Visões (Tailândia / Hong Kong, 2004)


O cinema de horror oriental está cada vez mais conquistando o mundo, ganhando várias refilmagens nos Estados Unidos como “O Chamado” (The Ring, inspirado em “Ringu”) e “O Grito” (The Grudge, adaptado de “Ju-On”), entre outras produções em andamento ou idéias de projetos anunciados. Os filmes japoneses, coreanos e chineses estão sendo distribuídos ao redor do planeta e impressionando os fãs com suas histórias de fantasmas perturbados, a principal temática abordada por seus realizadores. Tanto que tem filme oriental de horror que até está entrando nos cinemas brasileiros, como é o caso de “Visões” (The Eye 2, 2004), dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang, sendo a continuação de um filme lançado em 2002.
O filme estreou numa Sexta-Feira 13 (em Maio de 2005), uma data sugestiva e especial para o gênero horror, e a distribuição no Brasil ficou a cargo da “PlayArte”, que até utilizou na campanha de divulgação a exibição de enormes outdoors, como foi o caso em grandes avenidas em São Paulo. O nome nacional adotado, “Visões”, até tem relações coerentes com o conteúdo da história, mas contribui significativamente para confundir ainda mais um trabalho de catalogação dos filmes de horror que chegam ao país, pois o nome escolhido é comum demais (o filme “The Sight”, 2000, de Paul W. S. Anderson, também recebeu o nome “Visões” quando foi lançado no mercado de vídeo, além de “A Visão” quando foi exibido na televisão). Sem contar que num primeiro momento o nome nacional não indica que o filme é uma continuação de um original produzido dois anos antes. O ideal seria nomear o filme como “O Olho 2”, numa tradução literal do título original inglês, independente se isso trouxesse alguma dificuldade comercial para a divulgação, já que o primeiro filme é quase desconhecido por aqui.

A história apresenta a jovem Joey Cheng (Qi Shu) fazendo compras num shopping center, enquanto recebe a informação do namorado Sam (Jesdaporn Pholdee), de que ele pretende romper o relacionamento. Joey fica muito abalada com a notícia da separação e tenta o suicídio ingerindo uma overdose de comprimidos para dormir. Uma vez no hospital, ela recebe os cuidados médicos que salvam sua vida, mas a jovem não saiu ilesa dessa experiência traumática, pois adquiriu uma indesejável e assustadora capacidade de enxergar fantasmas, em visões que passam a atormentá-la.
Seu grande desafio é agora tentar administrar o misterioso dom que recebeu, ao mesmo tempo em que descobre que está grávida, num momento de grande fragilidade emocional que abala ainda mais suas condições psicológicas. Agora ela vê espíritos de pessoas mortas, enfrenta uma grande dúvida envolvendo a possibilidade de aborto de seu bebê, e o namorado a rejeitou. Para tentar sair da grave crise, ela procura orientação com um monge budista (Philip Kwok), que lhe transmite importantes ensinamentos sobre a filosofia da religião e a reencarnação dos espíritos.
Porém, entre todos os problemas que tornaram a vida de Joey um tormento, o principal está na aparição constante do fantasma de uma mulher triste (Eugenia Yuan), que parece querer algo importante que pertence a Joey, obrigando-a a tentar descobrir sua origem e enfrentar sua ameaça.

Como uma característica bem notável no cinema de horror oriental dos últimos anos, com os filmes que apresentam histórias de fantasmas, “Visões” tem uma narrativa lenta e pausada que prefere investir mais na construção dos personagens, sem aquelas correrias frenéticas, gritarias histéricas e sustos falsos do cinema americano, mergulhado na maioria das vezes em exagerados efeitos especiais.
Em “Visões”, não há violência nem sangue em profusão, mas há muitas aparições de fantasmas perturbados, alguns sustos convincentes, e várias cenas carregadas de tensão, especialmente para mulheres grávidas (uma destas cenas em especial, se aproveita do clima sufocante de claustrofobia passado dentro de um elevador com defeito, explorando o drama de uma mulher em trabalho de parto).
A história possui elementos atrativos e eventos relacionados entre si que contribuem para garantir seu interesse. Porém, como aspecto negativo, não poderia deixar de citar uma seqüência bastante improvável e fantasiosa demais envolvendo um questionável ato duplo da atormentada protagonista Joey e o incompetente hospital onde está internada, e que deveria ter sido repensada pelos diretores, pois dificilmente seu efeito tenha conquistado a aprovação de algum espectador. As cenas são até bem filmadas, mas inverossímeis e absurdas, mesmo após uma explicação.

Observações: “Visões” foi lançado no mercado brasileiro de DVD em 03/11/05. É sequência de “The Eye – A Herança” (The Eye / Gin Gwai, 2002) e foi seguido de “Visões 2 – A Vingança dos Fantasmas” (The Eye 10 / Gin Gwai 10, 2005). Apesar dos filmes formarem uma franquia e tratarem do mesmo tema (fantasmas), as histórias são independentes.

“Visões” (The Eye 2 / Gin Gwai 2, 2004) – # 314 – data: 15/05/05 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 18/11/05)

Visões (The Eye 2 / Gin Gwai 2, Tailândia / Hong Kong, 2004). Duração: 96 minutos. Direção de Oxide Pang Chun e Danny Pang. Elenco: Qi Shu, Eugenia Yuan, Jesdaporn Pholdee, Philip Kwok.