Império Submarino (1936)


Para concorrer com a audiência do público por causa do seriado “Flash Gordon”, produzido pela “Universal”, o estúdio “Republic” logo tratou de fazer o seu próprio seriado com características similares. Daí nasceu “Império Submarino” (Undersea Kingdom, 1936), uma aventura de ficção científica em 12 capítulos semanais em preto e branco. Ambos os seriados são parecidos entre si, trazendo elementos comuns em suas histórias, alterando a ambientação do espaço sideral de “Flash Gordon” para o fundo do mar, em torno da lendária civilização perdida de “Atlântida”.

Em “Império Submarino”, a ocorrência misteriosa de terremotos nos Estados Unidos está chamando a atenção do cientista e inventor Prof. Norton (C. Montague Shaw), que está sugerindo que a origem vem do fundo do mar. Ele reúne uma equipe para uma expedição viajando num submarino atômico construído com seu projeto. O grupo de exploradores é formado ainda pelo atleta e oficial da Marinha Ray Corrigan (Crash Corrigan) e por uma jornalista à procura de uma boa reportagem, Diana Compton (Lois Wilde). Completa a equipe o pequeno Billy (Lee Van Atta), filho do Prof. Norton, e que entrou no submarino escondido.
Uma vez submersos, eles são atraídos por um raio invisível e chegam ao continente perdido de Atlântida, que está protegido do oceano por um teto formado por um misterioso elemento químico. Lá, eles navegam por um mar interior e desembarcam numa terra em guerra, dividida entre dois grupos opositores: os “capas brancas”, homens liderados pelo alto sacerdote Sharad (William Farnum), e os “capas negras”, que vivem numa torre metálica na base de uma montanha, governados pelo ditador Unga Khan (Monte Blue), que deseja subir ao mundo superior e conquistar os povos da superfície à força, destruindo-os se necessário.
O grupo de viajantes, liderado pelo herói Crash Corrigan, passa a enfrentar uma série de aventuras, participando ativamente do conflito em Atlântida e tentando evitar que o tirano Unga Khan possa chegar à superfície do planeta e dominar as cidades com destruição em massa, uma vez que ele está amparado por uma tecnologia bélica que inclui robôs armados e veículos especiais de guerra, e ainda conta com a ajuda forçada do Prof. Norton (pois sua mente foi manipulada numa máquina de transformação), para criar foguetes capazes de transportar sua torre até o mundo superior.

O seriado é até divertido desde que sejam observados alguns detalhes:
Primeiro, a história é exageradamente ingênua e previsível, cheia de clichês, onde temos os “bons” e “maus” muito bem definidos. Não falta o mocinho (Crah Corrigan), o vilão (Unga Khan), o pacificador (Sharad), o cientista (Prof. Norton), a mocinha (a repórter Diana, a única mulher de todo o elenco, pois em Atlântida estranhamente não apareceu nenhuma outra), e o menino corajoso (Billy, para representar a audiência infanto-juvenil). Temos as tão tradicionais cenas de lutas corporais, perseguições a cavalo e confrontos de espadas.
Segundo, as situações absurdas e inverossímeis são muitas e acontecem durante todo o seriado, com os roteiristas apenas interessados em facilitar seu próprio trabalho, não gastando energia em explicações lógicas ou mais próximas da realidade.
Terceiro, os efeitos especiais são bastante toscos. Naquela época poderiam ser até impressionantes, mas é curioso notarmos como hoje são hilários. Porém, valem por representarem um período onde os recursos ainda eram muito limitados.
Relevando tudo isso, e ainda procurando valorizar alguns pontos positivos de um cinema fantástico produzido há 70 anos atrás, “Império Submarino” pode garantir algum entretenimento. Temos os “modernos” (para a época) equipamentos apresentados, como o submarino nuclear, o carro blindado, os robôs (chamados de “volkites” e que acabam sendo engraçados por parecem homens de lata), o avião bala, as armas atômicas, a placa refletora (uma tela precursora da televisão), a torre metálica (uma estrutura voadora similar a um foguete, repleta de equipamentos científicos que poderiam conquistar os povos da superfície), o propulsor lançador de bombas, a máquina transformadora de mentes, o campo magnético que serve como um escudo protetor da torre, os painéis e controles remotos repletos de alavancas, botões, instrumentos e luzes piscando, etc.
Curiosamente, o ator Lon Chaney Jr., que aqui interpretou o Capitão Hakur, um oficial da cavalaria dos “capas negras”, pouco tempo depois ficaria famoso pelo papel da fera no clássico “O Lobisomem” (The Wolf Man, 41), da “Universal”, além de ser muito lembrado pelos fãs como o filho do lendário ator do cinema mudo de horror Lon Chaney, e por sua participação em diversos outros filmes do gênero fantástico e western.

A “Works Editora”, especializada na distribuição de filmes antigos de horror em DVD no Brasil, lançou o seriado “O Império Submarino” em 12 capítulos divididos em 2 discos, num total de quase quatro horas de filme. No primeiro disco temos os capítulos 1 a 5: “No Fundo do Mar” (Beneath the Ocean Floor); “A Cidade Submarina” (The Undersea City); “Arena da Morte” (Arena of Death); “A Vingança dos Volkites” (Revenge of the Volkites); “Prisioneiros de Atlântida” (Prisoners of Atlantis). Já o segundo disco traz os episódios 6 a 12: “O Carro Blindado Ataca” (The Juggernaut Strikes); “A Armadilha Submarina” (The Submarine Trap); “Dentro da Torre Metálica” (Into the Metal Tower); “Morte no Ar” (Death in the Air); “Atlântida Destruída” (Atlantis Destroyed); “Morte Flamejante” (Flaming Death) e “Subida ao Mundo Superior” (Ascent to the Upperworld). Sendo que o primeiro capítulo tem 30 minutos, e todos os demais variam entre 16 e 20 minutos cada.

“O Império Submarino” (Undersea Kingdom, 1936) # 412 – data: 10/12/06 – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 11/12/06)

“O Império Submarino” (Undersea Kingdom, Estados Unidos, 1936). Republic Pictures. Preto e Branco. Direção: B. Reeves Eason e Joseph Kane. Roteiro: Oliver Drake, Maurice Geraghty, John Rathmell. Produção: Nat Levine. Elenco: Ray Corrigan, Lois Wilde, Monte Blue, William Farnum, Booth Howard, Raymond Hatton, C. Montague Shaw, Lee Van Atta, Smiley Burnette, Lon Chaney Jr.

Hellraiser - O Retorno dos Mortos (2005)


“Não pense nem por um segundo que você não está em perigo!” – Pinhead

Em Outubro de 2005, a “Europa Filmes” lançou em DVD no Brasil o sétimo filme da franquia “Hellraiser”, com o subtítulo de “O Retorno dos Mortos” (“Deader” no original, que significa algo como “Zumbi”). Esse episódio tem direção de Rick Bota (que também fez as partes 6 e 8), o roteiro é de Neal Marshall Stevens e Tim Day, e traz novamente Doug Bradley no papel que o imortalizou na galeria dos monstros modernos do Horror, o cenobita “Pinhead”, além da bela Kari Wuhrer (de “Malditas Aranhas!”), como uma jornalista investigativa que se infiltra num submundo perigoso, cercado de eventos sobrenaturais.

Ela é Amy Klein, jornalista bem sucedida na Inglaterra, conhecida por trabalhar em matérias onde enfrenta situações de risco como uma investigação com um grupo de jovens viciados em crack. Seu chefe Charles (Simon Kunz), convida-a a viajar para Bucareste, a capital da Romênia, para investigar a origem de uma fita de vídeo VHS enviada à redação do jornal por Marla (Georgina Rylance), que mostra cenas de uma seita de jovens liderada por Winter (Paul Rhys). Eles praticam o suicídio e retornam misteriosamente da morte. A repórter aceita o desafio e entra em contato com um universo de horror que lhe traz lembranças de um passado traumatizante na infância, e descobre segredos que abrem portas para uma dimensão de dor, de onde pode não retornar mais.

Entre as várias e enormes franquias do cinema de horror (“Halloween”, “Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo”, “Grito de Horror”, “Brinquedo Assassino”, etc), a que mais aprecio é “Hellraiser”, e os motivos são basicamente por causa do escritor Clive Barker (autor da história original e criador dos personagens), das fortes cenas de violência, com torturas sangrentas com ganchos e correntes rasgando a carne das vítimas, e pelos cenobitas liderados por Pinhead, seres infernais que habitam uma dimensão paralela que venera a dor sem limites e o sofrimento eterno. E os quatro primeiros filmes da série formam um ciclo interessante que procura amarrar toda a história, revelando detalhes desde a origem da misteriosa caixa que permite entrar nessa dimensão caótica até quem são realmente os cenobitas.
Em “O Retorno dos Mortos”, parece que não existe mais potencial a ser explorado nesse universo ficcional, e os executivos da indústria de cinema deixam evidente a intenção em insistir na franquia para faturar com a marca já consagrada. Esse sétimo episódio é confuso, numa mistura exagerada de ilusão e realidade e os interesses maiores ficam resumidos quase que exclusivamente à presença maligna e sempre imponente de Pinhead, que ainda assim aparece pouco em cena (sua primeira aparição só acontece com vinte e cinco minutos de projeção), e pelas cenas sangrentas, que são uma característica da série e que aqui continuam, apesar de menor quantidade quando comparado aos filmes 2 e 3, por exemplo. Temos cabeça estourada à bala, corpo despedaçado por correntes, facadas e sangue espalhado para todos os lados. Fora isso, é apenas outro filme convencional em meio a tantos que são produzidos anualmente, do qual esperava-se mais por se tratar de um episódio de “Hellraiser”. E é justamente nesse ponto a falha maior do filme, pois ele originalmente não foi escrito para fazer parte da mitologia da série, sendo depois adaptado pelos roteiristas através de uma relação de parentesco entre o líder da seita Winter e o fabricante de brinquedos que construiu a misteriosa caixa que permite abrir as portas do inferno.

“Hellraiser” (1987) é o primeiro filme de uma extensa franquia com mais sete episódios: “Hellbound – Hellraiser II” (88), de Tony Randel; “Hellraiser III – Hell on Earth” (92), de Anthony Hickox; “Hellraiser IV – Bloodline” (96), de Alan Smithee (Kevin Yagher) e Joe Chappelle (não creditado); “Hellraiser V – Inferno” (2000), de Scott Derrickson; e os últimos três com direção de Rick Bota, “Hellraiser VI – Hellseeker” (2002), “Hellraiser VII – Deader” e “Hellraiser VIII – Hellworld” (ambos de 2005). Todos os filmes foram estrelados por Doug Bradley como o líder dos cenobitas “Pinhead”.

“Hellraiser: O Retorno dos Mortos” (Hellraiser: Deader, Estados Unidos / Romênia, 2005) # 411 – data: 02/12/06 – avaliação: 5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/12/06)