A Guerra de Hart (2002)


Guerra. Uma palavra simples, mas que tem um significado devastador, sinônimo de morte e dor. O mais terrível é constatar o quanto a humanidade não consegue ao longo de toda sua história, e ainda insistindo em pleno século XXI, deixar de resolver suas diferenças com guerras, evidenciando o seu alto grau de irracionalidade apesar dos incontáveis anos de evolução. E o mais incrível ainda é que sempre após uma batalha, com mortos, mutilados, destruição e todo tipo de atrocidades, o resultado obtido é apenas mais uma derrota, pois todos perdem. Na guerra não há vencedores, exceto a Morte, soberana, aguardando pacientemente a humanidade se encarregar de aumentar seu reino. O cinema tem um papel muito importante ao mostrar, em alguns casos de forma quase real, a violência da guerra e seus resultados sangrentos. Nos últimos anos, auxiliadas pelos modernos efeitos especiais, foram filmadas várias produções que chocam pela brutalidade das imagens, retratando o ambiente infernal da guerra. Filmes como “O Resgate do Soldado Ryan”, “Além da Linha Vermelha”, “Círculo de Fogo”, “Pearl Harbor” (sobre a Segunda Guerra Mundial), ou “Falcão Negro em Perigo” (sobre a guerra civil da Somália em 1993), são exemplos da violência do campo de batalha.

E agora, mais um filme está se juntando a esse grupo, “A Guerra de Hart” (Hart’s War), que estreou no Brasil em 19/04/02. Apesar de serem poucas as cenas de ação de guerra, o filme tem sua importância por retratar o ambiente opressivo de um campo de prisioneiros da Segunda Guerra Mundial, tendo como enfoque principal o racismo entre os próprios americanos presos e o significado da honra entre os soldados. Baseado no livro homônimo de John Katzenbach, a história se passa entre o final de 1944 e início do ano seguinte, quando um oficial do exército americano, o tenente Thomas Hart (Colin Farrell), filho de um senador e sem experiência no campo de batalha, é capturado pelos alemães numa emboscada, torturado para fornecer informações estratégicas para os rumos da guerra e levado de trem e depois a pé por vários dias até um distante campo de concentração. Chegando no acampamento de prisioneiros, o tenente Hart é apresentado ao oficial americano de mais alta patente no local, o coronel William McNamara (Bruce Willis), que dirige o grupo de soldados e o transfere para o alojamento dos recrutas, onde ele percebe um grande sentimento de racismo quando chegam também dois novos prisioneiros negros, os aviadores tenentes Lincoln Scott (Terrence Dashon Howard) e Lamar Archer (Vicellous Shannon), principalmente por parte do sargento Vic Bedford (Cole Hauser), um ex-policial preconceituoso. Mal recebidos pelos companheiros, os pilotos negros são segregados do grupo e o tenente Archer acaba sendo executado pelos nazistas numa armadilha provocada pelo sargento Bedford. Mais tarde, é agora o próprio sargento que aparece morto e a suspeita do assassinato recai sobre o outro tenente negro Scott, que é levado para um julgamento presidido pelo coronel McNamara e com o tenente Hart como advogado de defesa (antes da guerra ele era um estudante de direito). A realização da audiência só foi possível graças à permissão do coronel alemão Werner Visser (Marcel Iures), dirigente do campo e um militar aristocrático, fã de jazz, e que apenas procurava diversão com o julgamento. Porém, enquanto se realiza a corte marcial, um audacioso plano de fuga é colocado em ação envolvendo também uma missão militar de destruição de uma fábrica de bombas próximo ao acampamento dos refugiados.

“A Guerra de Hart” não tem grandes cenas de batalhas, mas retrata o ambiente da guerra num campo de prisioneiros em pleno inverno, onde a vida tem muito pouco valor e a dor e a morte estão rondando os soldados presos a todo instante, apenas aguardando o momento certo para agirem. Uma simples tentativa de fuga significava execução pública num enforcamento ou fuzilamento imediato. E a honra de um soldado valia mais que sua própria vida. Um momento de impacto ocorre quando o tenente Hart é emboscado pelos alemães com seu jipe perdendo o controle e batendo numa árvore arremessando-o longe, vindo a cair num cemitério a céu aberto repleto de soldados mortos em batalha e congelados pelo frio do inverno, abandonados como restos insignificantes de homens. Um outro destaque é a cena marcante de um trem levando os prisioneiros para o campo de concentração e sendo atacado por aviões aliados que não sabiam de sua existência (as inscrições P. O. W. – Prisoners of War – estavam encobertas pela neve no teto do trem), num momento de grande tensão com disparos mortais de projéteis para todos os lados, resultando depois numa interessante e criativa forma de comunicação dos soldados com os pilotos para evitar um massacre. Enfim, “A Guerra de Hart” mostra mais um capítulo da bestialidade da guerra, com suas trágicas consequências para a humanidade e suas feridas abertas que não mais cicatrizam...

“A Guerra de Hart” (Hart’s War, 2002) – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 19/05/06)