Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006)


Para contribuir ainda mais com a imensa quantidade de refilmagens que estão sendo lançadas todos os anos, ou seja, filmes inspirados em outros mais antigos, estreou nos cinemas brasileiros em 28/07/06 “Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, 2006), dirigido e escrito pelo francês Alexandre Aja (de “Alta Tensão” / “Haute Tension”), uma refilmagem do violento “Quadrilha de Sádicos” (77), escrito e dirigido por Wes Craven.

Na história, uma família em férias, viajando com destino a San Diego, na California, atravessando o deserto do Novo México num trailer puxado por uma pick-up, sofre um acidente quando todos os pneus são furados de forma criminosa numa armadilha para turistas, depois que eles entraram numa estrada secundária, orientados pelo velho atendente do único posto de gasolina em muitos quilômetros (Tom Bower). A família Carter é formada pelo pai Big Bobby (Ted Levine), um detetive aposentado, a mãe Ethel (Kathleen Quinlan), e três filhos, os adolescentes Brenda (Emilie de Ravin) e Bobby (Dan Byrd), além de Lynn (Vinessa Shaw), que por sua vez é casada com Doug Bukowski (Aaron Stanford), dono de uma loja de celulares, e tem uma filha ainda bebê, Catherine (a pequenina Maisie Camilleri Preziosi).
Uma vez perdidos no meio de um imenso deserto, eles não imaginavam que o pior problema não seria como voltar para a civilização, mas sim como enfrentar a terrível experiência de serem brutalmente ameaçados por um grotesco grupo de humanos mutantes e deformados, vítimas mentalmente perturbadas que sofreram os efeitos nocivos de testes nucleares que o governo americano realizou na área entre os anos de 1945 e 1962, e que tornaram-se canibais. Eles negaram abandonar sua casa na época e tiveram que se abrigar das bombas atômicas numa mina subterrânea, vivendo isolados escondidos nas colinas, apenas espreitando a oportunidade de se vingarem da humanidade, atacando os viajantes que atravessassem seu território proibido. Entre essas criaturas horrendas e bizarras, destaca-se o gigantesco e ultra violento Pluto (Michael Bailey Smith), que no original foi interpretado por Michael Berryman. Os outros mutantes são Lizard (Robert Joy), Goggle (Ezra Buzzington), Papa Jupiter (Billy Drago), Big Brain (Desmond Askew), com seu imenso cérebro descomunal, e Big Mama (Ivana Turchetto), além da jovem Ruby (Laura Ortiz), que tem um papel importante no destino específico de uma das personagens.

“Viagem Maldita” é mais um dos bons filmes de horror que entraram em cartaz nas telonas brasileiras nesse ano de 2006, aliás, um ano bem interessante para o cinema fantástico, somando-se ao australiano “Wolf Creek – Viagem ao Inferno” (com temática similar), ao tailandês “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado” (Shutter), e aos também americanos “O Albergue” (Hostel), de Eli Roth, a refilmagem “A Profecia” (The Omen), e a bagaceira super divertida “Seres Rastejantes” (Slither), esse numa co-produção com o Canadá. Sem contar ainda “Doom – A Porta do Inferno” e “Premonição 3” (Final Destination 3), que também são bem divertidos, dentro de suas limitações e temáticas clichês.
Wes Craven é um nome importante dentro do gênero horror, principalmente pelos violentos “Aniversário Macabro” (Last House on the Left, 1972), e o já citado “Quadrilha de Sádicos”, além de ser o criador das franquias “A Hora do Pesadelo” nos anos 80 e “Pânico” na década de 90. Mas, a maioria de seus outros trabalhos e principalmente os últimos, “Vôo Noturno” (Red Eye) e “Amaldiçoados” (Cursed), que são péssimos exemplos de cinema de suspense e horror, fizeram definitivamente seus admiradores desconfiarem de qualquer filme que tenha seu nome nos créditos. Por isso mesmo, não deixa de ser uma surpresa que a refilmagem de “The Hills Have Eyes”, com Craven na produção, seja um filme que merece destaque (com grandes méritos para o cineasta Alexandre Aja), principalmente pela ousadia na violência das cenas de mortes, todas bastante gráficas e perturbadoras, não poupando dor e sofrimento para as vítimas (tanto os humanos normais como os mutantes deformados): temos desde um corpo queimado vivo, passando por cabeça explodida à bala, e machadada no crânio.
O prólogo movimentado e a cena do primeiro ataque dos mutantes contra o trailer da família de viajantes são carregados de tensão e brutalidade e o roteiro foi bastante ousado no destino que reservou para alguns dos personagens. E apesar de um certo exagero na forma forçada como os sobreviventes lutaram por suas vidas e combateram os canibais insanos (a conduta do herói parece excessivamente fantasiosa), o resultado final até surpreendeu pela intensidade de violência em todos os confrontos, perseguições e fugas desesperadas, e mortes sangrentas.

Entre as curiosidades, vale citar o fato do produtor Peter Locke e o diretor Wes Craven, responsáveis pelo original dos anos 70, serem os produtores da refilmagem de quase 30 anos depois. As filmagens ocorreram no Marrocos, um país africano com altas temperaturas. O técnico em efeitos especiais Greg Nicotero participa do filme no papel do mutante deformado Cyst. As fotos reais de crianças mutantes apresentadas em meio aos créditos iniciais do filme não são provenientes do efeito nocivo de testes com a energia nuclear, mas sim por causa do temível agente laranja, um produto químico altamente tóxico utilizado como arma letal na Guerra do Vietnã, e que deixou seqüelas graves nas vítimas daquele conflito insano e seus descendentes.

A refilmagem ganhou uma sequência inferior em 2007, que recebeu o nome por aqui de “O Retorno dos Malditos”, e o filme original de 1977 recebeu uma continuação bem inferior em 1985, também produzida por Peter Locke e dirigida por Wes Craven.

A viagem pode até ser maldita, mas maldita mesmo é a incrível incompetência dos responsáveis pela escolha do título nacional dessa refilmagem, pois se eles tivessem pesquisado apenas um pouco, descobririam que seria muito mais coerente (e ajudaria imensamente um trabalho de catalogação dos filmes de horror que chegam ao Brasil) se a refilmagem recebesse o mesmo nome do original de 1977, “Quadrilha de Sádicos”, que se não é a tradução literal de “The Hills Have Eyes” (“As Colinas Possuem Olhos”), pelo menos é um bom título também. Agora, escolher “Viagem Maldita” não poderia ser mais oportunista, comum e trivial, pois é um nome óbvio demais, comercial demais, e sem criatividade.

“Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, Estados Unidos, 2006) # 393 – data: 29/07/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/07/06)