House of the Dead - O Filme (2003)


Confirmando uma tendência do momento, com muitas adaptações de personagens dos quadrinhos e videogames para as telas do cinema, e aumentando ainda mais as estatísticas de produções do sub-gênero do Horror enfocando zumbis assassinos, como por exemplo o recente “Resident Evil – O Hóspede Maldito” (2002), agora é a vez de jogo “House of the Dead”, criado em 1998, ganhar sua versão para o cinema, nas mãos do diretor alemão Uwe Boll (de “Alone in the Dark – O Despertar do Mal”, também baseado em videogame). Lançado no Brasil em vídeo VHS e DVD pela “FlashStar” em Fevereiro de 2004, o filme recebeu o nome por aqui de “House of the Dead – O Filme”.
Produzido em 2003 numa parceria entre os Estados Unidos, Canadá e Alemanha, a história é super óbvia e banal, apresentando um grupo de jovens tipicamente descartáveis e desinteressantes que vai até uma ilha misteriosa chamada de “Ilha da Morte”, para participarem de uma festa. Porém, ao chegarem lá encontram tudo estranhamente vazio. Uma lenda da região diz que há muitos séculos atrás, um sacerdote que havia sido banido da Espanha por causa de suas experiências macabras tentando devolver a vida em seres humanos mortos, conseguiu escapar do cárcere num porão de um navio e após matar toda a tripulação se instalou numa ilha, onde deu seqüência ao seu trabalho de ressuscitar os mortos. E para ele mesmo continuar sua longa existência, precisaria coletar partes dos corpos humanos de suas vítimas que invadissem seu território.
O grupo de jovens recém chegados encontra alguns sobreviventes da festa, os quais haviam na verdade sido brutalmente atacados por uma legião de zumbis assassinos. Agora todos juntos, eles precisam lutar por suas vidas, se refugiando numa casa e encurralados numa ilha infestada de mortos-vivos sedentos por sangue.
“House of the Dead – O Filme” é um dos piores filmes que tive oportunidade de assistir nos últimos tempos. Nem interessa fazer qualquer tipo de comparação com o jogo que o inspirou. Analisando unicamente como cinema, a trilha sonora é horrível, o elenco é desconhecido e completamente amador (com exceção apenas para o veterano Jurgen Prochnow), o roteiro é superficial, previsível, repleto de furos gigantescos e situações absurdas, e os diálogos são tão imbecis que chegam a constranger. O espectador acaba torcendo enfaticamente para os protagonistas morrerem logo e da forma mais dolorosa possível nas garras dos zumbis, pois eles não conseguem estabelecer nenhum tipo de empatia ou interesse. São tantas as situações inverossímeis que só vale a pena citar duas delas: uma é o simples fato de jovens estudantes idiotas demonstrarem uma enorme habilidade com armas de fogo e lutas corporais no combate com o exército de mortos-vivos (aliás, os zumbis são igualmente ridículos também, pois correm, saltam e nadam com uma agilidade incrível); outra é o momento em que uma garota encontra um livro antigo na casa onde se refugiaram dos zumbis e tem a brilhante idéia e a incrível sorte de localizar na primeira tentativa a página onde está revelada a história do misterioso sacerdote foragido da Espanha e suas experiências macabras com os mortos, revelando para eles a origem e existência de zumbis assassinos na ilha.
O uso exagerado de efeitos do tipo “bullet time” nas cenas de tiroteios e lutas corporais também contribuiu ainda mais para uma imagem ridícula do filme, não se encaixando numa obra de horror, sem contar que a técnica foi criada no filme “Matrix” (99), sendo sua utilização vários anos depois apenas mais uma cópia descarada e prova de falta de originalidade. Uma longa seqüência em particular, enfocando um confronto entre os sobreviventes e os zumbis, foi filmada num ritmo tão rápido que mais parece um videoclip, com cenas insuportáveis de ataque dos humanos contra os ágeis mortos-vivos.
Provavelmente as únicas coisas favoráveis em “House of the Dead – O Filme” sejam a presença do experiente ator alemão Jurgen Prochnow e algumas curiosidades e homenagens discretas percebidas ao longo da história. Prochnow nasceu em 1941 em Berlin, sua carreira é composta por mais de 90 filmes, e entre eles, “Duna” (84), “À Beira da Loucura” (95), “Wing Commander – A Batalha Final” (99) e “Ripper: Mensageiro do Inferno” (2001). Ele interpretou o Capitão Victor Kirk, dono do barco que os jovens utilizaram para ir até a ilha. Aliás, o nome de seu personagem foi motivo de referência e citação à famosa série de TV do final dos anos 1960 “Star Trek”, quando um dos jovens candidatos a morrer o compara ao Capitão James T. Kirk e cita também o Oficial de Ciências Sr. Spock, ambos da saudosa nave estelar “Enterprise”.
Outras pequenas citações que servem como curiosidade são o desenho animado da TV “Scooby-Doo”, quando uma das garotas do grupo cita a série quando avista uma casa abandonada no meio da ilha, daquelas tipicamente assombradas, alertando para os prováveis perigos que pudessem se deparar ao entrarem nela. Ou a citação do cineasta George Romero, autor de filmes como “A Noite dos Mortos-Vivos” (68), “Despertar dos Mortos” (78) e “O Dia dos Mortos” (85), quando um dos jovens lembra o nome do famoso diretor quando o assunto era a provável existência de zumbis povoando a ilha. Ou ainda citações ao filme “O Homem Elefante” (80), por causa de uma deformação no rosto de um jovem atacado por um zumbi, e lembranças ao nome do ator Tom Cruise e ao personagem deficiente mental vivido por Dustin Hoffman no filme “Rain Man” (88), quando um jovem diz sobre um outro companheiro, que ele tinha o rosto do Tom Cruise com o cérebro do “rain man”.
Outra curiosidade que se destaca um pouco no meio da mediocridade geral do filme (apesar do uso exagerado) é a inclusão várias vezes de rápidas cenas do videogame, com os zumbis sendo destruídos por armas de fogo, no meio das seqüências similares dos confrontos sangrentos entre os humanos e os mortos-vivos.
Mas, unicamente como filme de horror, “House of the Dead” não funcionou, sendo apenas mais um produto descartável e que não acrescentou nada ao gênero, e o mais incrível é que o diretor Uwe Boll está disposto em fazer uma continuação, apesar do fracasso desse primeiro filme com um desempenho nas bilheterias americanas insuficiente para cobrir os gastos da produção.
Observação: A continuação foi lançada em 2005 e distribuída no Brasil como “House of the Dead: A Casa dos Mortos 2” (House of the Dead 2), porém a direção ficou com o inglês Michael Hurst.

“House of the Dead – O Filme” (House of the Dead, 2003) # 225 – data: 15/02/04 – avaliação: 2 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/05/06)