O Aniversário do Demônio (1993)


É melhor escrever merda do que pôr a mão nela

Essa frase, escrita na parede do quarto de um péssimo escritor de histórias pornográficas, é provavelmente a única coisa que presta no filme “O Aniversário do Demônio” (Little Devils: The Birth), produção canadense de 1993, dirigida por George Pavlou, de “Monster – A Ressurreição do Mal” (Rawhead Rex, 89). Digo isso porque a frase, que no filme tem a intenção de zombar com a qualidade sofrível da obra literária de um escritor de quinta categoria, reflete exatamente o que é o roteiro de Elliott Stein: uma merda de tamanho descomunal, e que sou obrigado a concordar que é muito melhor escrever do que pôr a mão.
Brincadeiras à parte, “O Aniversário do Demônio”, que tem um título nacional mal escolhido, sendo melhor uma tradução literal do original (“Pequenos Demônios: O Nascimento”), é um filme assumidamente trash ao extremo, muito ruim em todos os sentidos, desde história ridícula cheia de clichês e crateras no roteiro com piadas sem graça, passando pelos atores completamente inexpressivos (salvando-se apenas a atriz Nancy Valen, não pela atuação e sim apenas por sua beleza notável), e culminando com efeitos especiais grotescos e extremamente toscos. Mas, o problema maior é que o filme não diverte, é uma bomba intragável, ao contrário de outras bagaceiras que conseguem divertir justificando a existência de uma legião de apreciadores desse estilo de cinema.
Apesar da intenção clara dos responsáveis pelo projeto em fazer um filme ruim e que tenta parodiar o próprio gênero, o resultado final não conseguiu agradar, nem como comédia, nem como horror, nem como trash, nem como filme “B”, nem como porra nenhuma...

A história, completamente desprovida de lógica, mostra um jovem cientista nerd, Lionel Gray (Wayne McNamara), envolvido numa experiência macabra onde ele fazia esculturas de pequenos demônios, a partir da lama gosmenta retirada de um fosso que se encontrava numa cripta em um cemitério isolado. Descobrindo que havia uma inteligência maligna vivendo no fosso, ele é mentalmente manipulado para dar forma física a essa entidade, criando pequenas criaturas diabólicas (aliás, bonecos toscos de tão mal feitos), que gostavam de se armar para atacar as pessoas, utilizando desde maçaricos incineradores e arremessadores de dardos mortais, até bombas pulverizadoras de ácido corrosivo.
Para tentar salvar o planeta dos monstrinhos, surge o escritor Ed Reid (Marc Price), vizinho de quarto de Lionel na pensão onde ambos moram, de propriedade da lunática Sra. Clara Madison (Stella Stevens), uma mulher pervertida sexualmente e que é tarada pela limpeza do carpete da pensão. Para ajudar o péssimo escritor no combate aos diabinhos, temos a bela Lynn (Nancy Valen), que obviamente vai se apaixonar fazendo com Ed o par romântico e casal de heróis, além de um médico do tipo “amigo de todos”, o Dr. Clapton (Russ Tamblyn), que tem o hábito de servir de psiquiatra nas horas de folga para um grupo bizarro de malucos que vivem nas ruas (sendo que um deles é interpretado pelo próprio roteirista Elliott Stein).
A partir daí, temos os pequenos demônios massacrando algumas pessoas totalmente dispensáveis para a humanidade, utilizando suas armas exóticas, e o confronto entre eles e os heróis para evitar que o mundo esteja a um passo do verdadeiro inferno (como diz uma tagline na contra capa do DVD), sendo que nós, que estamos testemunhando essa história, estamos a um passo de jogar o filme no lixo e mandar seus realizadores para o inferno.

Não vale a pena gastar muita energia para comentar ainda mais essa tralha, mas não consigo deixar de citar algumas coisas: em nenhum momento aparece algum policial para investigar as várias mortes violentas; a arma utilizada para os heróis destruírem os demônios é um refrigerante, que derrete as criaturas (não dá nem para rir dessa solução tão ridícula); em determinado momento, o médico Dr. Clapton está precisando de um medicamento que está em seu consultório para ajudar a curar o cientista nerd, e pede para os demônios trazerem o remédio, mostrando para eles o nome num bilhete (para o roteirista os diabinhos sabem ler); em outro momento, Lynn e Ed estão presos no apartamento de Lionel, vigiados por alguns monstrinhos, e a moça faz um comentário sobre a situação surreal que enfrentavam, “Isto está parecendo ficção científica”, e o escritor responde, “Na verdade, o estilo certo é terror”. Ainda reproduzindo frases do roteiro, não posso deixar de citar uma dita pelo Dr. Clapton quando atacava os demônios com o refrigerante: “Isso mata o inimigo... e refresca quem o usa”. Deveria ser engraçado, mas não funcionou. E para finalizar, temos um desfecho em meios aos letreiros que é ridículo demais e prefiro nem comentar.

“O Aniversário do Demônio” foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, sem materiais extras e com imagens em “full screen”, sendo um dos piores filmes de seu catálogo, juntamente com tranqueiras como “Cemitério Macabro” (92), “Pelotão Vampiro” (91), “Invasão Mortal” (95) e “Werewolf – A Noite do Lobo” (96). Ainda bem que para compensar, a distribuidora lançou também diversos outros filmes indispensáveis como “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (63), “Drácula – O Príncipe das Trevas” (66), “O Homem de Palha” (73), “Suspiria” (77), “Despertar dos Mortos” (78), “Zombie – A Volta dos Mortos” (79), entre vários outros.

“O Aniversário do Demônio” (Little Devils: The Birth, Canadá, 1993) # 392 – data: 22/07/06 – avaliação: 2 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/07/06)