O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, EUA, 1974)



O filme que verão é baseado na tragédia que assolou um grupo de cinco jovens, especialmente Sally Hardesty e seu irmão inválido Franklin. Foi mais trágico devido ao fato de serem jovens. Mas, se eles tivessem vivido muito, muito longas vidas, jamais teriam esperado ou desejado ter visto a loucura e o macabro que viram naquele dia. Para eles, um passeio de carro num verão à tarde tornou-se um pesadelo. Os acontecimentos daquele dia guiaram o descobrimento de um dos mais bizarros crimes nos anais da história norte americana, O Massacre da Serra Elétrica”.

        Com essa introdução narrada por John Larroquette, alertando o espectador dos terríveis eventos que viriam a seguir, tem início um dos filmes mais insanos da história do cinema de horror. Não poderia ser melhor ou mais apropriada a definição de perturbador para “O Massacre da Serra Elétrica”, filme de baixo orçamento dirigido de forma independente em 16 mm por Tobe Hooper em 1974. Principalmente por evidenciar vários motivos esclarecedores para a escolha de tal adjetivo. Basta citar algumas cenas grotescas como um psicopata demente pendurar uma jovem viva e aterrorizada num gancho como se fosse um animal a ser abatido num matadouro; ou a violência crua do assassinato de um jovem através do golpe de uma pesada marreta em sua cabeça, com seu corpo se debatendo em horríveis espasmos do sistema nervoso, seguindo o mesmo método brutal com que se abate um boi ou porco; ou ainda o momento em que outro jovem paraplégico em uma cadeira de rodas é surpreendido pelo maníaco e retalhado através da ação devastadora, sangrenta e altamente dolorosa de uma moto-serra.

      É verdade que cenas como essas, ou muito piores ainda, foram exploradas à exaustão em uma infinidade de filmes produzidos posteriormente, tendo o auxílio do crescente desenvolvimento dos efeitos especiais que conseguiram simular situações muito próximas da realidade, obtendo-se verdadeiros espetáculos “splatter” de carnificinas. Porém, duas questões devem ser expostas e analisadas. Primeiro, é o fato de “O Massacre da Serra Elétrica” ter sido produzido no distante ano de 1974, numa época com menos violência no cinema (tanto que o filme chocou fortemente o público e sua exibição permaneceu proibida por vários anos em muitos países, inclusive o Brasil). Segundo, porque o verdadeiro horror é justamente aquele onde não há o exagero de se mostrar sangue e vísceras explicitamente, funcionando muito melhor em situações sugeridas, intensificando o medo no espectador. E o filme mostra uma violência grotesca sem no entanto apelar para a exibição de sangue em excesso, investindo mais na incrível insanidade de uma família depravada canibal, desprovida de humanidade.

        A história é sobre um grupo de cinco jovens, sendo dois casais formados por Sally Hardesty (Marilyn Burns) e seu namorado Jerry (Allen Danziger), e Pam (Teri McMinn) e Kirk (William Vail), além do irmão inválido de Sally, Franklin Hardesty (Paul A. Partain). Eles decidem fazer uma visita à antiga casa, agora abandonada, onde Sally e Franklin viveram a infância, numa pequena cidade do interior do Texas. E também eles queriam verificar no cemitério local se não havia violação do túmulo de seus ancestrais, pois haviam recebido notícias sobre saqueamentos e profanações das tumbas. Eles embarcam numa van e percorrem uma estrada onde dão carona a um misterioso homem, “Hitchhiker” (Edwin Neal), que mostra-se perigoso e imprevisível. Porém, o pior ainda estava por vir quando são surpreendidos e atacados por uma família sádica de necrófilos formada, além de “Hitchhiker” (Caronista), também por seus dois irmãos, “Old Man” (Jim Siedow), um gourmet lunático e “Leatherface” ou “Rosto de Couro” (Gunnar Hansen), um gigante deficiente mental que usa uma máscara formada por retalhos de pele humana retirados de suas vítimas. Eles ainda mantém vivo seu avô “Grandfather” (John Duggan), um velho meio zumbi e inofensivo, que é alimentado com sangue humano.

O diretor Tobe Hooper teve seu nome eternamente associado ao filme, que aliás, foi seu primeiro trabalho no gênero horror. Nascido em 1943 em Austin, Texas, sua carreira a partir de então foi marcada pela instabilidade, alternando entre filmes ótimos e interessantes e também medíocres e descartáveis. Seu nome é muito lembrado por dirigir o divertido “Poltergeist, o Fenômeno” em 1982, escrito e produzido pelo popular Steven Spielberg, e outros filmes importantes em sua filmografia de destaque são “Eaten Alive” (1976), “Salem’s Lot” (1979), “Pague Para Entrar, Reze Para Sair” (The Funhouse, 1981) e “Força Sinistra” (Lifeforce, 1985). E o mais incrível é que Hooper dirigiu “O Massacre da Serra Elétrica 2” em 1986 e conseguiu “destruir” toda a essência e atmosfera de um horror perturbador que ele próprio criou e que envolveu o filme de 1974, fazendo agora uma mistura de horror explícito, sangue em profusão e vísceras expostas, com elementos de comédia num resultado insatisfatório, onde prevalece apenas um bom trabalho com os efeitos especiais.

Com roteiro escrito pela dupla Tobe Hooper e Kim Henkel, “O Massacre da Serra Elétrica” teve inspiração no famoso “serial killer” Ed Gein para criar a família canibal e principalmente o psicopata demente “Leatherface”. Gein foi um assassino que aterrorizou a pequena cidade de Plainfield, Winsconsin, durante a década de 1950, matando várias pessoas brutalmente e utilizando suas peles e ossos para uma coleção particular de objetos bizarros. Outros filmes também utilizaram o caso do conhecido psicopata para compor parte de seus argumentos como o clássico “Psicose” (1960), dirigido pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock, além de “Deranged” (1974), e o moderno “O Silêncio dos Inocentes” (1991), de Jonathan Demme e com Anthony Hopkins. Ainda teve outro filme baseado inteiramente na vida do assassino intitulado “Ed Gein”, lançado em 2001.

O elenco é formado por nomes desconhecidos e a maioria não teve continuidade notória em suas carreiras, acabando por ficarem eternizados no gênero por seus envolvimentos com o “O Massacre da Serra Elétrica”. O grandalhão ator Gunnar Hansen nasceu em Reykjavik, Islândia, em 1956, e ficou para sempre como o primeiro e original “Leatherface”. Marilyn Burns também nasceu em 1956, só que é americana de Cleveland, Ohio. Chamada por Hooper, participou também de “Eaten Alive” e da produção para a TV “Helter Skelter” (1976), baseado na vida do assassino Charles Manson. Ela teve também uma pequena ponta como uma homenagem em “O Retorno do Massacre da Serra Elétrica”, quarta parte da série, filmada em 1994. Curiosamente, tanto Marilyn Burns quanto seu colega de elenco Edwin Neal (que interpretou “Hitchhiker”) estiveram também juntos num filme obscuro lançado em 1985 chamado “Future-Kill”, dirigido por Ronald W. Moore, e cuja história mostra os confrontos mortais entre grupos rivais de rebeldes numa cidade futurista tomada pela anarquia.

Comparado com dezenas de outras boas produções realizadas posteriormente, o filme de Tobe Hooper realmente tem um ritmo mais lento, com menos ação e principalmente pouca exibição gratuita de “sangue”. Mas “O Massacre da Serra Elétrica” é o filme que introduziu no cinema o psicopata “Leatherface”, o qual está figurando agora na galeria dos imortais monstros modernos ao lado de Michael Myers (“Halloween”), Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”) e Freddy Krueger (“A Hora do Pesadelo”), e o filme inegavelmente possui cenas perturbadoras, de uma violência crua e brutal.

Vários são os destaques dessa preciosidade do cinema fantástico. A abertura com uma seqüência de flashes macabros destacando pedaços de cadáveres decompostos e profanados num cemitério. O desfecho com “Leatherface” furioso dançando como um verdadeiro maníaco, fazendo acrobacias com sua feroz moto-serra rasgando o ar em movimentos bruscos. E principalmente a perseguição insana onde “Leatherface” corre à noite numa floresta atrás da jovem Sally Hardesty com sua moto-serra zunindo e sedento para destroçar o corpo da mulher. A cena demora tanto tempo, em vários intermináveis minutos, que praticamente nos obriga a torcer para que ela seja logo capturada e termine assim a agonia e tortura no espectador de tanta correria e gritos alucinados de puro desespero. É totalmente compreensível que a personagem corra por sua vida e grite de forma selvagem, pois afinal ela está sendo perseguida por um demente que pretende esquartejar seu corpo e fazê-la sentir a terrível dor de uma serra cortando sua carne e músculos, jorrando seu sangue em profusão para todos os lados, numa morte torturante e coberta de um grau tão elevado de violência que torna-se difícil imaginar a intensidade da dor.

“O Massacre da Serra Elétrica” foi lançado em DVD no Brasil com preço popular e distribuição em banca de jornais, encartado na revista “DVD News” número 38 (Abril de 2003), da “Editora NBO”, e é interessante notar que a revista não fez nenhum comentário sobre o filme, sem publicar algum artigo ou qualquer citação mínima, mostrando um evidente descaso com o filme. O material extra do DVD inclui “cenas não aproveitadas”, “trailer de cinema”, “erros de filmagens”, “notas de produção”, “galerias de fotos”, “posters promocionais”, “sinopse” e “biografias do elenco”, porém tudo muito superficial e sem grandes atrativos.
Em vídeo VHS, o filme original foi lançado duas vezes no Brasil, a primeira pela “Europa Home Vídeo” e depois pela “Reserva Especial Vídeo”, e ambas as versões são raridades atualmente.

Passou-se doze anos e esse grande clássico do cinema de horror inevitavelmente deu origem a uma franquia composta por vários filmes descartáveis e desnecessários, imensamente inferiores ao precursor da série. Foram mais três continuações, “O Massacre da Serra Elétrica 2” (1986), também de Tobe Hooper, “Leatherface: O Massacre da Serra Elétrica 3” (1990), de Jeff Burr, e “O Retorno do Massacre da Serra Elétrica” (1994), de Kim Henkel, um dos roteiristas do filme original. Todos os três foram lançados em vídeo VHS no Brasil.


Em 1988 foi produzido um filme bizarro lançado aqui no Brasil em vídeo VHS pela “AB Vídeo” com o nome de “O Massacre da Serra Elétrica 3” (Hollywood Chainsaw Hookers), de Fred Olen Ray, com o ator que interpretou o “Leatherface” no original, Gunnar Hansen. Porém, o filme nada tem a ver com o clássico de Hooper e teve o título nacional escolhido de forma totalmente equivocada, confundindo os fãs brasileiros e demonstrando o péssimo tratamento que os filmes de horror recebem ao chegar no país, numa incompetência que incomoda.

E como os executivos da indústria de cinema americano, incluindo os roteiristas de plantão, estão com uma incrível escassez de ideias (ou melhor, uma vergonhosa falta de vontade de criação), no final de 2003 foi lançada nos Estados Unidos uma refilmagem do filme de 1974 (no Brasil, somente chegou aos nossos cinemas no final de Fevereiro de 2005, e que teve uma continuação lançada em 2006 diretamente no mercado de vídeo, sendo na verdade uma pré-seqüência, apresentando eventos anteriores, dirigida por Jonathan Liebesman). A nova versão de “O Massacre da Serra Elétrica” tem direção de Marcus Nispel, roteiro de Scott Kosar e traz no elenco a bela Jessica Biel como a mocinha que grita histericamente, e Andrew Bryniarski no papel do psicopata “Leatherface” (cujo personagem, depois de Gunnar Hansen, passou a ser maltratado por Bill Johnson, R. A. Mihailoff e Robert Jacks nos filmes seguintes).

Depois, em 2013, ainda veio mais um filme, dessa vez aproveitando a popularidade das exibições em 3D, “O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua” (Texas Chainsaw 3D), com a história se iniciando com uma continuação exata de onde termina o clássico dos anos 70. Após a família canibal de “Leatherface” ser dizimada num incêndio criminoso, as ações passam para muitos anos à frente onde uma garota, Heather Miller (Alexandra Daddario), recebe uma notificação informando que herdou uma casa numa região rural no Texas. Ela parte então para lá acompanhada de alguns amigos, não imaginando os horrores que a aguardavam obrigando-a a lutar pela vida. Tem sangue e cenas violentas, mas, é só isso, pois o roteiro é ruim e cheio de falhas, não conseguindo estabelecer aquele clima sombrio tão evidente no filme original.

       A franquia em torno de “O Massacre da Serra Elétrica” ainda inclui um vídeo game lançado em 1983 e dois documentários produzidos diretamente para o vídeo. “The Texas Chainsaw Massacre: A Family Portrait” (1988) foi dirigido e escrito por Brad Shellady, trazendo depoimentos dos atores do filme original, entre eles Gunnar Hansen, Edwin Neal, John Duggan e Jim Siedow, além da presença do famoso colecionador Forrest J. Ackerman, editor da revista “Famous Monsters of Filmland”. E o documentário inglês com cenas de bastidores “The Texas Chainsaw Massacre: The Shocking Truth” (2000), com direção e roteiro de David Gregory, narração de Matthew Bell e com a participação de vários nomes envolvidos com os filmes como Tobe Hooper, Kim Henkel, Marilyn Burns, Gunnar Hansen, Paul A. Partain e Edwin Neal.

Algumas informações interessantes e que servem como curiosidade em torno de “O Massacre da Serra Elétrica” são por exemplo o valor do orçamento do filme ser de apenas US$ 140 mil (e atualmente essa cifra é inexpressiva, com os valores girando em torno de dezenas de milhões de dólares). O mais incrível é ainda o faturamento obtido nas bilheterias, algo como US$ 40 milhões, ou seja, quase trezentas vezes o valor investido, comprovando seu inegável sucesso e alta lucratividade. As filmagens ocorreram em “Austin”, uma pequena cidade do Texas onde nasceu o diretor Tobe Hooper. A atriz Marilyn Burns foi uma das primeiras e mais autênticas “scream queen” do cinema, gritando histericamente a maior parte do tempo, fugindo da lâmina cortante de uma moto-serra. O cineasta Hooper foi muito convincente ao filmar as expressões faciais do mais puro horror da personagem Sally, focalizando um perturbador enquadramento de seus olhos desesperados e de sua boca escancarada gritando por socorro. Esse recurso foi muito utilizado em vários filmes seguintes, sempre obtendo bons resultados. O psicopata “Leatherface” aparece pela primeira vez no filme apenas após 35 minutos, e imediatamente ele coloca sua marreta e moto-serra em ação, protagonizando um tormento que seguiria até o fim do filme. Imaginem se ele aparece desde o início... No primeiro filme da franquia ele é claramente um retardado mental, que parece agir por impulso e descontrole matando sem plena consciência do que está fazendo, quase como uma vítima do próprio ambiente depravado em que vive. Porém, nos filmes seguintes o psicopata mudou suas características tornando-se um “serial killer” consciente e que planeja suas ações assassinas. O personagem “Old Man” da família canibal, recebeu o nome de “Cook” (Cozinheiro) na continuação de 1986, e foi interpretado pelo mesmo ator Jim Siedow nos dois filmes. Aliás, nessa mesma sequência a família de insanos recebeu mais um membro, “Chop Top” (Bill Moseley), o irmão gêmeo de “Hitchhiker” que estava num sanatório, e os efeitos de maquiagem ficaram a cargo do especialista Tom Savini, largamente conhecido por seus trabalhos em filmes como “Sexta-Feira 13” (1980) e “Dia dos Mortos” (1985).

Um último detalhe que merece registro é um grande equívoco cometido pelos responsáveis em nomear os filmes que chegam ao Brasil. O correto e ideal seria traduzir o original para algo como “O Massacre da Moto-Serra no Texas”, pois o instrumento utilizado por “Leatherface” para retalhar suas vítimas parece ser uma moto-serra movida por combustível líquido e não elétrica como sugere o título nacional escolhido. E curiosamente o nome original estava previsto para ser “Leatherface” ou “Headcheese”, e somente perto do lançamento do filme é que foi escolhido o título definitivo de “The Texas Chainsaw Massacre”. Quando eu assisti pela primeira vez em 1987, através daquelas chamadas fitas de vídeo “alternativas” que infestavam as locadoras ainda carentes de lançamentos oficiais no mercado brasileiro, o nome que foi dado ao filme foi “Chacina e Massacre no Texas”.

Enfim, um filme indispensável que costuma freqüentar qualquer lista de “TOP 10” promovida por especialistas e fãs do cinema de horror, e certamente o filme se destaca na minha lista pessoal de preferências.


O Massacre da Serra Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974)
avaliação: 10 (de 0 a 10) / (postado em 23/12/05)

O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, Estados Unidos, 1974). Vortex. Duração: 82 minutos. Direção de Tobe Hooper. Roteiro de Kin Henkel e Tobe Hooper. Produção de Kim Henkel, Tobe Hooper, Jay Parsley, Lou Peraino e Richard Saenz. Fotografia de Daniel Pearl. Música de Wayne Bell e Tobe Hooper. Direção de Arte de Robert A. Burns. Edição de Larry Carroll e Sallye Richardson. Elenco: Marilyn Burns (Sally Hardesty), Allen Danziger (Jerry), Paul A. Partain (Franklin Hardesty), William Vail (Kirk), Teri McMinn (Pam), Edwin Neal (Hitchhicker), Jim Siedow (Old Man), Gunnar Hansen (Leatherface), John Duggan (Grandfather), Robert Courtin, William Creamer, John Henry Faulk, Jerry Green, Ed Guinn, Joe Bill Hogan, Perry Lorenz, John Larroquette (narrador da introdução).



Link para resenha do livro "O Massacre da Serra Elétrica - Arquivos Sangrentos" (2003), de Stefan Jaworzyn:
http://infernoticias.blogspot.com.br/2017/09/resenha-do-livro-o-massacre-da-serra.html















Luxúria de Vampiros (Lust For a Vampire, Inglaterra, 1971)



Oh, Senhor das Trevas, Príncipe do Inferno. Ouça o apelo de teu servo. Manda do teu reino negro o poder para cumprirmos o teu desejo na Terra. Recria este pó de séculos para que, a teu serviço, os mortos possam se unir aos não mortos. Aceita este sacrifício em tua homenagem. Transforma agora este sangue fresco e quente em um corpo da tua criação, e este espírito inocente no mal – Ritual satânico conduzido pelo Conde Karnstein

No início dos anos 1970 o estúdio inglês “Hammer” foi o responsável pela produção da “trilogia Karnstein”, formada por filmes com história baseada na obra de vampirismo “Carmilla”, do escritor irlandês J. Sheridan Le Fanu (1814 / 1873). São eles: “Camilla, a Vampira de Karnstein” (The Vampire Lovers, 70), dirigido por Roy Ward Baker e com Peter Cushing e a bela atriz polonesa Ingrid Pitt; “Luxúria de Vampiros” (Lust For a Vampire, 1971, de Jimmy Sangster), com a loira Yutte Stensgaard, nascida na Dinamarca e de uma beleza impressionante; e “As Filhas de Drácula” (Twins of Evil, 1971, de John Hough), com as gêmeas Madeleine e Mary Collinson e novamente o sempre presente Peter Cushing, como um caçador de bruxas.

“Luxúria de Vampiros” é ambientado na Inglaterra por volta de 1830, onde o Conde Karnstein (Mike Raven, ator com grande semelhança física com o lendário Christopher Lee, inclusive no timbre gutural de voz), juntamente com a Condessa Herritzen (Barbara Jefford), realizam um ritual de magia negra auxiliados por um servo cocheiro (Christopher Cunningham). Eles solicitam ao demônio o ressurgimento da vampira Carmilla (1688 / 1710), através do derramamento do sangue fresco de uma bela jovem virgem sacrificada, em seu cadáver apodrecido pelo tempo.
A ação volta-se para uma escola particular de moças situada próxima ao antigo Castelo da amaldiçoada família Karnstein, conhecida na região como formada por vampiros. A escola é dirigida pela Srta. Simpson (Helen Christie) e ministrada pelos professores Janet Playfair (Suzanna Leigh) e Giles Barton (Ralph Bates), este último um estudioso e simpatizante de ocultismo. Paralelamente entram em cena um famoso escritor de livros de magia negra Richard Lestrange (Michael Johnson), que apesar de céptico sobre a existência real de vampiros, chega num vilarejo próximo pretendendo visitar o Castelo Karnstein e fazer pesquisas para seu próximo livro, e que acaba conseguindo uma vaga como professor de literatura inglesa na escola. E também surge uma bela jovem, Mircalla, um anagrama de Carmilla (interpretada por Yutte Stensgaard), que vem para estudar na escola de moças.
Logo, desaparecimentos e mortes misteriosas começam a ocorrer despertando a atenção de um investigador da polícia, Inspetor Heinrich (Harvey Hall), e do pai de uma das moças desaparecidas, Raymond Pelley (David Healy), relacionando os trágicos acontecimentos às ações de um vampiro, culminando na fúria e revolta dos aldeões que incendeiam as ruínas do Castelo Karnstein.

“Luxúria de Vampiros” pertence a uma fase da “Hammer” considerada inferior representada por uma decadência que encerrou as atividades do estúdio poucos anos depois. E o filme tem como característica principal a exploração do erotismo feminino ao mostrar belas mulheres semi nuas em cenas envolvendo vampirismo e lesbianismo, situações que começaram a ser apresentadas no filme anterior da trilogia, “Carmilla, a Vampira de Karnstein”, e que passou a ser conhecido como “sexploitation”. Além também de mostrar um macabro ritual satânico com sacrifício humano, aproveitando a proliferação desse assunto na época e em diversos outros filmes como “Balada Para Satã” (1971) e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (1973).
Como um típico filme da “Hammer”, em “Luxúria de Vampiros” encontramos todos aqueles clichês góticos característicos como um castelo imponente no alto de uma colina, um vilarejo próximo atormentado pelo medo, as carruagens, os túmulos, o nevoeiro rasteiro na floresta fantasmagórica à noite, e todo aquele clima de horror que imperava na Europa de alguns séculos atrás. E um detalhe que é impossível não salientar é a inverossímil presença de uma escola exclusiva para lindas moças vizinha de um amaldiçoado castelo, conhecido historicamente pela fama de seus antigos proprietários em envolvimentos com o mal e vampirismo. Mas é até compreensível para servir de base no desenvolvimento de todo o argumento do filme.

O filme foi lançado no Brasil no formato DVD em Dezembro de 2002, pela revista “Dark Side DVD” ano 1 número 4, com distribuição em bancas e um preço popular. Como material extra vieram um trailer de quase três minutos sem legendas, “radio spots” de aproximadamente dois minutos, biografias dos atores Ralph Bates e Yutte Stensgaard, além do diretor Jimmy Sangster, e uma galeria com muitas fotos interessantes. A capa do DVD nacional traz como destaque uma interessante foto do imponente Conde Karnstein, com seu visual gótico que intimida, porém seria mais adequado ainda se fosse utilizada uma foto da sensual vampira Carmilla, enfatizando a beleza de Yutte Stensgaard, com seus fascinantes olhos azuis.

Curiosamente, na cena do ritual satânico com o objetivo de ressuscitar Carmilla, numa missa negra conduzida pelo Conde Karnstein, aparece em um determinado momento um close fechado dos olhos do satanista, vermelhos de sangue reproduzindo o ódio e o mal absolutos, e na verdade essa cena foi reproduzida de “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 1970), sendo que os olhos malignos são de Christopher Lee protagonizando o eterno vampiro Drácula. Outra curiosidade é a presença sempre muito determinada do ator Mike Raven como o Conde Karnstein e também como um falso médico, Dr. Frohein, limitando-se a dizer poucas palavras com sua voz gutural, e sempre informando falsamente a causa da morte das vítimas de Carmilla como sendo “ataque do coração”.

O veterano inglês Jimmy Sangster nasceu em 1924 e é mais conhecido com roteirista de vários filmes de fundamental importância para a consagração da “Hammer” como “O Estranho de Um Mundo Perdido” (1956), “A Maldição de Frankenstein” (1957), “O Vampiro da Noite” (1958), “A Vingança de Frankensterin” (1958), “A Múmia” (1959), “Jack, o Estripador” (1959), “O Homem Que Enganou a Morte” (1959), “As Noivas do Vampiro” (1960), “Drácula: Príncipe das Trevas” (1966), “O Horror de Frankenstein” (1970, este também na direção), entre outros.
O elenco de “Luxúria de Vampiros” tem como destaques Ralph Bates (1940 / 1991), ator inglês nascido em Bristol, e a bela Yutte Stensgaard, nascida na Dinamarca em 1946. Bates participou de outros filmes importantes da “Hammer” como “O Sangue de Drácula” (1970), o já citado “O Horror de Frankenstein” (como o cientista Victor Frankenstein) e “O Médico e a Irmã Monstro” (1971, no papel do atormentado Dr. Jekyll). Quanto à Stensgaard, ela teve uma carreira muito curta, e curiosamente não voltou a atuar mais depois de interpretar a vampira Carmilla no filme de Jimmy Sangster em 1971. Mas, sobre sua participação em “Luxúria de Vampiros”, podemos dizer que como atriz seu trabalho foi apenas razoável, mas como uma vampira sua beleza estonteante deve colocá-la como uma das mais belas mulheres da história do cinema.

“Luxúria de Vampiros” (Lust For a Vampire, 1971)
avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 10/12/05)

Luxúria de Vampiros (Lust For a Vampire / Love For a Vampire / To Love a Vampire, Inglaterra, 1971). Hammer. Duração: 95 minutos. Filmado em locações dos “Elstree Studios”. Direção de Jimmy Sangster. Roteiro de Tudor Gates, baseado na obra “Carmilla”, de Joseph Sheridan Le Fanu. Produção de Harry Fine e Michael Style. Música de Harry Robinson. Fotografia de David Muir. Edição de Spencer Reeve. Maquiagem de George Blackler. Elenco: Ralph Bates (Giles Barton), Barbara Jefford (Condessa Herritzen), Suzanna Leigh (Janet Playfair), Michael Johnson (Richard Lestrange), Yutte Stensgaard (Mircalla / Carmilla), Helen Christie (Srta. Simpson), Pippa Steele (Susan Pelley), David Healy (Raymond Pelley), Harvey Hall (Inspetor Heinrich), Mike Raven (Conde Karnstein), Michael Brennan, Jack Melford, Christopher Cunningham, Judy Matheson, Christopher Neame.









O Jovem Frankenstein (Young Frankenstein, EUA, 1974)


Das mais escuras trevas, uma súbita luz brilhou sobre mim. Tão brilhante e maravilhosa e ainda assim, tão simples. Trocar os pólos do positivo para o negativo e do negativo para o positivo. Eu acabo de descobrir o segredo de dar a vida. Não, é muito mais. Eu me tornei capaz de dar vida à qualquer matéria morta.” – Barão Victor Frankenstein

O famoso comediante Mel Brooks sempre gostou de satirizar o cinema fantástico em filmes divertidos como “S.O.S. – Tem Um Louco Solto no Espaço” (Spaceballs, 87), uma paródia de ficção científica principalmente à série “Star Wars”, ou “Drácula, Morto Mas Feliz” (Dracula: Dead and Loving It, 95), uma gozação aos filmes de vampirismo. Mas, inegavelmente, sua grande obra-prima foi produzida bem antes, em 1974, com “O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein), fotografado em preto e branco numa grande e muito honrada homenagem aos filmes de horror antigos dos anos 30 da “Universal”, especialmente os clássicos “Frankenstein” (31) e “A Noiva de Frankenstein” (35), inspirados no famoso livro de Mary Wollstonecraft Shelley.

A história inicia com o jovem neurocirurgião Dr. Frederick Frankenstein (Gene Wilder, que faleceu em 29/08/16 aos 83 anos) dando aulas nos Estados Unidos sobre o cérebro humano. Ele faz questão de pronunciar seu sobrenome de forma diferente para não haver nenhuma ligação com seu avô Victor Frankenstein, que foi conhecido por roubar cadáveres para utilizar em experiências de criação de vida artificial em seu imponente castelo gótico na Transilvânia, Romênia. Após uma demonstração prática sobre os estímulos nervosos com resultados hilariantes com o Sr. Hilltop (Liam Dunn) como cobaia, o Dr. Frankenstein recebe a visita de Gerhard Falkstein (Richard Haydn), que viajou da Europa especialmente para entregar o testamento de seu avô.
Frederick decide então ir até a Transilvânia conhecer o castelo de seus ancestrais, se despedindo de sua noiva Elizabeth (Madeline Kahn) na estação ferroviária, numa sequência super hilária com a preocupação exagerada da mulher em não manchar o batom dos lábios, despentear o cabelo ou amassar a roupa. Uma vez chegando em seu destino, o jovem Frankenstein encontra o corcunda Igor (Marty Feldman), que se apresenta como seu ajudante geral e guia para o castelo, além também da bela Inga (Teri Garr), que se tornaria sua assistente de laboratório.
Chegando ao castelo, eles são recebidos pela velha arrumadeira Frau Blucher (Cloris Leachman), que os aguardava com ansiedade e revela que tinha um caso amoroso com o falecido Barão Victor Frankenstein. Uma vez explorando os incontáveis e imensos aposentos do castelo, Frederick encontra o antigo laboratório do avô e também sua biblioteca particular de onde resgata um livro com as explicações de suas experiências em reanimar carne morta. Mudando de opinião e agora obcecado pela possibilidade de reativar o trabalho de seu avô, Frederick concentra seus esforços para dar vida a um cadáver de um criminoso enforcado, roubado de seu túmulo, gerando um monstro (Peter Boyle, que apareceu como um sinistro vilão em “Scooby-Doo 2: Monstros à Solta).
Como o cérebro implantado na criatura era “anormal”, o monstro foge e causa alguns tumultos nos arredores do castelo, despertando a ira dos aldeões, sob o comando do Inspetor de Polícia Kemp (Kenneth Mars), que decidem invadir o laboratório no momento em que o Dr. Frankenstein fazia uma experiência com sua criatura tentando compartilhar suas mentes.

“O Jovem Frankenstein” foi filmado em preto e branco com a intenção acertada de reconstruir aquele clima típico das produções antigas da “Universal”, em especial os filmes impagáveis da década de 30. E o diretor Mel Brooks conseguiu com êxito o objetivo, pois sua obra é uma grande homenagem com inteligência e muito bom humor aos primeiros anos do cinema de horror falado, sobretudo os filmes inspirados na clássica história “Frankenstein”, escrita em 1818 por Mary Shelley.
São muitos os momentos super divertidos ao longo de todo o filme, mas os destaques são uma cena hilária envolvendo o Dr. Frankenstein e o corcunda Igor desenterrando um caixão com um enorme cadáver num cemitério. Frankenstein, cansado pelo esforço em levantar o pesado caixão de sua cova cheia de terra, reclama da situação desfavorável em que se encontra. Já Igor, responde que não estava tão ruim, pois poderia ser pior, poderia estar chovendo. Mal terminou de falar, e trovões aparecem trazendo uma chuva forte. Logo em seguida, quando estão tentando levar o caixão para o castelo, são surpreendidos por um policial (Richard A. Roth), que decide conversar com eles, obrigando-os a terem que simular um cumprimento com um aperto de mão do cadáver.
Todas as cenas com o inspetor Kemp são muito engraçadas, principalmente quando ele decide falar de forma super rápida e incompreensível, e quando todos não entendem nada do que falou, ele repete pausadamente. Aliás, como ele tem o braço direito artificial feito de madeira, ele o utiliza para uma série de atividades fora do comum como atear fogo no dedo para acender um charuto, ou usar seu braço como uma espécie de tora de madeira para os aldeões arrombarem a porta do castelo do Dr. Frankenstein.
O corcunda Igor, com seus olhos esbugalhados, também é responsável por vários outros momentos de bom humor, principalmente quando ele trocava sua corcunda de lugar, ora estando no lado direito do ombro, ora no esquerdo, e sempre que era questionado sobre a corcunda, ele fingia não reconhecer que tinha uma anomalia física. Como quando num dos primeiros encontros com o Dr. Frankenstein, o médico lhe diz que é um ótimo cirurgião e que poderia operar a corcunda, porém sua existência foi logo negada por Igor.
Já a arrumadeira do castelo Frau Blucher, também não ficava muito atrás nas cenas engraçadas, pois o roteiro reservou especialmente para ela o desagradável fardo de ter que suportar um incômodo e estridente relinchar de cavalos toda as vezes em que o seu nome era pronunciado.

Abaixo seguem várias curiosidades sobre “O Jovem Frankenstein” e seus bastidores, e que valem a pena serem registradas.
Os cenários, principalmente o imponente castelo, são recriações muito próximas dos originais utilizados nos filmes da “Universal”, sendo que inclusive os instrumentos e todo o maquinário elétrico e equipamentos do laboratório do Dr. Frederick Frankenstein são exatamente os mesmos criados por Kenneth Strickfaden para os clássicos dos anos 30 (com um agradecimento especial nos créditos de abertura).
A cena onde o monstro está carregando Elizabeth desacordada à noite por uma sinistra floresta é uma referência e homenagem ao clássico “O Monstro da Lagoa Negra” (54), de Jack Arnold, que tem uma sequência similar envolvendo o monstro do título e a bela Kay, a mocinha interpretada por Julie Adams.
No início do filme, ouvem-se treze badaladas do relógio, algo difícil de perceber a não ser que se contem todas as batidas pacientemente. Aliás, também perto do início, um casal de passageiros num trem fala exatamente as mesmas palavras em inglês (quando simulam a passagem por uma estação em New York) e também em alemão (quando passam por uma estação na Transilvânia).
O estridente e ameaçador uivo do lobisomem que se ouve quando o Dr. Frankenstein, sua assistente Inga e o corcunda Igor estão chegando ao castelo numa carruagem, foi feito pelo próprio diretor Mel Brooks, que aliás também foi o autor de um grito imitando um gato sendo atingido por um dardo arremessado de forma errada pelo Dr. Frankenstein, quando tentava acertar um tabuleiro como alvo.
Quando o Dr. Frankenstein localiza a biblioteca particular de seu avô, Victor, num aposento secreto no imenso castelo, ele encontra um livro escrito por seu avô intitulado “How I Did It” (Como eu Fiz), que é uma brincadeira do roteiro ao mencionar a existência de um registro que revelava como Victor Frankenstein conseguiu reanimar carne morta, um fato que não está revelado no livro original de Mary Shelley.
Naquela cena onde o monstro encontra na floresta uma garotinha, Helga (Anne Beesley), numa referência à mesma sequência do filme de 1931 de James Whale, eles ficam jogando flores num lago, e no momento em que a menina diz não ter mais flores para jogar, perguntando o que poderia então ser arremessado na água (para quem conhece o filme da Universal sabe o que o monstro escolheu para jogar no lago, numa cena que chocou o público na época e que ficou censurado por muitos anos), a criatura faz uma expressão de deboche para a câmera.
Quando o monstro faz uma visita espontânea ao homem cego, e depois de não ter obtido sucesso com a sopa quente, vinho e um charuto oferecidos por ele, numa série antológica de trapalhadas totalmente hilariantes, o monstro decide fugir com raiva e em seu encalço o homem cego ainda lhe oferece um cafezinho (essa última parte foi improvisada pelo ator Gene Hackman, pois não estava no roteiro).
O primeiro cérebro escolhido para a criatura era de um tal de Hans Delbruck, que no filme era descrito como cientista e santo, homem de grande inteligência e ideal para fazer parte do monstro, e na realidade Delbruck era mesmo um historiador e professor alemão de grande relevância nas áreas de economia e política.
Numa das cenas finais, Elizabeth utiliza um cabelo igual ao da noiva do monstro no filme de 1935, quando a atriz Elsa Lanchester tinha um penteado com enormes mechas brancas no cabelo, que foi inspirado em antigas esculturas da rainha egípcia “Nefertiti”.

Desde o dia fatídico como lama fedorenta que arraste-se do mar e grita paras as estrelas. Eu sou o Homem. Nosso maior temor tem sido saber de nossa mortalidade. Mas esta noite, vamos fazer a ciência desafiar e enfrentar a terrível face da morte. Esta noite, vamos chegar até as nuvens. Nós vamos imitar o terremoto. Vamos comandar os trovões. E conhecer as profundezas da impenetrável natureza.– discurso do Dr. Frederick Frankenstein, momentos antes da experiência em conceber vida à criatura

“O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein, 1974) – artigo # 292 – data: 30/12/04 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
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blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 10/12/05)

O Jovem Frankenstein (Young Frankenstein, Estados Unidos, 1974). 20th Century Fox. Preto e Branco. Duração: 106 minutos. Direção de Mel Brooks. Roteiro e história de Gene Wilder e Mel Brooks, inspirados em personagens da novela de Mary Wollstonecraft Shelley. Produção de Michael Gruskoff. Fotografia de Gerald Hirschfeld. Música de John Morris. Edição de John C. Howard. Direção de Arte de Dale Hennessy. Desenho de Produção de Dale Hennesy. Maquiagem de Ed Butterworth e William Tuttle. Efeitos Especiais de Hal Millar e Henry Millar Jr.. Elenco: Gene Wilder (Dr. Frederick Frankenstein), Peter Boyle (O Monstro), Marty Feldman (Igor), Madeline Kahn (Elizabeth), Cloris Leachman (Frau Blucher), Teri Garr (Inga), Kenneth Mars (Inspetor de polícia Hans Wilhelm Friederich Kemp), Richard Haydn (Gerhard Falkstein), Gene Hackman (Harold, o homem cego), Liam Dunn (Sr. Hilltop), Danny Goldman (Estudante de medicina), Oscar Beregi Jr., Arthur Malet, Monte Landis, Rusty Blitz.





O Incrível Homem Que Derreteu (The Incredible Melting Man, EUA, 1977)



“Maravilhoso! Você não viu nada ainda até ver o sol através dos anéis de Saturno!” – astronauta Steve West

Em 1977 foi produzido um filme tipicamente “B”, de baixo orçamento, mesclando um argumento central de ficção científica com fortes elementos de horror, resultando em mais uma preciosidade do gênero fantástico. Trata-se de “O Incrível Homem que Derreteu” (The Incredible Melting Man), cujo nome é bem parecido e talvez até tenha se inspirado no clássico de FC dos anos 1950, filmado exatamente 20 anos antes, “O Incrível Homem que Encolheu” (The Incredible Shrinking Man, 1957).
Em comum, eles têm o terrível drama particular vivido pelo personagem principal, que se envolve numa situação completamente inesperada. No filme de 1957, dirigido por Jack Arnold, baseado num livro de Richard Matheson, um homem (interpretado por Grant Williams) começa a encolher após ficar exposto a uma nuvem radioativa, num processo irreversível que o coloca frente a perigos mortais como seu gato de estimação ou uma simples aranha no porão. O personagem tem que lutar por sua sobrevivência e aceitar sua inédita condição encarando as novas realidades à medida que encolhe e participa de novos mundos. Já o filme de 1977, dirigido e escrito por William Sachs, traz um astronauta (Alex Rebar) que retorna de uma missão espacial nos anéis de Saturno como o único sobrevivente da expedição e trazendo consigo uma doença misteriosa que literalmente derrete seu corpo aos poucos, deformando sua mente e transformando-o num assassino gosmento.
“O Incrível Homem que Derreteu” foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “Globo”, transformando-se numa enorme raridade para os fãs do gênero.

(Para quem não assistiu o filme ainda e não quer saber de detalhes reveladores da história e do final, não leia os parágrafos seguintes, pois contém “Spoilers”. Mas, caso já tenha visto ou tenha muita dificuldade no acesso ao filme e quer conhecer a horripilante trajetória do incrível homem que derreteu, continue a leitura).

O drama do astronauta Steve West começa logo quando sua nave “Scorpio 5” retorna de Saturno. Como único sobrevivente da missão e com o corpo todo coberto de feridas pútridas, ele acorda no leito de um hospital do exército todo enfaixado, com o governo mantendo em sigilo o fracasso da expedição e a morte dos outros dois astronautas, isolando a imprensa e a população dos fatos reais.
Ver o sol pelos anéis de Saturno deve ter sido mesmo uma experiência única e maravilhosa, como enfatizou o astronauta na frase reproduzida no início desse artigo, mas também trouxe-lhe como consequência uma misteriosa doença degenerativa. Ao descobrir o estado deformado de seu rosto e mãos, ele se rebela furiosamente e ataca uma enfermeira, matando-a de forma violenta e fugindo desorientado do hospital, vagando sem rumo pela floresta vizinha (esses filmes são super divertidos justamente pelas cenas absurdas do roteiro como nessa sequência que é bem inverossímil, pois só há uma única enfermeira no local e o assassino consegue fugir pelos corredores desertos do hospital com extrema facilidade).

Caminhando pela floresta desnorteado por descobrir sua real condição de “homem derretido”, o astronauta Steve encontra um pescador e arranca sua cabeça com as mãos, jogando-a num riacho. Essa cena de horror é de forte impacto, principalmente para a época da produção, e foi bem explorada mostrando a cabeça decepada do pescador descendo o rio até uma pequena cachoeira e se espatifando contra uma pedra, jorrando sangue para todos os lados.
A mente decomposta do astronauta incitou nele um instinto selvagem para matar e a cada nova vítima ele ganhava mais força para continuar vivo. Para perseguí-lo, surgem então o médico Dr. Ted Nelson (Burr DeBenning, de “Cidade Sob o Mar”, 71) e o militar do exército General Perry (Myron Healy, de “O Extraordinário”, 57), amigos de Steve que tentam capturá-lo antes que ocorram mais mortes e possam descobrir a razão de sua doença para tentar uma cura, cuidando também para que o caso seja devidamente abafado e não venha ao conhecimento geral. Porém, antes de encontrar o astronauta, o assassino ainda aumenta sua ficha criminosa retalhando um casal de idosos que inadvertidamente parou seu carro numa estrada deserta e escura para pegar limões num pomar.
Derretendo cada vez mais a ponto de perder uma orelha ao encostar numa árvore, e deixar fluídos de seu corpo pingando pelo caminho, o astronauta ainda mata o General Perry e ataca um jovem casal de namorados que chegava em casa, matando o rapaz. Nessa sua última empreitada, ele perde o braço esquerdo num golpe de faca da jovem que foi atacada, a qual sobrevive, mas torna-se histérica após o confronto.
Continuando a perseguição estão o Dr. Nelson e agora o xerife da cidade Will Blake (Michael Alldredge), que conseguem localizar o astronauta derretido nas instalações de uma fábrica. É noite, o ambiente está escuro, mas eles encontram Steve tentando fugir. O xerife é então violentamente morto ao ser jogado do alto de uma plataforma e sendo eletrocutado por fios de alta tensão que incendeiam seu corpo. Outros dois policiais aparecem e também são mortos, porém um deles consegue disparar um tiro certeiro no Dr. Nelson matando-o na hora, no momento em que ele tentava interceptar a ação dos policiais contra o astronauta enfurecido.
Após a tentativa fracassada em capturar Steve, ele consegue fugir de seus perseguidores, mas não por muito tempo. O processo de derretimento atinge o seu clímax máximo e ele encosta-se próximo a uma lata de lixo agonizando lentamente, derretendo numa massa gosmenta de carne, ossos e sangue.

No dia seguinte pela manhã, um faxineiro aparece para o trabalho na fábrica e vê a enorme sujeira ao lado da lata de lixo, aquilo que um dia foi um homem, e calmamente pega uma vassoura e pá e inicia a faxina. Enquanto isso, uma segunda missão espacial tripulada com destino à Saturno levanta vôo, ignorando as trágicas consequências da expedição anterior as quais estavam sendo secretamente escondidas pelo governo.
Um final “não feliz” no melhor estilo, pois todos morreram, principalmente o astronauta num sofrimento incrível sentindo em seu corpo um processo de derretimento contínuo, e tudo ocultado secretamente numa verdadeira conspiração governamental (daria uma boa ideia de argumento para um episódio de “Arquivo X”). E o que sobrou do “homem derretido” sendo literalmente varrido para o lixo. Um final excepcional para um filme super interessante.
Como curiosidades, temos uma sequência onde o assassino derretido encontra uma menina na floresta e ela sai correndo procurando por sua mãe gritando que havia visto o “Frankenstein”. Essa é uma confusão frequente envolvendo esse famoso personagem do cinema de horror. Na verdade, Frankenstein é o nome do cientista que criou o monstro, e este passou a ser chamado de a “Criatura de Frankenstein”.
Um pouco antes dessa sequência podemos ver um grupo de três jovens crianças tentando fumar um cigarro, numa cena politicamente incorreta, principalmente naquela época dos anos 1970.
O filme foi filmado a cores e as cenas envolvendo o maníaco ganharam uma intensidade muito forte, evidenciando uma massa disforme de sangue, carne e todos os tipos de fluídos gosmentos e repugnantes, algo significativo para a época. Isso é o resultado da excelente maquiagem e efeitos especiais de Rick Baker, que mais tarde se notabilizaria por seus magníficos trabalhos em “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), “Lobo” (1994) e “Planeta dos Macacos” (2001), citando apenas alguns poucos exemplos.
Aliás, na capa da fita VHS da “Globo Vídeo” existe um dos mais grotescos erros que tive a oportunidade de ver em fitas de vídeo ou DVD´s lançados no Brasil. Simplesmente os efeitos especiais foram creditados para um tal de “Dick Baker”, citando que teve trabalhos em “O Exorcista” e no clip musical “Thriller”, do cantor Michael Jackson. Na verdade, eles criaram um ser híbrido, mistura de Dick Smith (que foi o homem da maquiagem de “O Exorcista”) com Rick Baker (que fez o videoclip “Thriller”, sobre lobisomens). Parece piada, mas isso realmente aconteceu e a prova está na capa da fita VHS. Acredite se quiser...
Outra curiosidade interessante é a presença como ator (apesar de discreta numa pequena participação), do cineasta Jonathan Demme, que mais tarde ficaria famoso por “O Silêncio dos Inocentes” (The Silence of the Lambs, 91), com Anthony Hopkins, e “Sob o Domínio do Mal” (The Manchurian Candidate, 2004), com Denzel Washington.
Para um filme cuja intenção não é apresentar um simples “serial killer” de adolescentes em férias como no posterior “Sexta-Feira 13” (1980), o astronauta Steve West, “O Incrível Homem que Derreteu”, não fica muito atrás, pois num curto período de tempo (uma única noite), ele matou violentamente nove pessoas.
Em todas as cenas envolvendo o astronauta caminhando em seu martírio solitário e derretendo de forma asquerosa, podemos ouvir sua respiração ofegante traduzindo seus gemidos de dor e desorientação do mais puro e absoluto sofrimento.
Enfim, “O Incrível Homem que Derreteu” é mais uma pérola do cinema fantástico bagaceiro, e apesar da produção de baixo orçamento, atores desconhecidos e alguns furos no roteiro com situações inverossímeis, possui qualidades que o coloca em destaque na filmografia de Ficção Científica e Horror dos anos 1970, e que deve ser sempre enaltecido e reverenciado.

O Incrível Homem Que Derreteu (The Incredible Melting Man, Estados Unidos, 1977). American International. Duração: 84 minutos. Direção e roteiro de William Sachs. Produção de Samuel W. Gelfman, Peter Cornberg e Robert L. Fenton. Produção Executiva de Max Rosenberg. Música de Arlon Ober. Fotografia de Willy Curtis. Edição de James Beshears. Desenho de Produção de Michel Levesque. Efeitos especiais e maquiagem de Rick Baker, Greg Cannom, Tina Lewis e Dulcie Smith. Elenco: Alex Rebar (Steve West), Burr DeBenning (Dr. Ted Nelson), Myron Healey (General Perry), Michael Alldredge (Xerife Will Blake), Ann Sweeny (Judy Nelson), Lisle Wilson (Dr. Loring), Cheryl Smith (Modelo), Julie Drazen (Carol), Stuart Edmond Rodgers, Chris Witney, Edwin Max, Dorothy Love, Janus Blythe, Jonathan Demme.


















Halloween - A Noite do Terror (Halloween, 1978)


 


Um dos grandes clássicos do cinema de horror de todos os tempos, “Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978) foi um dos precursores dos filmes com “serial killers”, introduzindo o psicopata Michael Myers e sua enorme faca, que ao lado de Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”), Freddy Krueger (“A Hora do Pesadelo”) e Leatherface (“O Massacre da Serra Elétrica”), está imortalizado na galeria dos famosos monstros modernos do cinema. Criação do cineasta John Carpenter, responsável por inúmeras produções de ficção científica e horror, que é a sua especialidade, “Halloween” impulsionou toda uma safra de filmes de psicopatas ao longo dos anos seguintes, e também uma longa sequência de continuações, numa das mais populares e rentáveis franquias do gênero.

A história começa na pequena cidade americana de Haddonfield, Illinois, numa noite em 1963 quando um estranho menino de apenas seis anos de idade, Michael Myers, se apossa de uma enorme faca de cozinha e ataca violentamente sua irmã Judith que ainda estava despida após um rápido relacionamento sexual com seu namorado que havia se retirado pouco tempo antes. O garoto, fantasiado de palhaço e com uma máscara cobrindo o rosto, desfere vários golpes mortais com sua faca banhando de sangue a irmã mais velha de forma aleatória. Após o criminoso ato, ele sai para fora de casa no momento em que chegam seus pais de carro e o encontram segurando a faca ensanguentada e após tirar a máscara, constatam seu olhar frio e completamente fora da realidade.
Após o crime, ele é internado num hospício numa cidade distante 250 Km porém ainda em Illinois (Smith´s Grove), e lá fica por 15 longos anos, sob a tutela do psiquiatra Dr. Sam Loomis (interpretado pelo grande ator Donald Pleasence). Porém, na noite de 30 de outubro de 1978, no famoso Halloween (a festa do dia das bruxas nos Estados Unidos), quando o Dr. Loomis e uma enfermeira assistente chegam no hospital psiquiátrico para cumprirem uma decisão judicial e levarem Michael Myers para um interrogatório policial (o que seria bem difícil, pois o psicopata nunca disse uma única palavra no cárcere), eles são surpreendidos por uma fuga dos pacientes do manicômio e Myers consegue escapar utilizando o carro do psiquiatra (mais tarde em um diálogo do Dr. Loomis com o responsável pelo hospício, o roteiro tentou explicar essa gafe alegando que alguém havia ensinado o psicopata a dirigir).
O esperto maníaco se dirigiu então para sua cidade natal de Haddonfield, trocando de roupas na estrada ao atacar e matar um motorista de um furgão, e se instalando na sua antiga casa, agora abandonada e considerada pela vizinhança como assombrada. Ele fica rondando a região, violando o túmulo de sua irmã roubando a lápide de pedra do cemitério, matando a fome comendo literalmente um cachorro, e roubando uma máscara e facas de um armazém, além de espionar as ações de uma jovem estudante, Laurie Strode (interpretada pela “scream queen” Jamie Lee Curtis, papel que impulsionou sua carreira e que a marcou para sempre).
Laurie é babá nas horas de folga e motivo de gozação para seus amigos devido à timidez com namorados, e ela sente-se constantemente observada por um vulto estranho quando está na escola, casa ou rua, e que mais tarde saberia que era Michael Myers que retornava para continuar seu legado de sangue, atacando e matando violentamente três de seu amigos e perseguindo-a implacavelmente. Para combater o psicopata, estava em seu rastro o incansável Dr. Loomis, que veio à Haddonfield para avisar as autoridades locais de sua suspeita do retorno de Myers ao local do antigo crime.
Após muita correria e gritos, Laurie é salva do psicopata pelo Dr. Loomis que dispara vários tiros de revólver no assassino despencando-o do alto de um sobrado para o jardim e... o maníaco desaparece para poder continuar sua saga no cinema... (aliás, o filme que veio a seguir começa exatamente nessa última cena do original, algo raro e bem criativo).

A despeito das inúmeras e inevitáveis falhas de roteiro e clichês habituais do gênero, “Halloween” é considerado hoje um clássico por ser um dos pioneiros na introdução de psicopatas “imortais” e “indestrutíveis” no cinema e pela criação das hoje populares franquias de filmes de horror com suas séries intermináveis. Para se ter uma idéia, a saga “Sexta-Feira 13”, iniciada em 1980 num filme dirigido por Sean S. Cunningham, está hoje com dez partes e ainda tem uma produção de 2003 de um filme “crossover” envolvendo um confronto entre o psicopata Jason Voorhees e seu rival Freddy Krueger, de outra franquia de sucesso, “A Hora do Pesadelo”.
O diretor John Carpenter, hoje cultuado por uma legião de fãs de seus inúmeros filmes de FC &Horror, é sempre lembrado por ser o responsável por “Halloween” e criador de Michael Myers. Ele nasceu em 16 de janeiro de 1948 em New York e sua carreira tem sido delineada pelo gênero fantástico em filmes como “Dark Star” (1974), “Fog – A Bruma Assassina” (79), “Fuga de New York” (81), “O Enigma de Outro Mundo” (82, refilmagem do clássico de 1951 “O Monstro do Ártico”), “Christine - O Carro Assassino” (83, baseado em livro de Stephen King), “Starman – O Homem das Estrelas” (84, que virou série de TV), “Os Aventureiros do Bairro Proibido” (86), “O Príncipe das Sombras” (87), “Eles Vivem” (88), “Memórias de um Homem Invisível” (92), “À Beira da Loucura” (94), “A Cidade dos Amaldiçoados” (95, refilmagem do clássico de 1960 “Aldeia dos Amaldiçoados”), “Fuga de Los Angeles” (96), “Vampiros” (98) e “Fantasmas de Marte” (2001).
O ator Donald Pleasence interpretou o mesmo personagem (Dr. Loomis) durante todos os filmes da série Halloween, exceto nas partes 3 (cujo filme está fora do ambiente de Michael Myers) e 7 e 8 (filmados após sua morte em 95) e juntamente com os também falecidos Bela Lugosi, Boris Karloff, Lon Chaney, Vincent Price, Peter Cushing, John Carradine e Peter Lorre, e do ainda vivo Christopher Lee, foi um dos grandes vilões do cinema do horror de todos os tempos. Nascido em 5 de outubro de 1919 em Worksop, Inglaterra, e falecido em 2 de fevereiro de 1995 em St. Paul de Vence, França, ele participou de aproximadamente 150 filmes de todos os gêneros, na maioria como coadjuvante, porém ficou marcado e é muito lembrado por suas participações em filmes de horror como “A Carne e o Diabo” (1959, ao lado de Peter Cushing), “Circo dos Horrores” (60), “Viagem Fantástica” (66), “THX 1138” (71), “Estranhas Mutações” (73), “Drácula” (79), “Fuga de New York” (81), “Drácula em Veneza” (86), “Príncipe das Sombras” (87) e “Enterrado Vivo” (89), entre outros.
A atriz Jamie Lee Curtis nasceu em Los Angeles em 22 de novembro de 1958, sendo filha de artistas, do casal de atores Tony Curtis e Janet Leigh, e sua estréia no cinema ocorreu em “Halloween”. Com esse filme e outros que fez em seguida, ela ficou conhecida como “scream queen” ou “rainha do grito”, termo utilizado para definir uma atriz ligada aos filmes de horror com gritaria e
sustos. Sua participação em filmes fantásticos é pequena mas ela sempre é lembrada por sua atuação nos dois primeiros filmes da série “Halloween” e mais recentemente por voltar em “Halloween H20” (1998). Em sua filmografia destacam-se “Fog – A Bruma Assassina”, “Fuga de New York”, “Trocando as Bolas” (83), “Um Peixe Chamado Wanda” (88), “Meu Primeiro Amor” (91), “Eternamente Jovem” (92), “True Lies” (95, com Arnold Schwarzenegger), “Vírus” (99) e “O Alfaiate do Panamá” (2001).

Algumas curiosidades interessantes podem ser observadas em “Halloween”, como o fato de apenas ocorrerem quatro mortes durante o filme inteiro, e apenas três foram mostradas (de duas amigas de Laurie e do namorado de uma delas, e ainda assim de forma pouco explícita). Isso mostra uma diferença grande em relação aos filmes posteriores de séries como “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo”, ou ainda mais recentemente com “Pânico”, onde os assassinatos chegam a dezenas por filme, de todas as formas previsíveis, ficando a cargo do público apenas esperar para descobrir quantos morreriam e de que maneira. Esse excesso de violência gratuita banalizou um pouco os filmes de psicopatas, pois os roteiros deixaram de priorizar a qualidade dos argumentos em detrimento de situações óbvias com mortes fáceis de adolescentes idiotas. “Halloween” deu mais importância para o envolvimento da história, o suspense que envolve o público com o surgimento de um psicopata assassino à espreita no meio da noite. Os próprios filmes seguintes dessa franquia não mantiveram a mesma linha do original e utilizaram os mesmos recursos baratos de excesso de sangue desnecessário nas produções similares de Jason Voorhees e Freddy Krueger.
Todos os modernos psicopatas do cinema tem suas próprias características. Assim como Jason Voorhees utiliza uma máscara de jogador de hóquei (a partir do terceiro filme, pois no segundo ele esconde o rosto com um saco de papelão, e no original o assassino é na verdade sua insana mãe), Freddy Krueger tem o rosto deformado por queimaduras, utiliza uma camisa listrada e uma mortal luva de facas em uma das mãos, e Leatherface utiliza uma máscara de pele humana e uma motoserra para dilacerar suas vítimas, Michael Myers também utiliza uma máscara para cobrir seu rosto e prefere uma enorme faca de cozinha para retalhar seus inimigos. Em “Halloween” percebemos também sua respiração ofegante durante todo os momentos em que aparece, mostrando talvez uma dificuldade em respirar sob a máscara.
Alguns temas musicais de filmes de horror são tão bem elaborados que tornam-se eternamente lembrados e associados às suas origens, como notamos por exemplo na música da famosa cena do assassinato no chuveiro do psicopata Norman Bates (Anthony Perkins) no clássico “Psicose” (1960), dirigido por Alfred Hitchcoch, ou no tema da série de televisão “Além da Imaginação” (1959-64), criada por Rod Serling, ou ainda na balada do clássico absoluto “O Exorcista” (1973), de William Friedkin. Em “Halloween”, o tema musical de autoria também de John Carpenter, é uma balada ao piano memorável e sempre associada ao filme, que também se junta ao grupo de temas inesquecíveis do cinema de horror.
“Halloween” é claramente um filme de produção de baixo orçamento, com um custo de apenas trezentos mil dólares, e que graças ao talento de Carpenter e do elenco tornou-se altamente rentável com um excelente faturamento nas bilheterias e transformando-se num filme cultuado por uma imensa legião de fãs do gênero ao redor do mundo. No Brasil, existe um site de grande qualidade especializado na franquia, onde se encontra tudo sobre a série como resenhas de todos os filmes, artigos, notícias, informações diversas, curiosidades, fotos, links, biografias dos artistas, etc. O fanzine virtual é editado por Alexandre Sobrino e pode ser acessado no endereço: “Halloween: o site brasileiro de Michael Myers” – http://www.myers.cjb.net
Outro detalhe interessante, e que vemos com frequência no cinema, são as homenagens que os diretores fazem em seus filmes referenciando outras produções do passado. Nesse caso de “Halloween”, quando a babá Laurie está tomando conta de duas crianças, a televisão exibia cenas de dois grandes clássicos da ficção científica mundial. Trata-se de “O Monstro do Ártico” (The Thing), filmado em 1951 por Howard Hawks pela RKO, e “Planeta Proibido” (Forbidden Planet, 1956) da MGM, onde aparece a nostálgica cena em que uma nave espacial aterrissa lentamente no planeta Altair IV. Foram duas justíssimas e oportunas homenagens que John Carpenter proporcionou em seu filme. Aliás, em 1996 foi a vez de “Halloween” ser homenageado por Wes Craven quando numa cena de “Pânico”, um grupo de adolescentes assistem ao clássico de Carpenter na televisão e reverenciam Jamie Lee Curtis.

A saga de Michael Myers teve ainda mais 7 sequências, todas lançadas em vídeo VHS no Brasil e inferiores ao filme de 1978: “Halloween 2” (Halloween 2, 1981), de Rick Rosenthal, co-roteirizado por Carpenter e lançado pela Tec Home (este é o único no mesmo nível do original); “Halloween 3 – A Noite das Bruxas” (Halloween 3 – Season of the Witch, 1982) de Tommy Lee Wallace e o único sem nenhuma ligação com a série (em VHS pela VTI); “Halloween 4” (Halloween 4, the Return of Michael Myers, 1988), de Dwight Little e lançado pela Top Tape; “Halloween 5” (Halloween 5, 1989), de Dominique Othenin-Girard (Top Tape); “Halloween 6 – A Última Vingança” (Halloween – The Curse of Michael Myers, 1995), de Joe Chappelle (Play Arte); e “Halloween H20 – Vinte Anos Depois” (Halloween H20 – Twenty Years Later, 1998), de Steve Miner (Paris Filmes).
E já estreou a oitava parte da franquia, dando continuidade à série sangrenta do imortal psicopata do dia das bruxas. Trata-se de “Halloween: Ressurreição” (Halloween: Resurrection, 2002), com direção de Rick Rosenthal (o mesmo da parte 2) e novamente a presença da atriz Jamie Lee Curtis. A história fala de alguns estudantes universitários que foram selecionados para passar uma noite na casa onde viveu Michael Myers na infância com transmissão ao vivo pela internet, e que são surpreendidos como o aparecimento do psicopata, sedento por sangue.

Por sorte, “Halloween” é frequentemente exibido na televisão e felizmente para os fãs e colecionadores do cinema de horror estão disponíveis as versões em vídeo VHS (pela Reserva Especial) e DVD (lançado encartado na Revista Set Terror e Ficção # 1, Outubro de 2001, Editora Peixes), para que o filme possa ser imortalizado, apreciado e reverenciado como uma das produções de grande importância para história do gênero fantástico. E principalmente como um exercício nostálgico de puro entretenimento, ou seja, uma noite de terror...

Em tempo:
1) Considerado o nome mais importante na equipe de produção de todos os oito filmes da saga “Halloween”, do psicopata mascarado Michael Myers, o sírio Moustapha Akkad morreu tragicamente junto com sua filha na explosão de uma bomba de um atentado terrorista no hotel em que estavam hospedados na Jordânia, em 11/11/05. Nascido em 1930, o produtor teve seu nome vinculado à série em todos os filmes, e já estava trabalhado na pré-produção de “Halloween 9”. Resta especular sobre o futuro da série, que agora não terá mais seu principal produtor...
2) Numa dica de Felipe Campos Faria, outra curiosidade que merece registro é a homenagem de “Halloween” ao filme “Psicose”, de Alfred Hitchcock, através da escolha do nome do doutor Sam Loomis, que é o mesmo do personagem do namorado de Marion Crane (Janet Leigh), que por sua vez, quando se hospeda no misterioso “Hotel Bates”, se identificou como Marie Sammuels.

“Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978)
avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
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(postado em 10/12/2005)

Halloween – A Noite do Terror (Halloween, Estados Unidos, 1978). Duração: 90 minutos. Direção e música de John Carpenter. Produção de Debra Hill. Produção Executiva de Moustapha Akkad. Roteiro de John Carpenter e Debra Hill. Fotografia de Dean Cundey. Maquiagem de Erica Ulland. Elenco: Jamie Lee Curtis, Donald Pleasence, Nancy Loomis, P. J. Soles, Charles Cyphers, Kyle Richards, Tony Moran, Will Sandin, Brian Andrews.