O Hospedeiro (The Host, Coréia do Sul, 2006)


Uma opinião que é quase unanimidade entre os apreciadores de cinema fantástico é a indicação do Oriente como a origem dos mais interessantes filmes do gênero atualmente. Sejam produções vindas do Japão, China, Hong Kong, Taiwan, Tailândia ou Coréia do Sul. Sejam histórias sobre fantasmas perturbados, maldições ou enredos com aquela atmosfera sinistra inquietante. Sejam roteiros de um cinema de horror mais extremo, repletos de ultra violência, sangue para todos os lados, bizarrices e outras atrocidades. E temos também filmes de monstros, similares (porém com orçamentos bem maiores) àquelas produções bagaceiras de criaturas mutantes geradas pelo efeito destrutivo da radiação sobre a natureza, tão consagradas principalmente na década de 1950 nos Estados Unidos. E é da Coréia do Sul que vem um ótimo filme dentro desse estilo, “O Hospedeiro” (The Host), que no original chama-se “Gwoemul”, e que foi exibido nos cinemas brasileiros.

Numa produção de 2006, direção de Bong Joon-ho e roteiro dele em parceria com Baek Chul-hyun e Ha Won-jun, o filme conta a história de uma família comum proprietária de uma lanchonete à beira do Rio Han. Formada pelo pai idoso Hie-bong (Byeon Hie-bong), e seus três filhos adultos, o preguiçoso Kang-du (Song Kang-ho), que ajuda a tomar conta do comércio e que tem uma filha pequena, Hyun-seo (Ko Ah-sung), além de Nam-ju (Bae Du-na), uma esportista habilidosa e arqueira campeã, e Nam-il (Park Hae-il), um jovem advogado desempregado. Os problemas começaram depois que um monstro asqueroso que vive nos esgotos nas proximidades do rio, decide sair das águas e atacar as pessoas que descansavam ao lado de seu leito. Uma criatura enorme mutante, gerada depois que um produto químico altamente tóxico foi despejado no rio alguns anos antes de forma criminosa, por um funcionário de uma base militar americana. O monstro mata várias pessoas e leva embora para seu esconderijo a filha de Kang-du. Decidido a salvá-la, ele e sua família partem em busca da garota, mas terão que enfrentar outros problemas após serem capturados pelo exército, que isolou todas as pessoas que entraram em contato com o monstro, alegando estarem infectados por um vírus mortal.

“O Hospedeiro” tem cerca de duas horas de duração, mas prende a atenção do espectador durante o tempo todo, acompanhando a trajetória tortuosa de uma família em busca de uma criança seqüestrada por um monstro, e que será devorada se não for resgatada rapidamente. Todas as cenas envolvendo a criatura mutante são bastante convincentes, num ótimo trabalho da equipe de efeitos especiais e computação gráfica. Na história interessante, temos de tudo, ação, horror, drama, humor e crítica política. O horror é representado pelos ataques do monstro; temos o drama de uma família que se une na tragédia em busca de um objetivo comum; os elementos de humor são associados principalmente à figura de Kang-du, um homem atrapalhado e relapso, mas que se transforma num herói corajoso para salvar a filha; e temos também uma boa dose de crítica contra a política intervencionista sempre equivocada dos Estados Unidos em outros países. Ficam claro os efeitos nocivos do imperialismo americano, primeiro pela responsabilidade da origem do grotesco ser mutante, passando pela paranóia em definir o monstro como o “hospedeiro” de um vírus perigoso, espalhando o medo e desespero na população, e culminando com um ataque sem escrúpulos utilizando um produto tóxico chamado “agente amarelo” para tentar deter a criatura, mesmo que signifique também a destruição da vida no rio.

“O Hospedeiro” (The Host / Gwoemul, Coréia do Sul, 2006) # 428 – data: 25/03/07 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 26/03/07)