Vidocq - O Mito (2001)


Uma das mais antigas lendas do Quartier du Temple, O Alquimista seria ao mesmo tempo sábio e assassino. Para os moradores, toda morte não resolvida é cometida por ele. Para alguns, ele não tem rosto; para outros, ele tem todos os rostos. Para outros, ainda, seu rosto é um espelho que aspira as almas. Aquele a quem a máscara refletir perderá sua alma.

Quem teve o desprazer de assistir “Mulher-Gato”, que foi exibido nos cinemas brasileiros em 2004, um dos filmes mais intragáveis dos últimos tempos, não imaginaria que seu diretor, Pitof, antes de cometer essa atrocidade fazendo um filme americano, tinha sido o responsável alguns anos antes por um thriller francês muito interessante. Trata-se de “Vidocq – O Mito” (Vidocq, 2001), com o ótimo ator Gerard Depardieu liderando o elenco, e que foi lançado no mercado nacional de vídeo no final de 2004, pela “Europa Filmes”.

A história é ambientada em 1830 em Paris, onde o popular detetive Vidocq (Gerard Depardieu), um ex-presidiário que se juntou à polícia, está caçando um assassino misterioso pelas ruas da capital francesa. Conhecido como “O Alquimista”, o criminoso utiliza uma máscara em forma de espelho, que segundo uma lenda serve para aprisionar as almas de suas vítimas, dando-lhe imortalidade e poderes fora do comum como extrema agilidade nas performances de lutas corporais.
Após muito tempo investigando o rastro do assassino, Vidocq o encontra nos subterrâneos de uma fábrica de espelhos e na luta decisiva, o detetive desaparece deixando a polícia e a população apreensiva com o alquimista solto nas ruas. Logo após o sumiço de Vidocq, surge um jovem, Etienne Boisset (Guillaume Canet), procurando o sócio do detetive, Nimier (Moussa Maaskri), se identificando como um jornalista e biógrafo oficial dele. Sua intenção é concluir o livro sobre a vida do famoso detetive, além de continuar a busca pelo assassino como forma de vingança.
A princípio relutante, depois Nimier conta ao jovem biógrafo o início da caçada de Vidocq ao alquimista, onde o policial foi contratado por um antigo chefe, o arrogante político Lautrennes (André Dussolier), para investigar um caso misterioso conhecido através dos jornais como “A Conspiração do Raio”, e que poderia ter motivação política. Dois empresários ricos e bem sucedidos, o fabricante de armas Louis Belmont (Jean-Pol Dubois) e o químico Simon Veraldi (André Penvern), haviam sido assassinados por um raio vindo do céu que os incinerou de forma fulminante. Juntamente com o médico e dono de um hotel Ernest Laffite (Giles Arbona), também morto em circunstâncias misteriosas, os três formavam um grupo de “dandis” pervertidos que veneravam suas próprias imagens, cultuando a aparência, a estética e a elegância como obra de arte, obcecados para não envelhecerem.
A investigação de Etienne o leva também a conhecer várias outras pessoas com envolvimentos no caso como a bela dançarina Préah (Inés Sastre), o jornalista Froissard (François Chattot) e a esposa de Laffite, uma mulher constantemente drogada viciada em ópio, Marine (Isabelle Renauld). Além de cruzar constantemente seu caminho com um outro policial que também investiga o desaparecimento de Vidocq e as ações do alquimista, o Sr. Tauzet (Jean-Pierre Gos), que tenta encontrar algum indício de conspiração política nos eventos envolvendo as mortes dos ricaços.

O filme é um thriller que prende a atenção do espectador durante toda a projeção, ao contar a investigação tanto de Vidocq (em cenas de flashback), quanto do jovem Etienne, nas busca por informações que levem ao assassino sobrenatural conhecido como “O Alquimista”. Em meio a tudo isso, alguns elementos importantes para a trama vão sendo acrescentados como a utilização com objetivos sinistros de jovens mulheres virgens pelo criminoso, as quais eram recrutadas oferecendo dinheiro para famílias pobres liberarem suas filhas. E é claro que algumas revelações são apresentadas ao longo do filme, na condução e elucidação paulatina da investigação, assim como o desfecho também reserva uma surpresa interessante.
“Vidocq – O Mito” tem um subtítulo nacional totalmente desnecessário, em mais um equívoco dos responsáveis na escolha dos nomes brasileiros dos filmes que chegam por aqui. Porém, trata-se de um thriller divertido, bem sutil em termos de violência e sangue, mas com uma história atraente e a presença do grande ator Gérard Depardieu, constituindo-se num bom exemplo do cinema fantástico francês desse início de século 21, abordando temas como uma lenda sobrenatural, investigação policial e conspiração política, ao lado de outros filmes igualmente interessantes como “Pacto dos Lobos” (Le Pacte Des Loups, 2001), de Christophe Gans e com Mark Dacascos, Vincent Cassel e a belíssima Monica Bellucci.

“Vidocq – O Mito” (Vidocq, 2001) # 316 – data: 28/05/05 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 04/06/06)

Vidocq – O Mito (Vidocq, França, 2001). Duração: 95 minutos. Direção de Pitof. Roteiro de Pitof e Jean-Christophe Grangé. Elenco: Gérard Depardieu (Vidocq), Guillaume Canet (Etienne Boisset), Inés Sastre (Préah), André Dussollier (Lautrennes), Edith Scob (Sylvia), Moussa Maaskri (Nimier), Jean-Pierre Gos (Tauzet), Isabelle Renauld (Marine Laffite), Jean-Pol Dubois (Louis Belmont), André Penvern (Simon Veraldi), Gilles Arbona (Ernest Laffite), Jean-Marc Thibault (Leviner), François Chattot (Froissard).