Wolf Creek - Viagem ao Inferno (2005)


Ela foi boa por meses... até ela perder sua cabeça!” – Mick Taylor

Perseguições, desespero, angústia, loucura, sadismo, tortura, violência extrema, crime, tiros, decepamentos de membros, perfurações no corpo, sangue jorrado, dor, muita dor. O tipo mais perturbador de cinema de horror não é aquele onde a ênfase da história está na exposição de criaturas bizarras sobrenaturais ou de situações originadas de alguma forma de um mundo de fantasia, mas sim quando enfoca o próprio ser humano em sua mais absoluta selvageria, evidenciando o quanto irracional pode ser o Homem e o que ele pode ser capaz de fazer contra seu semelhante.
Pois em “Wolf Creek – Viagem ao Inferno” (Wolf Creek), filme australiano escrito, dirigido e produzido por Greg McLean, baseando-se em eventos reais, e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 03/02/06, podemos encontrar tudo aquilo que foi citado no início desse texto. E depois de ver o filme, o espectador entenderá que a reprodução da frase acima passará a ter um significado mais literal e grotesco.
Não sou a favor de se colocar subtítulos nacionais aos filmes que chegam por aqui, no caso daqueles em que a decisão das distribuidoras seja a de manter o nome original. Prefiro sem subtítulos, mas no caso específico de “Wolf Creek”, sou obrigado a admitir que a escolha foi extremamente pertinente, representando com fidelidade o que um passeio turístico de carro inicialmente inofensivo para três jovens acabou se tornando: uma terrível “viagem ao inferno”.

Um grupo de três jovens, formado por um homem australiano de Sydney, Ben Mitchell (Nathan Phillips), e duas garotas inglesas, Liz Hunter (Cassandra Magrath) e Kristy Earl (Kestie Morassi), partem de carro num passeio pelas estradas desertas do interior da Austrália com destino ao “Parque Nacional de Wolf Creek”, local onde foi formada uma gigantesca cratera por causa da queda de um meteorito num passado longínquo. Após retornarem de uma longa caminhada até a belíssima cratera, no momento de partirem de volta eles são surpreendidos por um defeito no carro, obrigando-os a passar a noite no local. Até surgir no meio da noite um homem em seu caminhão, um típico caipira da região chamado Mick Taylor (John Jarratt), que oferece ajuda rebocando o carro dos jovens até sua casa longe dali, para fazer a manutenção. Os jovens, inicialmente duvidosos, concordam depois em aceitar o convite, não imaginando as terríveis conseqüências dessa decisão.

“Wolf Creek” lembra bastante aquele subgênero de filmes onde simples passeios tornam-se pesadelos indescritíveis por causa de pessoas psicóticas (deformadas fisicamente ou não) que querem infligir dor em suas vítimas, com insanas sessões de tortura psicológica e física, como “O Massacre da Serra Elétrica” (73), “Quadrilha de Sádicos” (77) e “Pânico na Floresta” (2003), apenas para citar alguns poucos.
Mick Taylor (numa ótima performance de John Jarratt) é um psicopata que detesta turistas e se diverte com seus sofrimentos, demonstrando muita habilidade com armas, uma vez que sua antiga profissão era justamente abater animais de todos os tipos, desde bois e porcos, passando por cavalos e até cangurus. Ele procura demonstrar uma satisfação doentia quando fala da morte dos bichos, evidenciando o quanto é um ser humano desprezível.
Os primeiros 50 minutos do filme são reservados apenas para apresentar os três jovens, o relacionamento de amizade entre eles durante a viagem para a cratera de “Wolf Creek”, e suas características de pessoas normais que querem se divertir em férias, numa tentativa bem sucedida do diretor em estabelecer uma relação de empatia entre eles e o público. Tanto que depois que surge o psicopata no caminho deles, com a ação tomando um rumo totalmente insano, passamos a nos importar com seus destinos, principalmente o drama de horror enfrentado por Kristy, amarrada e torturada sadicamente. Sem contar quando o caipira maníaco decide utilizar em Liz uma técnica de guerra para impedir que o prisioneiro fuja mantendo-se vivo para poder fornecer possíveis informações, definida por ele como “fazer uma cabeça no espeto”.

“Wolf Creek – Viagem ao Inferno” (Wolf Creek, Austrália, 2005) # 370 – data: 04/02/06 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/02/06)