Zombi 3 (Zombie Flesh Eaters 2, Itália, 1988)




Também conhecido como “Zombie Flesh Eaters 2”, “Zombi 3” é uma bagaceira italiana no sub-gênero “mortos-vivos” dirigida por Lucio Fulci e Bruno Mattei (não creditado). Tudo é muito confuso e longe de qualquer coerência, desde o roteiro de Claudio Fragasso, um clichê imenso dentro do universo ficcional largamente já explorado sobre as criaturas que retornam da morte, até a bagunça com o título do filme. “Zombi 3” é considerado uma sequência (mesmo sem relação direta entre as histórias) de “Zombie – A Volta dos Mortos” (Zombie Flesh Eaters, 1979, lançado em DVD no Brasil pela “Dark Side”), que por sua vez também era conhecido como “Zombi 2”, numa jogada de marketing picareta insinuando alguma relação (inexistente) com o americano “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 1978, de George Romero). É tudo tão confuso que nem vale a pena gastar energia tentando encontrar alguma lógica nesses títulos.
Um cientista maluco está trabalhando num projeto militar de arma química e depois que um grupo terrorista rouba um poderoso vírus, ocorre uma contaminação numa ilha das Filipinas, com a população se transformando em zumbis carnívoros repletos de feridas pútridas e sangue gosmento escuro. Alguns soldados unem-se com um grupo de turistas e todos lutam por suas vidas refugiando-se num hotel abandonado, combatendo um ataque de zumbis.     
                O filme é ruim, com elenco amador e efeitos toscos, sendo infinitamente inferior ao anterior de 1979, bem mais violento e significativo dentro da história do subgênero do cinema de horror sobre zumbis comedores de carne humana. Sempre esperamos por uma boa diversão no cinema bagaceiro de horror, mas em “Zombi 3” a história é entediante e a enorme quantidade de absurdos, furos no roteiro e cenas risíveis de ataques dos zumbis contribuem para o desinteresse.
Não existe um padrão para os mortos-vivos, às vezes são lentos e pouco ameaçadores, e em outros momentos são ágeis, violentos e letais. Até tem algumas cenas sangrentas, mas que perdem em comparação com outros filmes de Lucio Fulci, um cineasta especialista no gênero e conhecido pelos excessos de violência.
Existem cenas envoltas em quantidade exagerada de névoa, algo compreensível uma vez que o objetivo é aumentar uma já desconfortável sensação de insegurança com os ataques dos zumbis, mas que desaparecem de forma abrupta, evidenciando falhas de continuidade significativas, e uma falta de atenção para detalhes que desrespeita o espectador.
Entre as curiosidades, tem uma cena patética envolvendo uma cabeça decepada zumbi, que escondida numa geladeira, surpreende uma vítima voando para rasgar sua garganta. Cena similar aparece também no posterior “Pelo Amor e Pela Morte” (Dellamorte Dellamore, 1993), outra bagaceira italiana, dirigida por Michele Soavi.
O cineasta Lucio Fulci (1927 / 1996) é bastante cultuado por seus filmes exagerados em violência e sangue, como “Pavor na Cidade dos Zumbis” (1980) e “Terror nas Trevas” (1981). Ele revelou que não gostou do roteiro de “Zombi 3” e filmou cerca de 70 minutos, obrigando os produtores a chamar outro diretor para a conclusão. O escolhido foi Bruno Mattei (1931 / 2007), também conhecido pelo currículo repleto de tranqueiras utilizando pseudônimos, muitas delas no gênero Horror e várias igualmente pouco divertidas.

Os mortos se levantam, matam seus amigos e comem seus corpos.

(Juvenatrix – 03/06/19)

A Noite do Demônio (Night of the Demon, Inglaterra, 1957, PB)


Que terrível destino acontecerá àqueles que desafiam a “Noite do Demônio”?

Lançado em DVD no Brasil pela “Versátil”, na coleção “Obras Primas do Terror – Volume 1”, “A Noite do Demônio” (Night of the Demon / Curse of the Demon, 1957) é uma produção inglesa de horror psicológico, com fotografia em preto e branco e direção do francês Jacques Tourneur, famoso cineasta com preciosidades no currículo como “Sangue de Pantera” (1942), “A Morta-Viva” (1943),  “Farsa Trágica” (1963) e “Monstros da Cidade Submarina” (1965), esses dois últimos com Vincent Price.

Está escrito desde o início do tempo, até mesmo nessas antigas pedras (referência ao monumento histórico Stonehenge, na Inglaterra), que criaturas malignas sobrenaturais existem em um mundo de trevas. E também se diz que o Homem que pode utilizar o poder mágico dos antigos símbolos rúnicos, pode invocar esses poderes das trevas e os demônios do inferno. Ao longo das eras, o Homem tem temido e venerado tais criaturas. A prática da bruxaria e dos cultos do mal resistiu e ainda continua em nossos dias. 

Um psicólogo americano, John Holden (Dana Andrews, de “Uma Fenda no Mundo”, 1965), viaja até Londres, Inglaterra, para participar de uma convenção científica com o objetivo de investigar e denunciar como fraude as ações de um culto demoníaco liderado pelo ocultista Dr. Julian Karswell (Niall MacGinnis).
Holden recebe a ajuda da jovem Joanna Harrington (Peggy Cummins), uma professora de escola infantil que é sobrinha do Prof. Harrington (Maurice Denham), um cientista que investigava a seita satânica e que morreu de forma misteriosa num acidente de carro. Ela tenta convencer o cético psicólogo americano dos perigos reais do satanismo e das práticas de bruxaria, e que ele pode ser uma vítima de uma maldição demoníaca que ameaça sua vida, através de um pergaminho com inscrições rúnicas.
“A Noite do Demônio” é um filme de horror psicológico e magia negra, cuja ideia central é o questionamento da existência do Mal, representado por criaturas do inferno invocadas em cultos satânicos. Combatendo o ceticismo e em alguns momentos o sarcasmo de John Holden, um homem da ciência que defende que os demônios são apenas invenções de auto-sugestão ou histeria em massa. Mas, os conceitos de feitiçaria não são apenas originários de princípios simplórios como a lendária bruxa cavalgando sobre sua vassoura, ou o mau olhado que tortura os pensamentos de sua vítima, ou o alfinete espetado na imagem que enfraquece a mente e o corpo. Os demônios podem ser reais e o cético John Holden irá arriscar sua vida para conhecer a verdade sobre essas criaturas ancestrais que já faziam parte de diversas culturas antigas, como o “Baal” dos babilônios, “Seth” dos egípcios, “Asmodeu” dos persas, ou “Moloch” dos hebreus.
Entre as curiosidades, vale destacar que o filme é baseado no conto “Casting the Runes”, de Montagne R. James, publicado em 1911. E uma questão bastante comentada é sobre a exposição do demônio, que aparece pouco e mesmo visto apenas em alguns momentos rápidos, muitos fãs e profissionais que trabalham com o gênero parecem concordar que seria mais eficaz para a história se ele nem aparecesse. Tanto que o diretor Jacques Tourneur, que prefere o horror sugestivo, fez questão de evidenciar que não era sua intenção mostrar a criatura, deixando para a imaginação do espectador, e que a decisão da exposição do monstro do inferno foi dos produtores, com as cenas adicionadas na pós-produção, sem a participação do diretor. Eu, particularmente, como apreciador do cinema bagaceiro de horror, gostei da aparição do demônio em efeitos toscos e divertidos (a criatura infernal estampa o pôster e recebeu grande destaque, ajudando muito na divulgação e trabalho de marketing).  

Como quem vai com medo e horror num caminho deserto. Pois sabe que algum demônio medonho o segue bem de perto.” – trecho do poema “A Balada do Velho Marinheiro”

(Juvenatrix – 07/03/19)