A Névoa (2005)


John Carpenter é um daqueles cineastas cultuados por sua filmografia de horror, que inclui preciosidades como “Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978) e “O Enigma do Outro Mundo” (The Thing, 1982), ao lado de outros nomes igualmente conhecidos como George Romero, Tobe Hooper, David Cronenberg, Sam Raimi, Wes Craven, John Landis, Joe Dante, Dan O´Bannon, Peter Jackson, etc. Em 1980 ele dirigiu “A Bruma Assassina” (The Fog), uma história de horror sugerido sem a exibição de sangue, com fantasmas vingativos que atacam uma cidade litorânea, escondidos num sinistro nevoeiro. O filme traz no elenco Jamie Lee Curtis (de “Halloween”) e Janet Leigh (de “Psicose”), curiosamente filha e mãe na vida real, e foi lançado em DVD no Brasil pela “Universal” e “Studio Canal” (sem materiais extras).
A onda de refilmagens parece não ter fim, numa constatação óbvia da falta de criatividade dos roteiristas, que preferem não trabalhar em histórias novas e mais atraentes, optando apenas em reciclar idéias antigas. É fato que existem casos de refilmagens tão boas quanto os originais, mas na maioria das vezes os resultados são inferiores, como é o exemplo de “A Névoa” (The Fog, 2005), de Rupert Wainwright (de “Stigmata”), e baseado em “A Bruma Assassina”. Mesmo com a presença de Carpenter na equipe de produção, não foi possível impedir a realização de um filme infinitamente abaixo do original, que por sua vez, também era apenas um bom filme de horror com fantasmas vingativos, e não um clássico moderno ou algo parecido.

A história básica é ambientada numa ilha, onde os moradores são atormentados pelos fantasmas de um grupo de leprosos que foram enganados e brutalmente assassinados cem anos antes, queimados e afundados em seu navio antes de desembarcarem em terra firme, num acordo desrespeitado que garantia um pedaço de chão para estabelecerem uma comunidade e viverem em paz. Em busca de vingança, os fantasmas reaparecem carregados de ódio e ocultos numa espessa e misteriosa neblina que envolve toda a ilha, causando pânico e mortes violentas entre os residentes.

Como a maioria das refilmagens, “A Névoa” exagera nas doses de liberdade de criação, se afastando do roteiro original de “A Bruma Assassina”. Em alguns casos, isso poderia até funcionar, mas aqui o resultado somente piorou com o roteirista Cooper Layne perdendo tempo demais em “flashbacks” cansativos explicando o passado (no original isso é apenas sugerido, instigando a imaginação do espectador), além de desconsiderar uma seqüência inteira e bastante tensa do filme de 1980 envolvendo uma locutora de rádio num farol invadido pelos fantasmas vingativos, e um desfecho descartável e muito inferior. O mais estranho é que John Carpenter permitiu essas mudanças que apenas depreciaram a refilmagem. Por outro lado, a disponibilidade de efeitos especiais mais modernos possibilitou uma nova releitura dos ataques da névoa sobrenatural e na concepção dos fantasmas, permitindo uma avaliação comparativa pelo público. Após fazer essa avaliação, ainda prefiro os fantasmas do primeiro filme, mais grotescos, imponentes e ameaçadores, constituindo-se num destaque nesse filme de Carpenter, claramente mais voltado para um horror sugerido.
E é impossível deixar de comentar a incrível falta de competência dos responsáveis pela escolha do título nacional, pois nesse caso específico o trabalho seria muito fácil: bastava chamar a refilmagem com o mesmo nome adotado para o original na época, ou seja “A Bruma Assassina”. Porém, para confundir ainda mais os colecionadores e dificultar um trabalho de catalogação, o “remake” ganhou um novo e diferente nome, que apesar de ser coerente (“A Névoa”), não é a decisão mais acertada. O mesmo aconteceu com outros exemplos como “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 1978) e “Madrugada dos Mortos” (2004), “Quadrilha de Sádicos” (The Hills Have Eyes, 1977) e “Viagem Maldita” (2006), e “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973) e “O Sacrifício” (2006, sendo que nesse último caso, o nome escolhido é até um grande “spoiler”).
“A Névoa” seria inicialmente exibido nos cinemas brasileiros (posters de divulgação estavam expostos e um trailer chegou a circular pelas salas de exibição), porém a idéia foi cancelada e o filme foi lançado diretamente no mercado de vídeo pela “Columbia Pictures”. O DVD traz como materiais extras os comentários do filme pelo diretor Rupert Wainwright, cenas excluídas, trailers de outros filmes, além de três documentários curtos (de cerca de 10 minutos cada), com entrevistas da equipe de produção revelando detalhes de bastidores, tudo devidamente legendado em português.

“A Névoa” (The Fog, Estados Unidos / Canadá, 2005) # 414 – data: 20/01/07 – avaliação: 3,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 22/01/07)