Cine Majestic (2002)


É bastante curioso ver o ator Jim Carrey, mais conhecido como um grande comediante com suas engraçadas expressões faciais visto em filmes como “Debi e Lóide”, “O Máscara” ou “Ace Ventura” (todos de 1994), interpretar um papel mais dramático como nos ótimos “O Show de Truman” (98) ou “O Mundo de Andy” (99). Mas ele provou que é um ator de talento interpretando personagens não tão engraçados como em “Cine Majestic” (The Majestic), que estreou nos cinemas brasileiros em 05/04/02, um drama dirigido por Frank Darabont (“À Espera de Um Milagre” / “Um Sonho de Liberdade”).
Aqui ele é Peter Appleton, um roteirista em início de carreira nos anos de 1950 em Hollywood, que é investigado por uma comissão do governo para atividades anti-americanas e envolvimento político com o Comunismo. Devido a sua participação desinteressada em reuniões políticas estudantis na época da faculdade (ele comparecia apenas para impressionar uma garota), seu nome foi indicado e seus roteiros passaram a ser detalhadamente avaliados. Seu contrato com um estúdio de cinema foi interrompido e seu novo filme foi suspenso. Vendo sua carreira desabar repentinamente, ele resolve se embriagar e viajar com seu carro sem rumo, até que sofre um acidente numa tempestade ao atravessar uma ponte e seu carro cai num rio que o leva até a margem de uma praia próxima à cidadezinha de Lawson. Perdendo a memória ao bater sua cabeça numa pilastra da ponte, ele é encontrado por Stan (James Whitmore), um velho comerciante de relógios, que o leva até Lawson onde é confundido com Luke Trimble, um jovem desaparecido em campo de batalha na Segunda Guerra Mundial e filho do dono do cinema local (Majestic), Harry Trimble (interpretado por Martin Landau). Na cidade ele é recebido como um herói e até a antiga namorada do soldado reaparece, Adele (Laurie Holden), que agora é uma advogada e tenta se convencer sobre a real identidade do forasteiro. Aos poucos o roteirista Peter recobra suas lembranças, enquanto um comitê do governo e o FBI chegam à cidade em seu encalço, obrigando-o a decidir seu futuro admitindo culpa num acordo forjado ou reagir indignado contra o sistema e não decepcionar seus amigos de Lawson.
A presença de atores veteranos das telas como Martin Landau e James Whitmore garantem excelentes momentos de nostalgia (Landau teve muitas participações em filmes menores de ficção científica e horror como na série de TV dos anos 1970 “Espaço 1999”). Como curiosidades, temos a presença do ator Bruce Campbell, de um dos maiores filmes de horror de todos os tempos, “The Evil Dead” (1983, de Sam Raimi), interpretando um personagem de um filme do roteirista Peter chamado “Sand Pirates of the Sahara”, e a exibição de algumas cenas do clássico da ficção científica “O Dia Em Que a Terra Parou” (1951, de Robert Wise), que passava no Cine Majestic, o cinema da cidade de Lawson. Quanto à Jim Carrey, ele novamente está bem em mais um papel dramático, provando que seu talento vai além da comédia. “Cine Majestic” é um pouco longo em seus 150 minutos de projeção, mas a história é interessante e envolve o espectador no drama vivido pelo personagem central, vítima injustiçada de uma paranóia política, que acaba se envolvendo numa confusão de identidades numa pequena cidade perturbada pela perda de muitos de seus cidadãos na guerra. Apesar de situações inverossímeis, como a solução encontrada pelo roteirista Peter em seu rebelde discurso de defesa perante à comissão acusadora do Comunismo e as famosas e inevitáveis cenas de “patriotada americana” que incomodam e nos causam aversão, o filme garante um ótimo divertimento, principalmente por Jim Carrey e a nostalgia de Martin Landau e James Whitmore.

“Cine Majestic” (The Majestic, 2002) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/05/06)