Vôo Noturno (Red Eye, 2005)


O diretor Wes Craven já foi um cineasta que despertava a admiração dos fãs do cinema fantástico, principalmente por filmes como “Aniversário Macabro” (72) e “Quadrilha de Sádicos” (77), além de criar a franquia de sucesso “A Hora do Pesadelo” (84), apresentando Freddy Krueger como um dos mais populares psicopatas do cinema moderno, e a série “Pânico” (96), impulsionando uma onda de filmes de horror adolescente com a temática de psicopata mascarado. Mas, atualmente ele é um exemplo de uma completa e total decepção, um diretor sem inspiração e com a imagem associada a filmes ruins e descartáveis como “Amaldiçoados” (Cursed), que chegou ao Brasil em 15/07/05, e agora com “Vôo Noturno” (Red Eye), que entrou em cartaz em nossos cinemas quase dois meses depois, em 09/09.

Na história, a gerente de um hotel em Miami, Lisa Reisert (Rachel McAdams), que possui uma rotina de vida agitada e tem medo de viagens aéreas, está em Dallas e segue caminho num vôo noturno de volta para casa, sendo aguardada por seu pai divorciado, interpretado por Brian Cox. Ainda no saguão do aeroporto, ela conhece um jovem educado e simpático, Jackson Rippner (Cillian Murphy, de “Extermínio” e “Batman Begins”), que fica sentado na poltrona ao seu lado durante o vôo. Após uma conversa inicial amigável, o homem acaba revelando seus reais objetivos, apresentando-se como um terrorista que exige dela uma intervenção no hotel para a transferência de quarto de um importante hóspede membro do governo americano, o Secretário da Segurança Nacional William Keefe (Jack Scalia), que estaria juntamente com a família sendo alvo de um atentado, e caso a moça não colaborasse seu pai seria assassinado.

“Vôo Noturno” é um thriller tão trivial que chega a ser irritante. É apenas mais um filme igual a centenas de outros com a mesma temática e com histórias tão previsíveis que a única forma de não se saber muito antecipadamente o que irá acontecer é dormir durante a projeção. Enquanto a ação se passa no interior de um avião durante um incômodo e turbulento vôo noturno, o filme até que consegue agradar e prender a atenção do espectador, através de um interessante jogo psicológico travado entre o vilão frio e calculista e a mocinha vítima de seu plano terrorista. Mas, depois que o avião aterrissa no aeroporto de Miami, sucede-se uma série de perseguições, correrias e eventos patéticos previsíveis até culminar num desfecho extremamente óbvio, onde no final a verdadeira vítima é o espectador que esperava algo diferente, fora do convencional e principalmente mais ousado por parte do diretor Wes Craven, que deveria no mínimo tentar honrar seu passado no cinema de horror e respeitar o público que admira seu trabalho dentro do gênero. Porém, ocorre o contrário, pois aquele vilão estrategista e ameaçador de antes, tornou-se um completo incompetente onde até uma menina adolescente de onze anos (aliás, um personagem totalmente dispensável na história), consegue fazê-lo de idiota, ainda no corredor do avião em sua chegada ao aeroporto.
Em meus comentários sobre filmes em geral, nunca tive a menor intenção de influenciar alguém a ver ou não um filme, pois acredito que opinião pessoal é algo subjetivo e todo e qualquer filme deve ser visto para que o espectador tenha a sua própria avaliação. E por isso mesmo sugiro sempre a todos que vejam o filme que quiserem, independente se as análises críticas são favoráveis ou não. A única coisa que gostaria de registrar é que após sair da sala de cinema e com esse “Vôo Noturno” se somando a já imensa lista de filmes que assisti na vida, surgiu uma desconfortável sensação de perda de um precioso tempo que poderia ser melhor aplicado em outras atividades, além de um prejuízo financeiro.

Entre as curiosidades temos a presença do veterano ator Robert Pine, como um cliente do hotel, exageradamente exigente e cuja impertinência conseguiu até irritar a gerente Lisa numa piadinha detestável no final do filme. Ele que foi o chefe dos guardas rodoviários, Sargento Joseph Getraer, na série de TV “Chips” (1977/83), exibida exaustivamente na televisão brasileira na década de 80. Outro detalhe curioso é a participação de Wes Craven e do roteirista Carl Ellsworth como passageiros do avião.

Os responsáveis pela escolha dos nomes nacionais dos filmes que chegam por aqui dificultaram ainda mais a tarefa de catalogação e pesquisa da imensa quantidade de filmes que são exibidos no Brasil, pois o nome “Vôo Noturno” já pertencia a um filme de 1998, que curiosamente é inspirado na obra literária de Stephen King. Com o nome original “The Night Flier”, a direção é de Mark Pavia e o elenco é liderado por Miguel Ferrer, sendo uma adaptação da história “O Piloto Noturno”, do livro de contos “Pesadelos e Paisagens Noturnas” (Nightmares & Dreamscapes, 93).

“Vôo Noturno” (Red Eye, 2005) # 336 – data: 10/09/05 – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 04/06/06)