A Última Viagem (2001)


O famoso “Triângulo das Bermudas”, localizado na região do Caribe, é um local misterioso conhecido pelo desaparecimento de aviões e navios repentinamente quando invadiam seus domínios. O cinema fantástico tem explorado com bastante intensidade esse argumento fascinante levantando uma série de questões sobre o estranho fenômeno, sendo uma delas a existência de um portal de acesso a uma outra dimensão desconhecida por nós, e que poderia esconder perigos inimagináveis. Dentro dessa idéia foi lançado em 2001 mais um filme abordando o tema, uma produção especial para a televisão chamada aqui no Brasil de “A Última Viagem” (Lost Voyage), dirigida pelo estreante Christian McIntire e com elenco formado por Judd Nelson e o sempre presente Lance Henriksen.

Um luxuoso navio de turismo chamado “Corona Queen”, que fez sua viagem inaugural em 1968, desapareceu quatro anos depois enquanto navegava pelas águas do “Triângulo das Bermudas”. Considerado como mais um mistério sem solução, ele é esquecido, porém reaparece 25 anos depois no Oceano Atlântico e desperta a atenção de uma equipe de resgate de embarcações perdidas em alto mar, que quer chegar ao navio antes da guarda costeira. A equipe é liderada por um funcionário da empresa proprietária do navio, David Shaw (Lance Henriksen), e mais dois ajudantes, Dazinger (Jeff Kober) e Fields (Mark Sheppard). Eles são recrutados também para levar de helicóptero uma equipe de jornalistas de um programa insólito de televisão chamado “Diário do Inexplicável”, que juntamente com um parapsicólogo pretendem fazer uma matéria diretamente no navio que estava desaparecido. O grupo é formado pelas repórteres rivais Dana Elway (Janet Gunn, de “Carnossauro 3”, 96) e Julie Largo (Scarlett Chorvat), pelo cinegrafista Randall Banks (Richard Gunn), e por Aaron Roberts (Judd Nelson, de “Hospício Maldito”, 2001), estudioso de fenômenos paranormais e que teve seu pai e madrasta desaparecidos no “Corona Queen” nos anos 70.
As sete pessoas são então deixadas no navio numa noite de tempestade e mar agitado, e encontram a enorme embarcação totalmente vazia. A partir daí, eles passam a enfrentar uma série de eventos misteriosos à bordo, permanecendo ainda nas imediações do “Triângulo das Bermudas”, uma região envolvida em lendas obscuras, e entre as quais uma que revela a existência de um portal dimensional que se abre para as profundezas do inferno. Ao voltar do limbo, o navio trouxe alguma entidade maligna com ele, a qual procura explorar os medos e fraquezas de cada um dos invasores, que agora terão que enfrentar a fúria de algo desconhecido e lutarem por suas vidas.

“A Última Viagem” é mais um filme sobre ambientes assombrados, sendo nesse caso um navio que ficou desaparecido por longos anos e ressurge trazendo algo de outro mundo para a nossa dimensão e realidade. É uma produção típica para a TV, com poucos sustos e moderadas cenas de mortes, sangue e violência (apesar de termos cadáveres por eletrocussão e por esmagamento de pesadas correntes, entre outras coisas), investindo mais numa história de mistério com um clima de suspense mediano. Não tem nada de novo ou marcante, apenas apresenta os velhos clichês de filmes similares. Na verdade, as histórias de fantasmas possuem sempre as mesmas características, sejam elas ambientadas numa mansão assombrada, ou um navio amaldiçoado, ou uma nave estelar perdida na imensidão do espaço sideral. Porém, o tema é sempre interessante e pode garantir alguns momentos de diversão rápida sem muita exigência. E para isso, basta relaxar e tentar entrar no clima de mistério que envolve o navio e sua viagem de volta do além. Alguns filmes recentes que exploraram igualmente o tema e que vem rapidamente à memória após assistir “A Última Viagem” são “Enigma do Horizonte” (97), que é anterior e é passado no espaço com uma nave à deriva, e “Navio Fantasma” (2002), que foi produzido depois e também é ambientado no mar, com um enorme navio reaparecendo após muitos anos desaparecido.
Algumas curiosidades interessantes são a presença do ator Robert Pine, que aparece em algumas cenas como um chefe de televisão, Mike Kaplan. Ele nasceu em 1941 e é um rosto conhecido por sua participação no elenco fixo da nostálgica série de TV “Chips” (1977/83), no papel do Sargento Joseph Getraer. A série mostrava a rotina de trabalho de dois policiais rodoviários em suas imponentes motocicletas Harley Davidson, em meio a problemas com acidentes de trânsito e perseguições de ladrões. O diretor Christian McIntire é mais conhecido como técnico de montagem e edição, e “A Última Viagem” é seu filme de estréia. No momento ele está envolvido no projeto de outro filme de Horror e FC para a TV, “Phantom Force”. Aliás, o nome nacional do filme seria mais apropriado como “Viagem Perdida”, numa tradução literal do original “Lost Voyage”, mas o título escolhido também não foi ruim, pois para o “Corona Queen” foi realmente “a última viagem”. O ator Lance Henriksen é uma figura carimbada no gênero fantástico, com uma carreira com quase 100 filmes e muitos deles dentro do Horror e FC. Nascido em 1940, seu rosto é bem conhecido pela série de TV de Chris Carter “Millennium” (96/99), no papel do policial Frank Black. Um de seus próximos projetos no gênero é o esperado crossover “Alien Vs. Predator”, com lançamento para o segundo semestre de 2004. Em determinado momento de “A Última Viagem”, quando o assunto é o desaparecimento de navios na região do “Triângulo das Bermudas”, é citado o famoso caso do navio “Mary Celeste”, uma das origens das lendas sobre navios fantasmas. Segundo informações históricas, “Mary Celeste” foi uma embarcação real que partiu dos Estados Unidos em 1872 com destino à Europa, e foi encontrada várias semanas depois vagando errante na imensidão azul do mar, sem avarias significativas, com a carga quase intacta e sem tripulação, que desapareceu inexplicavelmente num grande mistério até hoje.

“A Última Viagem” (Lost Voyage, 2001) # 240 – data: 19/04/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/06/06)