O Conde Drácula (Scars of Dracula, 1970)


O escritor irlandês Bram Stoker (1847-1912) foi o autor de uma das obras mais filmadas na história do cinema. Seu livro “Drácula”, lançado em 1897, contando a história de um terrível vampiro, tornou-se fonte de inspiração para a produção de centenas de filmes, com destaque para o clássico homônimo de 1931 da “Universal”, com o ator húngaro Bela Lugosi interpretando o conde vampiro, e para o igualmente clássico de 1958 da produtora inglesa “Hammer”, intitulado “The Horror of Dracula” (no Brasil, “O Vampiro da Noite”), com o ator inglês Christopher Lee no papel principal.
Bela Lugosi e principalmente Christopher Lee são considerados os atores que melhor encarnaram o vampiro Drácula e seus nomes foram consagrados ficando eternamente ligados a esse famoso personagem do horror. E juntamente com outros nomes importantes como Boris Karloff, Peter Cushing e Vincent Price (e em menor escala, John Carradine e Donald Pleasence), tornaram-se ícones insuperáveis do cinema fantástico.
A produtora inglesa “Hammer” foi a responsável pelo ressurgimento do cinema de horror no final da década de 1950 e principalmente ao longo dos anos 60 até meados de 70. Entre as dezenas de filmes significativos do gênero, destaca-se a série de produções sobre vampirismo, especialmente com o personagem Drácula. Iniciando com “O Vampiro da Noite” em 1958, vieram depois “As Noivas do Vampiro” (Brides of Dracula, 60), “Drácula: O Príncipe das Trevas” (Dracula: Prince of Darkness, 66), “Drácula, O Perfil do Diabo” (Dracula Has Risen From the Grave, 68), “Sangue de Drácula” (Taste the Blood of Dracula, 70), “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 70), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (Dracula AD 1972, 72), e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 73). Todos os filmes, com exceção de “As Noivas do Vampiro”, foram estrelados por Christopher Lee como o temível vampiro sugador de sangue.
“O Conde Drácula” é o sexto filme da série, e o quinto com a participação de Christopher Lee. Considerado um dos mais violentos da saga inglesa de Drácula, foi dirigido por Roy Ward Baker, responsável também por outros filmes importantes da “Hammer” como “Uma Sepultura na Eternidade” (67), “Os Amantes Vampiros” (70) e “O Médico e a Irmã Monstro” (71), e também da rival “Amicus” como “Asilo Sinistro” (72), uma antologia com episódios escritos por Robert Bloch (autor de “Psicose”).

O roteiro de John Elder (na verdade, pseudônimo de um executivo da “Hammer”, Anthony Hinds), conta mais uma história dentro do universo ficcional de “Drácula”. O filme inicia com a ressurreição do vampiro, que estava transformado em cinzas, através do contato com o sangue de um morcego. Uma vez de volta à vida, o eterno “Príncipe das Trevas” Drácula (Christopher Lee) continua a matar as belas jovens do vilarejo vizinho de seu imponente castelo gótico, sugando-lhe o sangue pelo pescoço. Revoltados, os aldeões se reúnem e invadem o castelo ateando fogo na enorme estrutura de pedra, imaginando terem destruído o conde.
Porém, ele escapa da tragédia e auxiliado por seu servo Klove (Patrick Troughton), ele recebe a visita inesperada em seu castelo de um jovem encrenqueiro, Paul Carson (Christopher Matthews), que estava fugindo da polícia de uma cidade próxima chamada Kleinenberg. Paul havia se envolvido num romance proibido com a filha do burgomestre local (Bob Todd) e estava sendo caçado por dois policiais (Toke Townley e David Leland). Chegando no vilarejo próximo ao castelo de Drácula, ele é bem recepcionado por Julie (Wendy Hamilton), empregada de uma hospedaria, mas é expulso pelo proprietário (Michael Ripper), indo parar involuntariamente no ainda imponente castelo, mesmo depois de avariado pelo incêndio do passado.
Paul é recepcionado por uma das escravas vampiras de Drácula, a bela Tania (Anouska Hempel), e logo torna-se prisioneiro e vítima do conde das trevas. Preocupados com seu desaparecimento, seu irmão mais novo Simon (Dennis Waterman) e a noiva Sarah (Jenny Hanley) partem a sua procura e chegando ao vilarejo são orientados pelo padre local (Michael Gwynn) para seguir até o castelo, onde serão ajudados pelo servo Klove (que nutre um sentimento platônico pela bela Sarah), e conhecerão não só a cordialidade e o cavalheirismo típicos de Drácula, como também a sua fúria assassina e sede de sangue, enfrentando um confronto mortal com o vampiro.

Algumas cenas são bem violentas, principalmente considerando-se a época da produção, destacando a carnificina realizada dentro de uma igreja, onde várias mulheres foram brutalmente assassinadas por morcegos sanguinários, com direito a olhos vazados, e rostos totalmente dilacerados pelas mordidas dos animais vampiros. Outro momento de forte apelo em termos de horror foi o assassinato da escrava Tania por seu mestre Drácula através de violentos golpes de faca, e seu posterior esquartejamento para dissolver seus orgãos em ácido, numa ação macabra do escravo Klove utilizando cutelos e serras para desmembrar o corpo da bela mulher. Hoje em dia, ocorrem banhos de sangue infinitamente superiores em diversos filmes de horror explícito, porém há mais de 40 anos atrás mesmo uma cena discreta de esquartejamento causava um impacto impressionante no público.
Os efeitos especiais são extremamente precários, típicos de uma produção de baixo orçamento. Os enormes morcegos de olhos vermelhos, que possuem importante influência na história, são notavelmente criaturas artificiais, onde podemos visualizar sem grande esforço as cordas que os sustentam nos vôos. Mas o castelo em compensação é uma típica fortaleza gótica de pedra construída no alto de um penhasco, em interessantes cenários que recriam essas imponentes estruturas do passado.
Porém, o maior destaque realmente é a presença macabra de Christopher Lee como Drácula, encarnando magistralmente o vampiro da noite, dizendo poucas palavras e priorizando as expressões faciais, com seus olhos vermelhos de sangue reproduzindo o ódio e o mal absolutos. O ator, nascido em 1922, ficou mundialmente conhecido e imortalizado por seus diversos papéis de vilão, principalmente na pele do Conde Drácula. Sua filmografia é vasta e variada, com centenas de filmes em seu currículo, sendo eleito em 2001 com um dos atores com mais participações, entrando para o cobiçado livro “Guinness” de recordes mundiais. Destacam-se em sua carreira os filmes de horror, como a série de vampiros da “Hammer”, além de outros como “A Maldição de Frankenstein” (57), “A Górgona” (64), “A Maldição do Altar Escarlate” (68), “O Ataúde do Morto-Vivo” (69), “A Casa que Pingava Sangue” (70), “A Essência da Maldade” (73), “O Homem de Palha” (73), “O Expresso do Horror” (73), “Uma Filha Para o Diabo” (76), e “A Mansão da Meia-Noite” (83), a maior parte ao lado de Peter Cushing, outro ícone do horror. Em 1996, Lee foi merecidamente escolhido para apresentar um especial produzido para a televisão comemorando o centenário do cinema de horror, dividido em 14 capítulos. Ele também foi o único ator a interpretar todos os mais importantes personagens do cinema fantástico: desde a criatura de Frankenstein, o vampiro Drácula, passando pela Múmia, o vilão Fu Manchu, até o famoso detetive Sherlock Holmes. Christopher Lee ainda está na ativa, com seus 90 anos de idade, e atravessando mais um momento mágico em sua carreira, tendo o privilégio de ser homenageado por vários cineastas importantes como Tim Burton, participando do seu excepcional “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (99), ou George Lucas, que lhe deu o papel do vilão Conde Dookan / Darth Tyranus em “Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones” (2001), ou ainda Peter Jackson, com sua participação no papel do vilão mago Saruman na fantástica trilogia “O Senhor dos Anéis”, baseada na obra homônima de J. R. R. Tolkien.

“O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 1970) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/11/05)

O Conde Drácula (Scars of Dracula, Inglaterra, 1970). Hammer Films. Direção de Roy Ward Baker. Roteiro de John Elder (pseudônimo de Anthony Hinds, produtor da Hammer), baseado em personagem criado por Bram Stoker. Produção de Aida Young. Fotografia de Moray Grant. Direção de Arte de Scott MacGregor. Edição de James Needs. Efeitos Especiais de Roger Licken. Maquiagem de Wally Schneidermann. Música de James Bernard. Elenco: Christopher Lee, Dennis Waterman, Jenny Hanley, Christopher Matthews, Patrick Troughton, Michael Gwynn, Michael Ripper, Wendy Hamilton, Anouska Hempel, Delia Lindsay, Bob Todd, Toke Townley, David Leland, Richard Busk, Margo Boht, Clive Banie. Cores, 96 minutos, lançado no mercado brasileiro de vídeo DVD pela Revista Dark Side (Editora MultiMedia Group).

Drácula: O Príncipe das Trevas (1966)


Depois de um reinado de pavoroso terror que durou mais de um século, o rei dos não mortos é finalmente acuado em seu covil no alto das montanhas. Durante décadas, muitos pensaram em destruí-lo, todos fracassaram. Agora, finalmente havia um homem com conhecimento suficiente dos métodos do vampiro para provocar a destruição final e absoluta... Este foi o seu destino. Milhares haviam sido escravizados pelo culto do vampirismo. Agora, a própria fonte maior merecia o império. Só ficava a lembrança. A lembrança da mais maligna e terrível criatura que já marcou na civilização.

Com essa introdução narrada inicia-se o terceiro episódio de Drácula da série produzida pela “Hammer” que totalizou oito filmes. Trata-se de “Drácula: O Príncipe das Trevas” (1966), que apesar de ser cronologicamente o terceiro, se encaixaria melhor como o segundo filme, pois é uma continuação do clássico “O Vampiro da Noite” (58), tanto que a narração acima é ilustrada com a sequência final envolvendo um duelo mortal entre o Conde Drácula (Christopher Lee) e seu inimigo Prof. Van Helsing (Peter Cushing) no filme que deu origem à saga do vampiro. E também o segundo filme cronológico da série, “As Noivas do Vampiro” (60), não tem a participação de Lee como Drácula.

Na história, dois casais ingleses em férias estão viajando pelo leste europeu, nos Montes Cárpatos. São eles, Charles Kent (Francis Matthews, de “A Vingança de Frankenstein”, 58), sua esposa Diana (Suzan Farmer, de “Morte Para Um Monstro”, 65), além do irmão de Charles, Alan Kent (Charles Tingwell) e a esposa Helen (Barbara Shelley, de “A Górgona”, 64). Quando eles estão próximos da cidade de Carlstad, são estranhamente abandonados no meio da estrada cercada por uma densa floresta, onde o assustado cocheiro da carruagem em que viajavam alegava que a partir daquele trecho ele não seguiria mais em frente. Confusos com a atitude suspeita do condutor de seu transporte, os turistas são obrigados a caminharem sozinhos e encontram um castelo imponente escondido no alto de uma montanha. Sem opção de estadia, eles decidem ir até lá.
Chegando no castelo, os forasteiros são muito bem recepcionados por um sinistro mordomo chamado Klove (Philip Latham), que revela que o proprietário é o Conde Drácula (Christopher Lee), morto há dez anos, mas que deixou recomendações para que o castelo esteja sempre preparado para receber hóspedes. Apesar de acharem toda a situação bastante estranha e insólita, os viajantes ingleses não encontram outra opção a não ser aceitarem a boa hospitalidade e passarem a noite na imensa construção de pedra. Porém, durante a noite começam a ocorrer fatos misteriosos como o desaparecimento de Alan, cujo sangue em contato com as cinzas de Drácula serviu para permitir seu renascimento, fazendo-o voltar a caminhar entre a humanidade, novamente em busca de sangue para saciar sua sede insaciável. Os estrangeiros são agora obrigados a lutarem por suas vidas, recebendo apenas a ajuda do Padre Sandor (Andrew Keir, de “Sangue no Sarcófago da Múmia”, 71), um religioso caçador de vampiros que os acolhe em seu mosteiro.
Porém, Drácula, auxiliado pelo escravo Klove, parte em busca do sangue e beleza jovial de Diana, indo ao seu encontro no mosteiro. Lá, o vampiro recebe a ajuda de outro servo enfeitiçado, Ludwig (Thorley Walters), que tem o incomum hábito de comer moscas. Mas é obrigado a retornar para o castelo antes do amanhecer e o Padre Sandor e o jovem Charles partem em seu encalço para tentarem destruí-lo antes que ele se refugie na segurança de sua tumba escura.

“Drácula: O Príncipe das Trevas” possui todos os elementos típicos dos melhores e mais interessantes filmes dos anos 60 da “Hammer”. Não faltam os aldeões pouco hospitaleiros e supersticiosos, uma floresta fantasmagórica, um castelo imponente de arquitetura gótica, forasteiros curiosos e um destemido caçador de vampiros (onde dessa vez o papel ficou para o Padre Sandor). Aqui, vale um comentário: apesar da interpretação segura e marcante de Andrew Keir (mais conhecido como o Prof. Quatermass de “Uma Sepultura na Eternidade”, 67), acredito que o resultado seria ainda melhor caso Peter Cushing retornasse como o temível Prof. Van Helsing de “O Vampiro da Noite”. Fico imaginando como seria esse novo confronto entre ele e Drácula, pois em toda a série eles somente voltaram a se enfrentar nos últimos dois filmes, “Drácula no Mundo da Mini Saia” e “Os Ritos Satânicos de Drácula”.
Outro fato notável é que o filme procura respeitar aquelas características tradicionais do vampirismo, pois num determinado momento o Padre Sandor explica para o jovem inglês Charles alguns dos segredos que envolvem as criaturas da noite, dizendo que somente podem ser destruídos (na verdade, já estão mortos) através de uma estaca cravada no coração, ou pela ação devastadora da luz do sol, ou pelo afogamento em água corrente, além de que eles se queimam ao contato com cruzes e crucifixos, sentem repulsa ao alho, e somente podem entrar num ambiente se forem convidados.

O filme foi lançado em DVD no Brasil em Outubro de 2002 com distribuição em banca de jornais, encartado na revista “Dark Side DVD”, Ano 1, Número 1. Entre os materiais extras temos um trailer e um vídeo amador mostrando os bastidores do filme, ambos sem legendas em português. Esse vídeo foi produzido com uma câmera caseira por Paul Shelley e traz comentários dos atores Christopher Lee, Barbara Shelley, Suzan Farmer e Francis Matthews, que se reuniram em 23/02/97 para assistirem as filmagens dos bastidores e gravarem seus depoimentos e impressões.
“Drácula: O Príncipe das Trevas” também recebeu vários outros nomes alternativos originais como “Disciple of Dracula”, “Revenge of Dracula”, “The Bloody Scream of Dracula” e “Dracula 3”. Este último nome foi criado em função de ser o terceiro filme da série com o vampiro Drácula da “Hammer”, precedido por “O Vampiro da Noite” (Horror of Dracula, 58) e “As Noivas do Vampiro” (The Brides of Dracula, 60), e sucedido por mais cinco filmes, “Drácula, O Perfil do Diabo” (Dracula Has Risen From the Grave, 68), “O Sangue de Drácula” (Taste the Blood of Dracula, 70), “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 70), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (Dracula AD 1972, 72), e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 73). Em todos os filmes o papel do temível sugador de sangue foi de Christopher Lee, com exceção de “As Noivas do Vampiro”, onde o vilão foi o Barão Meinster, interpretado por David Peel.
Aliás, Lee não gostou do roteiro de “Drácula: O Príncipe das Trevas”, que foi escrito por Jimmy Sangster (creditado como John Sansom), a partir de uma história do produtor Anthony Hinds (sob o pseudônimo de John Elder). Tanto que para evitar a possibilidade de uma repercussão insatisfatória de seu personagem, ele pediu que sua participação fosse silenciosa, ou seja, o vampiro não diz uma única palavra no filme inteiro, apenas atuando com expressões faciais, e somente entrou em cena após quase cinquenta minutos de história. Um outro fato curioso foi que para economizar nos custos de produção, a “Hammer” filmou tanto “Drácula: O Príncipe das Trevas” como “Rasputin: O Monge Louco” (Rasputin: The Mad Monk) mais ou menos ao mesmo tempo, utilizando os mesmos cenários e o elenco principal, onde Christopher Lee, Barbara Shelley, Suzan Farmer e Francis Matthews atuaram em ambos os filmes.

“Drácula: O Príncipe das Trevas” (Dracula: Prince of Darkness, 1966) – artigo # 296 – data: 29/01/05 – avaliação: 9 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/11/05)

“Drácula: O Príncipe das Trevas” (Dracula: Prince of Darkness, Inglaterra, 1966). Hammer. Duração: 90 minutos. Direção de Terence Fisher. Roteiro de Jimmy Sangster (creditado como John Sansom), a partir de história de Anthony Hinds (creditado como John Elder). Produção de Anthony Nelson Keys. Fotografia de Michael Reed. Música de James Bernard. Edição de Chris Barnes. Desenho de Produção de Bernard Robinson. Direção de Arte de Don Mingaye. Elenco: Christopher Lee (Drácula), Barbara Shelley (Helen Kent), Andrew Keir (Padre Sandor), Francis Matthews (Charles Kent), Suzan Farmer (Diana Kent), Charles Tingwell (Alan Kent), Thorley Walters (Ludwig), Philip Latham (Klove), Walter Brown, George Woodbridge, Jack Lambert, Philip Ray, Joyce Hemson, John Maxim.

A Vingança de Frankenstein (1958)


No ano de 1860, o Barão Frankenstein foi condenado à morte pelos assassinatos brutais cometidos pelo monstro que ele havia criado... A Europa inteira respirou aliviada quando a guilhotina pôs fim a sua vida de infâmia.

Em 1957 a produtora inglesa Hammer havia iniciado o seu ciclo de filmes inspirados na famosa obra de Mary Shelley e lançou o clássico “A Maldição de Frankenstein” (The Curse of Frankenstein), com Peter Cushing como o cientista louco e Christopher Lee como o monstro. Com o sucesso do filme, os produtores logo pensaram numa sequência e no ano seguinte veio “A Vingança de Frankenstein” (The Revenge of Frankenstein), novamente com direção de Terence Fisher e com elenco liderado por Peter Cushing. Porém, dessa vez foi Michael Gwynn quem fez o papel da criatura, no lugar de Christopher Lee.

A história começa exatamente onde termina o filme anterior, e conforme diz a introdução narrada (e reproduzida acima), o cientista (Peter Cushing) está a caminho da guilhotina, condenado à morte pelos assassinatos cometidos pelo monstro que ele criou em seu laboratório, formado por pedaços de cadáveres e com o cérebro deformado num acidente. Porém, o Dr. Frankenstein consegue escapar da prisão na Suiça e foge para outra cidade, se estabelecendo em Carlsbruck, na Alemanha, com o nome alternativo de Dr. Victor Stein, atuando por três anos como um médico popular que aproveita os momentos livres para continuar suas experiências macabras, tendo a sua disposição um estoque ilimitado de pedaços de corpos humanos para seu trabalho. Sua popularidade na cidade, liderando uma clínica para pacientes indigentes e criminosos, incomoda a junta médica local, que decide fazer uma investigação em seu passado.
Um dos médicos da junta, o Dr. Hans Kleve (Francis Matthews), descobre a real identidade do cientista, mas como sendo um admirador sedento por conhecimento, ele acaba se transformando num fiel e dedicado assistente e discípulo do Dr. Stein. Ambos então passam a se dedicar na criação de um ser artificial, formado por pedaços de pessoas mortas. A parte mais importante da experiência, a implantação de um cérebro, foi possível graças à doação espontânea do ajudante corcunda Karl (Oscar Quitak), que devido a sua deficiência física pediu para o cientista um corpo novo e forte.
A experiência tem sucesso e surge um homem sintético, o novo Karl (interpretado por Michael Gwynn), que praticamente não tem cicatrizes, parecendo uma pessoa normal e saudável. Experiências anteriores com répteis e macacos provaram para o cientista que o cérebro se adaptava bem ao novo corpo independente do ambiente, apesar de que no caso de um macaco uma deformação no cérebro fez com que ele estranhamente adotasse um comportamento inédito, passando a ser carnívoro.
Enquanto isso, surge uma nova personagem, a jovem Margaret Conrada (Eunice Gayson), filha do Ministro da cidade, que politicamente foi obrigada a trabalhar na clínica do Dr. Frankenstein num projeto social com os pacientes pobres (o que é apenas um pretexto do roteirista Jimmy Sangster para incluir uma “mocinha” totalmente dispensável na história).
Após uma breve recuperação secreta do novo Karl, ele fica abalado quando ouve que a intenção de seus criadores é expô-lo como uma valiosa descoberta científica mundial, e uma vez coincidindo com uma rejeição e degeneração progressiva de seu cérebro, ele transformou-se numa criatura assassina, fazendo algumas vítimas nos arredores da clínica.
As mortes chamaram a atenção de todos na cidade para um caso similar ocorrido na Suiça, e logo a real identidade do Dr. Stein foi descoberta com a notícia se espalhando rapidamente, até ele tornar-se vítima de seus próprios pacientes. Porém, uma cirurgia de transplante de seu cérebro, executada com perfeição pelo assistente Dr. Kleve, trouxe-o novamente à vida num novo corpo, para continuar seu trabalho em outro lugar, em Londres, agora como o Dr. Franck.

“A Vingança de Frankenstein” é bem inferior ao primeiro filme da série, investindo bem menos nas cenas de horror, com poucas mortes, violência e sangue, preferindo concentrar as ações na figura do célebre cientista e seu trabalho macabro, em vez do monstro criado a partir de pedaços de cadáveres. Tanto que a criatura é uma pessoa normal, com poucas cicatrizes, não tendo nenhuma deformidade ou visual assustador, fato que foi alterado novamente no terceiro filme da série produzido seis anos depois, “O Monstro de Frankenstein” (The Evil of Frankenstein), onde a criatura vivida por Kiwi Kingston voltou ao visual macabro, lembrando um pouco Boris Karloff no filme da Universal de 1931, justamente porque o grande estúdio americano finalmente havia liberado os direitos sobre a maquiagem do monstro.
Apesar de ter na equipe técnica o mesmo diretor e roteirista do anterior “A Maldição de Frankenstein”, essa sequência não conseguiu manter o mesmo clima gótico característico do cinema produzido pela “Hammer”, ambientando a história numa grande cidade e abandonando os tradicionais elementos do estilo. Talvez o destaque ainda seja o bizarro laboratório do cientista, nos porões de sua clínica médica, onde visualizamos uma série de instrumentos e equipamentos elétricos repletos de alavancas pesadas e enormes eletrodos.

Curiosamente, o filme recebeu outros nomes alternativos em sua distribuição pelo mundo, sendo também conhecido como “Blood of Frankenstein” e “I Frankenstein”. A série de filmes da “Hammer” baseado na história de Mary Shelley ainda teve outras cinco produções, “O Monstro de Frankenstein” (64), “Frankenstein Criou a Mulher” (67), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (69), “Horror de Frankenstein” (70) e “Frankenstein and the Monster From Hell” (74). Neles, o ator Peter Cushing fez o papel do cientista em quase todos, exceto em “Horror de Frankenstein”, onde foi substituído por Ralph Bates. E o monstro foi interpretado por vários atores diferentes, tendo entre eles Dave Prowse, o vilão “Darth Vader” da primeira trilogia filmada de “Star Wars”.

Lembrem-se que os gritos que vocês ouvirem poderão ser os seus próprios!

“A Vingança de Frankenstein” (The Revenge of Frankenstein, 1958) – artigo # 227 – data: 06/03/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/11/05)

A Vingança de Frankenstein (The Revenge of Frankenstein, Inglaterra, 1958). Hammer, 90 minutos. Direção de Terence Fisher. Roteiro de Jimmy Sangster, Hurford Janes e George Baxt. Produção de Anthony Hinds e Anthony Nelson Keys. Produção Executiva de Michael Carreras. Fotografia de Jack Asher. Música de Leonard Salzedo. Edição de Alfred Cox. Desenho de Produção de Bernard Robinson. Maquiagem de Philip Leakey. Elenco: Peter Cushing (Dr. Victor Frankenstein / Dr. Victor Stein / Dr. Franck), Francis Matthews (Dr. Hans Kleve), Eunice Gayson (Margaret Conrad), Michael Gwynn (Karl, depois como a criatura), John Welsh (Bergman), Lionel Jeffries (Fritz), Oscar Quitak (Karl, antes de se transformar na criatura), Richard Wordsworth (Slensky), Charles Lloyd Pack, John Stuart, Arnold Diamond, Margery Cresley, Anna Walmsley, George Woodbridge, Michael Ripper, Ian Whittaker.

A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein, Inglaterra, 1957)


A criatura criada pelo Homem e esquecida pela Natureza irá assombrá-lo para sempre!

Há mais de 100 anos, num vilarejo nas montanhas da Suiça, viveu um homem cujas bizarras experiências com os mortos tornaram-se uma lenda. Ela ainda é contada com horror em todo o mundo. É a lenda da Maldição de Frankenstein

Com essa introdução tem início um dos dois maiores clássicos de todos os tempos do cinema de horror explorando a temática do famoso monstro criado a partir de pedaços de cadáveres humanos, através das mãos do cientista Dr. Frankenstein.
A Maldição de Frankenstein” (The Curse of Frankenstein, 1957), dirigido por Terence Fisher, escrito por Jimmy Sangster e estrelado pela dupla ainda pouca conhecida na época Christopher Lee e Peter Cushing, é a mais consagrada versão colorida desse universo ficcional, produzida pelo saudoso estúdio inglês “Hammer”, sendo uma refilmagem com liberdade artística da versão em preto e branco da “Universal”, “Frankenstein” (1931), de James Whale e com Boris Karloff e Colin Clive (criatura e criador, respectivamente). Ambos são os principais representantes do cinema, entre uma infinidade de outras adaptações, para a famosa novela da escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851).
Autora de “Frankenstein, or a Modern Prometheus” (1818), ela nunca imaginaria que sua criação literária seria tão cultuada e uma das obras de horror mais filmadas e adaptadas em todos os tempos, e que a “criatura de Frankenstein” seria um dos maiores monstros sagrados e eternos do gênero, ao lado do vampiro “Drácula”, de Bram Stoker (1847-1912), além da “Múmia”, do “Lobisomem”, “Fantasma da Ópera”, “Monstro da Lagoa Negra”, e outros.

Em “A Maldição de Frankenstein”, a história inicia com o cientista Barão Victor Frankenstein (Peter Cushing) preso numa cela aguardando sua execução na guilhotina. Ele solicita a presença de um padre (Alex Gallier) para ouvir suas confissões, contando sobre suas experiências macabras que o levaram à prisão e tentar com isso conseguir a credibilidade de seus acusadores e se salvar da pena de morte.
A partir daí, ele narra sua história em “flashbacks” começando pela perda do pai quando ainda jovem, deixando-o sozinho no mundo, porém herdando a riqueza da família. O jovem Victor (Melvyn Hayes) providencia então um mentor que o acompanharia por muitos anos, Paul Krempe (Robert Urquhart), para aprender o máximo possível com ele, dedicando-se nos estudos e transformando-se num destacado cientista. Juntos, eles realizam inicialmente experiências de reanimação de animais mortos, conseguindo êxito com um pequeno cachorro. Não satisfeito, Victor decide aperfeiçoar suas experiências utilizando pedaços de cadáveres humanos para a criação de um ser perfeito, numa combinação do que há de melhor no homem. Mesmo com a desaprovação de Paul, o “cientista louco” roubou o corpo de um forte criminoso executado na forca e juntou com as mãos de um escultor habilidoso, os olhos roubados de um necrotério e o cérebro de um cientista inteligente, nem que para isso ele tivesse que conseguir cadáveres à força.
Numa noite de intensa tempestade, um acidente com uma descarga elétrica de um trovão acionou as máquinas do laboratório do Dr. Frankenstein, possibilitando a criação de um ser vivo, reanimado a partir de carne morta (interpretado magistralmente por Christopher Lee), com o rosto totalmente deformado e com o cérebro parcialmente danificado devido a uma briga entre Victor e seu mentor Paul, sobre desavenças quanto aos rumos que as macabras experiências estavam tomando.
Enquanto isso, uma bela prima de Victor, Elizabeth (Hazel Court), aparece para morar no castelo da família Frankenstein e se casar posteriormente com ele. Para protegê-la dos acontecimentos bizarros que se passavam no laboratório, Paul decide continuar hospedado no castelo, mesmo não auxiliando mais o cientista em suas experiências.
Após uma série de eventos envolvendo a fuga do monstro para um bosque nas redondezas, novas experiências do Dr. Frankenstein tentando dominar o monstro, enfatizando sua obsessão na criação de vida artificial e a manifestação de insanidade, e o desaparecimento suspeito de aldeões e empregados do barão, ocorre um confronto final entre o criador e a criatura nos telhados do castelo.

A produtora “Hammer” foi a responsável por ressuscitar novamente o horror no final da década de 1950, trazendo agora a cores e com o vermelho vivo do sangue os monstros clássicos da “Universal”, antes somente filmados em preto e branco. “A Maldição de Frankenstein” foi o primeiro exemplo dessa nova safra de filmes, revitalizando o gênero para o cinema (que enfrentava perdas significativas de audiência para a televisão) e investindo novamente no monstro do Dr. Frankenstein. O filme é uma pérola do cinema fantástico, com a introdução de fascinantes cenários góticos que seriam a marca registrada em dezenas de filmes seguintes, através do imponente castelo de cômodos imensos, a floresta fantasmagórica, o laboratório sinistro repleto de aparelhos elétricos e tubos de ensaio, e o modo de vida aristocrático das damas e cavalheiros da época.
A interpretação de Peter Cushing é fenomenal, num papel que ele repetiria várias outras vezes, como um homem da ciência que perde o controle sobre sua macabra criação, que passa a ser uma ameaça para a humanidade. Cushing ficou conhecido como “O Cavalheiro do Horror” justamente por sua classe natural e os vários personagens que deu vida no cinema. Quanto à Christopher Lee, mesmo sem dizer uma única palavra no filme, ele já mostrou sua capacidade de interpretar um monstro atormentado por sua horrível condição, um ser criado a partir de pedaços mortos de outros corpos, reanimados artificialmente. Ele também encarnou de forma magistral outros vilões similares como “Drácula” e a “Múmia”. Como a maquiagem da criatura no filme da “Universal” em 1931, desenhada por Jack Pierce, estava protegida sob direitos autorais, para o filme da “Hammer” foi necessário imaginar uma concepção alternativa do monstro, criada por Phil Leakey, obtendo um resultado final igualmente interessante numa semelhança com um zumbi, e apesar de completamente diferente daquele visual conhecido e utilizado pelo ator Boris Karloff.

Como curiosidade, vale reproduzir dois trechos interessantes narrados pelo velho e sábio Professor Bernstein (Paul Hardtmuth), um dos mais célebres cientistas da Europa, numa conversa com Victor Frankenstein, refletindo sobre suas atividades como homens da ciência, suas motivações, objetivos e o perigoso destino do resultado de seus trabalhos:
“Passamos grande parte de nossas vidas trancados em salas sombrias em busca de verdades obscuras. Procurando, pesquisando, até que se fica velho demais para aproveitar a vida.”
“O mundo está preparado para as revelações dos cientistas? Há uma grande diferença em saber como as coisas são e saber como usar o conhecimento para o bem da humanidade. O problema dos cientistas como nós é que nos cansamos de nossas descobertas muito rapidamente. Nós as passamos para pessoas que não estão preparadas para elas, enquanto nos embrenhamos novamente na escuridão da ignorância buscando outras descobertas que serão utilizadas da mesma maneira quando chegar a hora”.

Dentre os incontáveis filmes produzidos ao longo de mais de 100 anos de história do cinema, utilizando a história de Mary Shelley como base para seus argumentos, uma série se destaca em especial, lançada logo após o enorme sucesso de “A Maldição de Frankenstein” pela “Hammer”. A partir do fim dos anos 1950, o estúdio inglês iniciou uma produtiva safra de filmes com a criatura, e vieram “A Vingança de Frankenstein” (58), “O Monstro de Frankenstein” (64), “Frankenstein Criou a Mulher” (67), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (69), “Horror de Frankenstein” (70) e “Frankenstein and the Monster From Hell” (74). Nesta série de sete filmes, Peter Cushing fez o papel do Dr. Frankenstein em quase todos, exceto por “Horror de Frankenstein”, onde o papel ficou com Ralph Bates. Já o monstro foi interpretado, entre outros, por Michael Gwynn, Kiwi Kingston e Dave Prowse (o “Darth Vader” da primeira trilogia filmada de “Star Wars”).

“A Maldição de Frankenstein” foi lançado em DVD no Brasil pela “Warner” numa edição caprichada com uma bela capa trazendo uma ilustração colorida do filme, fazendo referência à criatura monstruosa e ao “cientista louco” que a concebeu em seu laboratório, e tendo como material extra um trailer original de cinema, sem legendas em português (e com esse detalhe corretamente informado na capa). A única falha é a inclusão de uma pequena foto em preto e branco que não tem nenhuma relação com o filme.

O diretor inglês Terence Fisher nasceu em Londres em 1904 e morreu aos 76 anos vítima de um ataque cardíaco. Sua filmografia com mais de 50 trabalhos é em sua maioria composta por filmes de horror da produtora inglesa “Hammer”, sendo o responsável pela criação de uma infinidade de clássicos e obras menores indispensáveis para a história do gênero em todos os tempos. Além de “A Maldição de Frankenstein”, o cineasta assinou várias outras películas preciosas como “O Vampiro da Noite” (58), “A Vingança de Frankenstein” (58), “O Cão dos Baskervilles” (59), do livro de Arthur Conan Doyle, “A Múmia” (59), “O Homem Que Enganou a Morte” (59), “As Noivas do Vampiro” (60), “O Monstro de Duas Caras” (60), da obra de Robert Louis Stevenson, “A Maldição do Lobisomem” (61), “O Fantasma da Ópera” (62), do romance de Gaston Leroux, “The Earth Dies Screaming” (64), “A Górgona” (64), “Drácula, o Príncipe das Trevas” (66), “Island of Terror” (66), “Frankenstein Criou a Mulher” (67), “Night of the Big Heat” (67), “As Bodas de Satã” (68), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (69), “Frankenstein and the Monster From Hell” (74), e outros mais.
O roteirista Jimmy Sangster nasceu no final de 1924 na Inglaterra, e teve uma participação significativa principalmente como membro da equipe de produção da “Hammer”. Escreveu as histórias para vários filmes indispensáveis do cinema fantástico, alguns deles dirigidos por Terence Fisher, e outros como “O Estranho de Um Mundo Perdido” (56), “Blood of the Vampire” (58), “Jack, o Estripador” (59), “Horror de Frankenstein” (70), entre outros.
O elenco de “A Maldição de Frankenstein” é formado pela dupla Christopher Lee e Peter Cushing, num dos primeiros trabalhos juntos e que se repetiriam numa infinidade de filmes posteriores, trabalhando na maioria das vezes interpretando personagens rivais como “Drácula” e seu eterno inimigo o caçador de vampiros Prof. Van Helsing. Completam o time principal ainda a bela Hazel Court e o escocês Robert Urquhart.
O ator inglês Christopher Lee nasceu 1922 em Londres, e é o único astro ainda vivo de uma geração de ícones do gênero que ainda inclui nomes consagrados como Peter Cushing, Vincent Price, John Carradine e Donald Pleasence. Com quase 250 filmes no currículo, Lee tem sua imagem eternamente associada ao amaldiçoado vampiro “Drácula”, papel que interpretou com maestria única em diversos filmes marcantes entre o final da década de 1950 e início dos anos 70, e ele ainda está na ativa participando de grandes produções como vilão de duas das mais expressivas franquias do cinema de entretenimento do momento, “Star Wars”, como o Conde Dookan / Darth Tyranus, e “O Senhor dos Anéis”, interpretando o mago Saruman. Alguns outros filmes de horror memoráveis de sua carreira são “O Vampiro da Noite” (58), “A Górgona” (64), “Teatro dos Horrores” (66), “A Maldição do Altar Escarlate” (68), “O Ataúde do Morto-Vivo” (69), “Grite, Grite Outra Vez” (69), “A Casa que Pingava Sangue” (70), “O Soro Maldito” (71), “A Essência da Maldade” (73), “O Homem de Palha” (73), “O Expresso do Horror” (73), “Uma Filha Para o Diabo” (76), “A Mansão da Meia-Noite” (83), e “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (99).
Peter Cushing também é inglês e faleceu em 1994 aos 81 anos de idade após participar de mais de 130 filmes, e em sua vasta carreira no cinema as performances mais significativas foram com as produções de horror, interpretando muitas vezes “cientistas loucos”, porém nobres aristocráticos. Sua imagem ficou eternamente associada especialmente pelos papéis do caçador de vampiros Prof. Van Helsing, e pelo cientista Dr. Frankenstein. Alguns filmes divertidos em que participou e ainda não citados foram “O Monstro do Himalaia” (57), “A Carne e o Diabo” (59), “A Guerra dos Daleks” (65), “As Torturas do Dr. Diábolo” (67), “Carmilla, a Vampira de Karnstein” (70), “Contos do Além” (72), “Asilo Sinistro” (72), “A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes” (72), “Vozes do Além” (73), “A Casa do Terror” (74), “O Carniçal” (75), “No Coração da Terra” (76), “Guerra nas Estrelas” (77), etc.
A atriz Hazel Court nasceu em Birmingham, Inglaterra, em 1926, e em sua carreira relativamente curta (35 filmes), ela participou de algumas produções do gênero fantástico como “Devil Girls From Mars” (54), “O Homem Que Enganou a Morte” (59), “The Premature Burial” (62), “O Corvo” (63) e “A Máscara Mortal” (64).

“A Maldição de Frankenstein” (The Curse of Frankenstein, 1957) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/11/05)

A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein, Inglaterra, 1957). Hammer / Warner (distribuição). Duração: 83 minutos. Filmado em locações dos “Bray Studios”. Direção de Terence Fisher. Roteiro de Jimmy Sangster, baseado em obra de Mary Shelley. Produção de Anthony Hinds, Anthony Nelson Keyes e Max Rosenberg. Produção Executiva de Michael Carreras. Música de James Bernard. Fotografia de Jack Asher. Edição de James Needs. Desenho de Produção de Ted Marshall. Maquiagem de Phil Leakey. Elenco: Peter Cushing (Barão Victor Frankenstein), Christopher Lee (Criatura), Hazel Court (Elizabeth), Robert Urquhart (Paul Krempe), Melvyn Hayes (Jovem Victor), Valerie Gaunt (Justine), Paul Hardtmuth (Professor Bernstein), Noel Hood (Tia Sophie), Fred Johnson (Avô), Claude Kingston (Garoto), Alex Gallier (Padre), Michael Mulcaster, Andrew Leigh, Anne Blake, Sally Walsh, Middleton Woods, Raymond Ray.

Teatro da Morte / As Sete Máscaras da Morte (Theatre of Blood, Inglaterra, 1973)


Vincent Price reservou um lugar para você no Teatro da Morte

Depois de interpretar o fascinante e aristocrático Dr. Phibes, um inteligente e diferenciado assassino em série, em dois cultuados filmes ingleses dirigidos por Robert Fuest e lançados em 1971 (“O Abominável Dr. Phibes”) e 72 (“A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes”), o lendário ator Vincent Price voltaria logo depois para interpretar um papel semelhante, estrelando o igualmente cultuado “Teatro da Morte” (Theatre of Blood, 73), de Douglas Hickox, dando vida dessa vez para Edward Lionheart, um exagerado ator shakespeareano do teatro que simula suicídio para poder colocar em prática um maquiavélico plano de vingança contra os algozes críticos que destruíram sua performance nos palcos e o impediu de ganhar um importante prêmio, assassinando-os com refinada maestria e sutileza, contando com o auxílio de um grupo de mendigos bêbados e um ajudante misterioso, que sempre está disfarçado com óculos escuros e um bigode enorme.
Entre os críticos temos o líder do grupo Peregrine Devlin (Ian Hendry), Trevor Dickman (Harry Andrews), Srta. Chloe Moon (Coral Browne), Oliver Harding (Robert Coote), Solomon Psaltery (Jack Hawkins), George Maxwell (Michael Hordern), Horace Sprout (Arthur Lowe), Meredith Merridew (Robert Morley) e Hector Snipes (Dennis Price). E para investigar os assassinatos e tentar impedir o sucesso do plano de vingança do injustiçado ator, temos dois policiais, o Inspetor Boot (Milo O´Shea) e o Sargento Dogge (Eric Sykes), que não hesitam em interrogar a filha de Lionheart, a bela Edwina (Diana Rigg).

Essa é a premissa básica de “Teatro da Morte” e a presença de Vincent Price já significa uma garantia total de entretenimento, principalmente num filme onde ele pôde exercitar todo o seu talento na arte de atuar, interpretando justamente um ator teatral envolvido num magistral plano de vingança contra aqueles críticos arrogantes que acreditam serem supremos e que estão acima de todos os outros simples mortais. Inspirando-se em peças teatrais do famoso poeta William Shakespeare, ele comete os mais requintados assassinatos, utilizando-se de um fino senso de humor e uma sádica ironia, além de notável inteligência.
A maior crítica contra seu trabalho nos palcos é justamente uma suposta falta de originalidade, sempre atuando em papéis inspirados em Shakespeare, e não optando por fazer algo mais moderno e atualizado com o século XX (o filme é de 1973). Mas a resposta de Edward Lionheart para esse pensamento dos críticos foi fazê-los sofrer uma morte dolorosa em eventos relacionados especialmente e de forma direta às peças teatrais do famoso poeta.
Cada um dos críticos sentiu na pele sua ira por vingança, com seus últimos momentos de vida transformados como parte de uma peça de teatro de Shakespeare, como podemos ver em “Julius Caesar”, na cena onde um crítico morre retalhado por múltiplos golpes de faca e objetos cortantes, ou “Troilus and Cressida”, com a vítima sendo assassinada com uma lança atravessando-lhe o peito e tendo seu corpo esfolado ao ser arrastado por um cavalo numa rua de terra e coberta de pedras pontiagudas, ou “Cymbeline”, mostrando a cabeça de um crítico sendo decapitada cirurgicamente, além de “The Merchant of Venice”, onde o crítico tem seu coração arrancado do peito, “Richard the Third”, na cena onde um homem degustador de vinhos é afogado num barril cheio de sua bebida preferida, “Henry the Sixth Pt. 1”, numa seqüência hilariante com Lionheart se disfarçando de cabeleireiro gay e executando sua vítima queimada por eletrocussão na cadeira, e finalmente com “Titus Andronicus”, onde a melhor cena de morte está reservada para um crítico obeso que adora exageradamente seus cãezinhos de estimação e é obrigado a saboreá-los cozidos numa torta, e sucumbe entupido de comida. Essas são as “Sete Máscaras da Morte” (outro título nacional alternativo que o filme recebeu quando foi exibido na televisão), que ainda se juntam a mais três peças de Shakespeare, “Romeo and Juliet”, “Othelo” e “King Lear”, as quais não resultaram em mortes diretas dos críticos, mas que se transformaram em suas tragédias ou tiveram importância fundamental na condução da trama.
Vincent Price está excepcional em seu papel de assassino vingador, fazendo de Edward Lionheart um dos mais inteligentes e diferenciados psicopatas do cinema (assim como aconteceu anteriormente com o Dr. Phibes), criando uma escola que certamente teve alunos que não aproveitaram seus ensinamentos e fizeram de suas carreiras de assassinos um desfile de mortes exageradas em sangue e pouco inventivas, apesar deles também criarem seus próprios estilos e de possuírem importância no cinema de Horror (como Jason Voorhees, de “Sexta-Feira 13”, e Michael Myers, de “Halloween”, para citar apenas dois exemplos).

“Teatro da Morte” foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side”, da “Works Editora”, trazendo como material extra as biografias dos atores Vincent Price e a inglesa Diana Rigg, além de uma sinopse e um trailer original de cinema, legendado em português e com dois minutos e meio de duração.
Curiosamente, como já mencionado, o filme havia recebido o nome nacional de “As Sete Máscaras da Morte” quando exibido na televisão (título também adotado quando lançado em DVD pela “PlayArte”). E depois foi chamado de “Teatro da Morte” no lançamento também em DVD, só que pelo selo “Dark Side”. Aliás, num mercado carente de lançamentos de uma infinidade de outros filmes interessantes ainda inéditos por aqui, temos no caso desse filme um lançamento no formato digital em duplicidade, por duas distribuidoras diferentes, e com títulos também diferentes, para complicar ainda mais o já árduo trabalho de catalogação dos filmes que são lançados no Brasil, pelos colecionadores e pesquisadores.
Outros detalhes curiosos são o fato de que Vincent Price considera seu personagem em “Teatro da Morte” como o favorito em sua longa carreira. Aliás, o filme também tem uma importância sentimental muito grande, pois o lendário ator casou-se com a atriz Coral Browne após conhecê-la no set de filmagens. O nome original “Theatre of Blood” foi o adotado na Inglaterra, sendo que na distribuição nos Estados Unidos o título foi levemente alterado para “Theater of Blood” (tanto “theatre” quanto “theater” são palavras sinônimas que significam “teatro”).

“Teatro da Morte” (Theatre of Blood, 1973) # 353 – data: 27/11/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 27/11/05)

Teatro da Morte / As Sete Máscaras da Morte (Theatre of Blood, Inglaterra, 1973). Duração: 104 minutos. Direção de Douglas Hickox. Roteiro de Anthony Greville-Bell, baseado em idéia de Stanley Mann e John Kohn, que por sua vez inspiraram-se em peças teatrais de William Shakespeare. Produção de John Kohn e Stanley Mann. Produção Executiva de Gustave Berne e Sam Jaffe. Música de Michael J. Lewis. Fotografia de Wolfgang Suschitzky. Edição de Malcolm Cooke. Desenho de Produção de Michael Seymour. Maquiagem de George Blackler. Efeitos Especiais de John Stears. Elenco: Vincent Price (Edward Kendal Sheridan Lionheart), Diana Rigg (Edwina Lionheart), Ian Hendry (Peregrine Devlin), Harry Andrews (Trevor Dickman), Coral Browne (Srta. Chloe Moon), Robert Coote (Oliver Larding), Jack Hawkins (Solomon Psaltery), Michael Hordern (George Maxwell), Arthur Lowe (Horace Sprout), Robert Morley (Meredith Merridew), Dennis Price (Hector Snipe), Diana Dors (Maisie Psaltery), Milo O´Shea (Inspetor Boot), Eric Sykes (Sargento Dogge), Madeline Smith (Rosemary), Joan Hickson (Sra. Sprout), Renée Asherson (Sra. Maxwell).

Madrugada dos Mortos (2004)


Quando não há mais espaço no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra

O cineasta George A. Romero tem seu nome eternamente associado ao Horror, principalmente pela sua famosa e cultuada trilogia dos mortos, formada por “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 68), filmado em preto e branco, “O Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 78), e “O Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 85). Esses filmes estão entre o que há de melhor e mais significativo dentro do sub-gênero “zumbis assassinos e famintos por carne humana”, juntamente com uma série de produções italianas, principalmente aquelas sob a direção de Lucio Fulci (1927/1996), tendo como ápice o ultra violento e ainda inédito por aqui “Zombie Flesh-Eaters” (79).
Da trilogia de Romero, “A Noite dos Mortos-Vivos” já havia recebido uma ótima refilmagem em 1990 dirigida por Tom Savini, mais conhecido como um dos mais importantes profissionais da área de maquiagem do cinema de horror. Agora é a vez de “O Despertar dos Mortos” receber uma versão mais atual, nas mãos do diretor estreante Zack Snyder, e que chegou aos cinemas brasileiros em 23/04/04 com o nome de “Madrugada dos Mortos” (Dawn of the Dead), aproximadamente um mês depois de estrear nos Estados Unidos. E curiosamente até já existem rumores sobre também uma nova versão para o terceiro filme, “O Dia dos Mortos”. É esperar para ver...

A história apresenta um grupo de pessoas que repentinamente se encontram isoladas num shopping center chamado “Cross Roads Mall”, em Milwaukee, no Estado americano de Wisconsin, após descobrirem que a humanidade está mergulhada num violento caos com os mortos famintos voltando a caminhar (ou melhor, correr) entre os vivos, à procura de carne humana fresca e macia. Uma praga desconhecida é a responsável por milhões de cadáveres tomarem posse do mundo, pois conforme a tagline principal (que está no topo desse texto), não há mais espaço para eles no inferno. Eles espalham a contaminação numa velocidade devastadora com as pessoas feridas em ataques de zumbis se transformando em novos integrantes de seu macabro exército de selvagens mortos-vivos.
Uma jovem enfermeira, Ana (Sarah Polley), é surpreendida por um ataque de zumbis em sua própria casa, onde a pequena garota Vivian (Hannah Lochner), sua vizinha, invade o quarto de dormir e morde mortalmente o pescoço de seu marido Luis (Justin Louis). Na fuga desesperada de carro, ela é interceptada por um policial, Kenneth (Ving Rhames), que faz o papel de um típico herói de ação de poucas palavras (e que foi feito por Ken Foree no original). Juntos eles conseguem fugir dos mortos-vivos canibais e encontram um pequeno grupo de sobreviventes formado por Michael (Jake Weber) e o casal Andre (Mekhi Phifer) e sua namorada russa Luda (Inna Korobkina), que está grávida com o filho prestes a nascer.
Sem lugar para ir, eles decidem se esconder no interior de um shopping, onde encontram três agentes de segurança igualmente isolados, o arrogante CJ (Michael Kelly) e os novatos Bart (Michael Barry) e Terry (Kevin Zegers). Mais tarde ainda se junta a eles outro grupo de pessoas em fuga num caminhão e que chegam a salvos no shopping, formado por Norma (Jayne Eastwood), Glen (R. D. Reid), Tucker (Boyd Banks), que está ferido na perna, o playboy rico e inconveniente Steve (Ty Burrell), um pai ferido numa das mãos, Frank (Matt Frewer) e sua filha Nicole (Lindy Booth), além da bela Monica (Kim Poirier), todos candidatos a se tornarem comida dos zumbis. O policial Kenneth descobre também um outro sobrevivente isolado num prédio vizinho, Andy (Bruce Bohne), dono de uma loja de armas e exímio atirador, com quem faz amizade e se comunica através de cartazes. Eles tentam sobreviver protegidos da ameaça dos mortos-vivos refugiados no interior do shopping. Porém, uma vez confinados num ambiente de total claustrofobia, sem saída e com o mundo lá fora transformado num inferno, eles precisam aprender a conviver também uns com os outros, numa tarefa igualmente difícil.
Quando a comida e a energia elétrica chegam ao fim, e os mortos começam a encontrar meios de quebrar as barreiras de defesa e invadir o interior do prédio comercial, os sobreviventes são obrigados a saírem tentando colocar em prática um plano de fuga que os levaria a uma marina e de barco até uma ilha no meio do mar. Só que para isso, eles terão que enfrentar a fúria assassina de uma imensa legião de cadáveres carnívoros e agressivos, que se concentram do lado de fora das portas do shopping, numa alusão à lembranças instintivas enquanto eram pessoas normais, fazendo-os se dirigirem a um local muito frequentado em vida. Mas, conforme questiona sabiamente uma das taglines do filme, “como se mata o que já está morto?”

Em primeiro lugar, um fato que deve ser enaltecido certamente é a interessante tagline principal, muito apropriada e de grande impacto promocional, uma das mais sonoras frases de divulgação que eu já vi, e que é a mesma do filme original de 1978. E também o cartaz oficial dessa refilmagem, mostrando parcialmente um zumbi raivoso, no melhor estilo do anti-herói Ash da série “The Evil Dead”, quando possuído pelo demônio.
Segundo, eu confesso que desde o início da divulgação do projeto envolvendo uma refilmagem para “Dawn of the Dead”, eu não fiquei muito entusiasmado, principalmente pela possibilidade da produção de um filme que não respeitasse plenamente os conceitos do original. E assim como “Halloween III: A Noite das Bruxas” (83), que é um bom filme de horror que teve o equívoco de ser associado à franquia “Halloween”, cuja história não tem nada a ver com a saga do psicopata Michael Myers, e que funcionaria muito melhor se fosse um filme independente e com vida própria, esse “Madrugada dos Mortos” serve como mesmo exemplo. Ou seja, é um ótimo filme de horror e entretenimento dentro do sub-gênero zumbi, com boas doses de violência e sangue, numa história interessante com grandes momentos de ação e clima de suspense perturbador, mas que o ideal seria se fosse independente, não possuindo relações com o clássico de George Romero.
Não há problema algum em apresentar elementos novos como o fato dos mortos-vivos correrem com extrema agilidade, conferindo-lhes muito mais poder de destruição (algo similar já havia sido muito bem explorado em “Extermínio”/“28 Days Later”, de Danny Boyle). Mas como essa nova característica dos zumbis é oposta ao tradicional caminhar lento dos mortos da trilogia de Romero, a refilmagem funcionaria melhor se não tivesse relações com o “Dawn of the Dead” original do final dos anos 70. Poderia ser um filme com outro nome, só que claramente inspirado na obra de Romero, evidenciando uma proposta de homenagem ao cineasta e sua trilogia dos mortos, mas tendo também liberdade criativa para apresentar seus conceitos próprios, como os novos zumbis “dinâmicos”, e uma história sem preocupação com críticas sociais (o original de Romero explora de forma bem mais acentuada a desenfreada sociedade de consumo dos tempos atuais, que venera um shopping como um centro comercial indispensável para a vida humana).
Mas como os produtores preferiram por questões comerciais insistir num remake utilizando a marca de sucesso “Dawn of the Dead”, resta a nós, fãs do Horror, assistir e procurar se divertir em mais um filme mostrando a humanidade em estado de total desordem, lutando pela sobrevivência num mundo em ruínas, dominado por mortos devoradores de carne humana. A história não perde tempo em tentar explicar a razão da origem dos zumbis, e parte logo para a apresentação de um caos urbano que espalha a loucura na humanidade. E não faltam cenas de grande impacto de violência e sangue, com muitas cabeças de mortos putrefatos explodidas à bala, mordidas que rasgam a carne, e até a presença de um inusitado bebê zumbi.
E entre os vários destaques, vale registrar duas excelentes tomadas aéreas muito bem produzidas, uma mostrando um incrível acidente de trânsito envolvendo dois carros que trafegavam em alta velocidade em fuga desesperada e que se chocam violentamente num cruzamento, e outra destacando uma imensa legião de zumbis invadindo uma estaleiro de barcos atrás da carne de alguns sobreviventes. Entretanto, o maior destaque mesmo foi o desfecho, numa iniciativa extremamente elogiosa do diretor Zack Snyder, filmando um final ousado e depressivo, típico de um filme digno do mais puro horror.

Porém, uma das coisas mais desagradáveis nesse novo “Dawn of the Dead” é algo que os produtores americanos não tem a menor culpa: o nome escolhido para distribuição no Brasil. Os responsáveis por nomear o filme por aqui demonstraram total falta de conhecimento em escolher o ridículo “Madrugada dos Mortos”. Eles não são obrigados a conhecerem o cinema de horror, mas deveriam, por respeito aos fãs verdadeiros do gênero, consultar especialistas no assunto ou fazerem uma simples pesquisa que resultaria no óbvio nome “O Despertar dos Mortos”, que foi o nome recebido por aqui do “Dawn of the Dead” original. Uma tarefa tão simples, mas que não é efetuada com competência no Brasil. Aliás, o filme de Romero teve três nomes originais alternativos: “Dawn of the Dead”, “Zombie: Dawn of the Dead” e “Dawn of the Living Dead”, e é por isso que também é conhecido no Brasil pelas respectivas traduções literais “O Despertar dos Mortos” (o mais utilizado), “Zombie: O Despertar dos Mortos”, e “O Despertar dos Mortos-Vivos”.
Curiosamente, enquanto “Madrugada dos Mortos”, um violento filme de horror, estreava nos cinemas brasileiros em 23/04, a banda norueguesa de metal extremo “Dimmu Borgir”, com sua avassaladora porrada sonora, fazia sua primeira visita ao Brasil com shows por três dias, e tocando em São Paulo/SP no Sábado dia 24/04. É o Horror e o Metal em doses maciças de obscuridade...
Seguem outras pequenas curiosidades. A maioria das filmagens do novo “Dawn of the Dead” foram feitas num shopping center chamado “Thornhill Square”, no Canadá. Os atores Ken Foree, Scott H. Reiniger e Tom Savini estiveram presentes no filme original de 1978, só que em papéis diferentes que agora na refilmagem, onde todos fizeram pequenas pontas como homenagem, através de depoimentos pela TV, falando sobre o caos instaurado na Terra. Foree é um padre evangélico, Reiniger é um militar e Savini é um xerife. O próprio diretor Zack Snyder também aparece rapidamente em seu filme de forma não creditada, como um oficial de comando na Casa Branca. O cantor Johnny Cash também está presente com sua música “The Man Comes Around”, durante os créditos de abertura do filme. A censura nos cinemas brasileiros é de 18 anos, enfatizando a intensidade de violência da história. Outra idéia genial e que vale a pena permanecer na sala de exibição ao término do filme, é que nos créditos finais juntamente com os letreiros, aparecem imagens adicionais meio distorcidas, com informações reveladoras sobre o destino dos sobreviventes.

36 bilhões de pessoas morreram desde o reinado da humanidade. Para o novo amanhecer, haverá uma reunião...

“Madrugada dos Mortos” (Dawn of the Dead, 2004) – artigo # 242 – data: 24/04/04 – avaliação: 9 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/11/05)

“Madrugada dos Mortos” (Dawn of the Dead, Estados Unidos, 2004). Universal, 100 minutos. Direção de Zack Snyder. Roteiro de James Gunn, a partir de roteiro original de George A. Romero, filmado em 1978. Produção de Marc Abraham, Eric Newman, Richard P. Rubinstein e Michael D. Messina. Produção Executiva de Armyan Bernstein, Thomas A. Bliss e Dennis E. Jones. Fotografia de Matthew F. Leonetti. Música de Tyler Bates. Edição de Niven Howie. Direção de Arte de Arvinder Grewal. Desenho de Produção de Andrew Neskoromny. Figurinos de Robin D. Cook e Joseph Middleton. Elenco: Ving Rhames (Kenneth), Sarah Polley (Ana), Kevin Zegers (Terry), Mekhi Phifer (Andre), Jake Weber (Michael), Ty Burrell (Steve), Michael Kelly (CJ), Michael Barry (Bart), Lindy Booth (Nicole), Jayne Eastwood (Norma), Boyd Banks (Tucker), Inna Korobkina (Luda), R. D. Reid (Glen), Kim Poirier (Monica), Matt Frewer (Frank), Justin Louis (Luis), Hannah Lochner (Vivian), Bruce Bohne (Andy), Ken Foree (padre), Scott H. Reiniger (general), Tom Savini (xerife). Site oficial: www.dawnofthedeadmovie.net

Sexta-Feira 13 - O Legado (1987/1990)


Uma das mais cultuadas, famosas e enormes franquias do cinema de horror é “Sexta-Feira 13” (Friday the 13th), do psicopata mascarado Jason Voorhees, criada em 1980 e que conta com dez filmes, além da existência de um “crossover” envolvendo o rival Freddy Krueger, de “A Hora do Pesadelo” (A Nightmare on Elm Street, franquia criada em 1984), outro importante psicopata moderno, num filme produzido em 2003.
Mas os executivos da indústria de cinema, gananciosos e ávidos pela conquista do máximo possível de lucros, aproveitaram a popularidade de “Sexta-Feira 13” no final dos anos 80 e Larry B. Williams e Frank Mancuso Jr. criaram um outro produto oportunista dentro da franquia, uma série de TV batizada de “Sexta-Feira 13 – O Legado” (Friday the 13th – The Legacy, 1987/90), que não tem nada a ver com o universo ficcional dos filmes de Jason Voorhees.
A série não tem nenhuma relação com o psicopata assassino ou suas façanhas nos diversos filmes que protagonizou. Na verdade, seu argumento básico é apresentar em 72 episódios de aproximadamente 45 minutos, num estilo similar à “Além da Imaginação”, pequenas histórias independentes amarradas por um tema central que seria uma loja de antiguidades cujos objetos faziam parte de uma maldição. Pois conforme o episódio piloto “A Herança” (The Inheritance), o proprietário Lewis Vendredi (o veterano R. G. Armstrong), tinha feito um pacto com o demônio para receber fortunas e imortalidade, oferecendo em troca os curiosos objetos de sua loja, os quais seriam amaldiçoados e levariam desgraça e morte às pessoas que os comprassem.
Uma vez arrependido e sentindo-se culpado pela morte de seus clientes inocentes, ele tenta desfazer o pacto e com isso desperta a fúria maligna de Satã. Com sua morte, a loja é então entregue como herança para seus sobrinhos Ryan Dallion (John D. LeMay, o único ator do elenco fixo que participou de algum filme da série do cinema, no caso a Parte 9, “Jason Vai Para o Inferno”, de 93), e Michelle “Micki” Foster (a canadense Louise Robey, que desapareceu das telas depois da série), que são primos distantes que não se conheciam até se encontrarem pela primeira vez por assuntos de negócios na loja de antiguidades. Porém, eles não imaginariam o indesejável legado que estavam recebendo através de uma maldição satânica.
Enquanto exploravam o local para avaliarem o que herdaram, eles conhecem o fornecedor de antiguidades Jack Marshack (o veterano ator inglês Chris Wiggins), um velho amigo do Tio Lewis e estudioso de História e Ciências Ocultas. Juntos eles descobrem que os objetos vendidos pela loja carregam uma maldição que espalha o mal e a morte para as pessoas que se apossam deles, e o trio se convence de que eles deverão recuperar esses objetos o mais rápido possível para evitar mais tragédias. E dentro dessa idéia básica se desenrolam todos os episódios da série, contando as aventuras do casal de primos e o velho para tomarem de volta as antiguidades malditas, sendo que a cada novo episódio o tema é um objeto diferente, variando entre uma boneca, uma estátua de cupido, um bisturi cirúrgico, um par de luvas de boxe, etc, e como os quais não podem ser destruídos, após recuperados eles são trancafiados num local onde ninguém poderá novamente ter contato com eles.
Ainda em “A Herança”, o episódio piloto dirigido por William Fruet e escrito por William Taub (**), além de apresentar a origem da série, o episódio piloto mostra também as dificuldades na recuperação de um objeto amaldiçoado pelo pacto demoníaco do Tio Lewis, uma boneca chamada Vita que tem vida própria e incentiva sua nova proprietária, a menina Mary (Sarah Polley), a se vingar de forma mortal da madrasta Sra. Simms (Lynne Cormack), não poupando também nem uma inofensiva e idosa babá (Esther Hockin) de sua fúria.

A série é realmente oportunista, emprestando o famoso nome da franquia homônima que é muito popular por causa das atrocidades do psicopata Jason Voorhees numa enorme série de filmes para o cinema. Apesar de que “Sexta-Feira 13 – O Legado” apresenta uma idéia central que até é interessante e tem potencial, os episódios que mostram as tentativas de recuperação dos diversos objetos malditos são apenas convencionais, repletos de situações forçadas e intencionalmente adequadas para facilitar o trabalho dos roteiristas. Como um produto para a televisão, o resultado pode ser considerado sofrível, com histórias ingênuas, inocentes e previsíveis, excessivamente moderadas na categoria “violência e sangue”, com mortes discretas e ausência de sustos e suspense. Ou seja, o contrário do que normalmente é mostrado nos filmes onde Jason exercita suas habilidades em retalhar dolorosamente adolescentes imbecis e merecedores de mortes violentas, principalmente pelas redondezas do campo de férias de “Crystal Lake”. É apenas mais uma série que explora histórias num estilo já consagrado no passado por “Além da Imaginação” e similares, e que enfatiza situações triviais, caindo no esquecimento rapidamente. Até vale conhecer, mas apenas e tão somente pela curiosidade por levar o nome “Sexta-Feira 13”.

A série teve alguns episódios lançados em vídeo VHS no Brasil pela “CIC”, em fitas contendo duas histórias cada, e hoje é um material fora de catálogo, considerado raro e encontrado apenas em sebos, locadoras com grandes acervos e nas mãos de colecionadores. Abaixo seguem comentários da segunda história, que faz par com o piloto na primeira fita, e de outros seis episódios, lançados respectivamente nas fitas 2, 3 e 4. Foi lançada uma fita 5, mas não tive ainda acesso a ela (um dos episódios foi até dirigido pelo especialista no gênero David Cronenberg), portanto esses episódios não possuem cotação.
Atenção: os textos podem conter “spoilers”.
Como a série em geral tem um nível baixo de qualidade (utilizando como referência apenas os episódios lançados em vídeo VHS por aqui no início dos anos 90), preferi escolher uma classificação diferente para as cotações, em relação por exemplo, àquela que utilizei no artigo sobre a ótima série de TV “Night Visions”, onde os episódios eram divididos em “Excelente, “Bom” e “Ruim”. No caso de “Sexta-Feira 13 – O Legado”, uma melhor forma de classificação das cotações seria: (***) Bom , (**) Razoável , (*) Ruim .

* O Cupido Diabólico (Cupid´s Quiver). Fita 1. Direção de Atom Egoyan. Roteiro de Stephen Katz.
Dessa vez, o desafio de Micki, Ryan e Jack em recuperar um dos objetos amaldiçoados da loja de antiguidades, está numa estátua deformada de cupido, que tem um rosto esculpido com feições malignas e que possui a capacidade de despertar uma paixão ardente em qualquer pessoa que seu proprietário desejar, sendo que logo depois o mesmo é instigado a cometer assassinatos. Primeiramente de posse de Gerald Hastings (Ross Fraser), um homem amargurado pelos insucessos nas conquistas de mulheres, o cupido enfeitiça uma bela jovem (Kirsten Kieferle) que está dançando num bar, e que depois de uma noite de amor, sente a fúria assassina de seu amante. Depois, a estátua é roubada da cena do crime e vai parar numa fraternidade de estudantes, onde ajuda o jovem desajustado Eddie Monroe (Denis Forest) a conquistar a bela Laurie Warren (Carolyn Dunn), por quem está obcecado. Mas os herdeiros da loja de antiguidades tentarão capturar de volta o cupido antes que mais uma tragédia ocorra com a morte de um inocente. (*)

* Doutor Jack (Dr. Jack). Fita 2. Direção de Richard Friedman. Roteiro de Marc Scott Zicree.
A antiguidade maldita agora é um bisturi que supostamente pertenceu ao lendário “Jack, o Estripador”, que em 1888 retalhou várias mulheres na Londres vitoriana. O objeto chegou às mãos do Dr. Vince Howlett (Cliff Gorman), um médico famoso pela habilidade em cirurgias de alto risco, onde nenhum paciente morreu na mesa de operações. Sua fama de excelente cirurgião trouxe-lhe o nome de “O Milagroso” e o levou de volta ao hospital onde começou a carreira, e que está passando por um momento de crise. A esperança da chefe de cirurgia, Dra. Patricia Price (Doris Petrie), é que o hospital volte a prosperar com a vinda do Dr. Howlett para a equipe. Porém, para realizar os “milagres” de sucesso nas cirurgias, o bisturi maldito incita seu proprietário a cometer sempre um assassinato aleatório antes para se fortalecer. Com o surgimento da desesperada mãe de uma das vítimas do médico, Jean Flappen (Elva Mai Hoover), que quer vingar a morte da filha e tenta matar o cirurgião, Micki, Ryan e o velho Jack descobrem a verdade por trás da fama do Dr. Howlett e tentam recuperar o bisturi amaldiçoado. (*)

* A Sombra do Boxeador (Shadow Boxer). Fita 2. Direção de Timothy Bond. Roteiro de Joshua Daniel Miller.
No quarto episódio da série, o objeto propagador do mal é um par de luvas que pertenceu a um famoso boxeador chamado Ken Kelsey e que nos anos 40 do século passado ficou conhecido como “O Matador” por suas atuações no ringue. As luvas foram compradas da loja de antiguidades por um treinador de boxe, Manny King (Jack Duffy), e eram mantidas guardadas em segurança junto com outros materiais que iriam formar um museu desse esporte. Porém, um lutador ex-presidiário e desajustado, Tommy Christopher Dunn (David Ferry), se apossou indevidamente das luvas amaldiçoadas e se vingou de Manny e de outros desafetos como o também lutador Tony Terrific (Nicholas Pasco). Na verdade, as luvas estimulavam a materialização do lado sinistro de quem as utilizava, criando uma sombra assassina. Com a ajuda do lutador Kid Cornelius (Philip Akin), que queria vingar a morte de Manny, os herdeiros da loja de antiguidades, juntamente com o amigo Jack, se encarregaram da tarefa de recuperar as luvas malditas antes que mais mortes acontecessem. (*)

* Fábula Assassina (Tales of the Undead). Fita 3. Direção de Lyndon Chubbuck. Roteiro de William Taub e Marc Scott Zicree, a partir de argumento de Paul Monette e Alfred Sole.
Quando Ryan está folheando uma revista de histórias em quadrinhos na livraria de Charlie Evans (Bob Aarrons), ele testemunha o proprietário da loja sendo assassinado por uma criatura possuidora de extrema força, numa mistura de homem e robô com um visual típico dos anos 50 do século passado, onde na verdade o estranho ser é a materialização do personagem “Ferrus, o Invencível” da revista “Fábula Assassina” (Tales of the Undead). O gibi é uma antiguidade valiosa para os fãs e colecionadores, sendo a edição número 1 de Março de 1947, de autoria de Jacob Staretzki, ou melhor, Jay Star (o veterano Ray Walston), que teve sua idéia roubada e plagiada pelo editor Carmine DiMateo (David Clement), que ficou rico com os lucros da revista deixando o verdadeiro criador de Ferrus vivendo com dificuldades financeiras e sendo auxiliado pela intransigente governanta Sra. Nancy Forbes (Michelle George). A revista é mais um dos objetos malditos da loja de antiguidades e permite que seu proprietário se transforme no invencível Ferrus, podendo eliminar violentamente todos seus inimigos. E a única forma de derrotá-lo é através de uma história jamais publicada onde é revelado seu ponto fraco, sendo sua recuperação o desafio dos primos Ryan e Micki para evitar mais mortes e poder trancafiar a revista em segurança. Jack não participa desse episódio, sendo revelado que ele está em viagens de negócios, tentando comprar mais objetos curiosos para a loja. (**)

* O Espantalho (Scarecrow). Fita 3. Direção de William Fruet. Roteiro de Marc Scott Zicree, a partir de argumento de Larry B. Williams e Marc Scott Zicree.
O objeto a ser recuperado dessa vez pelos herdeiros da loja de antiguidades malditas é um espantalho sobrenatural (interpretado por Ted Hanlan), que tem o poder de vida própria e mata com o uso de uma enorme foice pessoas indesejáveis através de decapitação, para garantir a fertilização do solo e boas colheitas para as terras de seu proprietário, que no caso é uma mulher sinistra, Marge Longakre (Patricia Phillips), que também é a dona da única pousada de uma pequena cidade do interior chamada Riverdale. Entre as vítimas estão uma família inteira de fazendeiros, Charlie Cobean (James B. Douglas), a esposa Tudy (Norma Edwards) e o filho perturbado psicologicamente Nick (Todd Duckworth), além de Dave Meeno (Andrew Martin Thompson), pai do garoto Jordy (Nicholas Van Bureck), que acaba se afeiçoando com Ryan. O casal de primos herdeiros da loja de objetos amaldiçoados, com o auxílio do Xerife Comins (Steve Pernie), tentam recuperar o espantalho sobrenatural e interromper o ciclo de mortes da cidade. Assim como no episódio anterior, Jack não participa dessa aventura. (**)

* Colcha de Retalhos (The Quilt of Hathor). Fita 4. Direção de Timothy Bond. Roteiro de Janet MacLean.
* Colcha de Retalhos – O Despertar (Quilt of Hathor – The Awakening). Fita 4. Direção de Timothy Bond. Roteiro de Janet MacLean.
A quarta fita da série lançada pela “CIC” traz dois episódios que fazem parte de uma mesma história. O fornecedor de antiguidades Jack retorna novamente, depois da ausência em “Fábula Assassina” e “O Espantalho”. A história agora concentra as atenções na recuperação de um cobertor satânico, conhecido como “Alcochoado de Hathor”, confeccionado por ocultistas em 1890 e que traz ilustrações de uma estrela de cinco pontas e um homem de seis pernas. Ele foi adquirido da loja de antiguidades por Sarah Good (Helen Carscallen), que faz parte de uma seita fanática religiosa chamada “Penitentes” (Penitites), cujos seguidores não gostam da agitação da vida moderna, preferindo viver numa comunidade rural simples, andando de carroça com cavalos, e onde os casamentos são arranjados. A colcha tem o poder maléfico de produzir sonhos para seu proprietário, que se tornam pesadelos para seus inimigos, que morrem violentamente enquanto dormem. Sarah foi pedir ajuda aos primos Ryan e Micki para recuperarem a colcha maldita que havia sido roubado dela por Ethel Stokes (Kate Trotter), uma mulher obcecada em ser a esposa do Reverendo Josiah Grange (Scott Paulin), o administrador da seita que está tentando se casar, mas suas esposas acabam morrendo como as jovens Janet Spring (Patricia Strehof) e Rebecca Lamp (Diana Rowland). Para complicar ainda mais a situação, Ryan se apaixona pela filha do Reverendo, Laura Grange (Carolyn Dunn, que já havia participado do episódio “O Cupido Diabólico”), a qual está comprometida em se casar contra a vontade com Matthew (Diego Matamoros). Por causa da série de mortes misteriosas que estão ocorrendo na comunidade, o líder Josiah Grange é obrigado a enfrentar uma audiência para avaliar sua capacidade como administrador, coordenada pela visita do Inquisidor Holmes (Bernard Behrens) e pelo segundo em comando na seita, Sr. Fraser (David Brown). Em paralelo à instabilidade geral do vilarejo e a ocorrência de mais mortes, Ryan e Micki tentam encontrar a colcha de retalhos amaldiçoada e levá-la em segurança de volta para a loja de antiguidades. Dessa vez o episódio duplo tem até uma boa cena de morte, com uma mulher tendo os olhos arrancados, mas é insuficiente para poupar a história da ruindade geral que é a série. (*)

* O Curandeiro (Faith Healer). Fita 5. Direção de David Cronenberg. Um curandeiro charlatão encontra uma luva maldita que lhe dá poderes misteriosos.
* O Executor. Fita 5. Direção de Rob Hedden. A história relata a agonia de um homem condenado à morte na cadeira elétrica.

“Sexta-Feira 13 – O Legado” (Friday the 13th – The Legacy / Friday the 13th: The Series / Friday´s Curse, Canadá, 1987/90) – # 329 – data: 30/07/05 – avaliação média da série: 4 (de 0 a 10)
(postado em 25/11/05)

O Abominável Dr. Phibes (1971) e A Vingança do Dr. Phibes (1972)


Um dos maiores monstros sagrados do cinema de horror, Vincent Price é lembrado por vários de seus personagens ao longo de sua carreira, mas nada tão marcante quanto sua interpretação como o psicopata Dr. Anton Phibes. Assim como imortalizamos ao longo da história o monstro de Frankenstein a Boris Karloff e o Conde Drácula a Bela Lugosi (anos 1930 e 40) e Christopher Lee (décadas de 1950, 60 e 70), ou ainda Freddy Krueger a Robert Englund (anos 1980 e 90 - este, é claro, infinitamente inferior aos mitos anteriores), Price ficou associado ao Dr. Phibes, único personagem em sua carreira a ter uma sequência de filmes.
Dirigido em 1971 por Robert Fuest e com produção inglesa da “American International Pictures”, “O Abominável Dr. Phibes”, é um típico exemplo do estilo “camp”, com visual e cenários muito coloridos e estética brega, porém um clássico absoluto do humor negro em sua essência.

O Dr. Phibes, deformado em um acidente e dado como morto, planeja uma maquiavélica vingança contra a equipe de cirurgiões que ele acusa de falharem em salvar a sua esposa Victoria (Caroline Munro), na mesa de operações. Auxiliado por uma bela, misteriosa e silenciosa jovem, Vulnavia (Virginia North), ele executa todos com muita arte e engenhosidade, inspirando-se nas históricas dez pragas de Deus contra um faraó egípcio. Os assassinatos calculados despertaram a atenção da polícia que em vão fica em seu encalço tentando impedi-lo.
Desfigurado pelo acidente, Dr. Phibes transformou-se numa criatura hedionda que utilizava uma máscara com suas antigas feições e falava através de um gramofone plugado a sua garganta que alterava seu tom de voz para algo bem gutural. E é através desse orifício que ele também ingeria seus alimentos.
Apesar dos brutais e inventivos assassinatos, Dr. Phibes mantinha uma atmosfera romântica em torno de sua vingança, onde possuía até uma orquestra de bonecos mecânicos em seu esconderijo, que tocavam para ele e sua assistente dançarem comemorando cada crime cometido. Além disso, ele mantinha também um órgão no estilo “O Fantasma da Ópera”, onde tocava suas melodias fúnebres, enquanto derretia a face de bonecos de cera com fogo após o sucesso de mais assassinatos.

Após dizimar com maestria a equipe de médicos incompetentes, Dr. Phibes voltou novamente em 1972 na sequência “A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes”, que também se chamou no Brasil “A Vingança do Dr. Phibes”, com mesma direção e produção do filme original. Agora ele parte para o Egito buscando um rio perdido e oculto nas pirâmides (“O Rio da Vida”), onde supostamente se alcançava a imortalidade. Leva então consigo sua esposa Victoria embalsamada, na esperança de ressuscitá-la e obter a vida eterna para os dois. Em seu rastro segue também um grupo de arqueólogos com o mesmo objetivo, obrigando o Dr. Phibes a liquidá-los.
A sequência de assassinatos artísticos continua com a mesma intensidade, talvez um pouco mais gratuitos agora, porém cada vez mais engenhosos e divertidos, o que inspirou outro filme de Vincent Price no ano seguinte, “As Sete Máscaras da Morte” / “Teatro da Morte” (Theatre of Blood), onde interpretou um ator shakespereano que simula suicídio e se vinga ferozmente de seus críticos, inspirando-se em textos de Shakespeare. Curiosamente, o ícone do horror Peter Cushing faz uma ponta como o capitão de um navio.

O Dr. Phibes foi um típico “serial killer” do cinema, porém ele chacinava suas vítimas com classe e genialidade, arquitetando cuidadosamente seus métodos e maneiras de matar, como um verdadeiro cavalheiro, combinando com a personalidade aristocrática de Vincent Price. Bem diferente das dezenas de filmes posteriores onde os assassinos em série como os psicopatas famosos, porém pouco inteligentes, Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”) e Michael Myers (“Halloween”), interpretados por atores inexpressivos, sempre mancharam as telas de sangue ao exagero e com pouca inventividade em seus crimes, variando apenas no uso das armas (de machados a serras elétricas), ou nos métodos brutais (mutilações diversas).
Mas o horror é fascinante por tudo isso, por abranger um infindável universo onde há espaço para todas as manifestações e estilos e onde tudo tem características próprias e sua importância na consolidação do gênero como arte de entretenimento.

“O Abominável Dr. Phibes” (The Abominable Dr. Phibes, 1971) – avaliação: 9 (de 0 a 10)
“A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes” (Dr. Phibes Rises Again, 1972) – avaliação: 9 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/11/05)

O ABOMINÁVEL DR. PHIBES (The Abominable Dr. Phibes, Inglaterra / EUA, 1971). 90 minutos. Direção de Robert Fuest. Produção de Louis M. Heyward e Ron Dunas. Roteiro de James Whiton e William Goldstein. Música de Basil Kirchin. Fotografia de Norman Warwick. Efeitos Especiais de George Blackwell. Maquiagem de Trevor Cole-Rees. Elenco: Vincent Price, Joseph Cotten, Peter Jeffrey, Hugh Griffith, Terry-Thomas, Virginia North, Caroline Munro, Aubrey Woods, Susan Travers.

A CÂMARA DE HORRORES DO ABOMINÁVEL DR. PHIBES / A VINGANÇA DO DR. PHIBES (Dr. Phibes Rises Again, Inglaterra / EUA, 1972). 90 minutos. Direção de Robert Fuest. Produção de Louis M. Heyward. Roteiro de Robert Fuest e Robert Blees. Música de John Gale. Elenco: Vincent Price, Robert Quarry, Peter Jeffrey, Valli Kemp, Fiona Lewis, Peter Cushing, Berry Reid, Caroline Munro.

O Médico e o Monstro (1932)


Minha análise da alma, da psique humana, leva-me a crer que o ser humano não é verdadeiramente um, mas verdadeiramente dois. Um deles esforça-se para alcançar tudo que é nobre na vida. É o que chamamos de lado bom. O outro, quer expressar impulsos que prendam-no a obscuras relações animais com a terra. Esse é o que podemos chamar de mal. Ambos travam um eterno combate no íntimo da natureza humana, e contudo, estão atados um ao outro. E este elo provoca a repressão ao mau e remorsos no bom. Agora, se esses dois seres pudessem ser separados um do outro, quão livre o bom em nós poderia ser, que alturas poderia alcançar! E o assim chamado mal, uma vez liberto, buscaria sua própria realização, e deixaria de nos perturbar...

Com esse profundo discurso inflamado para uma platéia de acadêmicos numa universidade, o médico cientista Dr. Henry Jekyll, interpretado por Fredric March (1897/1975), que ganhou um Prêmio Oscar por sua atuação, apresenta sua visão da real natureza humana e divulga suas experiências com uma poção química capaz de separar as duas personalidades existentes no Homem, evidenciando seus lados “bom” e “mal”, na versão expressionista de 1932 de “O Médico e o Monstro” (Dr. Jekyll and Mr. Hyde).
O livro clássico do escocês Robert Louis Stevenson (1850/1894), escrito em 1886 com o nome original de “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, é um dos mais filmados na história do cinema fantástico, com uma infinidade de versões das quais podemos a título de ilustração citar quatro produções antigas. Uma da época do cinema mudo (1920), de John S. Robertson e estrelada por John Barrymore, a já citada versão de 32, dirigida e produzida por Rouben Mamoulian e com Fredric March, o filme de 41, de Victor Fleming e com Spencer Tracy, Ingrid Bergman e Lana Turner, sendo essas três versões com fotografia em preto e branco, e finalmente “O Soro Maldito” (I, Monster, 71), produção inglesa da “Amicus” protagonizada pela dupla Christopher Lee e Peter Cushing, além do misterioso Mike Raven.

A história é ambientada na Londres do final do século XIX, onde o respeitado médico Dr. Henry Jekyll é o defensor de uma teoria onde existem dois lados totalmente distintos nos homens, um “bom” e um “mal”. Acreditando que ao separar essas duas personalidades poderia dar mais liberdade ao ser humano, ele então decide criar uma substância química capaz de realizar tal feito. Testando em si próprio, os efeitos são devastadores, fazendo-o alternar entre o recatado Dr. Jekyll e o monstruoso Sr. Hyde, responsável por uma série de crimes horrendos. Ao descobrir que na verdade libertou um monstro interior, o médico tentou interromper a dosagem da poção, mas já era tarde demais e ele perdera o controle sobre suas duas personalidades, colocando em risco a vida das pessoas que o cercam como seu amigo Dr. Lanyon (Holmes Herbert), sua amável noiva Muriel Carew (Rose Hobart), o rígido pai dela, General Carew (Halliwell Hobbes), e uma bela dançarina de bar noturno, Ivy Pearson (Miriam Hopkins), uma jovem atormentada pela tirania do Sr. Hyde.

Essa versão de “O Médico e o Monstro” tem algumas falhas de continuidade e erros de edição com inconvenientes cortes abruptos, mas levando-se em consideração que o filme foi produzido logo após o término do cinema mudo, há mais de setenta anos atrás, com as técnicas de filmagens sendo ainda aprimoradas, esses detalhes têm pouca importância e podem ser até desconsiderados. E, em contrapartida, os maiores destaques do filme certamente são o laboratório do Dr. Jekyll e todas as cenas envolvendo o Sr. Hyde, representando o lado maligno do ser humano, ávido pelos prazeres da carne, num trabalho de maquiagem muito bem produzido, principalmente para a tão distante década de 30. O laboratório é o típico ambiente para os “cientistas loucos” concretizarem suas bizarras experiências ameaçadoras para a humanidade, repleto de frascos de vidro com líquidos estranhos borbulhantes, tubos de ensaio, microscópios e equipamentos elétricos diversos. A caracterização de Fredric March no monstruoso Sr. Hyde é extremamente marcante, e após o cientista ingerir uma misteriosa poção química ele transforma-se rapidamente numa criatura horrenda, com enormes dentes pontudos e protuberantes, olheiras profundas, sobrancelhas espessas e inchadas, além de mãos peludas que dão um aspecto selvagem ao Sr. Hyde, com voz, postura e forma de caminhar totalmente diferentes do Dr. Jekyll. Depois de um certo tempo, após ingerir o líquido várias vezes, o cientista já não podia mais controlar a transformação, e de forma aleatória, mesmo sem beber a poção, ele alterava contra sua vontade as feições para o malévolo Sr. Hyde.
Outro momento interessante é a súplica de arrependimento do desesperado Dr. Jekyll ao perder o controle sobre sua experiência, num fato bastante recorrente no cinema fantástico onde os “cientistas loucos” costumam percorrer caminhos proibidos em busca de conhecimento, como por exemplo a clássica história do Dr. Frankenstein e seu monstro gerado a partir de reciclagem de pedaços de cadáveres humanos, e que igualmente perde o controle sobre sua criação bizarra.
Seguem as palavras de agonia do Dr. Jekyll:
Ó Deus! Não era esse o meu desígnio! Eu vi uma luz, mas não enxerguei onde ela me levaria. Invadi os Seus domínios. Fui além do que um homem deveria ir. Perdoe-me. Ajude-me!

“O Médico e o Monstro” foi lançado em DVD no Brasil pela “Warner” em Janeiro de 2004 num disco contendo no “lado A” a versão de 1932 e no “lado B” o filme de 41. Aliás, isso tem acontecido também com outros clássicos do horror como “Museu de Cera” (53) e “Os Crimes do Museu” (33), lançados num mesmo disco, e as duas versões de “À Meia-Luz” (Gaslight), tanto a inglesa de 40 quanto a americana de 44.
A capa do DVD nacional de “O Médico e o Monstro” possui um erro significativo, onde na apresentação do filme de 41, está indicado que a direção é de Robert Louis quando o correto é Victor Fleming. O material extra só está disponível no “lado A”, trazendo um episódio de sete minutos do desenho animado “Pernalonga” (Bugs Bunny), criado na década de 40, colorido e com opção de legendas em português, abordando a famosa história de horror de Stevenson. O nome do episódio é “O Coelho e o Monstro” (Hyde and Hare) e é muito divertido, mostrando Pernalonga se metendo em encrencas com um velhinho cientista que alterna constantemente sua personalidade entre o “bom” e o “mal”. Completam ainda os extras um trailer da versão de 41, sem legendas, e a exibição do filme de 32 com comentários de Greg Mank, infelizmente também sem a opção de legendas em português.
A versão muda de 1920 também foi lançada no mercado brasileiro de DVD em Novembro de 2005, através da revista digital “Showtime Clássicos”, da “Aspen Editora”, com o disco sendo distribuído nos grandes supermercados por um preço popular (R$ 9,90). A revista digital traz como atrações: “Literatura nas Telas” – A relação entre o cinema e os clássicos; “Clássicos de Horror” – Os primeiros do cinema mudo; “Mundo Perdido – Os primeiros dinossauros do cinema”.

Por curiosidade, vale a pena citar mais alguns outros filmes baseados na cultuada obra de Robert Louis Stevenson sobre as experiências do Dr. Jekyll, que aliás acabou tornando-se um dos importantes personagens da história do cinema de horror, sendo tema de muitos filmes e figurando numa galeria imortal já composta por nomes consagrados como “Drácula”, “Criatura de Frankenstein”, “Lobisomem”, “Múmia”, “Fantasma da Ópera”, “Monstro da Lagoa Negra”, “Homem Invisível”, “Zé do Caixão”, e outros.
Além das já citadas versões de 1920, 32 e 41 de “O Médico e o Monstro”, ainda temos uma produção inglesa da “Hammer” de 60, “O Monstro de Duas Caras” (The Two Faces of Dr. Jekyll), de Terence Fisher e com Christopher Lee, uma versão de 68 para a TV, dirigida por Charles Jarrott e com Jack Palance no papel duplo de Dr. Jekyll e Sr. Hyde, e mais recentemente um filme produzido em 2002 com direção de Maurice Phillips e com John Hannah no papel principal. Alguns outros atores que também experimentaram a sensação de atuarem como as duas personalidades do médico cavalheiro imaginado por Stevenson foram Boris Karloff numa comédia com Bud Abbott e Lou Costello em 53, Michael Rennie (na série de TV “Climax”, 54/58), Denis DeMarne (em 72), Kirk Douglas (73), David Hemmings (81), Anthony Andrews e Anthony Perkins (ambos em 89), Adam Baldwin (99) e Mark Redfield (2002). E em 71, no filme “O Médico e a Irmã Monstro” (Dr. Jekyll and Sister Hyde), da “Hammer”, Ralph Bates foi o cientista e Martine Beswick interpretou seu alter-ego, sendo nesse caso uma mulher maligna.

Um é exemplo de perfeição e virtude. O outro é a criatura assassina das noites de Londres. Eles são Dr. Jekyll e Sr. Hyde. E eles são a mesma pessoa.

“O Médico e o Monstro” (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1932) # 237 – 08/04/04 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/11/05)

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, Estados Unidos, 1932). Paramount Pictures, 96 minutos. Direção e produção de Rouben Mamoulian. Roteiro de Samuel Hffenstein e Percy Heath, baseados em livro de Robert Louis Stevenson. Fotografia de Karl Struss. Direção de Arte de Hans Dreier. Maquiagem de Wally Westmore. Elenco: Fredric March (Dr. Jekyll / Sr. Hyde), Miriam Hopkins (Ivy Pearson), Rose Hobart (Muriel Carew), Holmes Herbert (Dr. Lanyon), Halliwell Hobbes (General Carew), Edgar Norton (Poole), Arnold Lucy, Tempe Piggott.

Black Sabbath - As Três Máscaras do Terror (Black Sabbath - The Three Faces of Fear, Itália, 1963)


Aproximem-se, por favor. Tenho algo a lhes contar. Senhoras e senhores, sou Boris Karloff. Estou aqui para lhes apresentar três pequenos contos de terror e do sobrenatural. Espero que não tenham vindo ao cinema sozinhos. Como perceberão vendo este filme, os espíritos, os vampiros, estão por toda parte. Talvez haja um sentado ao seu lado agora. Sim, porque eles também vão ao cinema, eu lhes asseguro. Os vampiros têm um aspecto perfeitamente normal e na verdade, o são. Apenas tem o estanho hábito de beber sangue, especialmente o sangue daqueles que amam... Mas estou falando e perdendo tempo... Portanto, vamos ao primeiro conto.” – narração de abertura de Boris Karloff

Um filme europeu de horror do início dos anos 60 do século passado, dividido em três histórias independentes, narradas pelo lendário ator Boris Karloff (que também atua num dos episódios, que aliás é o melhor deles), com direção do mestre Mario Bava, e com um elenco de lindas e maravilhosas mulheres como as atrizes Michèle Mercier e principalmente a estonteante Suzy Andersen. O resultado disso tudo pode ser encontrado sob o título “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (Black Sabbath – The Three Faces of Fear / I Tre Volti Della Paura, 63), que por todas essas características atraentes e qualificações inegáveis, obtemos momentos absolutos de entretenimento e satisfação numa sessão de cinema.

“O Telefone” (Il Telefono / The Telephone) é o primeiro episódio apresentado. Nele, uma bela mulher, Rosy (a francesa Michèle Mercier), está em sua casa e recebe vários telefonemas ameaçadores contra sua vida, supostamente vindos de um ex-amante, Frank Rainer (o argentino Milo Quesada, não creditado), que fugiu da cadeia depois de ser denunciado por ela. Rosy pede ajuda para sua amiga Mary (a italiana Lidia Alfonsi), e juntas elas tentam se proteger das ameaças.
Em seguida vem a história “O Wurdalak” (I Wurdalak / The Wurdalak), mostrando uma família do leste europeu composta por Giorgio (Glauco Onorato), sua esposa Maria (a grega Rika Dialina) e o filho pequeno Ivan, além de seu irmão Pietro (Massimo Righi) e a bela irmã Sdenka (Suzy Andersen). Eles estão esperando a chegada do patriarca, Gorca (Boris Karloff), que havia partido com o objetivo de matar um perigoso bandido turco que estava aterrorizando a região. Enquanto isso, o jovem Conde Vladimire d´Urfe (o americano Mark Damon, de “A Queda da Casa de Usher”, 60) está de passagem e é convidado para passar a noite com a família de camponeses, criando instantaneamente uma atração mútua entre ele e a jovem Sdenka. A preocupação da família é que no retorno do patriarca ele poderia ter se tornado vítima de uma lenda local, transformando-se num “wurdalak”, uma espécie de cadáver ambulante, um vampiro que tem sede de sangue justamente das pessoas que mais amou na vida.
O último conto de horror chama-se “A Gota d´Água” (La Goccia d´Acqua / The Drop of Water), baseado numa obra de Ivan Chekhov. Uma enfermeira, Helen Chester (a francesa Jacqueline Pierreux), é chamada às pressas durante uma noite chuvosa pela empregada (Milly Monti) de uma velha condessa, para preparar o cadáver dela para o funeral, pois ela havia morrido pouco tempo antes de ataque cardíaco durante uma sessão espírita, na tentativa de comunicação com os mortos. Durante os preparativos do corpo, Helen não resiste e rouba um anel de diamantes do dedo indicador da mão direita da falecida. Porém, ela não imaginaria o tormento que enfrentaria em sua volta para casa, assombrada pelo fantasma da condessa em busca de vingança.

Dos três episódios da antologia, “O Telefone” é o mais fraco, principalmente pelo roteiro apenas convencional, baseado em história do desconhecido F. G. Snyder, constituindo-se num “thriller” ou “giallo” (para os italianos) mediano apresentando o drama enfrentado pela personagem principal, a bela Rosy, presa em sua própria casa e sendo ameaçada de morte por uma voz no telefone. O episódio explora o tema do lesbianismo, um assunto considerado tabu e ainda mais difícil de se lidar no cinema há quase meio século atrás. A história é praticamente filmada num único ambiente, lembrando vários episódios da série de TV “Além da Imaginação” (1959/64), criada por Rod Serling, e que usava o mesmo recurso, gerando grande economia no orçamento. Curiosamente, a versão americana traz uma sequência final diferente do filme italiano, e que realça uma sugestão até então inexistente de elementos sobrenaturais, concluindo a história de forma bem mais interessante. “O Telefone” também antecipou em mais de trinta anos a idéia utilizada pelo cineasta Wes Craven no prólogo de “Pânico” (96), o cultuado filme de horror adolescente que impulsionou uma imensa safra de filmes similares com psicopatas assassinos mascarados.
O segundo episódio, “O Wurdalak”, baseado numa história do escritor russo Aleksei Tolstoy, é disparado o melhor de todos e o mais comprido em duração, sem contar o fato decisivo de termos o lendário ator Boris Karloff como o protagonista Gorca, numa performance digna de seu imenso talento e carisma dentro do cinema de horror em todos os tempos. A história lembra fortemente as características e estilos explorados pelo estúdio inglês “Hammer”, com todos aqueles elementos góticos que tanto despertam fascínio entre os apreciadores deste tipo de cinema de horror. Não faltam a tradicional floresta bizarra com árvores de aspecto fantasmagórico, a constante névoa sinistra, o ruído assustador do vento noturno, o perturbado cachorro uivando, a casa isolada no meio do mato, com suas portas rangendo, as ruínas ameaçadoras (nesse caso um convento antigo, abandonado e destruído pela ação impiedosa do tempo), uma família atormentada por uma lenda maldita sobre vampiros (chamados de “wurdalak”), entre outras coisas mais. E para completar, temos também um desfecho pessimista e trágico, totalmente diferente daqueles finais previsíveis e descartáveis onde todos “viveriam felizes para sempre”. É uma história verdadeiramente sinistra e memorável, num dos mais marcantes trabalhos de Boris Karloff, que faleceria poucos anos depois por causa de complicações respiratórias, no início de 1969.
O terceiro e último episódio (ou “face do medo” como sugere os títulos originais italiano e americano) também é muito interessante, abordando os temas do medo e a vingança de um fantasma. “A Gota d’Água” explora com sucesso o efeito perturbador que simples ruídos gerados por gotas d’água caindo das torneiras podem exercer sobre a fragilidade psicológica da protagonista, a enfermeira Helen Chester, que está assombrada pelo sentimento de culpa após ter roubado um anel valioso da mão do cadáver de uma velha decrépita quando preparava seu corpo para o funeral. É como diz Boris Karloff no encerramento do filme: “Com os fantasmas não se brinca, porque eles se vingam...”

Para o deleite dos apreciadores do cinema fantástico do passado, em especial dos fãs do ator inglês Boris Karloff e do cineasta italiano Mario Bava, “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (versão italiana) foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, recheado de interessantes materiais extras. Temos um trailer original italiano com legendas em português e duração de três minutos e meio (que curiosamente revela “spoilers” que denunciam detalhes importantes, principalmente sobre o episódio “O Telefone”), além de uma galeria de fotos e cartazes originais. Temos também as biografias de Boris Karloff e Mario Bava, sendo no caso desse último um texto detalhado sobre sua carreira e uma filmografia caprichada, onde destacam-se filmes como “A Máscara de Satã” (60), com Barbara Steele, “Hércules no Centro da Terra” (61), com Christopher Lee, “O Planeta dos Vampiros” (65), com a brasileira Norma Bengell, “Mata, Bebê, Mata” (66), e “Banho de Sangue” (71), entre outros títulos. Além disso, o material extra ainda inclui uma seleção de cenas exclusivas da versão americana do filme, lançada pela AIP (“American International Pictures”), trazendo a narração de introdução de cada episódio, feita por Boris Karloff no original em inglês e sem legendas em português, e os créditos de abertura. Porém, ficou faltando o final alternativo do episódio “O Telefone”, com ênfase no sobrenatural, e cujo resultado é bem superior ao da versão italiana.

Pronto. Não lhes parece que devia terminar assim? Com os fantasmas não se brinca, porque eles se vingam... Bem, chegamos ao fim de nossas histórias e agora infelizmente devo deixa-los. Mas tomem cuidado quando voltarem para casa. Olhem ao redor, olhem para trás. Cuidado quando abrirem a porta, não entrem no escuro... Sonhem comigo! Nós nos tornaremos amigos!” – narração de encerramento de Boris Karloff

“Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (Black Sabbath – The Three Faces of Fear, 1963) # 339 – data: 21/09/05 – avaliações: episódio “O Telefone” (6,5) / “O Wurdalak” (10) / “A Gota d´Água” (8,5)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/11/05)

Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror (Black Sabbath – The Three Faces of Fear / I Tre Volti Della Paura, Itália / França / Estados Unidos, 1963). Duração: 92 minutos. Direção de Mario Bava e Salvatore Billitteri. Roteiro de Marcello Fondato, Alberto Bevilacqua e Mario Bava, a partir de histórias de Ivan Chekhov (“A Gota d’Água”), Alekxei Tolstoy (“O Wurdalak”) e F. G. Snyder (“O Telefone”). Produção de Salvatore Billitteri e Paolo Mercuri. Música de Roberto Nicolosi e Les Baxter (versão americana). Fotografia de Ubaldo Terzano. Edição de Mario Serandrei. Direção de Arte de Giorgio Giovannini. Desenho de Produção de Riccardo Dominici. Maquiagem de Otello Fava. Elenco: Episódio “O Telefone” – Michèle Mercier (Rosy), Lidia Alfonsi (Mary), Milo Quesada (Frank Rainer). Episódio “O Wurdalak” – Boris Karloff (Gorca), Mark Damon (Conde Vladimire d´Urfe), Suzy Andersen (Sdenka), Massimo Righi (Pietro), Rika Dialina (Maria), Glauco Onorato (Giorgio). Episódio “A Gota d´Água” – Jacqueline Pierreux (Helen Chester), Milly Monti (a empregada), Harriet Medin (a vizinha), Gustavo de Nardo (Inspetor de Polícia).