Comentários de Cinema - Parte 17

Filmes abordados:

13 Fantasmas (13 Ghosts, EUA, 1960)
Brinquedo de Criança (Child´s Play, Inglaterra, 1984, “Hammer House of Mystery and Suspense”)
A Cripta dos Sonhos (The Vault of Horror, Inglaterra / EUA, 1973)
O Demônio de Fogo (The Night of the Big Heat, Inglaterra, 1967)
Desafio ao Além (The Haunting, Inglaterra / EUA, 1963)
A Essência da Maldade (The Creeping Flesh, Inglaterra, 1973)
A Fúria das Feras Atômicas (The Food of the Gods, EUA, 1976)
A Múmia (The Mummy, Inglaterra, 1959)
The Bat People (EUA, 1974)
Os Zumbis de Mora Tau (Zombies of Mora Tau, EUA, 1957)


* 13 Fantasmas (1960) – Produzido e dirigido por William Castle (1914 / 1977), o mesmo responsável por outras preciosidades como “A Casa dos Maus Espíritos” e “Força Diabólica”, ambos do final dos anos 50 e com o ícone Vincent Price, “13 Fantasmas” tem fotografia em preto e branco e recebeu uma refilmagem sangrenta em 2001, com produção da “Dark Castle”. Na história, o professor de paleontologia, Cyrus Zorba (Donald Woods) está falido quando recebe a notícia que seu tio ocultista e recluso morreu, deixando como herança uma imensa e tétrica mansão. O advogado do falecido, Benjamen Rush (Maltin Milner, da série de TV “Rota 66”), está tratando dos documentos e informa que a casa é assombrada por fantasmas. Mas, o herdeiro ignora e se muda com a família, a esposa Hilda (Rosemary De Camp) e os filhos, a jovem Medea (Jo Morrow) e o pequeno Buck (Charles Herbert, que esteve em outros filmes bagaceiros do período como “A Mosca da Cabeça Branca”). Uma vez na casa, eles encontram uma sinistra governanta médium, Elaine Zacharides (Margaret Hamilton), e são testemunhas de objetos que se movem sozinhos e aparições de fantasmas que só podem ser visualizados através de óculos especial criado pelo falecido tio, que estudava as ciências ocultas e o mundo sobrenatural. Filme bastante ingênuo quando comparado aos tempos modernos, com produções recheadas de CGI e histórias barulhentas com sangue em profusão. Pois em “13 Fantasmas” temos apenas um roteiro sem sangue e violência, com uma mansão assombrada por fantasmas e uma nova família de moradores que enfrenta a ameaça, além de uma trama paralela envolvendo uma grande quantidade em dinheiro misteriosamente escondido e despertando cobiça. Serviu muito bem para assustar as plateias da época, com as habituais jogadas de marketing providas por William Castle, e atualmente serve como diversão pela ingenuidade involuntária e para quem aprecia as características gerais de filmes bagaceiros de baixo orçamento. Curiosamente, temos uma tradicional sessão espírita e uma brincadeira com o famoso tabuleiro ouija, na tentativa de comunicação com os mortos. E os efeitos que apresentavam os fantasmas eram conhecidos pela técnica “Illusion-O”, com os espectadores recebendo nos cinemas óculos apropriado para a visualização. Numa versão mais completa do filme, o próprio diretor e produtor William Castle explica como funciona o processo através de um prólogo e epílogo. (RR – 24/12/14)

* Brinquedo de Criança (1984) – A produtora inglesa “Hammer” foi responsável em mais de 20 anos de atividades regulares por dezenas de filmes de horror, ficção científica, fantasia, mistério e suspense, principalmente entre meados da década de 1950 e meados dos anos 70. Filmes abordando todos os tipos de temas e subgêneros do fantástico, que conquistaram uma legião fiel de apreciadores. Em 1980 tivemos uma série de TV chamada “A Casa do Terror” (Hammer House of Horror) com 13 episódios de 50 mimutos. E em 1984 veio mais uma série de TV, que recebeu o nome de “Suspense” (Hammer House of Mystery and Suspense), numa produção em parceria com a Fox (por isso também era conhecida como “Fox Mystery Theatre”), com outros 13 episódios com duração maior (70 min.) e características de filmes independentes. Um deles recebeu o nome por aqui de “Brinquedo de Criança” (Child´s Play), quando foi exibido na televisão, sendo o episódio 12 da única temporada. Curiosamente, o nome original é o mesmo que foi adotado em 1988 no início da enorme e popular franquia do boneco Chucky, chamado no Brasil de “Brinquedo Assassino”. Com direção de Val Guest (1911 / 2006), que fez “Terror Que Mata” (1955), o excelente roteiro de Graham Wassell apresenta uma típica família que acorda e descobre que sua casa está cercada por paredes de aço nas portas e janelas, impedindo qualquer tipo de acesso para o ambiente externo. Formada pela mãe Ann Preston (Mary Crosby), o pai Mike (Nicholas Clay) e a filha pequena Sarah (Debbie Chasan), eles especulam sobre a situação surreal, tentando encontrar explicações nas possibilidades de um isolamento devido uma guerra nuclear, ou um ataque alienígena, ou algum tipo de apocalipse. Mas, não encontram respostas nem na televisão, nem no rádio, ou nas inúmeras tentativas de fuga pelo telhado, garagem ou piso. As paredes de aço não são afetadas em ataques com machado ou explosões de pólvora. E alguns mistérios intensificam o sentimento de tensão, claustrofobia e desconforto: o aumento gradual da temperatura, o relógio parado sempre na mesma hora, o sinal de um estranho logotipo encontrado em todos os objetos e até mesmo tatuado num dos braços do pai. Ou a presença de uma gosma borbulhante invadindo a casa pela chaminé, a inexistência de lembranças referentes ao passado da família ou acontecimentos comuns do lado de fora da casa, o comportamento grosseiro da filha pequena em relação à mãe. Além de outros detalhes que contribuem para o desespero da família presa em sua própria casa e tendo que lutar pela vida. Filme curto, com poucos personagens, e ambientado apenas em alguns cômodos de uma casa. É o suficiente para um memorável exercício de suspense com um desfecho interessante no melhor estilo para surpreender o espectador. A história possui muitos atrativos com elementos de horror e ficção científica que superam a maioria dos filmes comerciais com orçamentos generosos, mas repletos de clichês e bobagens, que são exibidos frequentemente em nossos cinemas. (RR – 30/12/14)

* Cripta dos Sonhos, A (1973) – Antologia com histórias curtas de horror, produzida pelo estúdio inglês “Amicus”, de Max Rosenberg e Milton Subotsky, rival da “Hammer”, com direção de Roy Ward Baker, de outras pérolas do cinema fantástico como “Uma Sepultura na Eternidade” (67), “Os Vampiros Amantes” e “O Conde Drácula” (ambos de 70). São cinco contos inspirados nos quadrinhos americanos dos anos 50, publicados pela “EC Comics” em revistas como “The Vault of Horror” e “Tales From the Crypt”, dos autores Al Feldstein e William M. Gaines. Cinco homens entram num elevador que os leva até um porão, e sem entender o que está acontecendo, entram numa sala e sentam-se à mesa que surge diante deles. A partir daí, cada um deles conta um relato pessoal de história de horror que vivenciou em sonhos, e que parecia real, enfatizando sua origem em visões, fobias, medos ou obsessões. A primeira história chama-se “Midnight Mess”, e apresenta um homem inescrupuloso, Harold Rodgers (Daniel Massey), à procura de sua irmã Donna (Anna Massey), após a morte de seu pai. Seu objetivo é resolver assuntos relacionados à herança. Porém, a cidade onde sua irmã mora tem um mistério noturno, onde “eles” aparecem para se alimentar. O conto a seguir tem o título de “The Neat Job”, onde um homem bem sucedido, Arthur Critchit (Terry-Thomas), é obcecado por organização em sua casa. Ele então decide se casar com uma mulher mais jovem, Eleanor (Glynis Johns), que tem muita dificuldade em administrar a paranóia do marido com a organização domiciliar, culminando num desfecho trágico. No terceiro segmento, “This Trick´ll Kill You”, um mágico veterano, Sebastian (o alemão Curt Jurgens), e sua esposa Inez (Dawn Addams), estão visitando a misteriosa Índia pesquisando novos truques de mágica. Eles encontram uma jovem (Jasmina Hilton) que consegue controlar uma corda através do toque de uma flauta. Não conseguindo descobrir o segredo, o mágico ambicioso decide roubar a moça, mas não imaginava a vingança que o aguardava. Na história número 4, “Bargain in Death”, Maitland (Michael Craig), é um homem com um plano para fraudar o seguro de vida, ingerindo um medicamento que simularia sua morte. A ideia seria ser resgatado depois de enterrado e com o retorno da consciência. Porém, ele não contava com a intenção de dois estudantes de medicina, Tom (Robin Nedwell) e Jerry (Geoffrey Davies), que estavam à procura de um cadáver para estudos de dissecação. No último episódio, intitulado “Drawn and Quartered”, o pintor Moore (Tom Baker) vive numa ilha tropical no Haiti, país conhecido pelas práticas de voodoo. Quando ele descobre que está sendo enganado e seus quadros lesados, perdendo dinheiro para um grupo formado por um crítico de arte, um avaliador e um negociador, o pintor decide retornar para Londres e se vingar de seus algozes utilizando magia negra em suas obras. “A Cripta dos Sonhos” mostra cinco histórias rápidas com cerca de quinze minutos cada, acrescidas de pequenos comentários entre elas, além do prólogo e epílogo que situam o espectador no contexto do objetivo do filme. Os contos fluem muito bem graças às narrativas curtas. Não há destaques, pois todas as histórias estão num nível similar, com conclusões pessimistas e perturbadoras. A produtora “Amicus” apostou bastante no formato de antologias, todas interessantes, e além desse “A Cripta dos Sonhos”, tivemos ainda outras preciosidades como “As Profecias do Dr. Terror” (65), “As Torturas do Dr. Diabolo” (67), “A Casa Que Pingava Sangue” (70), “Contos do Além” (72), “O Asilo do Terror / Asilo Sinistro” (72) e “Vozes do Além” (74). (RR – 01/01/15)

* Demônio de Fogo, O (1967) – Tranqueira de horror com elementos de ficção cientítica, produzida pelo estúdio inglês “Planet Film” em 1967 e que traz como atrações a direção do especialista Terence Fisher e a presença sempre carismática da dupla de ícones do gênero Christopher Lee e Peter Cushing. Em pleno inverno rigoroso na Inglaterra, uma ilha misteriosamente apresenta um calor imenso que desperta a curiosidade de seus moradores e em especial do cientista Godfrey Hanson (Lee). Homem de poucas palavras, ele está hospedado num hotel de propriedade do escritor Jeff Callum (Patrick Allen) e sua esposa Frankie (Sarah Lawson), e está realizando observações na ilha com experiências secretas em seu quarto. Suas ações estranhas também chamam a atenção do médico local, o Dr. Vernon Stone (Cushing). Além do calor infernal e crescente, para tumultuar ainda mais o lugar, surge uma bela jovem, Angela Roberts (Jane Merrow), que se apresenta como secretária do escritor Callum, mas na verdade é sua amante. Após a ocorrência de algumas mortes com os corpos misteriosamente carbonizados, eles são obrigados a unirem forças para combater criaturas alienígenas gosmentas e rastejantes que precisam de calor para sobreviver, e estão utilizando a ilha para realizar testes adaptando o ambiente para uma invasão. O roteiro de “O Demônio de Fogo” é baseado no livro “Night of the Big Heat” de John Lymington, e apesar de contar com o cineasta Terence Fisher, especialista em filmes góticos da “Hammer”, esse é um filme menor da dupla Lee e Cushing. A ideia da história é bem bagaceira e até interessante, mas a narrativa em geral é arrastada, e somente perto do desfecho ocorre uma movimentação maior, com a participação mais intensa dos monstros gosmentos motivando as reações do elenco, principalmente do cientista interpretado por Lee, pois infelizmente Cushing aparece pouco. Devido às notórias dificuldades de orçamento, os efeitos dos alienígenas são toscos ao extremo, tornando-os mais hilários do que ameaçadores. Mas, é inegável que apenas o fato da participação do trio Terence Fisher, Christopher Lee e Peter Cushing, já garante a conferida. Curiosamente, o filme também é conhecido pelo sonoro título alternativo de “Island of the Burning Damned”. (RR – 04/01/15)

* Desafio ao Além (1963) – “Uma casa má e velha, do tipo que algumas pessoas chamam de assombrada. É como um país não descoberto esperando ser explorado. Hill House se manteve por 90 anos e poderá se manter por mais 90. O silêncio cobre sólido a madeira e a pedra de Hill House, e seja o que for que andou lá, andou sozinho”. Esse é o prólogo de “Desafio ao Além”, produção em preto e branco dirigida por Robert Wise, o mesmo cineasta de “O Túmulo Vazio” (45), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51) e “O Enigma de Andrômeda” (71), entre outros. O roteiro de Nelson Gidding é baseado no livro “Assombração na Casa da Colina” (The Haunting of Hill House), escrito em 1959 por Shirley Jackson. O antropólogo Dr. John Markway (Richard Johnson) aluga uma misteriosa e imensa mansão chamada “Hill House” por alguns dias, com o objetivo de realizar estudos e pesquisas sobre os estranhos fenômenos que dão fama de assombrada para a casa. Ele convida duas mulheres para participar da missão, Eleanor Lance (Julie Harris), que tem alguns distúrbios psicológicos decorrentes de muitos anos de sofrimento ao cuidar de sua mãe doente, e Theodora (Claire Bloom), que possui poderes extra-sensoriais. Completa o time o herdeiro da mansão, o jovem Luke Sanderson (Russ Tamblyn), cético e piadista, cujo único interesse é conhecer melhor o imóvel que fará parte de seu patrimônio. A ideia do cientista é coletar informações e provas da existência do sobrenatural, mas não imaginava que o grupo teria que lutar para manter a sanidade no ambiente sombrio da mansão, conhecida por sua história de tragédias, mortes e loucura. Não falta o casal de sinistros caseiros, o Sr. Dudley (Valentine Dyall) e esposa (Rosalie Crutchley), que alerta os visitantes do perigo noturno de Hill House, algo que se transformaria num clichê muito explorado posteriormente. As hipóteses que poderiam explicar as perturbações da casa como o movimento de águas subterrâneas, eletricidade, pressão do ar, manchas solares, tremores de terra, foram substituídas por batidas grotescas e aterradoras nas paredes e portas, gritos e sussurros, além de ambientes misteriosamente frios e tétricos. “Desafio ao Além” é um exercício de puro horror insinuado, onde não se vê os fantasmas ou uma única gota de sangue, mas os efeitos de luz e sombra, sons sinistros e a cena da “porta.que respira”, que tornou-se famosa, promovem um perturbador estado de desconforto, acentuado pela ótima performance do elenco aterrorizado, principalmente a dupla de mulheres convidadas pelo cientista. Curiosamente, tivemos uma refilmagem em 1999 com Liam Neeson, Catherine Zeta-Jones e Owen Wilson, que recebeu o título nacional de “A Casa Amaldiçoada”. Sua história abandonou o horror psicológico e sugerido do clássico de 1963, priorizando as cenas gráficas com mortes violentas e sangue. E em 1973 foi lançada a preciosidade “A Casa da Noite Eterna” (The Legend of Hell House), com roteiro do especialista Richard Matheson baseado em sua obra homônima, e com Roddy McDowall liderando o elenco. A história é bem similar à obra-prima de Robert Wise, porém com um horror mais explícito. Mas, o resultado é igualmente interessante e recomendável, juntando-se ao clássico dos anos 60 e situando-se entre os mais representativos filmes do sub-gênero de casas assombradas de todos os tempos. (RR – 03/01/15)

* Essência da Maldade, A (1973) – Filme inglês estrelado pela dupla Christopher Lee e Peter Cushing, dois dos maiores ícones do cinema de horror de todos os tempos, e dirigido por Freddie Francis, de preciosidades como “O Monstro de Frankenstein” (64), “A Maldição da Caveira” (65) e “As Torturas do Dr. Diabolo” (67), entre outras. O cientista Dr. Emmanuel Hildern (Cushing) retorna de uma viagem para a Papua-Nova Guiné, na Oceania, trazendo na bagagem o esqueleto de uma criatura ancestral e desconhecida, que possui um crânio imenso. Ao chegar à Inglaterra vitoriana, ele inicia os estudos de sua nova descoberta, na esperança de conseguir dinheiro para as dívidas e manter o conforto de sua única filha, a jovem Penelope (Lorna Heilbron). Seu irmão ambicioso, James (Lee), é o diretor de um asilo penal para pacientes mentalmente insanos, e também tem grande interesse nas pesquisas do cientista, fazendo questão de manter um clima de rivalidade entre eles. O paleontólogo alega a descoberta de um vírus que seria responsável pela “essência do mal” (daí o bem escolhido título nacional), que deveria ser tratada como uma doença que poderá aniquilar a humanidade. Porém, ele é desacreditado e a situação perde o controle quando o esqueleto se recobre novamente de carne após contato com a água, fugindo após um acidente e espalhando o horror. Em “A Essência da Maldade” encontramos os elementos do horror gótico típico do cinema inglês, similar às produções da “Hammer” ou “Amicus”. Porém, aqui dessa vez a produção é da “Tigon Pictures” em parceria com a “World Film Services”. Peter Cushing interpreta novamente um cientista abnegado que trabalha incansavelmente à procura de descobertas científicas que possam ajudar a humanidade, e que se transforma em vítima pela ousadia em invadir os domínios da ciência desconhecida. E Christopher Lee é o vilão inescrupuloso despreocupado com o ser humano e interessado apenas em projeção pessoal, não se importando em cometer crimes para a obtenção de seus objetivos. O monstro, um esqueleto que volta a ter carne após contato com água, é tosco ao extremo e diverte justamente por essas características. Recomendável para fãs de Cushing & Lee e apreciadores em geral de bagaceiras antigas, especialmente o horror gótico inglês. (RR – 31/12/14)

* Fúria das Feras Atômicas, A (1976) – A produção é do especialista em bagaceiras Samuel Z. Arkoff, da “American International Pictures”, a direção é de Bert I. Gordon (“Mister B.I.G.”, ou “senhor grande” numa tradução do inglês para as iniciais de seu nome), cineasta conhecido por seus inúmeros filmes com monstros, animais e pessoas gigantes, e a história é parcialmente inspirada em livro do popular escritor de Ficção Científica H. G. Wells. “A Fúria das Feras Atômicas” tem um título nacional sonoro para o original “The Food of the Gods” (“O Alimento dos Deuses”). Um jogador profissional de futebol americano, Morgan (Marjoe Gortner), vai com seu amigo também jogador Davis (Chuck Courtney) e seu empresário Brian (Jon Cypher), para uma ilha canadense com o objetivo de descansar alguns dias e caçar. Porém, eles enfrentam o ataque de vespas, galinhas e ratos gigantescos, que ficaram enormes e violentos após ingerirem uma misteriosa gosma branca que surgiu nas terras da fazenda do Sr. e Sra. Skinner (John McLiam e Ida Lupino, respectivamente). A descoberta do estranho alimento despertou o interesse comercial do empresário ganancioso Jack Bensington (Ralph Meeker), que juntamente com a jovem bacteriologista Lorna Scott (Pamela Franklin), visita a fazenda para comprar os direitos do misterioso “alimento dos deuses”. Em paralelo, um casal em passeio pelo lugar num motor home, Thomas (Tom Stovall) e sua esposa grávida Rita (Belinda Balaski), sofre um acidente com o carro e todos juntos ficam encurralados na casa da fazenda, lutando por suas vidas contra um ataque de dezenas de ratos imensos famintos por suas carnes. Os ataques dos ratos assassinos foram realizados com animais reais filmados como se fossem gigantes em meio a maquetes de carros e casas. E muitos deles foram mortos para a obtenção do realismo das cenas. Já para os momentos de confrontos diretos com os atores, foram utilizadas cabeças mecânicas de ratos imensos. Quando o grupo de pessoas está encurralado na casa de campo sob o ataque enlouquecido dos roedores, não faltaram os tradicionais conflitos internos num ambiente sob forte pressão psicológica na luta pela vida, com diferenças de opiniões entre os sobreviventes sobre as ações a serem tomadas, além de constantes questionamentos pela liderança. Os ataques das vespas e galinhas gigantes ficaram bem toscos e até hilários, mas por outro lado, as imensas ratazanas garantem bastante tensão em suas investidas ferozes, com interessantes efeitos simulando seus tamanhos descomunais e as agressões sangrentas contra as pessoas. Curiosamente, o cultuado escritor H. G. Wells teve muitas de suas divertidas obras adaptadas para o cinema em várias versões, como “Daqui a Cem Anos”, “O Homem Invisível”, “A Ilha do Dr. Moreau”, “A Guerra dos Mundos”, “A Máquina do Tempo” e “Os Primeiros Homens na Lua”. O multifuncional Bertram Ira Gordon ficou conhecido como diretor, roteirista, produtor e técnico em efeitos especiais de inúmeros filmes com criaturas gigantes, como “King Dinosaur” (55), “O Começo do Fim” (1957), “A Maldição do Monstro” (57), “O Monstro Atômico” (1957), “Attack of the Puppet People” (58), “War of the Colossal Beast” (58), “A Maldição da Aranha” (58), “A Cidade dos Gigantes” (65) e “O Império das Formigas” (77). E por isso ganhou o apelido de “Mister BIG” do lendário editor, colecionador e pesquisador de cinema de ficção científica e horror Forrest J. Ackerman. No elenco temos Pamela Franklin, que foi uma garotinha no clássico de fantasmas “Os Inocentes” (1961), e também esteve em “O Feiticeiro” (1972) e “A Casa da Noite Eterna” (1973), além da presença dos experientes Ida Lupino (1918 / 1995) e Ralph Meeker (1920 / 1988). (RR – 11/01/15)

* Múmia, A (1959) – O cultuado estúdio inglês “Hammer” refilmou em cores no final de década de 50 do século passado, os grandes clássicos com fotografia em preto e branco dos anos 30, de monstros da produtora americana “Universal”. Tivemos então “A Maldição de Frankenstein” (57), “O Vampiro da Noite” (58) e “A Múmia” (59), todos com a “dupla dinâmica” de ícones do horror Peter Cushing e Christopher Lee. Ficando para o aristocrático Cushing os papéis de “cientista louco”, caçador de vampiros e arqueólogo, e para Lee a missão de interpretar os vilões e monstros. Dirigido pelo especialista Terence Fisher e com roteiro de Jimmy Sangster (ambos com muitos créditos na “Hammer”), “A Múmia” é inspirada nos filmes “A Mão da Múmia” (The Mummy´s Hand, 40) e “A Sombra da Múmia” (The Mummy´s Ghost, 44). A história é ambientada inicialmente no Egito de 1895, onde um grupo de arqueólogos liderado por John Banning (Peter Cushing), encontra o Templo do deus pagão Karnak, onde está a tumba da princesa e sacerdotisa Ananka (Yvonne Furneaux). Uma vez o túmulo transportado para a Inglaterra, as ações se voltam para três anos depois, onde o egípcio Mehemet Bey (George Pastell), um fanático religioso dos costumes antigos de seu país, está descontente com a violação dos templos sagrados em escavações dos arqueólogos ingleses. Ele consegue, através da leitura de um pergaminho místico de 4000 anos, despertar a múmia Kharis (Christopher Lee), um ancestral guardião da tumba da princesa, que foi condenado à morte, tendo a língua cortada e sendo enfaixado e confinado num ataúde. A múmia recebeu a missão de espalhar uma maldição vingando-se de todos que profanaram a tumba egípcia. Assim como a grande maioria dos filmes da “Hammer”, a diversão aqui também é garantida para quem aprecia as cultuadas produções com elementos góticos e exploração dos monstros clássicos do horror. A múmia é um tema já filmado à exaustão, apresentando basicamente as consequências de uma maldição vingativa contra os profanadores de tumbas misteriosas. E faz parte da cultura popular ao lado dos vampiros, zumbis, lobisomens, demônios, fantasmas e monstros gigantes. São muitos filmes com a ideia central similar, e a própria “Hammer” possui outros trabalhos no mesmo segmento como “A Maldição da Múmia” (64), “A Mortalha da Múmia” (67) e “Sangue no Sarcófago da Múmia” (71). Só o fato da participação de Peter Cushing e Christopher Lee no elenco, já é motivo para agregar muito valor ao filme e servir de recomendação para os apreciadores de suas lendárias carreiras. Seus currículos dentro do cinema de horror são parte integrante e inquestionável da história do gênero. Lee é mais lembrado como o vampiro Drácula, mas também foi a criatura de Frankenstein e a múmia, atuando sob forte maquiagem e enfaixado em bandagens. Suas cenas ambientadas num pântano sombrio são memoráveis, num dos grandes ápices do filme, e seu papel de múmia também deve ser lembrado como destaque em sua filmografia, num paralelo de igual importância à múmia interpretada por Boris Karloff no clássico da “Universal” de 1932. Curiosamente, “A Múmia” é o único filme da “Hammer” em que aparecem juntos Peter Cushing, Cristopher Lee e o eterno coadjvante Michael Ripper, rosto visto com frequência em papéis pequenos de diversos outros filmes tanto da própria “Hammer” como também da rival “Amicus”. (RR – 24/01/15)

* The Bat People (1974) – Também conhecido como “It Lives by Night” ou pelo título nacional “Morcegos Humanos” (conforme informação do blog “Cine Space Monster”), de download de filmes bagaceiros, “The Bat People” está situado dentro do sub-gênero conhecido como “Man Into Monster” ou “Homem Transformado em Monstro”, um segmento extremamente divertido do cinema tranqueira de Horror e Ficção Científica, justamente pelas situações absurdas, roteiros distantes de qualquer tipo de lógica e produções toscas ao extremo. Um casal formado pelo médico Dr. John Beck (Stewart Moss) e sua bela esposa Cathy (Marianne McAndrew), que curiosamente são casados também na vida real, está tentando fazer uma segunda lua de mel. Numa visita turística pelo interior de uma caverna, o homem é acidentalmente mordido por um morcego infectado pela raiva. Uma vez hospitalizado e tomando fortes medicamentos para o tratamento da doença, supervisionado pelo colega médico Dr. Kipling (Paul Carr), ele começa a ter ataques de fúria descontrolada e agir de modo estranho, transformando-se aos poucos num monstro assassino com características de morcego. As várias mortes misteriosas e violentas de pessoas próximas ao Dr. John despertam a atenção da investigação policial do Sargento Ward (Michael Pataki). O xerife fica em seu encalço o tempo inteiro, enquanto o médico doente luta desesperadamente contra as crises de loucura e metamorfose emocional, física e mental, se aproximando cada vez mais de um animal conhecido pelo sentimento de medo e repugnância que desperta nos humanos. Bagaceira obscura dos anos 70 do século passado que traz como maior curiosidade o fato de ser um dos primeiros trabalhos de maquiagem do cultuado técnico em efeitos especiais Stan Winston (falecido em 2008). Ele foi o responsável pela concepção do homem transformado em morcego, provavelmente se inspirando nos macacos criados por John Chambers na saga “O Planeta dos Macacos”, iniciada em 1968. Numa espécie de homenagem ao próprio Winston, em determinado momento do filme, o transtornado Dr. John Beck invade o hospital e se identifica falsamente como Dr. Winston, para conseguir localizar uma bolsa de sangue e matar sua sede de morcego. No elenco, conseguimos reconhecer os rostos de atores com presença regular em diversas séries de TV do período como Paul Carr, ou filmes igualmente bagaceiros e divertidos como “O Túmulo do Vampiro” (72), “Zoltan – o Cão Vampiro de Drácula” (78) e “Os Mortos-Vivos” (81), como Michael Pataki. Entre os destaques podemos citar as cenas com dezenas de morcegos reais nos pesadelos e alucinações do protagonista amaldiçoado na transformação de monstro, mas em compensação negativa, temos a horrível trilha sonora escolhida nos momentos de perseguições e ataques do assassino, totalmente deslocada eliminando a tensão de forma patética. Vale lembrar que o cinema bagaceiro de Horror e FC possui uma galeria imensa de produções tranqueiras de “humanos transformados em monstros”, utilizando a mistura com animais, insetos e até plantas, que é bem difícil catalogar. Alguns exemplos são “A Mosca da Cabeça Branca” (58), “O Jacaré Humano” (59), “A Mulher Vespa” (60), “A Serpente” (66), “O Homem Cobra” (73), “Estranhas Mutações” (73) e “A Ilha do Dr. Moreau” (77, e com várias outras versões). E mais recentemente tivemos diversas produções da produtora picareta “Nu Image” como “MosquitoMan” e “Sharkman” (ambos de 2005), entre outras. (RR – 27/01/15)

* Zumbis de Mora Tau, Os (1957) – Produção em preto e branco de Sam Katzman (“Clover Productions”), dos saudosos anos 50 do século passado. Com duração curta (apenas 70 minutos), foi apresentado pelo canal de TV a cabo “Cinemax” como “Os Zumbis de Mora Tau”, sendo que o primeiro título nacional que recebeu quando exibido por aqui foi “O Fantasma de Mora Tau”. A direção é de Edward L. Cahn (1899 / 1963), o mesmo cineasta de outras tranqueiras do período como “A Ameaça do Outro Mundo” (58) e “Invasores Invisíveis” (59), e no elenco temos a bela Allison Hayes (1930 / 1977), mais conhecida pelo papel título de “A Mulher de 15 Metros” (58). Um grupo de dez marinheiros é vítima de uma maldição, transformando-se em zumbi após o naufrágio de seu navio 60 anos atrás na costa da África. Eles são obrigados a proteger um tesouro de diamantes numa caixa dentro do navio afundado, não permitindo que ninguém roube as pedras preciosas, com várias expedições de caçadores de tesouros sucumbindo à sua fúria e aumentando a população do cemitério local. Porém, não acreditando nas lendas e rumores sobre a existência dos guardiões mortos-vivos, uma nova expedição financiada pelo ambicioso George Harrison (Joel Ashley) tenta encontrar os diamantes. Fazem ainda parte da equipe, sua bela esposa Mona Harrison (Allison Hayes), o mergulhador galã Jeff Clark (Gregg Palmer) e o pesquisador Dr. Jonathan Eggert (Morris Ankrum). Em paralelo, uma velha senhora (Marjorie Eaton) que mora na região e é a viúva do capitão do navio naufragado, recebe a visita de sua bisneta Jan Peters (Autumn Russell), e tem interesse na chegada da expedição para tentar eliminar o tesouro amaldiçoado e com isso libertar os zumbis de seu tormento de décadas. Bagaceira divertida justamente pela overdose de falhas, que vão desde furos no roteiro, clichês, situações absurdas, diálogos patéticos e interpretações toscas do elenco. Não podendo deixar de citar as incrivelmente hilárias cenas supostamente aquáticas com os mergulhadores à procura do tesouro e os ataques de zumbis submersos (muitos anos antes dos zumbis aquáticos de “Zombie – A Volta dos Mortos”, 1979, de Lucio Fulci, e de “O Lago dos Zumbis”, 1981, dirigido por Jean Rollin e com roteiro de Jess Franco). Curiosamente, no texto original de abertura do filme, foi utilizado o termo “twilight zone”, que é o nome de uma das mais importantes séries de TV da história do cinema fantástico, “Além da Imaginação”, dois anos antes de seu lançamento em 1959. Ao contrário do que acontece principalmente desde o início do século 21, onde o sub-gênero dos zumbis é explorado à exaustão, com o lançamento de dezenas de filmes a todo momento, na época da produção de “Os Zumbis de Mora Tau”, os roteiros envolvendo mortos-vivos eram escassos e se inspiravam geralmente no vodu e magia negra, e somente bem depois os zumbis seriam apresentados como cadáveres putrefatos comedores de carne humana. Dentro dessa ideia, podemos considerar o filme como um dos poucos antigos precursores desse sub-gênero tão popular atualmente, e que depois do clássico “A Noite dos Mortos-Vivos” (68), de George Romero, ganhou tanta força e motivação para se tornar um dos principais temas do cinema de horror. (RR – 23/12/14)