A Volta dos Mortos-Vivos: Necrópolis (2005)


Em 1985, Dan O´Bannon dirigiu “A Volta dos Mortos-Vivos” (The Return of the Living Dead), um divertido filme de zumbis com elementos de humor negro, revelando a “rainha do grito” Linnea Quigley (a punk nua no cemitério), tornando-se uma referência da produção de horror daquela década e que transformou-se numa obra cultuada pelos fãs do gênero. Inevitavelmente, gerou uma franquia com mais quatro filmes que não mantiveram o mesmo interesse do original. Vinte anos depois, o cineasta Ellory Elkayem (da divertida paródia “Malditas Aranhas!”), foi o responsável por dois filmes rodados de uma só vez, as partes 4 (com o subtítulo “Necropolis”) e 5 (“Rave From the Grave”), ambas lançadas em DVD no Brasil pela “FlashStar”.

Em “Necropolis”, um grupo de estudantes descobre que uma poderosa empresa química de tecnologia está fazendo experiências com cobaias humanas e um produto químico capaz de reanimar cadáveres. Quando um deles sofre um acidente de moto e é transferido ilegalmente do hospital para a empresa, eles decidem resgatá-lo, invadindo o centro de pesquisas e descobrindo a existência de uma legião de zumbis aprisionados. Uma falha no sistema de segurança permite que os mortos-vivos saiam de suas celas, instaurando o caos e obrigando os jovens a lutarem desesperadamente por suas vidas.

Se eu tivesse que escolher uma única palavra para definir o que é “A Volta dos Mortos-Vivos: Necrópolis” essa palavra seria “lixo”. Porém, não um lixo divertido, e sim algo descartável. Os problemas principais do filme são o péssimo roteiro, com uma imensidão de furos grotescos que desafiam a inteligência do espectador, e o elenco completamente inexpressivo, formado por atores desconhecidos e irrelevantes como Aimee-Lynn Chadwick, Cory Hardrict, John Keefe, Jana Kramer, Diana Munteanu e Alexandru Geoana. Até o experiente Peter Coyote está totalmente deslocado, fazendo o papel de um vilão cientista “louco” responsável pelas experiências bizarras com zumbis, e que quando foi perguntado sobre o motivo dessas experiências, ele apenas respondeu que era para dominar o mundo, num clichê tão ridículo que é inacreditável como o roteirista (que não vale a pena nem citar o nome) demonstrou preguiça em tentar desenvolver uma história com um mínimo de coerência.
Eu teria uma infinidade de outros exemplos para serem citados atestando a péssima qualidade do roteiro, que faria com que essa breve resenha não tivesse mais fim, mas vale registrar alguma coisa para compensar meu esforço em ver o filme. Os personagens são aqueles tipos óbvios que sempre marcam presença em filmes tranqueiras, onde temos o mocinho herói, seu melhor amigo que irá voltar-se contra ele por causa da perda da namorada, o especialista em computadores, a vadia gostosa e exibicionista, o metido a valentão que gosta de resolver as coisas na porrada, e outros que não despertam nenhuma empatia incitando-nos apenas a torcer por suas mortes dolorosas. É impressionante como o grupo de estudantes consegue facilmente invadir uma poderosa empresa de pesquisas e os guardas de segurança somente aparecerem quando é para oferecerem seus cérebros aos zumbis. É também uma grande piada testemunharmos a transformação de um dos jovens em morto-vivo e em vez dele balbuciar apenas a palavra “cérebro” como todos os outros zumbis idiotas, ele tem a capacidade diferenciada de dialogar tranqüilamente quando quer e de forma ameaçadora em tom de vingança quando lhe convém contra o mocinho da história, apenas para facilitar o trabalho acomodado do roteirista na criação de uma cena de confronto entre eles.

Os efeitos especiais nas cenas de mortes (com os tradicionais disparos de projéteis na cabeça) e a maquiagem dos zumbis comedores de cérebros são razoáveis, mas isso não garante grandes méritos uma vez que é apenas mais um trabalho trivial, similar ao que já foi visto em inúmeros outros filmes. Ou seja, “Necrópolis” não acrescenta nada para a franquia “A Volta dos Mortos-Vivos” (que nem deveria existir, ficando apenas no filme original), e nem para o subgênero “zumbis”. É um filme dispensável e que só contribui para criar uma imagem pejorativa do cinema de horror, que ao contrário disso, é um gênero artístico fascinante e que merece mais respeito. Ainda bem que está surgindo uma nova safra de ótimos cineastas como o inglês Neil Marshall (“Cães de Caça” / “Abismo do Medo”), o francês Alexandre Aja (“Alta Tensão” / “Viagem Maldita”) e o americano Eli Roth (“Cabana do Inferno” / “O Albergue”), entre outros, para honrar um pouco os fãs com filmes mais violentos e perturbadores.

“A Volta dos Mortos-Vivos: Necrópolis” (Return of the Living Dead: Necropolis, Estados Unidos, 2005) # 401 – data: 12/10/06 – avaliação: 2 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 14/10/06)