmes de pequenos orçamentos Roger Corman tem um currículo imenso como produtor e diretor. “Night of the Blood Beast” (1958) tem seu nome creditado na produção executiva, ao lado do irmão Gene Corman como produtor e Bernard L. Kowaski na direção, a mesma equipe de outras bagaceiras divertidas do mesmo período como “O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches, 1959).

 

O astronauta Major John Corcoran (Michael Emmet) está retornando de uma missão com satélites orbitando no espaço, à bordo de uma cápsula que sofre um acidente trágico ao retornar para a Terra, culminando numa queda fatal. Apesar da falta de sinais vitais como respiração e batimentos cardíacos, ele misteriosamente parece ainda vivo, em estado de coma, mas com temperatura e pressão arterial normais, para a surpresa da equipe científica que monitorava sua viagem ao espaço. Equipe essa formada pela noiva do astronauta, Dra. Julie Benson (Angela Greene), Dr. Alex Wyman (Tyler McVey), Steve Dunlap (John Baer), Dave Randall (Ed Nelson) e Donna Bixby (Georgianna Carter).

Após o resgate do astronauta eles ficam isolados numa base afastada, sem comunicação externa devido a interferência de uma misteriosa fonte magnética, e são ameaçados pela presença de um monstro (Ross Sturlin) que ronda o local e que pode ter vindo junto com a cápsula espacial, com um interesse obscuro no astronauta, que está servindo de hospedeiro para embriões alienígenas.

 

“Night of the Blood Beast” tem fotografia em preto e branco e duração curta de apenas 62 minutos, um fato comum para os filmes com orçamentos minúsculos do período. Tem também um nome original sonoro para chamar a atenção do público e um cartaz expressivo evidenciando uma mulher com poucas roupas e um slogan promocional exagerado sobre um monstro caçador de cabeças. Mas, o mais importante mesmo é que tem a esperada criatura tosca vinda do espaço sideral, para justificar o título do filme.

O elenco é pequeno, somente sete atores, cinco homens e duas mulheres, incluindo o ator que veste a roupa de borracha do monstro. O roteiro básico de Martin Varno (que tinha só 21 anos na época) explora o clichê de invasão alienígena, um tema recorrente numa infinidade de filmes bagaceiros divertidos principalmente dos anos 50 e 60 do século passado. Sendo dessa vez explorando a dúvida sobre a hostilidade ou boas intenções da raça extraterrestre invasora, com o alerta sobre o uso indevido da energia atômica. Tanto que existe o dilema da equipe científica em destruir o que é desconhecido e ameaçador ou permitir a tentativa de contato e ouvir a mensagem de uma criatura inteligente de outro planeta.

A história, apesar de simples e carregada de clichês, desperta interesse para os apreciadores de filmes tranqueiras com elementos de horror e ficção científica, com a ideia do astronauta servir de hospedeiro para pequenas criaturas alienígenas, algo que foi igualmente explorado na franquia “Alien”, que por sua vez estabeleceu seu lugar na Cultura Pop.

Um destaque certamente é o monstro tosco e sempre divertido, que aparece em cena somente a partir da segunda metade do filme, e garante os melhores momentos nos confrontos com a equipe científica. A criatura do espaço parece uma mistura hilária de papagaio e urso com enormes garras afiadas e foi aproveitada (com pequenas alterações) de outro filme de Corman, “Teenage Caveman”, lançado alguns meses antes. É mais um monstro bizarro imortalizado junto com dezenas de outros do cinema de gênero produzido com poucos recursos.

Curiosamente, o filme recebeu o título original alternativo “The Creature From Galaxy 27”.





O Fabricante de Monstros (The Monster Maker, EUA, 1944, PB)

 



Existe uma equação básica no cinema fantástico de baixo orçamento que quase sempre é infalível, uma combinação de elementos que tem como resultado uma diversão rápida e garantida. Horror antigo, fotografia em preto e branco, duração curta (aproximadamente uma hora), história simples de “cientista louco”, pessoas deformadas: “O Fabricante de Monstros” (The Monster Maker, EUA, 1944), dirigido por Sam Newfield, tem tudo isso.

 

O Dr. Igor Markoff (J. Carrol Naish) é um cientista do leste europeu que veio para os Estados Unidos de forma suspeita, guardando um segredo sombrio sobre sua vida passada. Ele se especializou na pesquisa para a cura de uma rara doença chamada acromegalia, que consiste no mal funcionamento da glândula pituitária, causando deformações nas extremidades do corpo, mãos, pés e partes da cabeça. Sua assistente é Maxine (Tala Birell), que é apaixonada por ele e única que conhece seu segredo, mas ela é tratada com indiferença e não é correspondida.

Ao presenciar o concerto de um famoso pianista, Anthony Lawrence (Ralph Morgan), o cientista ficou obcecado com a bela filha do músico, Patricia (Wanda McKay), que estava acompanhada de seu namorado Bob Blake (Terry Frost). O motivo do fascínio pela jovem é a incrível semelhança física com a antiga esposa, que morreu de forma trágica em circunstâncias obscuras.

A partir daí, o assédio do cientista tornou-se cada vez mais desconfortável para Patricia, gerando uma relação turbulenta que obrigou a interferência de seu pai, num conflito em que o cientista inescrupuloso agiu de forma criminosa com ameaças de chantagem e usando seus conhecimentos da terrível doença que “fabrica monstros”.   

 

“O Fabricante de Monstros” está situado na categoria de filmes psicotrônicos, devido ao poder mental maléfico que o cientista exercia sobre sua assistente Maxine, manipulando suas ações ao seu favor. É um filme curto, com apenas 62 minutos de duração, contando uma história rápida de um cientista com reputação duvidosa e traços de arrogância e psicopatia, que não mede esforços para conseguir o que quer, destruindo vidas e fabricando monstros.

O trabalho de maquiagem é muito bom, principalmente para os recursos de produção, com as deformações físicas do pianista, com o rosto desfigurado e as mãos enormes.

Curiosamente, a acromegalia é uma doença que afetou a vida real do jornalista e depois ator gigante Rondo Hatton, que fez alguns filmes de horror em meados dos anos 1940, pouco antes de sua morte em 1946 por complicações da doença.

Entre outras curiosidades, o personagem Igor Markoff, faz referências ao universo ficcional de “Frankenstein”, e o ator J. Carrol Naish em seu último filme na carreira interpretou justamente o cientista que cria vida artificial em “Drácula vs. Frankenstein” (1971).

Tem a pequena participação de Glenn Strange, fazendo o papel de Steve, outro assistente do cientista. Ele fala pouco com presença bem reduzida em cena. Sua carreira foi extensa com mais de 300 créditos, mas é geralmente lembrado pelo papel do “monstro de Frankenstein” em alguns filmes da produtora “Universal”, “A Mansão de Frankenstein” (1944), que também tem J. Carrol Naish no elenco, “A Mansão de Drácula” (1945) e “Abbott e Costello Encontram Frankenstein” (1948).

E também tem a presença rápida e oportunista de um gorila como cobaia das experiências do cientista, com o ator Ray Corrigan vestindo uma roupa de macaco. Aliás, o ator foi recorrente nesse papel bizarro numa grande quantidade de filmes da época que utilizaram gorilas em suas histórias.

 

(RR – 01/05/22)





Contos do Além (Tales From the Crypt, Inglaterra, 1972)

 


"Baseado nas histórias escritas por Al Feldstein, Johnny Craig e Bill Gaines, originalmente publicadas nas revistas em quadrinhos Tales From the Crypt e The Vault of Horror, de Bill Gaines.”

 

Essa é a introdução de “Contos do Além” (Tales From the Crypt, 1972), antologia de contos inspirados nos quadrinhos americanos da “EC Comics” dos anos 1950. A direção é de Freddie Francis e a produção é do estúdio inglês “Amicus”, de Max Rosenberg e Milton Subotsky, considerado um rival qualificado da mais conhecida e badalada “Hammer” e seus filmes góticos.

São cinco histórias independentes de horror, conectadas pelos personagens principais, que estão todos presos numa cripta tentando entender a razão de estarem nesse misterioso local, que poderia ser literalmente a porta do inferno.

A “Amicus” foi uma produtora importante com uma infinidade de filmes divertidos e que ficaram registrados na história do cinema de gênero, principalmente pelas várias antologia de contos como “As Profecias do Dr. Terror” (1965), “As Torturas do Dr. Diabolo” (1967), “A Casa Que Pingava Sangue” (1971), “O Asilo do Terror / Asilo Sinistro” (1972), “A Cripta dos Sonhos” (The Vault of Horror, 1973, também inspirado nos quadrinhos), e “Vozes do Além” (1974).

 

Um grupo de pessoas faz um passeio orientado por um guia (Geoffrey Bayldon) através de um conjunto de catacumbas sinistras. Parte desse grupo, mais precisamente cinco pessoas, se perde nos corredores da cripta. Eles ficam presos numa câmara oculta junto com um misterioso guardião (Ralph Richardson), que faz com que cada um deles mergulhe mentalmente numa história macabra onde eles são os protagonistas.

O primeiro conto é “And All Through the House”. Joanne Clayton (Joan Collins) é uma mulher que mata violentamente seu marido (Martin Boddey) na noite de natal, planejando se apossar do dinheiro do seguro de vida. Porém, o sucesso do maquiavélico plano fica ameaçado quando um maníaco (Oliver MacGreevy) foge de um hospital psiquiátrico, veste-se com uma roupa roubada de Papai Noel, e ronda a sua casa.

Em seguida temos “Reflection of Death”, onde um pai de família, Carl Maitland (Ian Hendry), abandona a esposa (Susan Denny) e filhos pequenos, fugindo para uma nova vida com a amante Susan Blake (Angie Grant). Porém, eles sofrem um trágico acidente noturno de carro numa estrada e uma reviravolta sobrenatural poderá servir de punição.

A terceira história chama-se “Poetic Justice”, com um faxineiro idoso e bondoso, Arthur Edward Grimsdyke (Peter Cushing), que é viúvo, mora sozinho, gosta de fazer brinquedos para as crianças e cuidar de seus cachorros, mas que desperta uma raiva sem sentido no jovem vizinho James Elliot (Robin Phillips). Ele faz de tudo para que o Sr. Grimsdyke venda sua casa, utilizando-se de sabotagens e calúnias que instigaram o idoso ao suicídio. Porém, após um ano de sua morte, ele retorna putrefato da tumba para sua vingança. "Você era mal e cruel, em cada gesto ou ação. E você realmente não tinha... coração.”

O próximo segmento é “Wish You Were Here”. O rico e inescrupuloso empresário Ralf Jason (Richard Greene) perde sua fortuna num investimento mal sucedido. Ele reluta em vender seus bens, a única saída sugerida pelo advogado Charles Gregory (Roy Dotrice). Então, Ralph e a esposa Enid (Barbara Murray) decidem pedir três desejos para uma misteriosa estátua chinesa, não imaginando as consequências trágicas e irreversíveis que estariam por vir.

No último episódio, “Blind Alleys”, o austero Major William Rogers (Nigel Patrick) assume a direção de um asilo para cegos, sempre acompanhado de seu feroz cachorro pastor alemão Shane. Agindo de forma autoritária e tirana, ele reduz os custos essenciais causando grande desconforto para os internos, como corte do aquecimento noturno e redução de comida. Os pacientes cegos decidem reagir, e liderados por George Carter (Patrick Magee), eles planejam uma vingança sangrenta. “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”.        

 

“Contos do Além” traz cinco histórias curtas e divertidas, com os elementos clássicos do horror, com roteiros simples e bizarros, típicos das histórias em quadrinhos. Todos mantém um bom nível de interesse, principalmente pela rapidez e dinâmica dos contos, assim como a história base que os une dentro do mesmo contexto, através do sinistro guardião da cripta.

Mas, existem os destaques, e na minha opinião a melhor história é aquela com o lendário Peter Cushing fazendo o papel do idoso deprimido suicida que retorna dos mortos para uma vingança sangrenta. Curiosamente, Cushing tinha ficado viúvo na vida real pouco tempo antes da produção do filme, numa coincidência com o personagem que também tem que lidar com a solidão e perda da esposa, e sua atuação é memorável como sempre.

O conto sobre os desejos solicitados para a enigmática estátua chinesa também é muito bom e reserva os momentos mais carregados de violência, com direito a esquartejamento com espada e vísceras expostas, além do desfecho perturbador.

A última história fecha com chave de ouro, também com um plano bem sucedido de vingança, numa atuação muito convincente de Patrick Magee como o paciente cego que lidera seus companheiros contra a tirania do novo diretor da casa de repouso.

Entre as várias derivações desse universo ficcional, teve uma série americana com muitas temporadas, que recebeu por aqui o nome “Contos da Cripta” (Tales From the Crypt, 1989 / 1996).

 

(RR – 18/04/22)










Voando Para Marte (Flight to Mars, EUA, 1951)

 


"A Terra é tão grande quando estamos nela. E agora ela parece tão pequena, tão insignificante. É como fechar os olhos no escuro e tentar ver onde você está apenas com a sua alma.” – Steve Abbott

 

Voando Para Marte” (Flight to Mars, 1951) é mais um daqueles divertidos filmes bagaceiros de Ficção Científica dos anos 50 do século passado, com história ingênua e efeitos toscos abordando o tema de viagens espaciais e invasões alienígenas. Lembra aqueles filmes preciosos que eram exibidos na antiga “Sessão da Tarde” da TV Globo. Com direção de Lesley Selander, a fotografia é colorida, algo raro para o cinema de gênero da época, principalmente os filmes de pequenos orçamentos. A produção é da “Monogram”, conhecida por trabalhar com pouco dinheiro, e que viria a mudar de nome logo depois para “Allied Artists”   

 

Na história simples e carregada dos mesmos clichês dos filmes similares americanos, uma expedição exploratória de cinco pessoas viaja para Marte num foguete. O grupo é formado por quatro homens e uma mulher, sendo o líder cientista Dr. Jim Barker (Arthur Franz) e seus colegas mais velhos Dr. Lane (John Litel) e Prof. Jackson (Richard Gaines). Completam o time o jovem jornalista Steve Abbott (Cameron Mitchell) e a bela cientista Carol Stafford (Virginia Huston).

No percurso eles enfrentam algumas dificuldades como uma chuva de meteoros e a nave fica avariada resultando num pouso conturbado no planeta vermelho, com o foguete se chocando contra uma montanha. Ao desembarcarem, eles encontram uma civilização de marcianos humanoides, liderados por Ikrom (Morris Ankrum), o Presidente do Conselho Governante, que demonstra inicialmente boas intenções e cortesia, e depois revela sinais de tirania, e que como em todo sistema político, tem como oponente o Conselheiro Senior Tillamar (Robert H. Barratt), mais pacifista.

Os humanos recebem ajuda dos marcianos para consertar o foguete avariado no pouso, para poderem retornar à Terra, mas descobrem depois que a real intenção dos anfitriões é utilizar o foguete para engenharia reversa e produção de uma frota de invasão. Pois Marte está morrendo pela falta de um minério chamado Corium, responsável pelo oxigênio e hidrogênio que mantém as condições de vida no planeta gerando calor, luz e energia, obrigando seus habitantes a migrar para outros mundos como a vizinha Terra, em busca de sobrevivência.

Porém, os terráqueos recebem o apoio de Tillamar e de outro cientista, Justin (Edward Earle), para tentarem uma estratégia de fuga, enquanto o Dr. Barker conhece e se apaixona pela bela filha do cientista marciano, Alita (Marguerite Chapman).      

 

“Voando Para Marte” tem apenas 72 minutos de duração e é uma diversão escapista com sua história carregada de clichês e elementos patéticos como os desnecessários conflitos de relacionamentos amorosos entre o Dr. Barker e a assistente Carol e o triângulo formado ainda pelo jornalista Steve, além da paixão instantânea entre o mesmo Dr. Barker e a marciana Alita. O roteiro é tão simplório e óbvio que não desperta grande interesse, preferindo perder tempo com bobagens em vez de desenvolver boas ideias com o primeiro contato entre humanos e marcianos. A diversão fica por conta dos efeitos especiais toscos e os cenários externos de Marte, assim como suas cidades subterrâneas com tecnologia avançada, mas ainda incapaz de construir com sucesso uma nave capaz de viajar pelo espaço.

É uma produção de baixo orçamento, filmada em alguns dias e concluída para exibição em somente seis semanas, mas que ainda assim se destaca pelo uso da fotografia em cores, ao contrário da grande maioria dos filmes similares da época, que optavam pelo preto e branco, reduzindo os custos de produção. A despeito do roteiro banal, a diversão dos apreciadores do cinema de gênero mais antigo é garantida com materiais reutilizados de outros filmes, nas cenas com o foguete tosco soltando fumaça, desde a decolagem na Terra, a viagem pelo espaço e o pouso em Marte, além da posterior fuga apressada. Tem também o bizarro vestuário alienígena, que vai desde os trajes exageradamente coloridos usados na superfície, quanto as roupas femininas de tamanhos reduzidos de forma proposital das belas marcianas em suas cidades subterrâneas. Além do ambiente externo com estruturas artificiais que abrigam enormes poços de ventilação e elevadores de acesso às camadas inferiores do planeta. E o sempre esperado uso da técnica “matte painting” para representar os cenários grandiosos pintados, associados com movimentos integrados simulando o cotidiano das cidades abaixo da superfície.

As situações são todas preparadas para facilitar o trabalho do roteiro e os momentos na Terra que antecedem a viagem espacial são tediosos e arrastados. O que interessa mesmo, compensando as bobagens do roteiro, começa após a decolagem do foguete e nas ações em Marte, apesar que também no planeta vermelho tudo é simplificado demais. As interpretações parecem teatrais, com vários núcleos de sequências isoladas que acabam se conectando sem muita preocupação com coerência ou realismo. Os marcianos inicialmente tratam bem os hóspedes humanos, depois é revelada a intenção hostil de invasão (clichê largamente explorado), e ocorre a reviravolta previsível com a fuga de volta à Terra.

Curiosamente, a atriz Marguerite Chapman, que tinha um significativo prestígio na época, com uma carreira bem sucedida, foi o principal nome no elenco, com destaque nos cartazes de divulgação, apesar de entrar em cena somente a partir da metade do filme, como a marciana Alita. Já o ator Cameron Mitchell, dono de extenso currículo, é um rosto conhecido na televisão, como na série de western “Chaparral” (1967 / 1971).

 

(RR – 16/04/22)





O Rastro do Vampiro (Blood Bath, EUA / Iugoslávia, 1966, PB)

 


"Estejam avisados, senão acontecerá novamente. Em outra época, quando o mundo era jovem, um fato curioso e vil aconteceu. Erno Sordi, um pintor, foi queimado na fogueira por lançar um feitiço em sua amada, a bela Melizza. Abaixo de sua morada, enterraram suas cinzas. O tempo passou e tudo foi esquecido. Então a cidade foi sitiada por um vampiro cujas façanhas desagradáveis enchiam o povo de medo e repulsa. Era o mesmo Sordi, retornando dos mortos, querendo vingança. Todas as noites, durante muitas semanas, ele banqueteou-se com o sangue de uma empregada, mas ainda assim o artista vivia na criatura. Quando ele tinha sangue suficiente para se satisfazer, então ele levava as formas insensatas de suas vítimas para o campanário da casa onde ele habitava, e lá ele as pintava na agonia final da morte. Mas, veio uma noite quando a lua estava cheia e os homens da cidade encontraram a trilha do vampiro seguindo-o até seu covil, no alto da torre. Lá, com grande pressa, eles o derrubaram, conduzindo uma estaca ao seu coração. Após isso, ele faleceu e desfez-se em pó.”

 

Essa é a descrição de uma antiga lenda sobre um pintor atormentado pela maldição do vampirismo. “O Rastro do Vampiro” (Blood Bath, 1966) tem fotografia em preto e branco e produção executiva não creditada do mestre dos filmes de orçamentos reduzidos Roger Corman. A direção e roteiro são de autoria da dupla formada por Jack Hill e Stephanie Rothman.

 

Antonio Sordi (William Campbell) é um pintor misterioso cujos quadros são gravuras sangrentas perturbadoras retratando mulheres nuas mortas. Atormentado por uma maldição familiar, ele acredita ser um vampiro que mata mulheres e as utiliza como modelos para suas obras de arte grotescas, mergulhando seus corpos num tanque com cera quente criando bonecos disformes.

Ele coleciona vítimas como a jovem estudante de arte e modelo Daisy Allen (Marissa Mathes), cujo desaparecimento obriga sua irmã Donna (Sandra Knight) a procurá-la e iniciar uma investigação por conta própria sobre as ações suspeitas do sinistro pintor, mesmo sem conseguir a ajuda de outro pintor amigo de Daisy, o beatnik Max (Carl Schanzer), rival de Sordi.

Depois que a colega de quarto de Daisy, a jovem bailarina Dorean (Lori Saunders), se apaixona por Sordi, deixando-o confuso com sua paranoia de vampiro assassino de mulheres, ela deverá enfrentar a verdade sobre o namorado para não se tornar mais uma vítima.

 

“O Rastro do Vampiro” é meio confuso, pois Roger Corman decidiu editá-lo a partir de outro filme iugoslavo, um thriller de espionagem com elementos de investigação policial chamado “Operation Titian” (1963). E também ele acabou servindo de base para outros dois filmes: a versão para a televisão “Track of the Vampire” (de onde saiu o título nacional), com o acréscimo de cenas e personagens novos, para aumentar a curta duração original de apenas 62 minutos, e “Portrait in Terror” (1968). Ou seja, existem quatro versões no mesmo universo ficcional, algo que Roger Corman gostava de fazer para aproveitar materiais e recursos, e gerando com isso confusão para os fãs e dificuldades para um trabalho de pesquisa e catalogação.  

A história se perde em momentos tediosos com um grupo de artistas beatnik (Jonathan Haze, Sid Haig e Fred Thompson), que ficam discutindo ideias extravagantes sobre pintura e que não agregam para a esperada atmosfera de horror bagaceiro. Os destaques acabam sendo apenas os momentos com os ataques do vampiro, como na sequência inicial numa perseguição por becos escuros, ou na piscina durante uma festa, ou ainda num carrossel, todas culminando com assassinatos de mulheres. Ainda tem as cenas no estúdio decrépito do pintor assassino, repleto de quadros repulsivos e figuras de cera bizarras, além do desfecho previsível, mas com um esperado clima mórbido.

Como uma marca registrada nos filmes com envolvimento de Roger Corman, o cartaz é bem expressivo e exagerado nas cores e taglines para chamar a atenção do público e despertar curiosidade em conhecer o filme.

 

(RR – 15/04/22)