A Praga (The Plague, 2006)



O cultuado escritor inglês Clive Barker, autor de muitas histórias de horror que foram adaptadas para o cinema em filmes e franquias como “Hellraiser”, “O Mistério de Candyman”, “Nightbreed”, “Rawhead Rex”, “Underworld” e “O Mestre das Ilusões”, ganhou tanta notoriedade com seu talentoso trabalho que quando um filme tem o seu nome envolvido na equipe de produção, é despertado um interesse especial nos fãs do gênero. Tanto que, numa jogada de marketing nitidamente oportunista para a divulgação do filme “A Praga” (The Plague, 2006), que tem Clive Barker apenas como produtor, perdido no meio de vários outros nomes, foi feita uma campanha publicitária com o nome do famoso escritor estando à frente do projeto.

Com direção do desconhecido Hal Masonberg e roteiro dele em parceria com Teal Minton (outro desconhecido), “A Praga” é um filme curto, com apenas 85 minutos de duração, e conta basicamente uma história apocalíptica, com o mundo ensandecido caminhando para a extinção da raça humana.
Certo dia, de forma aleatória, todas as crianças até os nove anos de idade repentinamente entram num estado de coma, gerando pânico entre os pais e confusão nos hospitais. Não encontrando explicações para o ocorrido nem formas de reverter o processo, o mundo fica perplexo diante de um fenômeno que faz com que todas as crianças nascidas nesse período misterioso permaneçam em estado de catatonia. O governo reage criando resoluções para um controle da natalidade, gerando com isso revoltas e tumultos na população. Até que repentinamente também, após longos dez anos de silêncio, todas as antigas crianças (e agora adolescentes) acordam de seus sonos profundos. Porém, seus olhares são sinistros e carregados de um ódio vingativo que os guia para atacar e matar violentamente todos os adultos.
David Russell (Arne MacPherson) e seu filho Eric (Jordan Dock, aos seis anos, e Chad Panting, aos dezesseis), estão entre as vítimas da fúria da inexplicável “praga” que assolou a humanidade. Seu irmão mais novo, Tom (James Van Der Beek, astro principal da série de TV “Dawson´s Creek”), está voltando para casa após cumprir pena na prisão por matar um homem numa briga de bar. Ele pede abrigo na casa de David, uma vez que está tentando se readaptar na sociedade e se reaproximar da magoada ex-esposa, a enfermeira Jean Raynor (Ivana Milicevic). Mas ele não imaginaria que a volta à liberdade traria a surpresa de ter que enfrentar uma legião de adolescentes enfurecidos prontos para aniquilar os adultos.
Quando despertam do sono e iniciam o massacre, Tom parte em busca de Jean no hospital. Lá, eles formam um grupo de sobreviventes que tenta combater a ameaça dos jovens assassinos. O grupo é ainda formado pelo cunhado Sam (Brad Hunt), o xerife Cal Stewart (John P. Connolly), sua esposa Nora (Dee Wallace-Stone, de “ET” e “Cujo”), o policial assistente Nathan (Bradley Sawatzky), e um jovem casal de namorados, Kip (Josh Close) e Claire (Brittany Scobie).

“A Praga” foi lançado em DVD no Brasil pela “Sony” em Dezembro de 2006, trazendo entre os materiais extras a opção de ver o filme com comentários do elenco e a apresentação de interessantes cenas excluídas e com diálogos adicionais.
Sempre apreciei filmes com temáticas apocalípticas, ou seja, a idéia de repentinamente o mundo tornar-se um caos exerce um fascínio mórbido justamente por imaginarmos como reagir numa situação dessas. Cidades vazias, desoladas, e com uma praga misteriosa transformando os jovens em assassinos que querem infringir dor e espalhar seu sangue pelo chão. De uma hora para outra, você precisa se adaptar ao horror instaurado em sua volta e se defender contra o ataque violento de pessoas que querem matá-lo sem uma razão lógica aparente. Você é obrigado a reagir, resgatando um instinto selvagem interior para tentar permanecer vivo num ambiente caótico. Imagine a atmosfera perturbadora que se forma ao seu redor se o mundo que você conhece e está acostumado a interagir transforma-se num inferno de morte e destruição.
“A Praga” é um filme dentro dessa temática, e que mesmo evidenciando várias falhas no roteiro e poucas explicações (principalmente na apresentação dos personagens como o padre e o casal de namorados), ainda consegue transmitir alguma sensação de desconforto com a idéia de um exército de jovens despertados de um estado catatônico, decididos a eliminar a humanidade do planeta, como um tipo de punição.
Apesar de faltar um pouco mais de ousadia aos realizadores em explorar os efeitos do caos resultante da praga, e por uma certa discrição nas cenas de mortes que poderiam ser mais intensas e sangrentas, além do oportunismo na exploração do nome de Clive Barker exclusivamente para chamar a atenção do filme, “A Praga” ainda assim é recomendável e vale a pena uma conferida sem compromisso.

Na noite passada eu sonhei que fui levado ao sono pelas mãos de crianças. Elas sussurraram no meu ouvido e as palavras familiares. O reino do céu está próximo e se alguém oferecer sua alma a uma dessas crianças, esse alguém libertará os que através do medo são vítimas da escravidão por toda vida.

“A Praga” (The Plague, Estados Unidos, 2006) # 431 – data: 08/04/07 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/04/07)