Hospital Maldito (Boo, 2005)


Eu não acredito em fantasmas.” – diz Allan para sua irmã Meg, que responde: “Não se preocupe, vai acreditar.

Esse diálogo entre um casal de jovens irmãos no interior de um hospital abandonado e assombrado, poderia ser modificado para algo como:
Eu não acredito que ainda existam filmes que continuam explorando os mesmos clichês com um grupo de jovens insignificantes invadindo um ambiente assombrado por fantasmas na época do Halloween.
A resposta:
Não se preocupe, vai acreditar, depois de assistir “Hospital Maldito” (Boo, 2005), que é mais um filme que aborda novamente esse mesmo tema.

Uma turma de jovens totalmente descartáveis decide fazer uma visita noturna de brincadeira num antigo hospital psiquiátrico abandonado e com fama de assombrado no terceiro andar, onde funcionava a temida ala dos loucos internados, durante as festividades do Halloween, tradicional evento americano com inspiração em elementos de horror.
O grupo é formado pelo casal de namorados Kevin (Jilon Ghai) e Jessie Holden (Trish Coren), e pelos amigos Freddy (Josh Holt) e Marie (Nicole Rayburn). Antes deles, Emmett (Happy Mahaney), já havia ido ao local para preparar algumas armadilhas de brincadeira. Paralelamente, Allan (Michael Samluk), pede a ajuda do amigo Arlo Ray Baines (Dig Wayne), um policial decadente e ator de filmes bagaceiros, para procurar no hospital abandonado sua irmã Meg (Rachel Melvin), que tinha ido com amigos explorar o lugar e desaparecera misteriosamente.
O local abriga o fantasma de um antigo zelador, Jacob (M. Steven Felty), que foi preso por molestar uma criança (a garotinha Taylor Hurley), e que tenta se livrar do fantasma da enfermeira Russell (Dee Wallace-Stone), que está sempre fiscalizando suas ações, ao mesmo tempo em que pretende retornar para o mundo dos vivos se apossando dos corpos dos jovens invasores de seu território.

O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa” em Dezembro de 2006. A direção e o roteiro são de Anthony C. Ferrante (iniciante nesse ofício, mas com experiência na área dos efeitos especiais), e o elenco é amador ao extremo, sendo que a única exceção fica por conta de Dee Wallace Stone, numa participação rápida (ela que é uma atriz veterana e participou de filmes conhecidos dos anos 80 como “E.T. – o Extraterrestre”, de Steven Spielberg e “Cujo”, baseado em obra de Stephen King).
“Hospital Maldito” é mais um exemplo dispensável de história que explora o confronto entre jovens idiotas e um fantasma assassino. É verdade que tem sangue, algumas cenas violentas, tentativas de susto, aparições sinistras de fantasmas, perseguições tensas, mas tudo dentro de um padrão convencional que já conhecemos de inúmeros outros filmes parecidos, ou seja, não tem absolutamente nada de especial. Aliás, tudo parece reciclado, desde o início com uma cena que lembra “Pânico” (1996), passando pela aparição do fantasma de uma criança (fato já exaustivamente explorado), até a forma como os fantasmas explodem quando são alvejados por tiros, num efeito exagerado.
Os personagens são estereótipos tão fúteis que o espectador acaba desejando suas mortes (também fica bastante previsível adivinhar com antecedência que irá sobreviver e quem serão as vítimas). Sem contar as várias tentativas de piadas que não funcionam, do tipo: “A última pessoa que eu vi parecida com você, eu dei um tiro na cara”, dita pelo panaca Kevin para o policial Arlo, no primeiro encontro entre eles e num momento de tensão. Ele retruca de forma igualmente ridícula: “Você atira na minha cara e eu chutarei seu traseiro”.
Um pouco de sangue e tripas espalhados e aparições de fantasmas ameaçadores não são suficientes para impedir de classificar “Hospital Maldito” como apenas mais uma bomba dispensável.

“Hospital Maldito” (Boo, Estados Unidos, 2005) # 443 – data: 30/05/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/05/07)

Criaturas (The Curse of the Komodo, 2004)


Komodos caçam com simplicidade. Eles te jogam no chão, estraçalham e depois te comem com calma. Caso você consiga sobreviver, as bactérias da saliva deles são tão sépticas que te matam em dias ou horas!

O diretor Jim Wynorski tem se especializado em fazer filmes bagaceiros com animais gigantescos (parece que ele gosta bastante do dragão de komodo), como é o caso da tranqueira “Komodo Vs. Cobra” (2005), assunto de um artigo de Gabriel Paixão para o site “Boca do Inferno”, um texto carregado de ironia e bom humor. Mas, curiosamente, um ano antes, em 2004, o mesmo diretor (sob o pseudônimo Jay Andrews), e contando com boa parte dos mesmos atores, foi o responsável pelo igualmente péssimo “Criaturas” (The Curse of the Komodo), lançado no mercado brasileiro de DVD pela “Europa” no final de 2006.
As histórias de ambos os filmes são muito parecidas (praticamente iguais), onde a maior diferença está apenas na inclusão de uma cobra gigante para se confrontar com o komodo (no caso do filme de 2005). O resto é tudo a mesma porcaria, um roteiro ridículo, de autoria de Steve Latshaw, um elenco amador ao extremo e efeitos especiais excessivamente mal feitos, que não são melhores que os dinossauros toscos da antiga e bagaceira série de TV “O Elo Perdido” (Land of the Lost, 1974/77), produzido por Sid e Marty Kroft.
O nome nacional (comum e manjado) também foi mal escolhido, pois seria melhor apenas traduzir do original como “A Maldição do Komodo”. Aliás, curiosamente, a “California” lançou por aqui o DVD de “Creature / Alien Lockdown”, de 2004, um thriller de ficção científica com elementos de horror, chamando o filme de “Criatura”.

Na Ilha Damas, a 500 Km ao sul de Honolulu, no Havaí, um cientista, Prof. Nathan Phipps (William Langlois), com o auxílio da assistente e namorada Dra. Dawn Porter (Gail Harris), está trabalhando num projeto secreto do governo americano, que controla as ações de um comando naval em Pearl Harbor, sob a supervisão do General Foster (Jay Richardson) e seu assistente Tenente Jeffries (Richard Gabai). Disfarçado como um projeto para a produção de alimentos (pelo menos é que pensa o cientista ao fazer experiências para o crescimento de plantações), ele na verdade tem o objetivo de criar mutações moleculares nos animais da região, transformando os dragões de komodo em animais gigantescos comedores de homens e servindo como arma de guerra, segundo as intenções dos militares.
Além do Prof. Phipps e a Dra. Porter, ainda trabalham também na ilha a filha peituda do cientista, Rebecca (Glori-Anne Gilbert) e o capataz Hanson (Ted Monte). Paralelamente, um grupo de assaltantes de um cassino foge de helicóptero com o dinheiro roubado e são obrigados a pousar na ilha por causa de um temporal. São eles, Jack (Tim Abell), um ex-soldado que ganha a vida como piloto “freelancer”, o líder da gangue Drake (Paul Logan), sua namorada Tiffany (Melissa Brasselle) e o comparsa Reece (Cam Newlin). Agora, todos eles terão que unir forças para tentar sobreviver depois que descobrem a existência de um imenso dragão de komodo com mais de cinco metros de altura, uma criatura mutante que cresceu de forma descomunal por causa das experiências do cientista, e que está faminta por carne humana. Além de ter que fugir para não servir de alimento ao monstro (e também não entrar em contato com sua saliva, que causa uma infecção mortal), eles precisam sair o mais rápido possível da ilha, pois após os militares perceberem que perderam o controle do projeto ilegal, eles querem explodir o local com bombas incendiárias para apagar as evidências do crime.

Tudo em “Criaturas” é ruim. A história é banal e óbvia, num grande e previsível clichê: “um cientista ingênuo isolado numa ilha faz experiências genéticas com plantas e causa mutações nos animais, transformando-os em monstros gigantescos, que na verdade fazem parte de um projeto secreto de arma de guerra”. E é claro que saberemos com antecedência (e sem nenhum esforço de concentração) quem irá ser punido e morrer devorado, e quem se salvará para alertar o mundo sobre as barbaridades cometidas pelos militares sem escrúpulos. Os atores são péssimos, mesmo quando sabemos que os personagens são exageradamente fúteis, dificultando o trabalho deles. As interpretações são hilárias de tão amadoras, principalmente a atriz Melissa Brasselle (Tiffany), que nem ao menos conseguiu gritar convincentemente antes de ser devorada pelo komodo. A atriz Glori-Anne Gilbert também é péssima, e seus únicos atributos são os imensos seios, que obviamente, foram explorados pelo diretor oportunista, inserindo uma cena totalmente aleatória onde ela tira a roupa para um mergulho num lago. Os efeitos especiais são simples demais e não convencem, não passando de um trabalho vagabundo de CGI. Não tem sangue nem violência nas cenas com o komodo se alimentando de pessoas (aliás, acho que os personagens não servem nem para saciar a fome do bicho gigante). Resumindo, existe uma infinidade de produções bagaceiras que são muito divertidas, e existem também muitos filmes toscos que são ruins demais e sem interesse. “Criaturas” faz parte desse segundo grupo.

“Criaturas” (The Curse of the Komodo, Estados Unidos, 2004) # 442 – data: 26/05/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 28/05/07)

Cães Assassinos (The Breed, 2006)


Os cães são os animais que o cinema de horror mais gosta de explorar em suas histórias, transformando-os em monstros assassinos. Existe uma infinidade de filmes com cachorros de variadas raças, e na maioria das vezes eles são apresentados como uma ameaça mortal para os seres humanos, ou seja, criaturas longe de serem dóceis, e ao contrário, ávidas por cravar seus dentes afiados nas carnes macias de pessoas que acreditavam que eles eram seus melhores amigos (um ditado popular que o cinema faz questão de desmentir).
E essa idéia ainda persiste, pois os cães continuam despertando o interesse dos roteiristas, aparecendo em filmes como vilões predadores. É o caso de “Cães Assassinos” (The Breed, 2006), uma co-produção entre Estados Unidos, África do Sul e Alemanha, lançada em DVD no Brasil em Dezembro de 2006 pela “Europa”. O filme faz questão de evidenciar o nome de Wes Craven entre os produtores executivos, mas sinceramente, esse fato já não significa grande coisa, pois o criador das franquias populares “A Hora do Pesadelo” e “Pânico” está demonstrando uma decadência significativa em sua carreira nos últimos anos.

Com direção de Nicholas Mastandrea (é seu primeiro filme, porém ele já é veterano como assistente de direção de alguns filmes de Wes Craven e George Romero) e roteiro de Peter Wortmann e Robert Conte, a história apresenta um grupo de cinco jovens amigos desde a infância que vão passear numa ilha. Formado pelos irmãos Matt (Eric Lively) e John (Oliver Hudson), pelas belas Nicki (Michelle Rodriguez), namorada de Matt, e Sara (Taryn Manning), e ainda por Noah (Hill Harper), o grupo hospeda-se numa casa isolada herdada pelos irmãos. Porém, o que deveria ser um agradável e divertido final de semana, transformou-se numa desesperada luta pela sobrevivência quando surge uma imensa matilha de cães raivosos e modificados geneticamente, vindos de um centro de treinamento para cães de ataque, misteriosamente abandonado no outro lado da ilha. Os animais não desejam companhia e querem experimentar o sabor da carne e o gosto do sangue dos jovens invasores de seu território.

O filme é curto (85 minutos) e a história é bem simples, com poucos personagens. Além do grupo de cinco amigos, temos ainda um casal de namorados, Luke (Nick Boraine) e Jenny (Lisa-Marie Schneider), que chega de barco na ilha, e também descobre a fúria dos cães. A idéia é apenas mostrar o desespero de um grupo de jovens acuados dentro de uma casa, impossibilitados de fugir (o hidro avião utilizado na viagem perdeu-se no mar), e obrigados a lutar por suas vidas ao serem atacados ferozmente por cães assassinos que aparecem de todos os lados. Não há interesse do roteiro em investir energia em explicações. A origem dos cães é tratada de forma superficial, assim como o mistério do centro de treinamento abandonado. Os personagens são pouco desenvolvidos e existem mesmo apenas para servir de vítimas para os animais. Porém, existem boas cenas de tensão e perseguições nos ataques violentos dos cães e nos confrontos dos jovens contra seus algozes (se bem que seriam melhores se fossem noturnas), além das tentativas fracassadas de fuga. E o desfecho também tenta fugir da previsibilidade, com uma solução mais pessimista. Enfim, trata-se de mais uma diversão rápida e passageira.

Observações: O título original “The Breed” também é o mesmo de um outro filme de 2001, lançado por aqui como “Cidade dos Vampiros”. Numa das cenas de ataque dos cães, a personagem Nicki (interpretada pela bela morena Michelle Rodriguez, de “Velozes e Furiosos” e “Resident Evil: O Hóspede Maldito”), faz uma rápida citação ao famoso cachorro São Bernardo “Cujo” do filme homônimo de 1983, inspirado numa história de Stephen King.

“Cães Assassinos” (The Breed, Estados Unidos / África do Sul / Alemanha, 2006) # 441 – data: 20/05/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 21/05/07)

Terra Rasa (Shallow Ground, 2004)


Os vivos irão pagar por toda a dor que os mortos sofreram

A floresta parece ser um ambiente apropriado para o desenvolvimento de uma história de horror, com elementos sobrenaturais ou não. As árvores com aspectos fantasmagóricos ou mesmo os perigos naturais das entranhas de uma mata conseguem trazer à tona aquela atmosfera característica e opressora que permite proporcionar medo e insegurança. Muitos filmes utilizaram esse cenário natural como base para seus roteiros carregados de horror. Sempre vem à mente alguns exemplos mais conhecidos, como a cabana isolada nas montanhas em “The Evil Dead” (1982), com a floresta abrigando demônios enfurecidos ávidos por possuir os vivos, ou os efeitos perturbadores da escuridão de uma mata e de sentir-se perdido e desorientado como em “A Bruxa de Blair”. Em “Terra Rasa” (Shallow Ground, 2004), distribuído em DVD no Brasil pela “Europa”, novamente a floresta esconde um segredo terrível que envolve dor, sangue, morte, sofrimento e vingança.

Uma delegacia de polícia localizada em Shallow Valley, nos arredores da pequena cidade de Pineview, está sendo desativada. Nela trabalham o xerife Jack Sheppard (Timothy V. Murphy), sua namorada Laura Russell (Lindsey Stoddart) e o assistente Stuart Dempsey (Stan Kirsch). O xerife enfrenta uma crise de depressão devido ao desaparecimento da jovem Amy Underhill (Tara Killian) há um ano atrás, sentindo-se culpado por encontrá-la amordaçada no meio da floresta e depois perdê-la de vista ao procurar pistas na região.
Porém, antes de fecharem o posto policial, eles são surpreendidos pela aparição misteriosa de um adolescente nu e coberto de sangue (Rocky Marquette), que sai da floresta caminhando lentamente deixando um rastro de sangue. Ele é detido para averiguação e os policiais recebem a ajuda da médica Darby Owens (Natalie Avital) para tentar identificar a procedência do sangue. Mas, eles não imaginavam que se deparariam com um mistério aterrador e que o garoto poderia ser a chave para a solução de uma série de desaparecimentos de pessoas na região.

Você tem ideia de como é ter sua carne arrancada e costurada de volta enquanto você ainda vive? Como você acha que é ter seu corpo pendurado por anzóis e cada gota de seu sangue drenado?

Dirigido e escrito por Sheldon Wilson, “Terra Rasa” é mais um filme de orçamento modesto que de forma despretensiosa conta uma história de assassinatos brutais e vingança com a presença de elementos sobrenaturais e cenas de tortura física, mortes violentas e muito sangue manchando a tela de vermelho. A história é envolvente, conseguindo manter a atenção do espectador durante todo o tempo, incitando-nos a procurar por explicações sobre o mistério da identidade e os objetivos do sinistro garoto coberto de sangue, além do destino das pessoas desaparecidas na região, as ações e motivações do assassino, e tudo mais que cerca o segredo escondido na floresta. O desfecho também procura surpreender e passar uma ideia pessimista, tentando fugir do convencional.
“Terra Rasa” faz parte de um grupo recente de produções de baixo orçamento que exploram histórias simples, sem a preocupação de revelar detalhes importantes das tramas, mas em compensação, repletas de violência, sangue e cenas fortes de horror como “The 8th Plague”, “Jogos Sangrentos” (Broken), “Altered” e outros. O DVD lançado no Brasil traz apenas um trailer como material extra, e a capa é bem interessante e convidativa, daquelas que despertam uma atenção especial, evidenciando as pegadas ensangüentadas de um homem caminhando descalço.

“Terra Rasa” (Shallow Ground, Estados Unidos, 2004) # 440 – data: 19/05/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 21/05/07)

House of the Dead 2 (2005)


Em 2003 o cineasta alemão Uwe Boll foi o responsável por “House of the Dead”, um filme inspirado no vídeo game homônimo e que é uma das piores tranqueiras produzidas nos últimos anos, apesar de que justamente por esse fato, o diretor virou alvo de um excesso de comentários por todos os lados, de fãs e críticos, que acabaram por promovê-lo, como um cineasta medíocre, é verdade, mas isso também trouxe-lhe fama e oportunidade de fazer mais filmes não menos ruins como “Alone in the Dark” e outros.
“House of the Dead” é um daqueles filmes que se vê apenas uma vez na vida, e toda hora que se lembra dele vem aquele incômodo sentimento de arrependimento por termos desperdiçado nosso precioso tempo pensando que seriam momentos de entretenimento. Porém, ainda assim, os produtores encontraram motivos para fazer uma seqüência, que veio em 2005, lançada em DVD no Brasil como “House of the Dead: A Casa dos Mortos 2” (House of the Dead 2), só que dessa vez o filme foi dirigido por Michael Hurst (de “The Darkroom”), pois Boll estava envolvido em outro projeto.

Um cientista, o Prof. Curien (Sid Haig), está pesquisando uma solução química que tem o objetivo de reanimar os mortos. Testando sua fórmula numa jovem estudante da Universidade onde trabalha, ele consegue êxito, porém é atacado violentamente por ela, já na condição de um zumbi assassino, espalhando uma infecção por todo o campus, e instaurando um caos descontrolado entre os alunos, professores e funcionários.
O exército é obrigado a intervir para tentar controlar a situação, enviando uma equipe de militares especialmente treinados liderados pelo Sargento Dalton (Stinky Fingaz), que deve trabalhar em conjunto com uma dupla de agentes de um departamento de pesquisas científicas do governo. Os agentes são Alexandra Morgan, também conhecida pelo apelido “Nightingale” (Emmanuelle Vaugier) e o Tenente Ellis (Ed Quinn). A missão é coletar uma amostra do sangue da primeira geração de zumbis para tentar desenvolver um antídoto que impeça a propagação da infecção. Porém, além de lutar por suas vidas num combate contra uma legião de mortos-vivos que querem devorar suas carnes, eles também precisam correr contra o tempo para cumprir a missão antes de um bombardeio programado do exército, que pretende aniquilar a Universidade na tentativa de conter a epidemia.

Filmes de zumbis carnívoros que se situam dentro do mesmo contexto abordado nesse “House of the Dead 2” não conseguem mais despertar nenhum tipo de diversão, de tão saturado que está esse subgênero do cinema de horror. São muitos filmes similares (ou melhor, praticamente iguais), com os mesmos clichês de sempre, as mesmas correrias, gritarias e perseguições desenfreadas, tiroteios exagerados, zumbis cuspindo sangue e devorando tripas (de uma maneira que já se transformou em algo banalizado). Os mesmos diálogos ridículos e piadinhas idiotas (as únicas que valem a pena registrar são a sessão de treinamento de tiro ao alvo, onde sobrou para a foto de Paris Hilton, que é uma mulher linda, mas também completamente fútil, e a menção de um “zumbilongo”, um inseto com participação importante no rumo das ações). Os mesmos personagens de sempre (é claro que entre eles, tinha que ter um cara idiota que só fala bobagem, ficando o papel para o ator James Jean Parks, interpretando o arrogante soldado Bart). As mesmas situações absurdas (os zumbis somente contaminam quem interessa para os planos do roteirista), etc... Aliás, o desfecho também é bastante improvável e extremamente previsível, com um gancho óbvio para a continuação da franquia.
Quando falamos em cinema com zumbis, o que vem imediatamente à mente é a tetralogia de George Romero, recheada de críticas sociais, formada por “A Noite dos Mortos-Vivos”, “Despertar dos Mortos”, “Dia dos Mortos” e “Terra dos Mortos”, o violento “Zombie” (do italiano Lucio Fulci), o divertido “A Volta dos Mortos-Vivos” (de Dan O´Bannon, que inseriu elementos de humor negro na mitologia dos zumbis), o sangrento “Re-Animator” (de Stuart Gordon), além de filmes mais recentes como “Extermínio” (do inglês Danny Boyle), e alguns outros que merecem ser constantemente reverenciados, revisitados e eternizados. Quanto a “House of the Dead 2” e toda uma infinidade de tranqueiras similares, o destino é um impiedoso esquecimento.

“House of the Dead: A Casa dos Mortos 2” (House of the Dead 2, Estados Unidos, 2005) # 439 – data: 12/05/07 – avaliação: 3 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 14/05/07)

Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3, 2007)


Confirmando o imenso sucesso como franquia de entretenimento que leva multidões de todas as idades aos cinemas, estreou no Brasil em 04/05/07 “Homem-Aranha 3” (Spider-Man 3), novamente com direção de Sam Raimi e mesmo elenco principal dos episódios anteriores, liderado pelo casal Tobey Maguire e Kirsten Dunst.

Confesso que não sou apreciador de revistas em quadrinhos de super-heróis, e por causa desse fato os filmes inspirados nessa mídia não despertam muito interesse para mim. O primeiro filme da série “Homem-Aranha” (de 2002) foi apenas uma diversão rápida e com efeitos especiais ainda pouco convincentes. Já o episódio seguinte lançado dois anos depois, a situação mudou para melhor, apresentando uma história mais interessante com elementos dramáticos importantes para a definição do herói e sua difícil adaptação nessa nova condição, além dos efeitos bem mais elaborados. Com o terceiro filme da série, a sensação imediata depois de sair do cinema é de satisfação pelo show arrebatador dos efeitos especiais em ótimas cenas de ação, e também de uma certa decepção pelo exagero melodramático e sentimentalista do roteiro e a definição previsível (e conveniente para os realizadores) dos destinos dos principais personagens.
A história é até interessante, com três sub-tramas acontecendo simultaneamente e que se completam, prendendo a atenção do espectador durante todos os longos 140 minutos de projeção. São elas: a origem e ações do vilão “Homem-Areia”, que é o ladrão Flint Marko (Thomas Haden Church), com envolvimento na morte do tio de Peter Parker (Maguire); o problema de relacionamento de Parker com o amigo de infância Harry Osborn (James Franco), filho de um cientista morto num confronto com o Homem-Aranha; e a origem de outro vilão chamado “Venom”, que é o fotógrafo Eddie Brock (Topher Grace), um sujeito desonesto e rival de Parker e que deseja vingança se transformando numa criatura perigosa após ser contaminado por um organismo alienígena que procura um hospedeiro, vindo ao planeta com a queda de um meteoro. Paralelamente, Peter “Homem-Aranha” Parker ainda tem que administrar uma constante crise de relacionamento amoroso com a bela namorada Mary Jane Watson (Dunst), que passa por uma decepção na carreira de cantora.
Porém, apesar da história dinâmica e interessante de “Homem-Aranha 3”, o ponto de maior deficiência é o excesso de melodramas no ato final, com a óbvia punição dos vilões e choradeiras demais para todos os lados. Sobre isso, é curioso notar que por detrás das câmeras está justamente Sam Raimi, um diretor que ainda muito jovem, teve a ousadia, coragem e idealismo para filmar uma produção de baixo orçamento de horror extremamente cultuada e violenta, “The Evil Dead” (1982), que é um verdadeiro banho de sangue com uma história de possessões demoníacas num grupo de jovens que vão passar um final de semana numa cabana nas montanhas. Aliás, já vale a pena assistir “Homem-Aranha 3” devido à participação hilária de Bruce Campbell (amigo de Raimi e exterminador de demônios em “The Evil Dead”), como um “maitre” de um restaurante francês onde Parker tentava impressionar a namorada com um jantar especial.

“Homem-Aranha 3” (Spider-Man 3, Estados Unidos, 2007) # 438 – data: 05/05/07 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/05/07)

Venom (2005)


Um grupo de adolescentes desinteressantes que vivem numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos torna-se vítima dos ataques furiosos de um assassino. Entre os jovens estão dois casais de namorados, Eric (Jonathan Jackson) e Eden (Agnes Bruckner), e Sean (D. J. Cotrona) e Rachel (Laura Ramsey), além de Ricky (Pavel Szajda), Cece (Meagan Good), Tammy (Bijou Phillips) e Patty (Davetta Sherwood). Eles são perseguidos por um homem rude, o dono de um posto de gasolina Ray Sawyer (Rick Cramer). Ele sofre um acidente fatal envolvendo seu caminhão guincho e o carro da avó de Cece, a Sra. Emmie (Deborah Duke), uma mulher envolvida em rituais de vodu e que trazia uma maleta com algo misterioso em seu interior. Após cair nas águas escuras de um pântano, Ray é picado por cobras sobrenaturais que o trazem de volta à vida, só que num corpo quase indestrutível que carrega a maldade de uma infinidade de pessoas exorcizadas em rituais de magia negra. A partir daí, o que se segue são apenas as mesmas correrias, perseguições, gritarias e mortes de sempre...

Com direção de Jim Gillespie, roteiro de Flint Dille, John Zuur Platten e Brandon Boyce, produção de Kevin Williamson (parceiro de Wes Craven na trilogia “Pânico”) e produção executiva de Bob e Harvey Weinstein (da “Dimension Films”), “Venom” (2005) é apenas mais um filme comum e sem atrativos, que explora o tema da magia negra e vodu para compor uma história de assassino sobrenatural perseguindo jovens adolescentes. A fotografia é escura demais e o roteiro é excessivamente previsível (sabemos com antecedência como será o desfecho, que sempre é o mesmo na grande maioria dos filmes similares). Quanto ao elenco, é totalmente inexpressivo e os jovens da história são tão fúteis e descartáveis que apenas conseguem despertar uma vontade no espectador de vê-los morrerem o mais rápido possível e de preferência das formas mais dolorosas e violentas.
Para compensar um pouco a favor (o que é pouco), temos um bom trabalho nos efeitos especiais, sob a responsabilidade do técnico francês Patrick Tatopoulos, o mesmo de filmes conhecidos como “Drácula de Bram Stoker” (92), “Stargate” (94), “Independence Day” (96), “Godzilla” (98), “Supernova”, “A Reconquista” e “Eclipse Mortal” (todos de 2000), “Habitantes da Escuridão” (02), “Anjos da Noite – Underworld” (03) e “A Caverna” (05), entre outros. E vale um destaque para uma das cenas de mortes, onde uma jovem é empalada violentamente no galho de uma árvore.
No mais, é apenas mais um filme trivial, explorando a já saturada idéia de “jovens perseguidos por assassino”.

“Venom” (Venom, Estados Unidos, 2005) # 437 – data: 02/05/07 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/05/07)

Trilha de Sangue (Blood Trails, 2006)



Uma mensageira ciclista, Melanie Anne Phillips (Rebecca Palmer), é abordada por um policial também ciclista, Chris (Ben Price), que em vez da multa anota seu telefone no braço dela. Não resistindo à tentação, apesar de estar comprometida com o namorado Michael (Tom Frederic), ela se envolve com o policial num único encontro traumático. Arrependida pelo ato impensado, a jovem ciclista aceita o convite do namorado para passear de bicicleta nas montanhas, longe do agito da cidade. Porém, ela não imaginava que o policial se revelaria um psicopata assassino que iria persegui-la e espalhar trilhas de sangue pela floresta e estradas montanhosas, eliminando violentamente todos que cruzarem o caminho ou atrapalhassem seu plano de capturar a moça.

Trilha de Sangue” (Blood Trails, 2006) tem direção de Robert Krause, roteiro dele em parceria com Florian Puchert, e foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa”. O elenco é reduzido, limitado aos três personagens principais apresentados na sinopse acima, e mais alguns outros que existem no roteiro apenas para servir de vítimas do assassino. Aliás, a história tem poucos diálogos e um excesso de situações inverossímeis ou não convincentes. Basta citar o encontro de Anne com dois trabalhadores que cortavam árvores. Os homens estranharam o comportamento abalado dela, mas não tentaram se comunicar ou entender o que estava acontecendo. Ou muito pior ainda, próximo ao final, na seqüência envolvendo o psicopata e dois policiais armados, que de tão absurda, teve um desfecho off screen (para facilitar o trabalho preguiçoso dos roteiristas). Os atores também não convenceram, nem a vítima principal (Anne estava longe de representar uma mulher realmente perturbada por estar sendo caçada por um assassino que quer sangrá-la até a morte), nem o psicopata, que não tem o perfil imponente exigido para o personagem (ele deveria ser mais “animalesco” em suas ações e atitudes). É verdade que tem cenas fortes de violência, com cortes profundos de faca e machado, mas em pequena quantidade e nada que não se tenha visto muito pior numa infinidade de outros similares. Ou seja, “Trilha de Sangue” é apenas mais um filme óbvio, comum, cheio de clichês, com um jogo psicológico entre assassino e vítima, numa história básica com perseguições e mortes. É para ver e se esquecer logo depois.

“Trilha de Sangue” (Blood Trails, Alemanha, 2006) # 436 – data: 30/04/07 – avaliação: 4,5 (de 0 a 10)
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Lugares Escuros (In a Dark Place, 2006)


A famosa obra literária sobre fantasmas “A Volta do Parafuso” (The Turn of the Screw), escrita no final do século XIX por Henry James, serviu de inspiração para vários filmes, sendo o principal o cultuado clássico inglês “Os Inocentes” (The Innocents, 1961), de Jack Clayton e com Deborah Kerr. O livro também foi a base do roteiro de outro filme mais moderno, “Lugares Escuros” (In a Dark Place, 2006), estrelado pela bela Leelee Sobieski, e lançado no Brasil em DVD pela “California”.

Uma jovem professora e terapeuta de crianças, Anna Veigh (Leelee Sobieski), é demitida do emprego numa escola e encontra outro trabalho como babá numa mansão distante e isolada da cidade, para cuidar de duas crianças que perderam os pais num acidente de avião, Flora (Gabrielle Adam) e Miles (Christian Olson), e que estão sob a custódia de um tio rico, mas relapso. Recepcionada pela governanta Srta. Grose (Tara Fitzgerald), a babá tem a missão de se ambientar na nova moradia, conhecer e interagir com as crianças (que possuem segredos e comportamentos estranhos), se relacionar com a rígida governanta e descobrir os mistérios do passado do lugar, com histórias de fantasmas e tragédias envolvendo a jovem babá anterior e seu amante.

Lento, cansativo, desinteressante. São alguns adjetivos que rapidamente vem à cabeça para descrever “Lugares Escuros”, mostrando como o filme está extremamente distante da qualidade do excelente “Os Inocentes”, fotografado em preto e branco quase cinqüenta anos antes. Os fantasmas aparecem pouco e sem nenhum impacto, pois o roteiro de Peter Waddington não soube explorar com eficiência os elementos assustadores e potenciais presentes em espíritos perturbados. As crianças também não conseguem transmitir um comportamento sinistro e inquietante. E a babá interpretada por Leelee Sobieski é infinitamente inferior daquela feita por Deborah Kerr. Sobieski é uma mulher lindíssima e estonteante, mas como atriz é bastante limitada (como já visto anteriormente também em “A Casa de Vidro”, “Perseguição” e “O Sacrifício”). Em vez daquela atmosfera sombria e um horror psicológico que seriam esperados pelo espectador, “Lugares Escuros” reserva momentos de sono que nos levam à desconcentração pela história, e que só é recomendado aos fãs da beleza de Leelee Sobieski.

“Lugares Escuros” (In a Dark Place / Dark Places, Inglaterra / Luxemburgo, 2006) # 435 – data: 29/04/07 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/05/07)

Canibais & Solidão (Brasil, 2006)


Felipe M. Guerra já é um nome conhecido entre os apreciadores de cinema de horror que acompanham listas de discussão, comunidades e sites na internet, contando com uma grande legião de fãs e admiradores, principalmente por causa de seus artigos e resenhas sobre filmes do gênero, sejam comerciais ou bagaceiros, num interessante trabalho detalhado de pesquisa e análise crítica. Seus textos estão publicados no site “Boca do Inferno” (www.bocadoinferno.com), que é um dos mais completos portais de horror da internet brasileira. Ele também é o criador da “Necrófilos Produções Artísticas” e com muito idealismo se aventura na produção independente de filmes caseiros. Em 2001 ele lançou “Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-feira 13 do Verão Passado”, um filme com nome quilométrico parodiando as histórias com psicopatas assassinos mascarados.
Dois anos depois Felipe iniciou um novo projeto (dirigindo, escrevendo o roteiro, produzindo e editando), só que dessa vez homenageando os cultuados filmes italianos do ciclo de canibais entre o final da década de 70 e início dos anos 80 do século passado, como o polêmico “Cannibal Holocaust” e “O Último Mundo Canibal” (ambos de Ruggero Deodato), e “Cannibal Ferox” e “Os Vivos Serão Devorados” (ambos de Umberto Lenzi), utilizando um roteiro que mistura comédia romântica e uma dose discreta de horror e humor negro. Intitulado “Canibais & Solidão”, uma série de imprevistos forçou a interrupção da produção por longos três anos, até que em 2006 finalmente o cineasta independente conseguiu concluir o projeto e lançar o filme em DVD, que traz como materiais extras um trailer para exibição nos cinemas de Carlos Barbosa/RS, cidade natal de Felipe e cenários das locações, e aproximadamente quinze minutos com erros de filmagens.

A história básica de “Canibais & Solidão” apresenta um grupo de três jovens amigos que possuem dificuldades no relacionamento com as mulheres e estão tentando perder a virgindade. São eles, Rodrigo (Rodrigo M. Guerra, irmão de Felipe), Eliseu (Eliseu Demari) e Marcelo (Fabio Prina da Silva).
Rodrigo passa seu tempo vendo filmes de canibais, e acha que isso talvez esteja influenciando em seu comportamento. Sua melhor amiga é a bela morena Niandra (Niandra Sartori). Já Eliseu teve uma decepção amorosa que o deixou inseguro, além de ser exageradamente ciumento com sua irmã Kátia (Daniela Vidor), tendo o costume de estourar a cabeça dos namorados dela com um taco de baseball. Ele também se envolve com uma bela loira conhecida como “castradora” (Cíntia Dalposso). E Marcelo é fã de filmes pornô. Para resolverem o problema, eles solicitam a ajuda de Vini (Leandro Fachinni), que é mais experiente e conhecido pelo sucesso com as mulheres.
O grande desafio dos três amigos é colocar em prática os ensinamentos de Vini e conseguirem o objetivo com suas primeiras experiências sexuais, porém no caso de Rodrigo, afetado pelos violentos filmes de canibalismo, o desafio maior é conquistar o amor de Edna (Edna Costa), uma morena lindíssima que conheceu numa locadora de vídeo.

“Canibais & Solidão” é uma produção independente realizada com idealismo por todos os envolvidos, especialmente o seu autor, Felipe M. Guerra. E só por esse idealismo, virtude reservada para poucos, o filme já merece admiração, principalmente pelas imensas dificuldades enfrentadas por Felipe na condução do projeto, com a desistência de atores, cenas que tiveram que ser descartadas e refilmadas, entre outras coisas. Houve uma evolução nítida na qualidade de produção em relação ao longa metragem anterior de 2001, parodiando “Pânico” e similares. Porém, existem pontos positivos e negativos que valem registro.
O principal e mais relevante fato que agrega valor ao trabalho e para o resultado final é a presença indispensável de belas mulheres no elenco (e isso não falta, pois todas as atrizes são muito bonitas). Temos também a favor uma ótima piada encenada no telhado de uma casa, envolvendo uma aparição rápida e inusitada do próprio diretor e que funcionou muito bem. Além de uma outra seqüência hilária (talvez a melhor do filme), dessa vez com a nona (Oldina Cerutti do Monte, avó de Felipe), que ingeriu sem saber um líquido misturado com afrodisíaco. A interpretação da idosa senhora foi impecável e convincente.
Em contrapartida, destaco dois fatos que prejudicaram o filme. Alguns diálogos ficaram incompreensíveis, principalmente envolvendo o grupo de três amigos, onde às vezes falavam baixo demais, ou excessivamente rápido, ou falavam todos juntos de uma só vez, dificultando o entendimento pelo espectador, e causando um certo desinteresse pela história. Uma exceção notável foi Vini, que sempre falou suas frases com clareza e discernimento. Mas, o maior problema é principalmente a falta de horror (e aí é uma questão meramente subjetiva, tratando-se de uma opinião e gosto pessoal). A idéia do canibalismo é muito pouco explorada e totalmente secundária na trama. Quando vemos a ótima introdução com excertos de cenas violentas reproduzidas de filmes italianos com canibais, passamos a esperar por algo que quase não acontece. A ênfase maior está focada numa comédia romântica e num drama comum sobre jovens tentando perder a virgindade, com uma discreta presença de elementos de horror.
Uma sugestão ao Felipe Guerra para um próximo projeto, utilizando-se de seu talento como cineasta independente e crítico cinematográfico de grande qualidade e conhecimento: em vez de paródias, uma boa idéia é filmar uma história séria de horror mais perturbador e extremo, com ousadia e cenas transgressoras sem limites, uma vez que por ser uma produção independente existe uma liberdade de criação artística isenta de qualquer tipo de pressão. Sinceramente, acho que o maior desafio para a produção de um filme caseiro de horror é justamente explorar esse filão, em vez de utilizar elementos de humor negro, como tem acontecido em todos os seus filmes. É uma dica que seria interessante ver numa produção da “Necrófilos”...

“Canibais & Solidão” (Brasil, 2006) # 434 – data: 28/04/07 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/05/07)