Comentários de Cinema - Parte 24

Filmes abordados:

Bodas de Satã, As (The Devil Rides Out, Inglaterra, 1968)
Espantalho Assassino (Scarecrow, EUA / Canadá, 2013)
Experiência Diabólica / Cérebro Maligno, O (Donovan´s Brain, EUA, 1953, PB)
Galeão Fantasma, O (El Buque Maldito / The Ghost Galleon, Espanha, 1974)
Gangsters na Lua (Moon Zero Two, Inglaterra, 1969)
Hora das Criaturas, A (Critters, EUA, 1986)
Invasão Zumbi, A (Rise of the Zombies, EUA, 2012)
Noite das Gaivotas, A (La Noche de las Gaviotas / Night of the Seagulls, Espanha, 1975)
Terror no Triângulo das Bermudas (Bermuda Tentacles, EUA, 2014)


* Bodas de Satã, As (1968) – A produtora inglesa “Hammer” também contribuiu significativamente para o sub-gênero do cinema de horror que aborda o satanismo. No final dos anos 60 e início da década seguinte, tivemos um período com ótimos filmes com propostas similares, como “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, e “Balada Para Satã”, de Paul Wendkos. Em 1968 foi lançado “As Bodas de Satã”, com direção do especialista Terence Fisher, o mais importante cineasta do cultuado estúdio, e com o ícone Christopher Lee no elenco. O roteiro é do renomado escritor Richard Matheson, a partir de um livro de Dennis Wheatley, cujas histórias serviram de inspiração para “O Continente Esquecido” (1968) e “Uma Filha Para o Diabo” (1976), ambos também da “Hammer”. Ambientado em 1929, os amigos Duque Nicholas de Richleau (Christopher Lee) e Rex Van Ryn (Leon Greene) prometeram ao pai falecido do jovem Simon Aron (Patrick Mower), que cuidariam dele. E pensando nisso, e após sem vê-lo por alguns meses, eles decidem visitá-lo em sua casa, surpreendendo-o no meio de uma estranha reunião de uma suposta sociedade astronômica. Como profundo conhecedor de doutrinas e ciências ocultas, o duque desconfia dos misteriosos diagramas desenhados no chão de um grande salão no andar de cima da casa e após encontrar galinhas escondidas numa cesta como se estivessem prontas para o abate num ritual de sacrifício, ele acredita que Simon faz parte de uma seita demoníaca. Ele tenta retirar o jovem e outra garota, Tanith Carlisle (Nike Arrighi), da influência maligna dos seguidores do culto, uma vez que eles estavam sendo preparados para um batismo num sabbath, onde passariam a servir o diabo. Então, Nicholas e o amigo Rex, apaixonado por Tanith, juntam esforços com a sobrinha do duque Marie Eaton (Sarah Lawson) e seu marido Richard (Paul Eddington), e todos tentam salvar os jovens das forças do mal e das garras do líder satânico Mocata (Charles Gray), mestre em nível superior do culto demoníaco. “Na magia não existe o bem e o mal. É somente uma ciência. A ciência de fazer com que ocorram mudanças por meio da vontade própria. A reputação sinistra que a acompanha não tem fundamento. É baseada em superstições, não em observações objetivas”. Essas são as palavras de Mocata, e segundo ele, não há motivos para se temer a magia. Porém, não é o que se vê no filme, principalmente em cenas onde dezenas de seguidores do culto se banham freneticamente com o sangue fresco de um bode abatido em sacrifício, ou quando surge a presença física do demônio Baphomet numa missa negra, uma aparição extremamente sinistra, de uma criatura meio homem e meio bode. É curioso notar que o ator Christopher Lee, segundo o site “IMDB” (Internet Movie Database), afirmou que “As Bodas de Satã” é seu filme preferido da “Hammer”, e ele esteve em muitas produções do estúdio, interpretando personagens de todos os tipos, principalmente o vampiro Conde Drácula. E que ele insistiu bastante com os produtores para filmarem uma história de Dennis Wheatley. Porém, contrapondo um pouco o entusiasmo de Christopher Lee, o filme é bem exagerado na fantasia, com demônios surgindo envolvidos em névoas, através de rituais sombrios, e parece bem estranho ver o cultuado ator recitando energicamente palavras mágicas de uma oração para combater o poder das trevas. O desfecho também é bastante previsível, onde podemos imaginar com razoável antecedência os rumos das ações, culminando com o manjado confronto final entre o bem e o mal e a óbvia punição para os derrotados. Entre os momentos de destaque certamente vale registrar uma cena tensa envolvendo uma aranha gigante, que ameaça o Duque e seus amigos quando estão no interior de um círculo desenhado no chão, participando de um ritual para combater o demônio e tentar libertar os jovens Simon e Tanith de sua influência maligna. O enorme aracnídeo peludo utilizado na cena é real, filmado numa perspectiva que o faz parecer bem maior e imponente, realmente passando uma sensação imensa de desconforto, mesmo para quem não sofre de aracnofobia. Lançado em DVD no Brasil pela “Cult Classic”, os letreiros de abertura do filme são ilustrados por diversos símbolos e imagens de magia negra, causando um efeito interessante e perturbador logo no início. (RR – 24/11/15)

* Espantalho Assassino (2013) – Mais um representante do cinema fantástico bagaceiro do início do século XXI, “Espantalho Assassino” é uma produção em parceria entre Canadá e Estados Unidos, feita para a televisão, e exibida regularmente no canal “SyFy”. A direção é de Sheldon Wilson, que tem o interessante “Terra Rasa” (Shallow Ground, 2004) no currículo. O professor Aaron Harris (Robin Dunne) reúne um grupo de estudantes para cumprir uma tarefa punitiva, visitando uma antiga fazenda abandonada para recolher os restos de um espantalho num campo de milho, o qual seria reaproveitado para a realização de um tradicional festival de espantalhos numa pequena cidade. A fazenda é de propriedade da família de Kristen (Lacey Chabert), ex-namorada do professor, e é conhecida por histórias de assombração com uma lenda de um espantalho sobrenatural que se alimenta do sangue de suas vítimas. Quando o grupo de estudantes chega ao local, logo descobre que o horror é real e eles precisam lutar por suas vidas contra os ataques violentos de uma entidade maligna que habita as plantações. A ideia básica do filme é um imenso clichê, pois os espantalhos já foram excessivamente explorados pelo cinema de horror, devido suas características típicas de criaturas assustadoras. Eles são confeccionados justamente com esse objetivo, impedir que animais, principalmente pássaros, destruam plantações nas fazendas. E no caso específico desse “Espantalho Assassino”, que apresenta um monstro não humano sedento de sangue, não há novidades, apenas mais do mesmo, numa história forçada e claramente manipulada para facilitar o trabalho preguiçoso do roteirista Rick Suvalle. O grupo de estudantes patéticos existe apenas e exclusivamente para servir de alimento para o espantalho sobrenatural. São correrias, gritarias, perseguições e um desfile de futilidades que não agregam na tentativa dos realizadores em despertar a atenção do espectador. Além do uso exagerado de CGI vagabundo na concepção da criatura, tornando-a artificial demais e eliminando qualquer eventual carga dramática que existiria se fosse um espantalho interpretado por um ator de carne e osso fantasiado. Talvez as únicas coisas que possam se salvar e até divertir um pouco os menos exigentes, sejam as várias cenas sangrentas com mortes violentas repletas de feridas e escoriações profundas, com razoáveis doses de sangue escorrido. No mais, é apenas outro filme convencional dentro do tema e condenado ao esquecimento. Um filme com espantalhos assassinos que é bem mais interessante e recomendado é “A Maldição dos Espantalhos” (Scarecrows, 1988), que também é conhecido por aqui como “Espantalhos”, lançado em VHS, numa saudosa época sem a artificialidade da computação gráfica. (RR – 01/11/15)

* Experiência Diabólica / Cérebro Maligno, O (1953) – Com direção e roteiro de Felix E. Feist, fotografia em preto e branco e história baseada no conto “O Cérebro de Donovan”, escrita em 1942 pelo alemão Curt Siodmak, “Experiência Diabólica” é mais uma daquelas preciosidades do cinema fantástico dos anos 1950. Foi lançado em DVD no Brasil com o título alternativo de “O Cérebro Maligno” e o conto de Siodmak já havia sido filmado antes em 1944 com “A Dama e o Monstro”, além de outra versão em 1962 com o nome “The Brain”. Na história, temos o tradicional “cientista louco” que acredita que suas ações são bem intencionadas, sempre envolvidas em experiências sinistras para ajudar a humanidade. Nesse caso o papel ficou para o Dr. Patrick J. Cory (Lew Ayres), que é auxiliado pelo também médico Dr. Frank Schratt (Gene Evans), que aprecia consumir bebidas alcoólicas em excesso, e ambos contam com a ajuda da enfermeira Janice Cory, esposa do cientista. A personagem foi interpretada pela atriz Nancy Reagan, creditada como Nancy Davis, e curiosamente ela foi casada com o ex-presidente americano Ronald Reagan, que também foi ator. Eles trabalham com experiências para manter o cérebro ainda vivo de animais mortos, e utilizam macacos como cobaias. Porém, ocorre um acidente com um pequeno avião nas proximidades do laboratório e uma das vítimas é um famoso milionário, William H. Donovan, conhecido pelo envolvimento em negócios obscuros e sonegação de impostos. Ele é ferido gravemente no acidente e levado pela polícia para a casa do cientista, que não consegue salvar sua vida. Mas, a morte do milionário despertou a oportunidade da realização de uma “experiência diabólica” com a tentativa de manter seu cérebro vivo, semi mergulhado num tanque com uma solução de nutrientes e ativado com constantes impulsos elétricos. A experiência é bem sucedida, estimulando o cientista a tentar comunicação com o cérebro de Donovan. Só que eles não imaginariam as consequências desastrosas depois que o “cérebro maligno” consegue controlar telepaticamente o Dr. Cory, manipulando-o para continuar com seus negócios ilegais, eliminando todos que cruzassem seu caminho, como o fotógrafo sensacionalista Herbie Yocum (Steve Brodie), que descobriu a experiência e utilizava-se de chantagem para lucrar com a história. “Experiência Diabólica” é um típico filme com orçamento menor do cinema fantástico bagaceiro dos anos 50 do século passado, explorando uma história exagerada na fantasia e que diverte justamente por essa fuga da realidade. Um cientista obcecado por seu trabalho, que coloca de lado a vida social para estudar a possibilidade de um cérebro humano manter-se vivo, mesmo após a morte de seu corpo, e ainda podendo comunicar-se por telepatia. E claro, as consequências dessa ideia extravagante seriam catastróficas pelo fato do cérebro pertencer a um homem sem escrúpulos e envolvido numa série de atos desonestos que geraram sua fortuna. Os desfechos da maioria dos filmes com temáticas semelhantes produzidos nesse período geralmente são parecidos e positivos, com a ameaça sendo detida e a tensão turbulenta eliminada, dando espaço para a esperança de dias melhores. Então não é “spoiler” revelar que em “Experiência Diabólica” o mesmo novamente acontece, e nesse caso seria interessante e intrigante imaginar como seriam as coisas se o caos prevalecesse e o “cérebro maligno” conseguisse manter-se vivo e controlando a mente das pessoas. (RR – 31/10/15)

* Galeão Fantasma, O (1974) – O diretor e roteirista espanhol Amando de Ossorio (1918 / 2001) ficou eternizado na história do cinema de horror bagaceiro pela realização de quatro filmes sobre mortos-vivos cegos, que eram antigos cavaleiros templários satanistas. A quadrilogia é composta por “A Noite do Terror Cego” (La Noche del Terror Ciego / The Night of the Blind Terror, 1972), “O Retorno dos Mortos-Vivos” (El Ataque de los Muertos Sin Ojos / The Return of the Evil Dead, 1973), “O Galeão Fantasma” (El Buque Maldito / The Ghost Galleon, 1974) e “A Noite das Gaivotas” (La Noche de las Gaviotas / Night of the Seagulls, 1975). E, apesar de todos fazerem parte do mesmo universo ficcional, os filmes são independentes entre si. Em “O Galeão Fantasma”, o terceiro filme da série, a modelo Noemi (Bárbara Rey) está procurando sua amiga desaparecida Kathy (Blanca Estrada), e descobre com a fotógrafa Lillian (Maria Perschy) que ela está numa lancha em alto mar, junto com outra modelo, Lorena (Margarita Merino). Elas estão participando de uma ousada campanha de publicidade dos iates do empresário Howard Tucker (Jack Taylor). A ideia planejada seria um resgate no meio do oceano, despertando a atenção da mídia para a resistência dos barcos de Tucker, que garantiram a segurança delas até o salvamento. Porém, o plano sai de controle quando a lancha das moças encontra um antigo galeão holandês do século XVI navegando errante envolto numa névoa fantasmagórica. Elas sobem à bordo e encontram um cenário desolado e sem tripulantes. Em paralelo, um grupo parte secretamente para resgatar as modelos, após conseguirem um contato por rádio onde elas reportaram o encontro com o navio fantasma. A equipe é formada pelas mulheres Noemi e Lillian, junto com Tucker, acompanhado do capanga Sergio (Manuel de Blas) e do cientista Prof. Gruber (Carlos Lemos), um estudioso do misterioso galeão, que nunca é detectado por radar ou instrumentos de navegação, mas que é assunto lendário em casos de desaparecimento de pequenos barcos. Eles descobrem o segredo do misterioso navio fantasma, por um preço que pode custar suas vidas. Os zumbis são originários de uma ordem blasfema de cavaleiros templários que realizavam cultos satânicos, e que conseguiram dominar a morte por magia, transformando-se em criaturas esqueléticas vestindo capas surradas com capuzes sinistros. Em “O Galeão Fantasma”, o roteiro de Amando de Ossorio é bem forçado e inverossímil na forma como as vítimas encontram o navio sobrenatural, com a premissa de uma inconvincente campanha de marketing para promover o lançamento de barcos. E tem algumas cenas bagaceiras exageradas como o naufrágio do galeão sobrenatural num incêndio tosco. A narrativa também é lenta e cansativa em alguns momentos. Mas, em compensação, temos uma ideia interessante sobre um navio que vaga sem rumo por uma região quente em outra dimensão (com direito até para uma citação de homenagem para a cultuada “Zona do Crepúsculo” ou “Além da Imaginação”, no Brasil). Com seus tripulantes sendo esqueletos mortos-vivos que saem de seus caixões em busca do sangue dos intrusos de seu território. Além de várias cenas de perseguições (e uma em especial acompanhada de uma morte bem violenta), evidenciando uma constante atmosfera sombria e claustrofóbica, que somente os filmes antigos conseguiam realizar, mesmo com efeitos precários, sem a artificialidade da computação gráfica do cinema moderno. Um destaque que merece registro é a cena onde os mortos sem olhos emergem do mar, invadindo uma praia e contribuindo para um desfecho depressivo memorável. (RR – 07/12/15)

* Gangsters na Lua (1969) – Um western ambientado no espaço sideral, mais precisamente na nossa Lua, com tiroteios e brigas típicas desse subgênero do cinema. Essa é a ideia básica de “Gangsters na Lua”, o único filme com história futurística da produtora inglesa “Hammer”, mais conhecida por seus filmes coloridos góticos, evidenciando o vermelho vivo do sangue, e pela revitalização dos antigos monstros clássicos da produtora americana “Universal”. Só que, ao invés de vampiros, lobisomens, múmias e a criatura de Frankenstein, temos foguetes e naves espaciais, uma cidade lunar, asteroides e equipamentos tecnológicos de 2021, ano em que se passa a história e que segundo o roteiro as viagens para planetas como Marte e Vênus já são regulares. A direção é de Roy Ward Baker, que tem outros trabalhos na “Hammer” como “Uma Sepultura Para a Eternidade” (1967), “Os Vampiros Amantes” e “O Conde Drácula” (ambos de 1970), entre outros. O elenco é liderado pelo experiente ator americano James Olson, rosto conhecido por participações em várias séries de TV e pelo filme de FC “O Enigma de Andrômeda” (1971). Num futuro próximo, a humanidade colonizou a Lua e construiu uma cidade. Lá também existem regiões disponibilizadas para mineiros explorarem os recursos naturais. Nesse cenário de um ambiente sem oxigênio nem vegetação e onde em metade do mês não há luz solar, um ex-astronauta e agora especialista em resgate de satélites, Capitão William H. Kemp (James Olson), juntamente com seu parceiro, o Engenheiro Korminski (Ori Levi), se envolvem com um grupo de gangsters. Os criminosos são liderados pelo milionário excêntrico J. J. Hubbard (Warren Mitchell) e entre os capangas ainda temos o Sr. Whitsun (Dudley Foster) e o brutamontes Harry (Bernard Bresslaw). Eles contratam os serviços da dupla para resgatar um asteroide no espaço, rico em safira, um minério valioso, e escondê-lo numa região remota da Lua. O local escolhido é uma mina na face oculta, de propriedade do irmão da bela jovem Clementine Taplin (Catherine Schell). Porém, a mulher está procurando justamente a ajuda do Capitão Kemp para encontrar o irmão desaparecido, iniciando um conflito de interesses entre todos e envolvendo uma investigação policial da responsável pela lei na Lua, a bela Elizabeth Murph (Adrienne Corri). “Gangsters na Lua” é uma daquelas bagaceiras divertidas com história exagerada, um “western espacial” sem compromisso com a lógica, com direito a tiroteios bizarros e dançarinas de salão com roupas coloridas e penteados extravagantes. Os efeitos especiais são toscos e divertidos, com maquetes de naves e bases lunares, com os atores pendurados por cabos simulando movimentos no espaço. Entre as várias curiosidades, podemos citar a presença do eterno ator coadjuvantes dos filmes da “Hammer”, Michael Ripper, que não poderia ficar de fora e tem uma participação rápida como um jogador de cartas que está se divertindo no bar lunar. Outra curiosidade interessante é o monumento localizado onde o astronauta americano Neil Armstrong pisou pela primeira vez na Lua, numa homenagem para esse feito histórico da humanidade e que ocorreu poucos meses antes do lançamento do filme em 1969. E a abertura do filme com uma animação descontraída onde é mostrada a disputa entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética pela conquista da Lua, satirizando a corrida espacial que agitou com muita intensidade e tensão o mundo no final dos anos 60 do século passado. (RR – 12/11/15)

* Hora das Criaturas, A (1986) – Em meados dos anos 80 do século passado, surgiu uma moda aqui no Brasil em chamar os filmes de horror e ficção científica que chegavam por aqui com o início “A Hora...”. E aí vieram “A Hora do Espanto” (vampiros), “A Hora do Lobisomem”, “A Hora dos Mortos-Vivos” (Re-Animator), “A Hora do Pesadelo” (Freddy Krueger), “A Hora da Zona Morta” (outra história de Stephen King), “A Hora do Calafrio” (o slasher “Savage Weekend”), etc. Teve também “A Hora das Criaturas” (1986), trabalho de estreia do cineasta Stephen Herek e que até virou franquia com mais outros três filmes (continuações em 1988, 91 e 92). Na história, algumas pequenas criaturas peludas de uma raça alienígena com dentes pontiagudos, que soltam espinhos pelas costas e se movimentam rolando como bolas, fogem de uma prisão num asteroide, roubando uma nave estelar em direção ao nosso planeta. Eles aterrissam na área rural de uma pequena cidade americana e são perseguidos por dois caçadores de recompensas que possuem cabeças verdes sem feições, e que podem copiar o rosto de qualquer ser humano. Os alienígenas adoram fazer arruaças e comer descontroladamente, e decidem atacar a casa da fazenda da família Brown, formada pelo pai e mecânico de carros Jay (Billy Green Bush), a mãe Helen (a agora veterana e experiente Dee Wallace Stone, que esteve em “Quadrilha de Sádicos”, “Grito de Horror”, “E.T. – O Extraterrestre” e “Cujo”), e o casal de filhos adolescentes, April (Nadine Van Der Velde) e Brad (Scott Grimes). Ainda tem o mecânico ajudante Charlie McFadden (Don Opper), que gosta de ficar bêbado e falar sobre suas premonições com a chegada de alienígenas na Terra. Todos eles terão que lutar contra o ataque das criaturas do espaço e precisarão contar com a ajuda dos estranhos caçadores de recompensas para eliminar a ameaça. “A Hora das Criaturas” foi produzido pela “New Line” e também é conhecido no Brasil apenas como “Criaturas”. É uma pequena pérola do cinema fantástico bagaceiro da divertida década de 1980. Uma época sem a artificialidade da computação gráfica, que está sendo usada em exagero nos dias atuais, eliminando parte da magia que o cinema sempre teve com o horror gráfico de sangue falso e bonecos animatrônicos que simulavam monstros movimentados por complexos sistemas com a combinação de mecânica, pneumática, hidráulica e eletrônica. O filme tem elementos de humor negro, tanto que é normalmente considerado como horror e comédia, e as criaturas alienígenas são extremamente carismáticas, mesmo sendo ameaçadoras e perigosas em ataques violentos contra animais e humanos. Curiosamente, os bichos alienígenas de “Critters” possuem grande semelhança conceitual e de forma proposital com as criaturas de “Gremlins” (1984), que já fazem parte da cultura popular. Outra curiosidade é a presença de um ainda jovem Billy Zane (que interpretou Steve Elliot, o namorado da garota April), em um de seus primeiros trabalhos de uma carreira bem sucedida posteriormente, com participações em filmes famosos como “Titanic” (1997). E também do veterano M. Emmet Walsh (que fez o papel de Harv, o xerife bonachão da cidadezinha), um rosto conhecido por seu imenso currículo com mais de 200 créditos. (RR – 03/11/15)

* Invasão Zumbi, A (2012) – O que se pode esperar de um filme de zumbis produzido pela “The Asylum”? A resposta somente pode ser uma tranqueira colossal sem absolutamente nenhuma intenção em apresentar algo diferente de tudo que já se viu nesse super explorado sub-gênero do cinema de Horror. “A Invasão Zumbi”, dirigido por Nick Lyon, que também foi o cineasta de outro filme de mortos-vivos da “The Asylum”, “Apocalipse Zumbi” (2011), certamente faz parte do que costumo chamar de cinema fantástico bagaceiro do século XXI. Ele se enquadra na imensa lista de filmes ruins de horror e ficção científica produzidos nesse início de novo século, onde alguns até divertem um pouco justamente pelas características bagaceiras. No caso de “A Invasão Zumbi”, uma das poucas coisas que vale o registro é a curiosidade de apresentar no elenco dois nomes interessantes que chamam a atenção dos fãs. Temos o veterano Danny Trejo, com mais de 300 filmes no currículo, e que não se importa nem um pouco em participar de uma infinidade de porcarias, sempre fazendo papéis de homem durão com cara feia e portando armas, e também tem a presença de LeVar Burton, mais conhecido como o Tenente Geordi La Forge da série de TV “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração” (1987 / 1994). O filme é ambientado na cidade americana de São Francisco, Estado da Califórnia, onde um apocalipse zumbi instaura o caos através de um vírus que transforma as pessoas infectadas em mortos-vivos em busca de carne e sangue. Nesse cenário depressivo, um grupo de sobreviventes está isolado numa ilha na prisão de Alcatraz, tentando impedir a invasão dos zumbis e encontrar uma cura para a contaminação. O grupo é formado, entre outros, pelos cientistas Dra. Lynn Snyder (Mariel Hemingway) e Dr. Dan Halpern (LeVar Burton), a jovem Ashley (Heather Hemmens), além de homens armados como Marshall (Ethan Suplee), Capitão Caspian (Danny Trejo) e seu sobrinho de criação Kyle (Chad Lindberg). Após os zumbis invadirem Alcatraz, os refugiados deixam o local na tentativa de encontrarem na cidade o cientista Dr. Arnold (French Stewart), que está trabalhando numa vacina para curar a contaminação e evitar a extinção da humanidade. No caminho, eles enfrentam hordas de mortos-vivos famintos por suas carnes. Pela sinopse percebe-se claramente o imenso clichê que é a história, algo já contado tantas vezes, mas que ainda é explorado pelos produtores picaretas. É a manjada fórmula constituída por infecção desenfreada pela propagação de um vírus desconhecido, com pessoas isoladas lutando pela sobrevivência em meio ao caos, e a tentativa de estudar a origem da contaminação e encontrar uma cura para impedir o extermínio da raça humana. O filme é ruim não apenas pelo roteiro comum, e sim também pela produção geral, com o uso exagerado de CGI vagabundo e imensas falhas como o fato das cenas externas não mostrarem uma cidade destruída por um apocalipse zumbi, não convencendo como um ambiente de desolação. Ao contrário, é possível até percebermos uma movimentação normal ao redor. E ainda tem uma tentativa frustrada com diálogos rasos para discutir conceitos de religião, com a fé do personagem Marshall na esperança de dias melhores, contra a razão defendida pela cientista Dra. Snyder, que vê o mundo em decadência crescente. Porém, apesar do clichê gigantesco da história com a total falta de vontade dos realizadores em mostrar algo diferente, por menor que seja, é ainda possível com esforço do espectador e pouca exigência, destacar um sentimento de pessimismo com a morte violenta de vários personagens, e uma cena tensa envolvendo um bebê recém-nascido. “A Invasão Zumbi” é mais uma daquelas bagaceiras que diverte pouco, e nem a presença do cultuado Danny Trejo consegue evitar que o destino do filme seja o limbo dos esquecidos. Curiosamente, tem uma cena copiada de “Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 1985), do mestre George Romero, envolvendo um braço zumbificado decepado e a forma dolorosa de cauterização da ferida. (RR – 18/10/15)

* Noite das Gaivotas, A (1975) – Quarto e último filme da cultuada tetralogia dos mortos-vivos cegos do espanhol Amando de Ossorio. “A Noite das Gaivotas” é o sucessor de “A Noite do Terror Cego” (The Night of the Blind Terror, 1972), “O Retorno dos Mortos-Vivos” (The Return of the Evil Dead, 1973) e “O Galeão Fantasma” (The Ghost Galleon, 1974). Uma ordem de cavaleiros templários com centenas de anos realiza cerimônias de magia negra idolatrando um demônio do mar, uma criatura bestial representada por uma estátua, que transformou os seguidores da seita em mortos-vivos esqueléticos vestindo trapos esfarrapados. Eles amaldiçoaram uma pequena vila à beira do mar, e para não destruí-la exigiram a cada sete anos, durante sete noites seguidas, o sacrifício de jovens e belas mulheres. Um médico, Dr. Henry Stein (Victor Petit) chega ao vilarejo com sua esposa Joan (Maria Kosti), para substituir o antigo médico (Javier de Rivera), ávido e impaciente pela transferência daquele lugar maldito. O casal é mal recebido pelos aldeões que não desejam os serviços médicos e não querem intrusos. Eles vivem numa aura de mistério e medo, escondendo um terrível segredo. Porém, uma única pessoa decide ajudá-los, a bela jovem Lucy (Sandra Mozarosky), que se oferece como empregada. Mas, as sinistras procissões noturnas na beira da praia e o desaparecimento de jovens mulheres desperta a atenção do Dr. Stein, que tenta descobrir a verdade e passa a lutar para defender sua vida, da esposa e de Lucy. Apesar de fazerem parte de um mesmo universo ficcional, os filmes com os mortos-vivos cegos de Amando de Ossorio podem ser conferidos isoladamente, com histórias independentes em torno de uma ideia central com os templários satanistas zumbis cadavéricos. Em “A Noite das Gaivotas”, temos uma incrível e constante atmosfera sombria com locações arrepiantes de gelar a espinha. E mesmo esbarrando nos velhos e tradicionais clichês do estilo, com efeitos bagaceiros (mas que divertem justamente pela tosquice), e pela narrativa por vezes lenta, é inegável sentir o efeito de horror autêntico escondido nos opressores castelos de pedras, iluminados por tochas de fogo. Além dos aldeões sempre rudes com forasteiros, escondendo segredos antigos, os rituais satânicos com sacrifícios humanos (com direito a corações arrancados e corpos devorados por caranguejos), e as misteriosas comitivas noturnas na praia, com sinos tocando e cantorias tristes simulando lamentos. Tem ainda os gritos agonizantes das gaivotas do título, ecoando pela noite e representando as almas sofridas das mulheres sacrificadas em nome de uma criatura demoníaca marinha, que lembra as feras indizíveis da literatura de H. P. Lovecraft. Não poderia faltar também um panaca com deficiência mental que sofre perseguições com pancadarias e apedrejamentos dos habitantes da vila. Ele é Teddy (interpretado por Jan Antonio Castro) e além de seu nome soar bem estranho, ele é resgatado pelo médico e sua esposa, e morre de medo dos mistérios que envolvem o vilarejo durante a noite. Entre os clichês explorados, tem também a cena dos sobreviventes encurralados numa casa, tentando suportar o ataque dos mortos-vivos sem olhos empunhando suas espadas, numa referência ao clássico americano “A Noite dos Mortos-Vivos” (1968), de George Romero. (RR – 14/12/15)

* Terror no Triângulo das Bermudas (2014) – Com distribuição da dupla dinâmica dos filmes bagaceiros do cinema fantástico tranqueira do século XXI, “SyFy” (na televisão a cabo) e “The Asylum” (em DVD e Blu-Ray), “Terror no Triângulo das Bermudas” não desaponta seus distribuidores, pois é mais uma porcaria colossal. A história é extremamente banal, explorando o exaustivo clichê sobre os mistérios do famoso “Triângulo das Bermudas”, e os efeitos especiais em CGI incomodam de tão exagerados e artificiais. O elenco é repleto de atores inexpressivos, exceto pelas presenças curiosas do experiente John Savage como o Presidente americano DeSteno, e pela agora veterana Linda Hamilton (a Sarah Connor de “O Exterminador do Futuro”, 1984). Ela que está em final de carreira e sem opções para ter que aceitar o papel de uma militar austera, a Almirante Linda Hansen, que fica o tempo todo falando grosso, dando ordens e fazendo pose de durona . A direção é de Nick Lyon, de outras porcarias como “A Invasão Zumbi” (2012). O avião “Força Aérea Um” que transporta o presidente dos Estados Unidos (Savage), enfrenta uma forte tempestade e antes de explodir no ar, uma cápsula com o presidente é ejetada, caindo no mar na região do Triângulo das Bermudas, indo parar no fundo do oceano. Paralelamente, uma frota de navios da Marinha, sob o comando rígido da Almirante (Hamilton), é atacada por monstros com tentáculos imensos (daí o título original) de origem alienígena. Enquanto enfrentam a ameaça dos monstros, uma equipe de resgate liderada pelo Chefe Trip Oliver (Trevor Donovan) parte num pequeno submarino experimental para tentar localizar a cápsula com o presidente. Além de outros soldados, a equipe ainda conta com a consultoria de apoio técnico da engenheira Tenente Plummer (Mya Harrison) e o piloto do submarino, o Tenente Comandante Barclay (Richard Whiten). No fundo do mar, eles encontram uma caverna gigantesca com um cemitério de aviões e navios que estavam desaparecidos, numa especulação sobre o mistério do Triângulo das Bermudas. Eles teriam sido capturados para fornecerem energia com seus combustíveis para um posto avançado alienígena oculto nessa caverna subaquática. Os sempre heróis americanos precisam superar dois desafios, encontrar e salvar a vida do presidente, e vencer uma batalha contra uma ameaça de invasão alienígena. “Terror no Triângulo das Bermudas” é um filme muito ruim, exagerado na computação gráfica e extremamente previsível. Mas, o pior de tudo mesmo é o roteiro com ideias já vistas centenas de vezes antes, com os mesmos clichês irritantes. Se não fosse a história patética, poderíamos até tentar com certo esforço nos divertir com as características bagaceiras como os monstros em CGI, as mortes sangrentas, a gigantesca nave alienígena, e com a atriz veterana Linda Hamilton nitidamente deslocada num papel de militar sisuda. Porém, é difícil aguentar os discursos americanos sobre heroísmo, exaltação do ego e atos de bravura com sacrifícios para o bem da humanidade. Aliás, se não fossem por eles, nosso planeta indefeso estaria condenado à destruição. (RR – 18/11/15)