Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007)


O escritor americano Richard Matheson nasceu em 1926 e em sua reconhecida carreira literária se destacam várias obras que serviram de base para o cinema fantástico em filmes como “Mortos Que Matam” (The Last Man on Earth, 64), com Vincent Price, e “A Última Esperança da Terra” (The Omega Man, 71), com Charlton Heston, cujos roteiros foram inspirados em seu livro “Eu Sou a Lenda” (I Am Legend). Ele também trabalhou como roteirista em alguns filmes baseados em contos de Edgar Allan Poe e dirigidos pelo “Rei dos Filmes B” Roger Corman, como “O Solar Maldito” (60), “A Mansão do Terror” (61), “Muralhas do Pavor” (62) e “O Corvo” (63), além de outras pérolas como “Robur, o Conquistador do Mundo” (61), “Farsa Trágica” (64), “As Bodas de Satã” (68), “Encurralado” (71), “A Casa da Noite Eterna” (73), “Drácula” (73), entre outros. Sua participação em séries de televisão é também significativa tendo colaborado para a criação de vários episódios de “Além da Imaginação” (59/64), “Jornada nas Estrelas” (66/69) e “Galeria do Terror” (70/73).
Em 2007 tivemos a produção de mais dois filmes situados no universo ficcional de sua principal obra: “Batalha dos Mortos" (I Am Omega), com Mark Dacascos, uma espécie de refilmagem do já citado “The Omega Man”, porém não creditando o roteiro como inspirado em seu livro, e “Eu Sou a Lenda” (I Am Legend), com Will Smith, e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 18/01/08.

A história desse último mostra o cientista militar Coronel Robert Neville (Will Smith) vivendo solitariamente na cidade de Nova Iorque deserta, após uma catástrofe iniciada por causa de um vírus manipulado geneticamente em laboratório que disseminou uma praga em escala colossal, dizimando a maior parte da humanidade, e transformando os poucos sobreviventes em criaturas agressivas com características de vampirismo. Por algum motivo, o cientista ficou imune à contaminação e passa seus dias tentando encontrar uma forma de reverter o processo e curar os infectados, que por sua vez o vêem como uma ameaça e querem destruí-lo.

Numa rápida análise crítica, alguns detalhes não podem passar despercebidos. Primeiramente, temos o fato do protagonista ser o ator Will Smith, um rosto associado aos filmes de humor e ação, e que não convence como um cientista brilhante (ainda mais se considerarmos que esse papel foi interpretado por Vincent Price e Charlton Heston nas versões anteriores). Eu particularmente não sou fã do ator, principalmente depois da bomba “As Aventuras de James West”, que não honrou o valor inestimável da série de TV homônima dos anos 60. Segundo, temos um excesso de melodrama no roteiro, numa tentativa infeliz em manipular o público, com choradeiras demais (e uma cena em especial envolvendo o destino trágico de uma cadela) para situações de horror de menos. É compreensível que o sofrimento do cientista por viver sozinho numa cidade fantasma seja imenso, mas a cara de chorão de Smith é forçada demais. Terceiro, temos um excesso de efeitos especiais mirabolantes, principalmente na caracterização dos infectados, que são criaturas noturnas exageradamente distorcidas, com agilidade e ferocidade absurdas. Quarto, temos o surgimento equivocado de uma mulher, Anna (a brasileira Alice Braga) e seu filho Ethan (Charlie Tahan), que surgem do nada, num momento crucial, e realizam um ato heróico e inverossímil, numa cena nitidamente conveniente para o roteiro. E por último, temos um desfecho otimista, fantasioso e totalmente sem ousadia dos realizadores, afastando-se de uma situação apocalíptica que deveria ser mais provável mediante o caos que domina o planeta.
Se o espectador, principalmente aqueles que conhecem as duas versões anteriores, com Price e Heston, dois ícones do cinema, relevar os fatores expostos acima, e procurar apenas se divertir com as imagens (as cenas na cidade deserta realmente merecem ser enaltecidas), e não sendo exigente com o roteiro, pode até conseguir o objetivo de pouco mais de uma hora e meia de entretenimento passageiro. Mas, apenas isso. Essa nova versão cinematográfica do livro de Matheson é inferior que suas antecessoras.

“Eu Sou a Lenda” (I Am Legend, Estados Unidos, 2007) # 479 – data: 22/01/08
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