O Sacrifício (2006)


Uma tendência notória na indústria de cinema é a produção de refilmagens. E o clássico “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973), dirigido por Robin Hardy a partir do roteiro de Anthony Shaffer, e com Christopher Lee, Edward Woodward e Ingrid Pitt, não escapou dessa tendência e serviu de inspiração para um filme de 2006, distribuído no Brasil pela “California Filmes”, recebendo o péssimo nome “O Sacrifício” (o título já é uma espécie de “spoiler”), e que estreou nos cinemas em 27/10/06, com direção e roteiro de Neil LaBute, e com Nicolas Cage e Ellen Burstyn.

Um policial, Edward Malus (Nicolas Cage), recebe uma carta da noiva Willow (a australiana Kate Beahan, que esteve numa ponta em “Dominação”), que o havia abandonado sem explicações anos antes, solicitando sua ajuda para encontrar a filha desaparecida, a pequena Rowan (Erika Shaye-Gair). Ele decide atender o chamado e viaja de hidro avião para o local onde ela vive, uma ilha particular isolada na costa dos Estados Unidos, um lugar misterioso que é dominado por uma sociedade matriarcal que pratica estranhos cultos religiosos pagãos, e que tem a liderança da poderosa Lady Summersisle (Ellen Burstyn, de “O Exorcista”). Lá chegando, o oficial da polícia encontra muita dificuldade na investigação à procura da menina, enfrentando a falta de cooperação dos moradores e descobrindo perigosos mistérios que envolvem a ilha.

Para quem não conhece o original “O Homem de Palha”, assistir a refilmagem “O Sacrifício” até pode garantir alguns momentos de diversão, uma vez que o filme possui pontos ao seu favor que despertam interesse, principalmente o ótimo elenco liderado por Nicolas Cage, um ator consagrado, e por Ellen Burstyn, atriz veterana igualmente renomada, além da presença da beleza escultural de Leelee Sobieski (de “Perseguição” e “A Casa de Vidro”). Entretanto, se fizermos uma comparação com o filme de 1973, a refilmagem acaba sendo inevitavelmente inferior, apesar de tentar manter-se fiel em algumas seqüências.
O diretor e roteirista Neil LaBute optou por alterações significativas e uma liberdade de criação excessiva como a decisão de incluir um prólogo e epílogo desnecessários, a presença de abelhas como parte importante da trama, escolher uma mulher como líder dos aldeões (no original, o papel ficou para Christopher Lee, numa interpretação magistral como de costume), criar um grau de parentesco entre o policial e a mulher que o chamou para investigar o sumiço da filha, e principalmente contar uma história muito menos ousada que o original sob o ponto de vista do sexo e rituais pagãos. O filme de Robin Hardy, produzido 33 anos antes, se destacou justamente por explorar questões sexuais sem falsos moralismos, mostrando de forma despudorada casais se relacionando sexualmente no meio das ruas à noite, e enfatizando os rituais obscuros com mulheres dançando nuas, além dos ensinamentos para as crianças nas escolas, evidenciando a importância do pênis como símbolo de fertilidade. E um detalhe importante é que quem já conhece o original, conseqüentemente sabe por antecipação o resultado da investigação do policial, a conspiração envolvendo a garota desaparecida e a revelação do mistério sobre os habitantes da ilha e suas crenças exóticas, e isso certamente amenizará boa parte do impacto do memorável desfecho com o “Homem de Palha”.
Curiosamente, o diretor LaBute, numa atitude elogiável, homenageou o músico da banda de punk rock “Ramones”, Johnny Ramone, que faleceu vítima de câncer, colocando uma dedicatória nos créditos finais.

“O Sacrifício” (The Wicker Man, Estados Unidos / Alemanha, 2006) # 406 – data: 29/10/06 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/10/06)